Um breve esboço da nossa história

Desde a década de 40, viemos desenvolvendo uma longa e difícil batalha para construir partidos revolucionários com influência de massas em todos os países e para construir uma Internacional. Localizamos esta luta como continuidade da luta travada por Marx, Engels, Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht, Lênin e Trotsky para construir a I, a II, a III e a IV Internacional.

Por: Alicia Sagra

Reivindicamos a I e a II Internacionais como parte do nosso passado, mas nosso modelo de partido mundial é a Terceira, conhecida como a Internacional Comunista. Ela responde às necessidades da época imperialista que estamos vivendo, tanto nas propostas programáticas de seus quatro primeiros congressos, com em seu regime interno, o centralismo democrático.

A III Internacional foi degenerada e depois dissolvida pelo estalinismo. A oposição de Esquerda e depois a IV Internacional, nuclearam os revolucionários que mais consequentemente enfrentaram essa degeneração. Hoje, a maioria das correntes que se reivindicavam quartistas, abandonaram seu programa. Mas existem outras correntes que se reivindicam da IV, que reivindicam seu programa, o Programa de Transição, que fazem fóruns em seu nome, em oportunidades realizam ações conjuntas de homenagem a Trotsky. Inclusive algumas dessas correntes, se autoproclamam como IV Internacional. Mas, a trágica realidade é que, após mais de 8 décadas de sua fundação, a IV como organização centralizada, como Partido da Revolução Socialista Mundial, não existe. Os revezes da luta de classes e os desvios de seus dirigentes, depois do assassinato de Trotsky, provocaram sua dispersão. Sua reconstrução é o objetivo estratégico que a LIT-QI se deu desde sua fundação.

Muitos perguntam: “por que reconstruir a IV, se é apenas sinônimo de trotskismo?”. Hoje com toda justiça o trotskismo existe como corrente diferenciada, já que é sinônimo da luta consequente contra a burocracia e pela democracia operária. Isso é assim, apesar de que muitos dos que continuam se identificando como trotskistas, traem essas bandeiras. Mas em seu momento, Trotsky sempre foi contra definir sua corrente como trotskista, porque não considerava ser um setor diferenciado do leninismo. Por isso, quando usava o termo trotskismo, o colocava entre aspas. Na realidade, esse termo foi imposto pelo stalinismo, como insulto, para indicar que os que apoiavam Trotsky durante a batalha contra a degeneração, não eram leninistas. Nesse momento, a corrente liderada por Trotsky se autodenominava “bolchevique leninista”. Essa é a corrente que deu origem à Oposição de Esquerda e depois à IV Internacional.

A Quarta nasceu para defender os princípios do marxismo e do leninismo, que estavam sendo atacados por Stalin – o internacionalismo, a democracia operária e o poder operário – e para dar uma política ofensiva no enfrentamento ao nazismo e à Segunda Guerra Mundial, depois da capitulação de Stalin.

A IV Internacional é a continuidade da III dirigida por Lênin e é sinônimo da luta consciente contra a contrarrevolução estalinista. É necessário reconstruí-la e não construir uma internacional distinta, porque seus princípios e bases teórico-programáticas, expressas no “Programa de Transição” e na “Teoria da Revolução Permanente”, continuam vigentes, independentemente das óbvias atualizações que devem ser feitas.

O Programa de Transição sistematiza as resoluções dos quatro primeiros congressos da III Internacional: a luta contra o sectarismo e o oportunismo, a posição frente ao parlamento, frente às nacionalidades oprimidas, frente à questão negra e da mulher, o controle operário, a frente única operária, as milícias, soviets, governo operário e camponês, ditadura do proletariado. Como elemento novo, incorpora a necessidade de fazer uma nova revolução na URSS, a revolução política contra a burocracia. O Programa de Transição, seguindo a orientação do IV Congresso da III Internacional, supera a divisão entre o programa mínimo e o máximo. Dá o método para elevar as massas ao programa da revolução socialista, através da elaboração de um sistema de reivindicações transitórias que partem das necessidades e do nível de consciência atual e as leve à luta pela conquista do poder pelo proletariado.

A Teoria da Revolução Permanente, afirma que, na etapa imperialista, a burguesia não tem condições de cumprir com as suas bandeiras, por isso a classe operária é quem deve tomar as reivindicações democráticas, que, no processo da revolução se combinam com as tarefas socialistas; ressalta a necessidade de a classe operária dirigir o processo e que este se desenvolva a nível mundial. Esta teoria elaborada por Trotsky, se concretizou magistralmente como política, com as Teses de Abril elaboradas por Lênin, quando chegou à Rússia em 1917.

A atualidade destas premissas faz com que hoje seja impossível elaborar um programa revolucionário que não parta do Programa de Transição e da Teoria da Revolução Permanente. Por isso, todo revolucionário que queira lutar pela derrota do imperialismo, da burocracia e pelo triunfo do socialismo em nível mundial, independentemente de qual seja sua origem, se aproxima, embora inconscientemente, das posições centrais da IV Internacional.

Frente aos processos revolucionários na América Latina, do século XXI (Equador em 2000, Argentina 2001, Venezuela 2002, Brasil 2003, Chile 2019), às multitudinárias mobilizações das massas europeias contra a guerra em 2003, a heroica resistência do povo iraquiano, a permanente resistência da Palestina, as enormes mobilizações pelo assassinato de George Floyd, as insurreições como as de Sri Lanka e Irã, o genocídio provocado pela política da burguesia e do imperialismo para enfrentar a pandemia; sentimos a impotência de não contar com um partido revolucionário mundial que encaminhe essas lutas para um enfrentamento unificado contra o imperialismo e para a luta pelo poder em diferentes países. Algo semelhante poderíamos concluir em relação aos processos revolucionários de 1989,1990 e 1991, que destruíram os regimes de partido único da ex URSS e do Leste europeu, mas que pela falta de uma direção revolucionária, não conseguiram reverter o processo de restauração capitalista, iniciado vários anos antes.

Tudo isso é uma confirmação palpável da necessidade de reconstruir a IV Internacional para poder avançar para vitórias duradouras na luta contra o imperialismo.

Essa reconstrução não é tarefa só dos chamados “trotskistas”, nem de todos que se reivindicam “trotskistas”, mas de todos aqueles que concordem com suas bases programáticas. Trotsky encarou a construção da IV como uma tarefa não só da Oposição de Esquerda (os “trotskistas” da época) mas de todos os que concordavam com os princípios, o programa e a política leninistas. O avanço do nazismo e do estalinismo, na década de 30, provocou a capitulação de organizações e de dirigentes com os quais Trotsky estava trabalhando para construir a nova Internacional. Por isso e pela necessidade urgente de materializar uma organização centralizada que conservasse os princípios marxistas revolucionários, a IV Internacional foi fundada apenas por aqueles que faziam parte da Oposição de Esquerda Internacional, e não por todos eles, já que vários deles abandonaram a tarefa. Apesar disso, Trotsky não abandonou seu objetivo de lutar por uma internacional de massas, onde, inclusive, os “trotskistas” pudessem ser minoria.

Não nos consideramos os únicos revolucionários do mundo. Também não acreditamos que a solução da crise de direção revolucionária passe pelo crescimento vegetativo da nossa corrente. Pelo contrário, sempre tivemos uma obsessão para chegar a acordos revolucionários, tanto a nível nacional, como internacional. Por isso, a nossa é uma história de fusões, tentativas de fusão e também de rupturas, que os principais fatos da luta de classes provocaram.

Nesta longa e difícil batalha para construir a Internacional tivemos alguns acertos e muitos erros. Em janeiro de 1982, quando a LIT-QI era fundada, Nahuel Moreno dizia: “Os dirigentes do movimento trotskista se consideravam colossos que não se equivocavam nunca. Entretanto, o trotskismo dirigido por eles era lamentável…” “…Essa experiência de andar sempre entre ‘gênios’ nos levou a fazer, indiretamente, propaganda sobre nossa base para convencê-la de que nos equivocamos muito, que devem pensar por sua conta, já que nossa direção não é garantia de genialidades. Queremos por todos os meios inculcar um espírito autocrítico, marxista, e não uma fé religiosa em uma modesta direção, provinciana pela sua formação e bárbara pela sua cultura. Por isso, acreditamos na democracia interna e a vemos como uma necessidade imprescindível…Avançamos através de erros e ataques e não temos vergonha de dizê-lo…”

“…O problema é como cometer menos erros, qualitativa e quantitativamente. No meu modo de ver, a tendência é cometer cada vez menos erros se estamos em uma organização internacional e sobre a base do centralismo democrático. Isso, para mim, é um fato. Afirmo categoricamente que todo partido nacional que não esteja em uma organização internacional bolchevique, com uma direção internacional, comete cada vez mais erros e um qualitativo: por ser trotskista nacional acaba, inevitavelmente, renegando a IV Internacional e adotando posições oportunistas ou sectárias para, em seguida, desaparecer…”.

NOSSAS ORIGENS

A corrente que hoje se denomina LIT-QI existe, como corrente internacional, com diferentes nomes, desde 1953. A nível nacional, surgiu na Argentina, em 1943, como um pequeno grupo dirigido por Nahuel Moreno, o GOM (Grupo Operário Marxista). Os irmãos Boris e Rita Galub, Mauricio Czizik e Daniel Pereyra (jovens provenientes de famílias operárias) e Moreno e “Abrahancito” que provinham da classe média, foram os primeiros integrantes do grupo. Estes jovens vinham realizando reuniões de estudo há um tempo, quando Moreno com a ajuda, segundo ele, decisiva, de Fidel Ortiz Saavedra (operário boliviano, semianalfabeto), os captou para o trotskismo. Em 1943, se conformam como grupo, com o objetivo central de ir à classe operária, tentando superar o caráter marginal, boêmio e intelectual do movimento trotskista argentino.

Nossa corrente na Argentina teve diferentes nomes. Grupo Operário Marxista entre 1943 e 1948. Partido Operário Revolucionário entre 1948 e 1956 (publicamente: Federação Bonaerense do Partido Socialista – Revolução Nacional, entre 1954 e 1955). Movimento de Organizações Operárias em 1956 e 1957. Entre 1957 e 1965, fomos conhecidos pelo nome de nosso jornal, Palavra Operária. Partido Revolucionário dos Trabalhadores a partir de 1965 e PRT (A verdade) depois da ruptura com Santucho em 1968. Partido Socialista dos Trabalhadores entre 1971 e 1982. Movimento ao Socialismo desde 1982 até 1997, quando o que restava desse partido rompeu com a LIT-QI.

Depois dessa ruptura de 1997, se forma Luta Socialista e depois o FOS (Frente Operária Socialista) com os militantes do velho MAS que não seguiram sua direção e ficaram na LIT. Em 2011 o FOS se unificou com outro setor de militantes provenientes de rupturas do MAS: COI. Dignidade de Córdoba, FUR de Comodoro Rivadávia, para dar origem ao atual PSTU-A.

Durante os primeiros anos tivemos um desvio operário, sectário e propagandista. Não era feito trabalho entre os estudantes e o eixo das atividades era dar cursos sobre o Manifesto Comunista e outros textos clássicos. Entre 1944 e 1948 tivemos, além desse, outro desvio, o nacional trotskista. Ou seja, acreditar que havia solução para os problemas do movimento trotskista e dos trabalhadores, dentro do próprio país. Só em 1948, nossa corrente começou a intervir na vida da Internacional, participando do seu Segundo Congresso.

A intervenção nas lutas operárias e na Internacional tornou possível a superação dos desvios e o fortalecimento do grupo. A participação, em 1945, na greve do frigorífico Anglo- Ciabasa (os frigoríficos da carne eram o principal setor operário nesse momento na Argentina) foi muito importante e permitiu ganhar a quase totalidade de companheiros do Comitê de fábrica. Depois da experiência na Greve da carne, um grupo de companheiros do GOM, inclusive Moreno, foram morar na Villa Pobladora, um bairro operário de Avellaneda, nesse momento uma das maiores concentrações operárias da América Latina. Ali começaram a trabalhar no Clube Social Corações Unidos. Em pouco tempo, Moreno foi eleito presidente do Clube. A partir desse Clube davam cursos e palestras, ao mesmo tempo em que realizavam atividades sociais e culturais e se ligavam estreitamente à vida dos operários da região. A partir desse trabalho o pequeno grupo se tornou uma centena.

Pouco a pouco, o grupo foi se fortalecendo em outras fábricas. Chegaram a dirigir fábricas de tubos de cimento, de couro. Apesar de serem só 100 militantes muito jovens, o grupo se afirmou na classe e assim foram sendo construídos grandes quadros operários, o máximo exemplo foi Elías Rodríguez, que hoje consideramos com orgulho como aspecto central da tradição da nossa corrente.

O partido argentino chegou a ser, junto com o SWP, construído com a orientação pessoal de Trotsky, o partido mais operário do movimento trotskista.

Nesse processo fomos superando nosso sectarismo e propagandismo, mas caímos em um desvio sindicalista, que depois começou a ser superado graças à nossa participação na Internacional.

A PARTICIPAÇÃO NA IV INTERNACIONAL

A direção da IV Internacional depois da II Guerra, integrada pelo SWP (EUA), Pablo (Grécia), Mandel (Bélgica) e Frank (França), era muito jovem e inexperiente e não conseguiu superar o enfraquecimento qualitativo provocado pelo assassinato de Trotsky em 1940. A característica central da IV Internacional naquela época era seu sectarismo. Um exemplo disso foi seu II Congresso. Foi realizado em 1948 em meio a grandes mudanças: na China se desenvolvia a revolução que triunfaria em menos de um ano, na Checoslováquia, os ministros burgueses eram afastados do governo e se iniciava a expropriação da burguesia, processo que vinha ocorrendo na Iugoslávia desde 1947. O Congresso ignorou esses fatos e o centro da discussão foi o caráter de classe da URSS e se devia ou não a defender dos ataques imperialistas. Polêmica que já havia sido resolvida no partido ianque quando Trotsky estava vivo, em 1939-40.

Apesar do caráter sectário e propagandístico desse congresso, a participação nele foi qualitativa para o GOM. A partir desse momento começou a trabalhar com um marco internacional. Começou a dar muito peso, nas análises e caracterizações, ao imperialismo e às suas relações com as burguesias nacionais. Também se deu muita importância às definições internacionais, como foi o caso da posição assumida pelo GOM, como parte da IV Internacional, a favor da Coreia do Norte em seu confronto com a Coreia do Sul. Moreno sempre reivindicou como um fato qualitativo a entrada do GOM na IV Internacional, apesar do nosso grupo nunca ter sido reconhecido como seção oficial. Nesse momento, a seção oficial era o grupo dirigido por Posadas.

A DISCUSSÃO SOBRE OS NOVOS ESTADOS DO LESTE EUROPEU

Em 1949 começa na IV Internacional a discussão sobre o caráter de classe desses estados. Moreno reivindica a forma como se deu essa discussão, como um grande exemplo do centralismo democrático. Existiam duas posições: para Mandel (Bélgica) e Cannon (EUA), esses estados eram capitalistas. A posição de Pablo (Grécia), apoiada com algumas objeções por Hansen (EUA) e Moreno (Argentina), sustentava que haviam surgido novos estados operários. A polêmica foi resolvida relativamente rápido. Mandel e Cannon reconheceram a existência de um verdadeiro processo revolucionário no leste europeu e que novos estados operários deformados haviam surgido. Essa vitória política aumentou o prestígio de Pablo nas fileiras da Internacional. Assim se chegou ao III Congresso em 1951.

A LUTA CONTRA O PABLISMO

Em 1951, em plena guerra fria, todos os comentaristas internacionais afirmavam que era inevitável o choque armado entre os EUA e a URSS. Pablo e Mandel, impressionados pelas análises da imprensa burguesa, chegaram a uma conclusão funesta para a Internacional: para eles, a terceira guerra mundial era inevitável. E sustentavam que, frente ao ataque imperialista, os partidos comunistas, em seu afã de defender a URSS, adotariam métodos violentos para enfrentar os EUA e que isso os levaria a lutar pelo poder em diferentes partes o mundo. O mesmo ocorreria com os movimentos nacionalistas burgueses nos países dependentes.

Baseados nesta análise, Pablo e Mandel, a partir da consideração de que não havia tempo para construir partidos trotskistas antes que estourasse essa terceira guerra, propuseram o “entrismo sui generis” nos partidos comunistas e nacionalistas burgueses, aos quais devia acompanhar sem críticas, até depois da tomada de poder. O objetivo desse “entrismo sui generis” era orientar suas direções (consideradas por eles como centristas) para posições revolucionárias. A maioria do trotskismo internacional, liderados pela seção francesa, se negou a implementar essa política. Nosso grupo, o POR argentino (novo nome adquirido pelo GOM) denunciou que essa posição, que abandonava a definição da burocracia estalinista como contrarrevolucionária e abdicava da luta contra ela, era uma revisão completa de pontos essenciais do programa trotskista. Afirmávamos que essas posições surgiam pelo caráter pequeno burguês, impressionista e intelectual dos dirigentes europeus.

A REVOLUÇÃO BOLIVIANA. A DIVISÃO DA IV INTERNACIONAL

Essas definições da direção da IV tiveram importantes manifestações políticas. Com essa caracterização, Pablo se opôs a exigir a retirada dos tanques russos que enfrentaram o levante dos trabalhadores de Berlim em 1953, apoiando de fato a burocracia soviética. Mas, a consequência mais trágica dessa política foi a traição à revolução boliviana.

Em 1952, na Bolívia ocorre uma típica revolução operária; os trabalhadores organizam milícias, derrotam militarmente a polícia e o exército e surge a COB (Central Operária Boliviana) como organismo de poder dual. As minas são nacionalizadas e explode a revolução camponesa, que invade os latifúndios e ocupa as terras. Até 1954, a principal força armada da Bolívia eram as milícias operárias dirigidas pela COB.

Desde a década de 40, a organização trotskista boliviana (POR) vinha ganhando enorme influência no movimento operário. Tinha em suas fileiras importantes dirigentes mineiros, fabris e camponeses. Seu principal dirigente, Guillermo Lora, foi o redator das teses de Pulacayo, uma adaptação do programa de transição para a realidade boliviana, adotadas pela Federação de Mineiros. Lora foi eleito senador por uma frente dirigida pela Federação dos Mineiros nas eleições de 1946. Na revolução de 52, o POR co-dirigiu as milícias e foi co-fundador da COB. Tinha peso de massas na Bolívia.

Infelizmente, o POR, seguindo a orientação do Secretariado Internacional da IV, liderado por Pablo, não levantou a política de que a COB tomasse o poder. Pelo contrário, deu seu apoio crítico ao governo burguês do MNR (movimento nacionalista burguês). Sem uma orientação revolucionária, o movimento de massas foi sendo desarmado e desmobilizado e a revolução foi desmontada em poucos anos. Como consequência desta traição à revolução, se deu uma grande deterioração do trotskismo boliviano, que entrou em um processo de sucessivas rupturas.

Junto a essa política, a direção internacional dirigida por Pablo, aplicou um método nefasto. Interveio no partido francês, destituiu sua direção que não concordava com sua política e tentou formar uma fração secreta no SWP norte-americano.

Repudiando a linha de “entrismo sui generis” e os métodos burocráticos e desleais de Pablo, a maioria dos trotskistas franceses (dirigidos por Lambert) e ingleses (dirigidos por Healy), o SWP (EUA) e os trotskistas sul-americanos (com exceção do POR boliviano e do grupo de Posadas na Argentina), romperam com o Secretariado Internacional (SI) dirigido por Pablo e criaram, em 1953, o Comitê Internacional (CI).

O SLATO: A REVOLUÇÃO PERUANA

Na América do Sul, a partir do POR argentino, junto com trotskistas do Chile e Peru, vinha se dando a polêmica contra a política para a Bolívia. Em abril de 1953, Nahuel Moreno escreveu o texto “Duas linhas” afirmando que o apoio crítico ao MNR era uma traição e que se devia exigir à COB que tomasse o poder.

Ao mesmo tempo, exigíamos que o Comitê Internacional atuasse como uma organização centralizada, única forma de derrotar o revisionismo pablista.  A negativa das forças majoritárias do Comitê Internacional, em especial do SWP dos EUA, a atuar de forma centralizada e com uma política ofensiva, provocou o avanço das posições pablistas, apesar da maioria dos trotskistas estarem contra elas. Ao fracassar as tentativas de que o Comitê Internacional atuasse centralizadamente e à ofensiva, começamos a atuar como tendência a nível latino-americano e em 1957 formamos, junto com dirigentes peruanos e chilenos o SLATO (Secretariado Latino Americano do Trotskismo Ortodoxo). O SLATO, foi a tentativa de agrupar os trotskistas latino-americanos que se opunham à capitulação pablista frente ao stalinismo. Luis Vitales, que havia sido enviado pelo partido argentino para apoiar o grupo chileno, foi um dos fundadores. O documento aprovado pela Conferência que deu origem a SLATO, permitiu especificar o caráter dominante do imperialismo ianque na América Latina e preparar os documentos que Nahuel Moreno e Luis Vitales levaram à Conferência de Leeds convocada pelo Comitê Internacional.

A existência do SLATO permitiu que participássemos de maneira centralizada no processo de revolução agrária no Peru em 1962. Hugo Blanco, estudante peruano e militante do POR argentino, foi enviado para participar do processo de Cuzco. Hugo Blanco, orientado pelo SLATO, liderou o processo de ocupação de terras e de organização sindical do campo. O SLATO enviou vários quadros para apoiar esse trabalho. Nesse processo se construiu a FIR (Frente de Esquerda Revolucionária), orientada pelos trotskistas e que deu origem à nossa atual seção peruana. Em 1963, Hugo Blanco foi capturado pelo exército. De 1963 a 1967 ficou incomunicável. Em 1967 foi processado pela justiça militar. Frente ao perigo de que fosse condenado à morte, foi realizada uma campanha internacional com adesões como a de Sartre, Simone de Beauvoir, Isaac Deustcher, sindicatos da França, Inglaterra, Índia, parlamentares franceses, ingleses e outros. Essa campanha impediu que fosse condenado à morte. Foi condenado a 25 anos de prisão. Outra campanha internacional conseguiu sua liberdade em 1970. Durante todo esse período, os camponeses peruanos continuaram elegendo Hugo Blanco como seu principal dirigente em todos seus congressos.

A REVOLUÇÃO CUBANA E A REUNIFICAÇÃO DE 1963

O reconhecimento e apoio à revolução cubana foi a base da reunificação da IV Internacional em 1963. Assim nasce o SU (Secretariado Unificado da Quarta Internacional), liderado por Mandel e pelo SWP (Pablo acabou fora da IV como assessor do governo burguês de Ben Bela na Argélia). No SU entraram todas as forças trotskistas que caracterizavam Cuba como um novo estado operário. Ficaram de fora, os ingleses e franceses que não reconheceram esse significado da revolução cubana.

Nós demoramos um ano para entrar, porque pedíamos um balanço do processo anterior, onde se marcasse a fogo o método impressionista que levou à traição da revolução boliviana, para evitar que voltassem a ocorrer desvios parecidos no futuro. Embora esse balanço autocrítico não tenha sido realizado, em 1964, decidimos entrar para não ficarmos isolados, convencidos de que, apesar das divergências, uma reunificação em torno ao apoio a uma revolução era positiva e que isso permitiria participar com mais força no futuro ascenso que prevíamos.

A LUTA CONTRA OS DESVIOS GUERRILHEIRISTAS. O DESENVOLVIMENTO DO PARTIDO ARGENTINO. A REVOLUÇÃO PORTUGUESA

A revolução cubana teve um forte impacto na vanguarda mundial, em especial na latino-americana. Na Argentina, na década de 60, isso se combinou com um pronunciado retrocesso do movimento operário. A influência castrista teve consequências muito negativas sobre nosso grupo.

De 1957 a 1964, nossa organização (conhecida como Palavra Operária, nome do jornal) aplicou a tática do entrismo nas 62 Organizações Peronistas, como meio de nos construir em contato com o melhor da vanguarda operária que estava enfrentando a ditadura militar. Nesse período, nosso grupo constrói laços muito estreitos com o movimento operário, como nenhuma outra agrupação de esquerda jamais conseguiu na Argentina, e que marcaram uma característica singular de nossa corrente. Nossa organização avança muito a nível sindical, não tanto a nível político pelo forte desvio sindicalista que tivemos.

Contraditoriamente com esse desvio sindicalista, “nosso partido, nesses momentos cruciais da luta na Argentina, não descuidou dos problemas teóricos e políticos que colocava a situação mundial, não só aos trotskistas, mas a todos os envolvidos na luta de classes nacional e internacional. Como parte dessa tarefa, devemos destacar também a edição da revista Estratégia da emancipação nacional, surgida a partir da necessidade de contar com uma publicação teórica marxista. Milcíades Peña, “Hermes Radio”, se considerava então um simpatizante de nosso partido. Com ele e Luis Franco, destacado poeta e intelectual marxista, pudemos publicar três números entre 1957 e 1958. A derrota do movimento operário, com a greve de janeiro de 1959, nos atingiu também neste aspecto e tivemos que suspender sua edição” . [1]

Esse avanço teórico, estava intimamente ligado à compreensão da necessidade da Internacional “Neste sentido, o choque frontal de Moreno com as concepções ‘federalistas’ do Comitê Internacional que os dirigentes do SWP norte-americano sustentavam, a exigência de que o CI se tornasse uma direção revolucionária centralizada, apontavam para um aspecto muito ligado ao anterior: desenvolver o partido mundial para promover melhor o crescimento das seções nacionais, evitando os desvios e erros; e aproveitar ao máximo a experiência das seções mais dinâmicas para fortalecer o partido mundial (…) foi uma luta necessária, que por outro lado permitiu avançar na compreensão das relações entre a organização mundial e seus partidos nacionais”. [2]

Mas essa batalha necessária foi derrotada e as seções continuaram submetidas às pressões nacionais sem ter uma forte referência internacional. No partido argentino abre-se uma forte crise quando em 1964, ganho pela direção cubana, rompe Ángel Bengochea (el Vasco), que foi junto com Moreno, principal dirigente de nossa organização. Alguns anos depois (em 1968), provoca-se uma ruptura que levou os principais quadros do partido para as posições foquistas. O principal dirigente da ruptura foi Roberto Santucho, com o qual havíamos unificado em 1965, e quem depois foi o principal dirigente do ERP.

Mas a pressão do foquismo não se deu só no âmbito do grupo argentino, foi também absorvida pela direção da IV. O método impressionista de Mandel não estava superado e veio uma nova capitulação para o final da década de 60. Desta vez para o castrismo, ao aceitar a concepção guerrilheirista do foquismo. No IX Congresso da IV (1969) se votou a adoção da guerra de guerrilha na América Latina e consequente com isso, é a organização de Santucho (PRT- O Combatente) que é reconhecida como seção oficial da IV. Nossa organização, (PRT-A Verdade) fica como seção simpatizante.

O SWP dos Estados Unidos, o PST argentino (nome adquirido pelo nosso grupo depois da fusão com o setor de Juan Carlos Coral, ruptura do Partido Socialista) e todos os grupos sul-americanos, lideramos uma corrente que travou uma grande batalha contra essas posições. Dizíamos que a teoria do “foco” era uma política elitista, isolada do movimento de massas e que provocaria grandes desastres. Infelizmente, os fatos nos deram razão. O trotskismo perdeu inumeráveis valiosos militantes que seguiram essa linha equivocada, principalmente na Argentina, mas também em outros países. O SU que nunca chegou a ser uma organização democraticamente centralizada, passou a ser uma federação de tendências. Cada uma aplicava sua própria política.

O ascenso que se iniciou em 1968 havia aberto novas oportunidades, a existência de uma organização mundial unificada (o SU) permite aproveitá-las. Na França, por exemplo, onde o trotskismo havia praticamente desaparecido devido ao “entrismo sui generis”, surge a LSR, que chega a organizar 5.000 militantes e chega a ter uma publicação diária. Na América Latina se dá o grande crescimento do PST argentino e nos EUA o fortalecimento do SWP pela sua participação contra a guerra do Vietnã.

Mas, sem ter acabado de superar o desvio guerrilheirista, foi preciso enfrentar uma nova capitulação de Mandel na década de 70. Agora à numerosa vanguarda surgida no Maio francês, influenciada pelo maoísmo. Nossa polêmica com Mandel está desenvolvida em “O partido e a revolução” de Nahuel Moreno.

No transcurso dessa luta contra o guerrilheirismo e o vanguardismo, nosso partido argentino, o PST (surgido de uma fusão com um setor que rompeu com a social democracia) se desenvolveu como um forte partido de vanguarda. Esse fortalecimento se dá com uma política oposta à de Mandel: intervindo no ascenso que teve seu ponto mais alto na semi-insurreição conhecida como “Cordobazo” e participando do processo eleitoral. Neste período organizamos o partido no Uruguai e na Venezuela.

Quando explode a revolução portuguesa em 1974, o PST envia quadros para participar do processo. Levantamos uma política que impulsionava a luta pelo poder centrada no chamado ao desenvolvimento e centralização dos organismos de duplo poder que estavam surgindo. Ganhamos um setor de estudantes secundários e organizamos o partido português, que forjou importantes quadros para a Internacional.

Essa revolução mostrou mais uma capitulação de Mandel que, seguindo o maoísmo, deu apoio ao MFA (Movimento das Forças Armadas) que co-governava o império português. Esse processo provocou também a ruptura em 1975 da FLT (fração que formamos com o SWP dos EUA para enfrentar o mandelismo), frente à impossibilidade de compartilhar uma mesma política para a revolução, porque para o SWP, a tarefa central era levantar consignas democráticas e editar obras de Trotsky.

A maioria das organizações e militantes da Colômbia, Brasil, México, Uruguai, Portugal, Espanha, Itália e Peru se retiram da FLT e junto com o PST argentino constroem uma tendência que em seguida se declara fração do SU, a FB (Fração Bolchevique), que mais tarde daria origem à LIT-QI.

A participação na revolução portuguesa e a polêmica com o mandelismo e o SWP, nos permitiu avançar na elaboração teórica sobre a construção de partidos em processos revolucionários, expressada em “Revolução e contrarrevolução em Portugal”.

O PARTIDO NO BRASIL

Um grupo de jovens brasileiros exilados no Chile entra em contato com nossa corrente. Depois do golpe de Pinochet se dirigem à Argentina e começam a militar no PST. Em 1974, voltam ao Brasil para construir o partido. Surge a Liga Operária e depois a Convergência Socialista, o grupo começa a se desenvolver e, em contato com a direção da FB, elabora a política do chamado a um PT.

A jovem organização brasileira se desenvolveu durante 12 anos, fazendo entrismo no PT, sem dissolver-se nem capitular à direção burocrática. Isso foi possível porque pertencia a uma corrente internacional que orientou esse entrismo, centralizando o trabalho nas oposições sindicais na CUT e que deu clareza sobre o caráter burocrático da direção lulista.

Com isso, a CS pode sair do PT, 12 anos depois, qualitativamente mais forte do que como entrou e com uma política de Frente Única Revolucionária dirigida aos setores de vanguarda que rompiam com o partido de Lula.

O PARTIDO COLOMBIANO

Em 1976 ocorre o golpe militar na Argentina, que dá origem à ditadura semi fascista de Videla. O PST teve que tirar importantes dirigentes do país, questão que foi aproveitada para reforçar o trabalho internacional. Neste período, construímos nossas organizações na Bolívia, Chile, Equador, Costa Rica, Panamá, e reforçamos o trabalho em Portugal e na Espanha. Mas o processo mais importante foi o da Colômbia, onde entramos em contato com um Bloco Socialista, uma organização que vinha se aproximando das posições revolucionárias, com quadros provenientes do castrismo e da Igreja. Dali surge o PST colombiano, que rapidamente se consolida como uma organização de vanguarda e passa a ser um dos dois pilares do nosso trabalho internacional.

A LUTA CONTRA A DITADURA ARGENTINA

Enquanto isso, na Argentina, o PST desempenha um papel heroico na resistência à ditadura genocida. Houve aproximadamente 250 militantes presos e mais de 100 mortos e desaparecidos. Atuando na mais absoluta clandestinidade, manteve sua publicação e desenvolveu trabalhos no movimento operário, na juventude e na intelectualidade. No começo da guerra nas Malvinas, o ódio à ditadura não impediu que se tivesse uma política principista de identificar e atacar o imperialismo invasor como o principal inimigo. Desde o primeiro momento e sem deixar de denunciar a ditadura, o PST se colocou no campo militar argentino e militou pela derrota do imperialismo. O PST saiu da ditadura com um grande prestígio na vanguarda e com 800 quadros sólidos, que se voltaram à construção do MAS, incorporando a tarefa a um grupo de quadros que vinham de outra corrente socialista.

A REVOLUÇÃO NICARAGUENSE. A BRIGADA SIMÓN BOLIVAR

Em 1979, quando explode a revolução nicaraguense, nossa corrente, apesar das diferenças com o sandinismo, resolve participar fisicamente da luta contra Somoza. Através do PST colombiano realiza uma grande campanha para construir a Brigada Simón Bolívar. É formada com militantes da nossa corrente e revolucionários independentes, da Colômbia, Panamá, Costa Rica, EUA e Argentina. Mantendo sua total independência política, a Brigada entra no exército sandinista e cumpre um papel heroico na libertação da região Sul da Nicarágua, que lhe custa mortos e feridos. Com a vitória da revolução, os brigadistas são recebidos como heróis em Manágua. Vínhamos exigindo que o sandinismo rompesse com a burguesia e tomasse o poder conjuntamente com os sindicatos operários. O sandinismo, seguindo a política de Castro, estava em um governo de coalizão com Violeta Chamorro. A Brigada promove a criação de sindicatos e em uma semana organiza mais de 70. Isso provoca a reação da direção sandinista, que a expulsa da Nicarágua. Vários brigadistas são presos e torturados pela polícia panamenha, aliada do governo sandinista.

O SU envia uma delegação a Manágua para dizer que éramos um grupo ultraesquerdista, com o qual não tinham nada a ver e vota uma resolução proibindo a construção de partidos por fora do sandinismo. A negativa de defender os militantes revolucionários torturados pela burguesia é a consequência de ter votado essa resolução interna que, na prática, era um decreto de expulsão da nossa corrente, obrigando-nos a romper definitivamente com o SU.

Esses fatos revelam a verdadeira polêmica dentro do SU. Defendíamos a necessidade de construir um partido revolucionário na Nicarágua e eles não. A mesma discussão que se deu em relação à Cuba, tanto sobre a construção do partido como quanto à necessidade da revolução política. Tudo demonstrava a crescente capitulação do SU ao castrismo e ao sandinismo. E mostrava também o abandono da moral revolucionária ao ter-se negado a defender militantes trotskistas presos e torturados pela burguesia.

NOSSA RELAÇÃO COM O LAMBERTISMO

Quem deu sua solidariedade à Brigada foi a corrente dirigida por Pierre Lambert. Assim começou nossa relação política com o lambertismo, com quem não tínhamos contato desde 1963. Se inicia um processo de discussão, com acordos principistas e programáticos expressados em “Teses para a atualização do programa de transição”, de Nahuel Moreno. Nesse trabalho o estalinismo e o castrismo são definidos como agentes contrarrevolucionários; são reconhecidas como revoluções, parte da revolução socialista mundial, os processos do pós-guerra (Leste europeu, China, Cuba) apesar de não terem sido liderados pela classe operária e seu partido revolucionário.

Ao mesmo tempo, se coloca a necessidade de impulsionar a revolução política nos estados operários degenerados, surgidos nesses processos; se analisa a guerra de guerrilhas e a política oportunista de suas direções; se dá especial importância à defesa do direito à autodeterminação das nacionalidades oprimidas e às tarefas democráticas; se identifica o início do processo de crise dos aparatos contrarrevolucionários, em especial o estalinismo, que abre possibilidades de lutar por partidos trotskistas e uma IV Internacional com influência de massas.

Constitui-se um Comitê Paritário que culmina em 1980 com a formação de uma organização conjunta, a Quarta Internacional-Comitê Internacional (QI- CI). Como QI-CI realizamos uma campanha de apoio ao “Solidariedade” da Polônia. Tudo indicava que era possível dar um grande passo no caminho da reconstrução da IV.

Mas essa tentativa foi frustrada. Nossa pouca inserção na Europa nos fez cometer um grave erro. Não vimos que o lambertismo tinha fortes laços com a burocracia sindical, o que o levou a capitular ao governo de Frente Popular, quando ocorre a vitória de Miterrand na França. Lambert se nega a discutir a política para a França e começam as expulsões dos militantes que se opõem a essa política, o que provoca a ruptura da QI-CI.

A polêmica com o lambertismo nos obrigou a avançar na elaboração sobre a Frente Popular, o que se refletiu no folheto “A traição da OCI”, de Nahuel Moreno.

A FUNDAÇÃO DA LIT- QI

Em janeiro de 1982, se realizou uma reunião internacional com os partidos da FB e dos importantes dirigentes do lambertismo: Ricardo Napurí do Peru e Alberto Franceschi da Venezuela. Um dos pontos centrais da reunião era organizar uma campanha em defesa da moral revolucionária de Napurí, atacado por Lambert por expressar diferenças políticas com este. Outro ponto importante era a discussão sobre como avançar na construção da Internacional.

A reunião, depois de aprovar a campanha, resolveu por unanimidade converter-se em Conferência da Fundação de uma nova organização internacional. Foram aprovados os estatutos da LIT-QI e as teses fundacionais, onde se propunha a estratégia da construção da IV Internacional com influência de massas. Esta não era somente a FB com outro nome, já que Franceschi se integrou a ela com seu partido, o MIR operário, que rompeu com o lambertismo. Napurí se incorpora ao mesmo tempo, junto com a metade do partido peruano que rompeu com Lambert.

Em 1985, o partido dominicano se integra à LIT-QI. Esse grupo não vinha do trotskismo, mas de uma ruptura com a Igreja.

Em 1985, o Primeiro Congresso da LIT-QI vota um manifesto, onde define a situação mundial como revolucionária e faz um chamado para construir uma FUR a partir de um programa mínimo revolucionário para enfrentar a frente da contrarrevolução imperialista mundial, as burguesias nacionais, a igreja, o estalinismo, o castrismo, o sandinismo e as burocracias sindicais e avançar na construção de partidos revolucionários nacionais e de uma Internacional com influência de massas. Em 1987, se integram o grupo de Bill Hunter da Inglaterra, que não provém do morenismo e um grupo de jovens trotskistas independentes do Paraguai, que dão origem ao PT paraguaio, a maior organização de esquerda nesse país.

AS PRINCIPAIS CAMPANHAS POLÍTICAS DA LIT – QI

A primeira é pela vitória da Argentina na guerra pelas Malvinas, com a qual intervimos no processo anti-imperialista que se abriu na América Latina.

A campanha pelo “não pagamento da dívida externa” nos permitiu conectar com as grandes mobilizações bolivianas que obrigaram o governo de Frente Popular, liderado por Siles Suazo, a suspender o pagamento da dívida.

Teve grande importância a campanha contra os acordos de Esquípulas e Contadora, promovidos pelo imperialismo e apoiados pelo castrismo e pelo sandinismo para frear o processo revolucionário na América Central.

Em 1991 realizamos uma campanha pela derrota do imperialismo na guerra do Golfo.

A CONSTRUÇÃO DO MAS ARGENTINO

Depois da queda da ditadura argentina (1982), a direção da LIT resolve priorizar o trabalho nesse país, onde se abriu a possibilidade objetiva e subjetiva do MAS se tornar um partido com influência de massas. Nas lutas do movimento de massas e na participação eleitoral, o MAS se transformou no partido mais forte da esquerda argentina. Ganha grande inserção nas principais fábricas e bairros operários, lidera listas de oposição à burocracia nos principais sindicatos, realiza atos com 20 a 30 mil pessoas, obtém o primeiro deputado trotskista na história argentina, chegando a promover e dirigir um ato de oposição ao governo de 100 mil pessoas.

Em meio a esse processo, a LIT-QI recebe, em 1987, um terrível golpe com a morte de seu fundador e principal dirigente, Nahuel Moreno. Sua ausência provocou um enfraquecimento qualitativo em nossa direção internacional e teve uma incidência muito grande no desenvolvimento e desenlace da crise que levou à destruição da LIT.

A CRISE DE 90

Nos primeiros anos da década de 90, se desatou uma grande crise em nossa corrente internacional. Grandes mudanças ocorriam no mundo a partir da queda do muro de Berlim, que tiveram repercussões mundiais. Grandes processos revolucionários destruíram o aparato central do stalinismo, libertando assim o movimento operário mundial da camisa de força que o manipulou durante décadas. Mas a falta de uma direção revolucionária mundial impediu que esse processo pudesse reverter a restauração capitalista orquestrada pela burocracia. Isso possibilitou a ofensiva política, militar e ideológica do imperialismo. É nesse período que se dá a crise da LIT-QI que a levou praticamente à sua destruição.

Em abril de 1992 ocorre a ruptura do MAS argentino com métodos incompatíveis com a moral revolucionária: ocupação de locais, ataques físicos pela minoria, da Tendência Morenista Internacional (TMI) e campanhas de calúnias pela direção majoritária. Pouco depois, a TMI organiza a ruptura do partido brasileiro por meio de uma fração secreta. Assim se abre a pior crise da nossa história. Neste processo saíram da LIT 40% do partido argentino, o PST do Panamá, a metade do PST peruano, um setor do POS mexicano, a metade da seção equatoriana, um setor do partido brasileiro e setores da Colômbia, Chile, Alemanha, Portugal.

O V Congresso, realizado em 1994, vota pela reconstrução da LIT-QI. Formalmente a LIT-QI existia, as reuniões internacionais eram realizadas, havia uma direção, a revista internacional era editada. Mas isso, era cada vez mais uma aparência, uma formalidade. A melhor prova era a direção com a qual se chegou ao V Congresso: um secretariado internacional integrado por quatro pessoas respondendo a quatro tendências (FI, TBI, Nuevo Curso, TR) [3], a maioria das quais não defendia a continuidade da LIT-QI. De fato, a LIT havia deixado de ter um programa único e havia perdido o regime centralista democrático. De conteúdo a LIT-QI havia sido destruída.  Por isso, era totalmente necessária a resolução do V Congresso. A partir desse momento se começa a construir uma nova equipe de direção liderada pelos dirigentes da ex TR, à qual se integra a direção do partido peruano e do grupo inglês, que toma em suas mãos as tarefas da reconstrução. Essa tarefa precisou de muito esforço e levou muitos anos já que a destruição havia sido muito grande.  Um fato a destacar é que desde que se resolve que a grande tarefa a encarar é a reconstrução da LIT-QI, ela é feita não como um objetivo em si mesma, mas para que seja o motor da reconstrução da IV Internacional. Em consequência, ao mesmo tempo em que se encaravam as tarefas da reconstrução, se iniciava um trabalho de relações com diferentes organizações em diferentes países (Inglaterra, França, Irã, Japão, Alemanha, Turquia, a ex URSS…) com o objetivo de avançar nesse objetivo estratégico.

Dias antes do Congresso, a FI havia se retirado, o que significou a saída da maioria do partido espanhol. Nem bem terminado o V Congresso, a TBI rompe, o que implica a perda do PST colombiano, do PRT da Costa Rica, das seções de Honduras e Nicarágua, de mais de 100 militantes argentinos. Novo Curso, dirigido pelo que restava do MAS argentino, fica na Internacional (e participa da direção) mas sem reivindicar suas bases fundacionais. Pouco tempo depois, começam a defender que a LIT-QI deve abandonar o centralismo democrático e deixar de lado a estratégia de reconstruir a IV Internacional. Suas posições são derrotadas (por um voto) no VI Congresso (1997). Novo Curso se nega a acatar suas resoluções e saem da Internacional o que restava do MAS argentino, Convergência Socialista do Uruguai, a LST da França, o PST da Venezuela e um setor do partido brasileiro.

Tal como disse o Balanço de Atividades aprovado pelo VIII Congresso “Na hora de contar as baixas e perdas podemos constatar que em todo esse processo, a LIT não só perdeu seu programa, seu regime, suas finanças, suas publicações, mas também perdeu o grosso de seu patrimônio humano. No total, a LIT perdeu entre 4 e 5 mil militantes, entre eles, possivelmente 80% dos quadros de mais experiência”.

AS CAUSAS DA CRISE

Uma combinação de fatores objetivos e subjetivos explica nossa crise. Nessa combinação, os elementos objetivos foram determinantes. Isto fica evidente quando se vê, que não foi afetada só a nossa Internacional, mas foi um processo que se deu sobre a totalidade das organizações de esquerda, sem excluir as revolucionárias.

Depois da derrota militar no Vietnã, em meados dos anos 70, o imperialismo ianque começou a enfrentar os processos revolucionários apelando preferencialmente às instituições e mecanismos da democracia burguesa e à cooptação de dirigentes. Moreno denominou essa política como “reação democrática”. Essa política, que teve grandes êxitos para canalizar importantes processos revolucionários, também fez estragos na maioria da esquerda a nível mundial:  o abandono por parte da OLP da luta pela destruição do Estado de Israel, a integração ao regime dos Sandinistas na Nicarágua e do Farabundo Martí em El Salvador; a social democratização dos partidos comunistas; a integração ao regime, através do PT, da maioria da esquerda brasileira… Mas este processo de capitulação da velha esquerda anti-imperialista dá um salto depois da restauração nos estados operários. Desta vez, também as organizações trotskistas são afetadas.

O problema central foi que a restauração não se deu como Trotsky havia prognosticado, a partir de um golpe contrarrevolucionário, mas em nome das liberdades democráticas e da utilização das instituições burguesas. A falta de uma direção revolucionária fez com que uma parte da população tivesse expectativas nessas instituições restauradoras. A partir disso e da campanha do imperialismo sobre “a superioridade do capitalismo”, a ampla maioria da esquerda abandonou a perspectiva do socialismo e da luta pelo poder. Grande quantidade de partidos se dissolveu, milhares e milhares abandonaram a militância e os que se mantiveram ativos, começaram a buscar novos rumos…Como não “se podia” ou não se queria tomar o poder, começaram a buscar como ganhar “espaços de poder”. “Novas” ideias foram se impondo: a classe operária está desaparecendo, há que buscar outros sujeitos sociais; stalinismo é continuidade do leninismo, o centralismo democrático leva à burocratização, tudo passa pela horizontalidade; todo poder corrompe, os trabalhadores podem resolver seus problemas sem tomar o poder…Assim foi sendo criado um novo reformismo, um reformismo sem reformas.

Este “vendaval oportunista” que atingiu o conjunto da esquerda inclusive as organizações trotskistas, também chegou à LIT-QI. Isto se refletiu, centralmente, nas políticas equivocadas com que a direção argentina respondeu aos grandes desafios que a realidade apresentava.

Seguindo Trotsky, Moreno sempre dizia que para enfrentar as grandes mudanças e as crises que estas geravam, havia que recorrer mais do que nunca à classe operária, mais do que nunca à teoria marxista e mais do que nunca à Internacional.

A direção argentina fez o contrário, caiu em um desvio eleitoreiro e foi relegando a construção na classe operária; ao invés de basear sua política na teoria marxista, elaborou novas teorias para justificar sua política; a partir de êxitos circunstanciais e de um grande crescimento, se considerou autossuficiente e caiu em um desvio nacional trotskista.

A diferença com outras organizações trotskistas foi que na LIT-QI havia reservas e um setor resistiu como pode às investidas desse vendaval. Por isso, a LIT, diferente do SU, não correu no sentido que soprava o vento e não se adaptou à “modernidade”. Pelo contrário, na LIT-QI o “vendaval oportunista” provocou crises, rupturas, divisões, até que finalmente pode voltar a retomar o caminho correto.

A MORTE DE NAHUEL MORENO E A DESTRUIÇÃO DA LIT-QI

Se Moreno estivesse vivo, provavelmente teríamos entrado em crise da mesma forma, já que as causas objetivas eram muito fortes. Lênin, Trotsky, Rosa Luxemburgo, enfrentaram as pressões chauvinistas durante a Primeira Guerra Mundial, mas não conseguiram evitar a bancarrota da Segunda Internacional. Moreno não conseguiu derrotar as pressões guerrilheiristas que originaram a ruptura na Argentina com Bengochea e depois com Santucho…

Porém, sem dúvida, se Moreno estivesse vivo, o desenvolvimento da crise teria sido diferente e as baixas muito menores. Tendo em conta a trajetória de Moreno e seu prestígio, muito dificilmente, a maioria da LIT teria caído em tal desvio, se tivesse contado com sua direção. Com a direção de Moreno, a crise teria se dado, teria havido rupturas, perdas, mas quase com segurança não teríamos chegado à destruição.

Há correntes como o Partido Operário da Argentina que opinam que a crise e destruição do MAS e da LIT são produto da política de Moreno e que a atual evolução oportunista do MST[4] argentino, seria a continuidade do morenismo. Nahuel Moreno construiu nossa corrente enfrentando o oportunismo, as frentes populares, a reação democrática, lutando incansavelmente pela construção de partidos revolucionários na classe operária, pela construção da Internacional. Essa luta de décadas criou raízes, deixou reservas e por isso é que do interior da LIT-QI e do próprio velho MAS, surgiu a resistência que encarou a reconstrução e conseguiu voltar a colocar de pé a nossa Internacional.

A NOVA REALIDAD DA LIT-QI

A partir do V Congresso se iniciou um lento e traumático processo de reconstrução. Este processo foi muito dificultoso pela forma em que teve que ocorrer. Não é a primeira vez, na história das Internacionais, que é necessário enfrentar uma ofensiva do revisionismo. Ocorreu na Segunda, mas nela a luta foi liderada por uma parte dos principais dirigentes: Kautsky, Rosa Luxenburgo, Liebknecht…em um primeiro momento; Rosa, Lênin, Trotsky, Liebknecht…depois de 1914. Na Terceira, a batalha foi liderada por Trotsky. No SWP ianque, Trotsky e Cannon estiveram na liderança do combate contra os antidefensistas.

Na LIT foi muito diferente, os principais dirigentes, os que haviam trabalhado mais estreitamente com Moreno, os que tinham mais experiência e mais prestígio, foram caindo um por um frente ao “vendaval oportunista”, foram adotando uma ou outra posição revisionista ou se foram e não lutaram. Esse combate teve que ser encarado por dirigentes de segunda ou terceira linha, que não tinham nenhuma experiência na direção internacional nem no combate teórico programático. Por isso é que, com muitas dificuldades, e cometendo muitos erros no caminho, os organismos foram sendo reconstruídos e a partir deles se foi avançando na compreensão comum do mundo.

Assim, pouco a pouco, foi se recuperando a tradição teórica, política metodológica. Foi se dando resposta política a novos fatos: a guerra da Bósnia, a “globalização” capitalista, a reestruturação produtiva. Temos conseguido dar uma interpretação teórica à restauração capitalista nos ex estados operários degenerados. Os partidos da LIT-QI interviram nos processos revolucionários latino-americanos e apresentamos uma política principista, de enfrentamento aos novos governos (de Frente Popular ou populistas) originados por esses processos.

Em torno da participação nestes processos, a LIT-QI foi se reconstruindo, não só em termos teóricos, programáticos, metodológicos, morais, mas também em termos organizativos. O maior avanço organizativo se deu no Brasil com a construção do PSTU que se tornou uma referência indiscutível para as lutas e o ativismo brasileiro. Mas não foi o único, as seções aprofundaram sua inserção no movimento de massas, se iniciou a reconstrução do partido argentino, foram constituídas novas seções no Equador, na Costa Rica, o POI da Rússia entrou na LIT-QI. O Correio Internacional e a revista Marxismo Vivo têm demonstrado, regularmente, as definições políticas frente aos principais fatos da luta de classe e o avanço das elaborações téorico-programáticas.

Estes fatos, somados às relações estabelecidas com o CITO com o objetivo de ir a uma única organização, fizeram com que o VIII Congresso (junho de 2005) constatasse que a LIT-QI estava vivendo uma nova realidade.

Posteriormente, novos fatos confirmaram essa definição: a unificação com o CITO, que significou a recuperação do PST colombiano e de organizações e quadros no Peru, Costa Rica e Argentina. O contínuo desenvolvimento do PSTU, sua correta localização de enfrentamento ao governo de Frente Popular de Lula, o êxito de sua política de construir a CONLUTAS como central operária e popular de alternativa; a entrada do partido italiano na LIT-QI, a fundação da seção venezuelana, o desenvolvimento do trabalho na América Central, a fundação da seção belga, a fusão que deu origem ao PSTU da Argentina, a abertura de nosso trabalho no Paquistão, no Senegal, a reabertura do trabalho na Turquia. Também houve alguns fatos de signo oposto: a saída do POS mexicano, do MST da Bolívia e da LST da República Dominicana, a ruptura em 2016 de um importante setor do PSTU do Brasil e do PSTU da Argentina. Fatos que continuam marcando a pressão do “vendaval oportunista”.

NOSSO PROJETO ESTRATÉGICO: A RECONSTRUÇÃO DA IV INTERNACIONAL

Em 2008 afirmávamos:

A nova realidade da LIT-QI se combina com uma nova realidade da luta de classes a nível latino-americano e mundial. A situação revolucionária mundial e latino-americana que começou a se manifestar com força a partir do início do século XXI, está passando por um novo momento. A resistência iraquiana está colocando a possibilidade de uma nova derrota militar do imperialismo ianque. Os planos dos EUA de estabilizar o Oriente Médio vêm abaixo como demonstra a derrota do exército israelense no Líbano. O prestígio de Bush caiu abruptamente.  Nos países imperialistas, os ajustes pela crise econômica provocam a reação dos trabalhadores, aos que se somam as fortes lutas dos operários imigrantes. No caso dos EUA, isto significa que uma ponte está sendo construída com as lutas latino-americanas. Mas o ataque imperialista continua. Na América Latina, aprofunda a ofensiva colonizadora do imperialismo, o saque dos recursos naturais, as exigências de ajustes para pagar a dívida externa, agora tudo agravado pela crise econômica mundial. Também continua a resposta das massas diante desse saque permanente. A diferença é que agora este ascenso operário e popular começa a se dirigir contra os que aplicam os planos, ou seja, os novos governos que surgiram para canalizar ou prevenir o ascenso: Lula, Chávez, Evo, Kirchner, Tabaré….

Esta realidade, sem dúvida alguma, coloca em evidência a necessidade urgente de avançar na solução da crise de direção revolucionária, construindo uma direção revolucionária mundial. Ao mesmo tempo, este novo momento da situação mundial provoca mudanças importantes na consciência do movimento de massas que facilitam essa tarefa. Com o surgimento destes governos se viu, em sua máxima expressão, os efeitos do “vendaval oportunista”. A maioria das correntes de esquerda, inclusive a maioria das que se reivindicam trotskistas, capitularam a eles. Mas esta nova realidade, que teve sua máxima expressão na derrota eleitoral de Chávez no referendo, está provocando rupturas pela esquerda dessas organizações, que buscam novas referências nacionais e internacionais.

Voltando ao proposto na Introdução, frente a esta situação, a LIT-QI reafirma seu projeto estratégico: a reconstrução da IV Internacional e faz um chamado para a unidade em torno de um programa revolucionário, que contemple não apenas as respostas políticas aos principais fatos da luta de classe, que aproximem os trabalhadores da luta pelo poder, mas também os aspectos de concepção de partido, de método e de moral revolucionária.

Propomos aplicar para a reconstrução da IV o mesmo método que Trotsky aplicou em sua construção. Em primeiro lugar, fazendo o chamado não só dos que provêm do trotskismo, mas a todos os revolucionários com os quais concordamos programaticamente, independentemente de sua origem.

Em segundo lugar, não dirigindo o chamado a todos os que se reivindicam trotskistas. Por um lado, porque há organizações que assim se reivindicam e que, entretanto, abandonaram o programa revolucionário ao apoiar ou participar de governos burgueses. E, por outro lado, porque existem as seitas auto proclamatórias que recitam o programa, mas que, pelos seus métodos fracionalistas e desleais, cumprem um papel absolutamente destrutivo.

Em terceiro lugar, propondo as unificações não através de conferências abertas e grandes atos, mas a partir de uma paciente discussão programática e de uma atividade comum na luta de classes, que permitam avançar sobre acordos sólidos e relações de lealdade revolucionária.

Dada a deterioração produzida pelo “vendaval oportunista”, é necessário especificar alguns aspectos que atuam como divisor de águas:

A defesa da independência de classes frente a todos os governos burgueses, inclusive os de Frente Popular ou populistas. Não apoiamos a eles nem as suas medidas e somos oposição de todos eles.

Apoiamos as lutas da classe operária e de seus aliados.

Enfrentamos toda burocracia e defendemos a democracia operária em todas as organizações da classe.

Temos como centro ordenador a luta contra o imperialismo em todas suas variantes.

Nosso objetivo é a destruição do Estado burguês e suas FFAA, e a construção de um estado operário, baseado em organismos democráticos da classe, que impulsione a revolução socialista internacional.

Defendemos a moral revolucionária e rejeitamos os métodos do “vale tudo”, agressões físicas, calúnias, trabalho desleal, descumprimentos de acordos.

Reafirmamos o papel da classe operária como sujeito social da revolução.

Defendemos a necessidade de construir partidos revolucionários democraticamente centralizados e o caráter operário que esses partidos devem ter.

Defendemos a necessidade imperiosa de construir uma Internacional revolucionária democraticamente centralizada.

Esse breve esboço da nossa história, teve o objetivo de mostrar os aspectos centrais desta longa marcha da nossa construção. Mostrando nossos acertos, nossos pontos fortes e também nossas falhas, nossos desvios, nossas crises porque, como dizia Moreno, “avançamos através de erros e golpes e não temos vergonha de dizê-lo”.

Depois de muitos anos de crises e rupturas, estamos vivendo uma nova realidade. Estamos vivendo um processo de fortalecimento que nos coloca em melhores condições para avançar no projeto estratégico. Temos uma história, uma experiência acumulada, um programa que continuamos construindo, uma estrutura de seções, publicações, uma força militante, que colocamos à disposição para avançar na reconstrução da IV Internacional.

Hoje após 40 anos da fundação da LIT-QI

A pandemia; a crise econômica mundial, a fome; a crise dos refugiados; a guerra de libertação nacional na Ucrânia; os levantes operários e populares como os de Sri Lanka e Irã, os dos EUA frente ao assassinato de George Floyd; as lutas das mulheres e demais setores oprimidos; a volta dos chamados “governos progressistas” na América Latina, assim como o crescimento da extrema direita a nível mundial; tudo isso nos faz dizer que devemos concluir este breve esboço histórico, reafirmando a definição das Teses Fundacionais da LIT-QI: a necessidade fundamental para resolver os problemas da humanidade é a revolução socialista mundial e para isso o central é superar a crise de direção revolucionária, avançando na reconstrução da IV Internacional como continuidade política, programática, metodológica e moral da Terceira Internacional dirigida por Lênin e Trotsky.

Novembro de 2022.

Notas:

[1] O trotskismo operário e internacionalista na Argentina, coordenador Ernesto González, editorial antídoto, pag.293

[2][2] Idem

[3] A FI (Fração Internacional): integrada pela maioria do PST espanhol e pelo SR da Itália que fazia parte da LIT; TBI (Tendência Bolchevique Internacional), integrada pela maioria do PST colombiano, os partidos da Costa Rica, Honduras e Nicarágua e um setor do MAS argentino; Novo Curso, integrada pela direção do MAS argentino, um setor do partido brasileiro, o partido venezuelano, o partido uruguaio, a LST da França; TR(Tendência pela Reconstrução) integrada pela maioria do partido brasileiro, do partido boliviano e do partido chileno, e um setor do partido espanhol.

[4] MST. Movimento Socialista dos Trabalhadores, partido surgido da TM, a tendência que rompeu com o MAS em 1992