Os trabalhadores da fábrica da Volkswagen (VW) de Chattanooga, Tennessee, votaram a favor de afiliarem-se ao sindicato United Auto Workers (UAW). A votação foi um êxito avassalador, já que 73% ou 2628 trabalhadores votaram “sim” e apenas 27% ou 985 trabalhadores votaram “não”. Esta vitória histórica de aproximadamente 4000 trabalhadores da Volkswagen foi muito batalhada e superou uma longa história de fortes táticas antissindicais que derrotaram duas tentativas anteriores, em 2014 e 2019.
Por: Ernie Gotta
O que mudou em 2024? A resposta pode ser entendida em parte pela percepção do êxito da greve da UAW das Três Grandes em 2023. Os trabalhadores automotivos não sindicalizados se sentiram inspirados e entraram em contato com a UAW em quantidades sem precedentes. Na Conferência Labor Notes de abril de 2024 em Chicago, Zach Costello, um novo membro da UAW da Volkswagen, comentou: “Quando viram o contrato das Três Grandes, tudo mudou. Inclusive os trabalhadores antissindicais vieram a nós. Mudaram de lado! Eles mesmos mudaram de lado. Não tivemos que fazer nada”.
Costello continuou: “Se os trabalhadores não são donos de nada nem têm voz nem voto, não podem garantir sua segurança…Um local de trabalho está formado por pessoas. E uma sociedade se compõe de locais de trabalho. Se esses locais de trabalho não podem garantir a segurança básica de sua gente, o que estamos fazendo?”
As principais reivindicações de Costello incluem um plano de saúde único para todos, sem prêmios nem níveis, novas normas de segurança e o estabelecimento de um processo para negociar a quantidade de trabalho atribuído e sua segurança.
Mudança de tática
Com a nova direção reformista de Shawn Fain, a UAW também mudou de tática para derrotar a antissindicalização da empresa. É quase impossível que os trabalhadores ganhem uma votação sindical se as bases não desempenharem um papel protagonista na organização, criando seus próprios comitês de organização, comprometendo-se com a organização de trabalhador a trabalhador e conectando sua campanha de organização com a comunidade. Utilizando estes métodos, desta vez os dirigentes da UAW puderam neutralizar a difícil, porém previsível campanha antisindical.
Seu modelo de organização anterior não preparou os trabalhadores o suficiente. Por exemplo, em 2019, quando os políticos locais e estatais respaldaram a empresa, Labor Notes escreve: “Os grupos astroturf respaldados pelas empresas inundaram as ondas e a televisão com anúncios que atacavam a UAW. Os políticos do estado ameaçaram retirar o apoio aos incentivos estatais vinculados a uma próxima expansão da planta e a produção de um novo veículo elétrico”.
Os trabalhadores estadunidenses da Volkswagen já não são a única fábrica não sindicalizada de VW no mundo. É evidente que as outras fábricas sindicalizadas de todo o mundo não afetaram os resultados da VW nem seus pagamentos aos ricos investidores. De fato, a empresa teve uma margem de benefícios muito maior nos últimos tempos que qualquer das três grandes empresas automobilísticas estadunidenses.
Organizar os que não estão organizados! Organizar o Sul!
Talvez o mais importante seja que esta vitória abre uma via direta a uma campanha de sindicalização mais ampla na indústria automobilística e, em particular, à organização a favor de salários mais altos, melhores condições de trabalho e prestações em todo o Sul. Em 5 de abril, antes que os votos fossem emitidos na Volkswagen, os trabalhadores da Mercedes em Vance, Alabama, apresentaram uma solicitação de eleições sindicais. A Junta Nacional de Relações Trabalhistas (NLRB) programou a votação para os dias 13 a 17 de maio. Cerca de 5.000 trabalhadores da Mercedes terão a oportunidade de votar para afiliarem-se à UAW e aproveitar o impulso da votação de Chattanooga.
Ganhar um ponto de apoio no sul poderia, por sua vez, inspirar os trabalhadores da indústria automotriz de outras regiões do país, como em Rivian de Normal, Illinois, a promover suas próprias campanhas sindicais. Em novembro de 2023, um comunicado de imprensa da UAW citava Lori Paton, trabalhadora da Rivian, que começou a trabalhar na nova empresa de veículos elétricos Rivian em sua planta de montagem de Bloomington, Illinois, em outubro de 2022. Ela disse: “A empresa gosta de dizer-nos que estamos fabricando o avião enquanto o pilotamos, e isso explica muito sobre os problemas que temos”, disse Paton, membro da equipe no grupo Chassis 3. O local de trabalho é muito perigoso. A rotatividade é terrível. Cada grupo tem uma história de um empregado novo que não chegou ao primeiro descanso. A falta de segurança, os baixos salários, as horas extraordinárias obrigatórias, há tantas razões pelas quais precisamos estar sindicalizados”.
As miseráveis condições de trabalho e os truques típicos da patronal se manifestaram na conferência de Labor Notes de 19 de abril, quando um trabalhador da Rivian comentou sobre a campanha de sindicalização: “Aumentaram nosso salário, mas também a jornada. Agora nos fazem trabalhar 10 horas por dia”.
E agora? A independência de classe
A Voz dos Trabalhadores felicita os trabalhadores automotivos de Chattanooga. As campanhas de sindicalização que estão levando a cabo em todo o país são uma inspiração para todos os trabalhadores. Embora haja entusiasmo pelo potencial ressurgimento da militância sindical, a representação sindical está diminuindo em geral. O Centro de Pesquisa Pew escreve: “A proporção de trabalhadores estadunidenses que pertencem a um sindicato caiu desde 1983, quando 20,1% dos trabalhadores estadunidenses eram membros de um sindicato. Em 2023, 10,0% dos trabalhadores estadunidenses estavam afiliados a um sindicato”. As opiniões sobre a diminuição da afiliação sindical mudaram só modestamente desde o ano passado, quando 58% disse que era mau para o país. Não houve mudanças nas opiniões sobre seu impacto nos trabalhadores.
Desgraçadamente, qualquer movimento para um ressurgimento da militância operária se vê obstruído pelo fato dos trabalhadores estarem politicamente atados ao Partido Democrata. Este partido se opõe sistematicamente aos interesses da classe operária e orienta a burocracia sindical, as ONG e as organizações sem fins lucrativos para o apoio dos interesses da classe dominante. A única forma de avançar é os trabalhadores romperem com os partidos da classe dominante e empreenderem um caminho independente. Isto significa a construção de um partido operário ou do trabalho que poderia mudar o equilíbrio de poder e colocar os trabalhadores no assento do condutor.
Animamos nossos leitores a apoiar estas campanhas sindicais mediante expressões de solidariedade, animando os trabalhadores do setor automobilístico que conhecem, a apoiar os esforços para sindicalizar-se, ou inclusive buscando trabalho em oficinas não sindicalizadas para ajudar a ampliar a campanha sindical.
Foto: MENAFN / AFP
Tradução: Lílian Enck