ter mar 19, 2024
terça-feira, março 19, 2024

Os vários rostos da violência na vida das mulheres trabalhadoras

Dia 25 de novembro assinala-se o Dia Internacional de Luta contra a Violência sobre a Mulher. O Em Luta foi falar com mulheres que são também ativistas. Falaram-nos de como veem o problema da violência, como ele se expressa no seu local de trabalho, mas também do que é preciso mudar neste campo.  

Por: Em Luta – Portugal
Dafine Andrade é motorista de Uber, negra e imigrante brasileira a viver em Portugal. Contou-nos que foi agredida por um colega de trabalho. A resposta que obteve expressa bem a impunidade: “A violência que eu sofri por um colega de trabalho não deu em nada (…) eu fui na esquadra, houve julgamento, e o processo foi arquivado”.
O seu relato sublinha a falta de preparação especializada das instituições, em particular da Polícia: “Quando foi necessário tirar fotos para mostrar os hematomas no corpo, o policial queria que eu ficasse nua na frente de outros dois agentes.”. O caso de Dafine mostra ainda como o problema da violência é agravado pelo problema do racismo e da xenofobia: “Você não tem direito de ser defendida ou tratada como uma cidadã comum, embora eu contribua como cidadã em todos os âmbitos”.
DISCRIMINAÇÃO
A violência da sociedade, agravada pela maternidade
Todas as mulheres com quem falámos realçaram a importância de olhar a violência de uma forma ampla. “Podemos falar de várias violências”, diz-nos Carla Melo, trabalhadora da SPDH-Groudforce no Aeroporto de Lisboa, ativista e, recentemente, candidata à CT da sua empresa. “A violência social é esta desigualdade, estando a mulher destinada a determinados trabalhos, ao campo doméstico, a diferença salarial e a discriminação no trabalho porque somos mães…”. Para Carla, o assédio moral é muito mais comum sobre as mulheres, em particular as mais jovens e precárias. Falou-nos de como a empresa utiliza o direito das mulheres a horários que permitam conciliar trabalho e família (numa empresa que trabalha por turnos) para semear a divisão entre trabalhadores, culpabilizando-as pelos maus horários da empresa.
Vanda Mendes é trabalhadora da Câmara Municipal de Lisboa e ativista do movimento Missão Pública Organizada. Também ela encontra o mesmo tipo de discriminação, agravada quando a mulher é mãe: “Nas entrevistas de trabalho somos associadas a mais faltas por causa dos filhos e da maternidade em si, porque no decorrer da vida somos mais chamadas para a assistência aos filhos. Isso não deve ser motivo de exclusão num posto de trabalho, mas infelizmente ainda é muito visto assim.”.
MULHER OPERÁRIA
Assédio e desigualdade de oportunidades
Susana Cruz é a única mulher na recém-eleita Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa (a segunda mulher na história deste órgão). Referia-nos que um dos problemas da violência é o facto de ser tabu e “o medo de serem marginalizadas só pelo facto de denunciarem o agressor”. Além disso, o facto de trabalhar numa empresa maioritariamente composta por trabalhadores homens traz outras faces da violência: “essa violência muitas das vezes é exercida através do assédio sexual, outras por provocações sexistas, que podem incluir piropos menos oportunos, mas também achar-se que o lugar das mulheres não é aquele e que elas não têm a capacidade de exercer aquela função. Infelizmente, ainda se contam pelos dedos a quantidade de mulheres como líderes nas equipas ligadas diretamente à produção.”
ALTERNATIVAS
Informação, sensibilização e combate
Todas as mulheres concordaram que informação sobre os direitos e mais apoio são fundamentais. “Combater sendo ativista”, diz-nos Vanda. Mas tal como colocou Dafine, é preciso ir mais longe e fazer exigências ao Governo, mudando a legislação de forma a penalizar fortemente este tipo de violência e criando instituições estatais especilizadas para o tratar.
Susana aponta um caminho também nos locais de trabalho: “Passa por futuramente criar grupos de trabalho que possam identificar e combater, através de ações ou até mesmo sessões de esclarecimento para que nós mulheres não nos sintamos julgadas por uma sociedade que ainda é maioritariamente machista”.
Nos locais de trabalho e nas ruas, mudar a lei e lutar. O combate à violência sobre a mulher será todos os dias.
 
 
 
 
 
 

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