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Projeto de documento sobre situação mundial (UIT)

abril 20, 2008

O marco deste projeto mundial e a minuta de maio de 2006, que cremos ter sido confirmado em seus tracos gerais e que mantem sua atualidade. Desde essa elaboracao do CEI, confirmou-se seu ponto central no sentido de que o imperialismo esta na defensiva e por isso avancamos em uma nova definicao central de que no Iraque esta produzindo o novo Vietna dos EUA. Este e o ponto ordenador da situacao mundial revolucionaria.

Este projeto aprovado, com correcoes, pela reuniao Ampliada de fins de 2007, apresenta-se para o debate do Congresso da UIT-CI, que tera um carater aberto, no debate politico, a outras organizacoes socialistas revolucionarias.

A queda da bolha imobiliaria dos EUA, a provavel recessao de sua economia, o crack reiterado das bolsas e a crise financeira mundial nos mostra que entramos numa nova fase aguda da crise cronica do capitalismo mundial. Este e um fator a mais que confirma que se abrem novas perspectivas de mudancas e convulsoes politicas e sociais. Destes fatos concluimos no carater objetivamente revolucionario da situacao mundial. Porque independentemente da direcao, que sem duvida e o fator mais atrasado, existem rebelioes, insurreicoes, e processos revolucionarios nos quais temos que intervir para tentar superar a crise de direcao revolucionaria que continua presente.

O projeto tambem desenvolve os novos elementos da situacao da America Latina e, em especial, desenvolve o processo e a dinamica do surgimento de novos organismos e novas direcoes no movimento operario, que inclui os sindicatos dos campesinos cocaleiros nos quais temos atuacao no Peru, do continente. Este ponto e chave debate-lo pela experiencia na Venezuela, o momento e as perspectivas do classismo independente.


CAPITULO 1


No Iraque esta produzindo-se um novo Vietna


Um fantasma ronda os EUA e o mundo. O fantasma do Vietna. A derrota yanque que esta se produzindo no Iraque e a segunda na historia que afronta o maior imperialismo. Tera consequencias historicas imensas, quica maiores que a catastrofe yanque no Vietna em 1975 pela nova etapa e situacao mundial aberta com a revolucao politica e o colapso do stalinismo.

 Comparado com o Vietna do 70, Iraque tem semelhancas e diferencas. Tem o ponto em comum que caminha para uma nova derrota militar do imperialismo. Uma das diferencas favoraveis e que agora nao so afetaria aos ianques, mas tambem sofrem a derrota outros imperialismos como o ingles e, em menor medida, o espanhol. Por outro lado, diferente do Vietna, nao se produziram mobilizacoes de massas no seio do imperialismo norte americano. E tampouco a resistencia tem uma direcao unificada como foi o caso do Vietna e um Iraque liberado pode terminar em uma guerra civil por exemplo.

Mas o central e que Bush e o imperialismo yanque estao sendo derrotados militarmente. Mais alem dos pros e contras que possa ter esse segundo Vietna, o que esta mostrando o Iraque e sua resistencia de massas e que existe uma crise de dominacao politica, economica e militar no Iraque e em toda regiao do Oriente Medio e Asia Central.

Bush lancou a invasao em marco de 2003 para controlar o petroleo iraquiano e tratar de estabilizar a regiao, liquidar o conflito palestino-israelense e debilitar ou derrotar o Ira. Todos esses planos foram pelos ares.

Esta crise de dominacao do imperialismo se explica porque estamos na etapa revolucionaria aberta em 1989 com a queda do Muro de Berlin e do aparato stalinista de Moscou. Desde entao ao imperialismo todo lhes custa mais porque ja nao conta com a colaboracao contra revolucionaria do stalinismo para arruinar juntos o processo de rebeliao das massas. Desde os anos 90-91 o imperialismo lancou uma contra ofensiva politica e militar, que pega um salto desde as Torres Gemeas coma invasao ao Iraque, para tratar de derrotar o ascenso nas lutas que a queda do muro de Berlin abriu. Anunciava-se que existia uma "nova ordem mundial", que o imperialismo havia triunfado em todo seu programa e se dava sua superacao coma chamada "globalizacao economica". A realidade pos em terra estes falsos prognosticos.

No Iraque o combate nao terminou. Os yanques ainda ocupam o Iraque. Mas o heroico combate das massas iraquianas ja conseguiu colocar os yanques a discutir como se sair com honra e nao retirar-se em debandada. Esta e agora a maior aspiracao das vozes mais sensatas do imperio. Ainda que a crise que lhes esboca Iraque se expressa em que tambem haja setores do governo de Bush que pretendem aumentar a aposta com um ataque militar ao Ira, o qual nao pode descartar-se como uma medida desesperada de animal encurralado, o que com altissima probabilidade faria instalar uma crise muito maior. Este ataque, de dar-se, poderia basear-se mais em bombardeios que uma invasao porque o imperialismo teria muitas dificuldades politicas e militares para executa-lo.

A derrota yanque no Iraque e o acontecimento que ja esta influenciando mais decisivamente a situacao mundial. O fracasso yanque no Iraque os leva de forma direta a um fracasso ainda maior no Oriente Medio e Asia Central. O exercito de Israel sofreu uma humilhante derrota no Libano pelas maos do Hezbollah, fracassou o intento de derrotar o Hamas na Palestina, fracassou o intento de por de joelhos o Ira. No Afeganistao desponta a guerrilha de resistencia. E o regime do Paquistao, o mais docil as ordens yanques, desestabiliza-se aceleradamente. Os paises independentes da regiao, Ira e Siria, fortaleceram-se em seu enfrentamento ao imperialismo.

70% das massas norte americanas se opoem a guerra. Ainda que as mobilizacoes contra a guerra sejam de uma vanguarda ampla, porem nao tao massivas quanto as de 35 anos atras pelo Vietna, os lideres burgueses, tanto democratas como republicanos sao conscientes da dinamica que pode levar a uma desestabilizacao politica. A catastrofica derrota republicana nas eleicoes parlamentares de novembro de 2006 mostrou o amplo descontentamento, ainda que por hora seja canalizado pelo sistema bipartidarista. E provavel que nas eleicoes presidenciais de novembro de 2008 triunfem os democratas.

Na America Latina, o giro de Bush realizado em 2007, mostrou ate que ponto retrocedeu o imperialismo. No Brasil o repudiou ate o PT, o partido governante, ainda que justificando Lula por recebe-lo "por necessidade de estado". Nao pode visitar a Argentina e foi repudiado em cada ponto de seu giro. No Uruguai, Tabare teve que leva-lo ao campo para comer um assado porque foi impossivel ter o monstro em Montevideu. O correspondente da BBC inglesa em Washington, Johathan Beale, sintetizou o fracasso em uma reportagem para a televisao: "George W. Bush perdeu a America Latina". De fato, a luta das massas conquistou uma relativa independencia politica da Venezuela, Bolivia e Equador, fato novo desde a decada de 70. Ainda que por certo isto nao significa que o imperialismo yanque tenha "perdido a America Latina", mas sim teve um claro retrocesso em seu dominio.

Bush ja e um dos personagens mais odiados na historia mundial, comparavel so a Hitler. O massivo odio ao imperialismo yanque nos 5 continentes nao tem precedentes historicos.

Em julho de 2007 a crise dos "fundos de inversao" mostra que terminou o ciclo de crescimento da economia yanque baseada na especulacao imobiliaria e fundos de investimento. Ainda que a massiva intervencao dos bancos centrais em auxilio aos bancos nao conseguiu impedir o crack generalizado e a crise seguiu avancando. O capitalismo segue cronicamente enfermo e a economia mundial dominada pelas multinacionais e os fundos de especulacao financeira anunciam uma crise aguda.

Por outro lado, a destruicao ambiental, que antes era discutida so por especialistas, adquiriu tais dimensoes que seus efeitos sao evidentes para grande parte da populacao mundial. O capitalismo "avanca" destruindo o planeta e claramente chegou a um ponto de esgotamento de recursos e crescentes catastrofes. Todos os paliativos fracassam ou sao pateticamente insuficientes. O protocolo de Kioto que limita as emissoes de gases industriais e por si so totalmente insuficiente. Mas nao sequer isto foi firmado pelos EUA que e o maior contaminador. O capitalismo dominado por multinacionais sedentas de ganancias e organicamente incapaz de impedir degradacao ambiental. Cada dia e mais evidente que so uma economia planificada internacionalmente e que defenda o interesse coletivo, ou seja, uma economia socialista, pode impedir a destruicao crescente do planeta.


1.1  Descontrole no Iraque


Diferente do que ocorria no Vietna, no Iraque nao existe um comando politico militar unificado da resistencia. No Iraque ha diversas organizacoes que chegam a enfrentar-se. Porem, tudo indica que o fenomeno predominante e um gigantesco alcamento de massas que transborda o controle das direcoes politicas burguesas ou pequeno burguesas. Entao, a resistencia tem expressoes multiplas e em particular uma enorme quantidade de acoes armadas com armas de fabricacao caseira, com armas que ficaram do exercito de Saddam, ou com armas que foram perdidas pelo exercito colaboracionista. Algumas destas acoes sao sofisticadas e planejadas por organizacoes armadas, outras muitas sao ataques obras de pequenos grupos de resistencia, inclusive individuais. O resultado e tremendo.

"Nos temos uma so estatistica, e os estadunidenses sabem, e consiste em que a acao da resistencia armada (desde o inicio da ocupacao) cresceu e vem aumentando. As bem conhecidas cifras que dao os proprios estadunidenses indicam que em 2004 as tropas da ocupacao sofriam 45 ataques diarios por parte da resistencia, em 2005 os ataques oscilavam entre 70 e 75, e hoje superam os 100 ataques diarios. Nao se deve ter isto em conta apenas do ponto de vista quantitativo, mas tambem deve-se ter em conta que a acao da resistencia melhorou tambem qualitativamente, e prova disso sao os ataques que tem como objetivo o melhor do exercito estadunidense, que sao seus helicopteros e avioes. A imprensa estadunidense classificou de "carnificina de helicopteros" o ocorrido no mes passado (fevereiro) no Iraque: cairam 12 helicopteros que eram os mais sofisticados em termos de protecao e blindagem. O problema dos estadunidenses nao e a derrubada dos helicopteros, mas sim saber que tipo de armas estao utilizando contra eles. E, se os estadunidenses pensavam que os misseis utilizados eram importados de paises vizinhos, sua nova desgraca foi descobrir que eram misseis fabricados por  engenheiros iraquianos que pertenciam a industria militar do regime anterior, modificados dos (provenientes) da epoca de Saddam Husseim" (*Entrevista a Awni Al Kalemji, Frente Patriotica Nacionalista e Islamica, 23/03/2007 em WWW.iraqsolidaridad.org). A estatistica dos ataques diarios que da Al Kalemji e corroborada por multiplas fontes, inclusive periodicos ocidentais.

"Segundo o pentagono, quase 70% das baixas estadunidenses devem-se as denominadas "bombas de fabricacao caseira", os IED (em sua sigla em ingles), que a resistencia faz estalar ao passarem comboios e patrulhas militares. O numero de ataques com este tipo de artefato duplicou no transcurso do ultimo ano ate uma media mensal de 1.200 [2].

Nos ultimos meses, a resistencia iraquiana esta empregando em seus ataques uma nova modalidade de explosivos que os militares estadunidenses batizaram como "Explosively formed penetrators" (EFP_ desenhados para aumentar sua capacidade de penetrar as novas blindagens como as que estao sendo previdos os veiculos militares estadunidenses no Iraque (Carlos VArea WWW.iraqsolidaridad.org 9 de maio).

"A principios daprimavera, os responsaveis estadunidenses declararam que as bombas caseiras eram responsaveis por 60% dos mortos estadunidenses: agora sao de 80%. Durante o fim de semana  (da celebracao) do Memorial Day a resistencia derrubou um helicoptero em Diyla e encheu de bombas trampa o lugar e a estrada que conduz a cidade o que ocasionou que seis soldados estadunidenses de um grupo de resposta imediata saltaram pelos ares" (10/06/07 Jerry White WWW.wsws.org e WWW.iraqsolidaridad.org).

Os ocupantes fracassaram em armar um exercito titere com alguma efetividade. Uma angustiante demonstracao disso e a recente comprovacao que fez o Congresso norte-americano de que ate 60% das armas que os Estados Unidos entrega ao exercito iraquiano "desaparecem". OU seja, vao para as maos da resistencia. "De acordo com a investigacao realizada pelo Congresso, o general Petraeus lembra que cerca de 185.000 rifles AK-47, 170.000 pistolas, 215.000 pecas de tanques e 140.000 capacetes foram entregues as forcas iraquianas desde junho de 2004 a setembro de 2005. Mas, os livros de contabilidade que mostram o que as forcas efetivamente receberam dao conta de apenas 75.000 rifles, 90.000 pistolas, 80.000 pecas de tanques e 25.000 capacetes. E o resto, onde esta?" (Clarin, 6/8/7). Perderam 190 mil fuzis e pistolas, 135 mil pecas de tanques e 115 mil capacetes! Os soldados se alistam por necessidades economicas e muitas vezes sao simpatizantes da resistencia, ou diretamente infiltrados por esta.

Esta resistencia, sendo mais forte no setor do pais onde predominam os sunnitas, foi se estendendo entretanto a todas as grandes cidades, incluindo Bassora, a grande cidade petroleira do sul, administrada pelos ingleses. Em Bassora tambem houve greve dos trabalhadores petroleiros. Um artigo do diario ingles The Independent reporta que as tropas inglesas estacionadas  em Bassora estao praticamente sitiadas e que sao alvo de ate 60 disparos de foguetes e morteiros por dia. Para se reabastecerem recorrem a caravanas noturnas de blindados que os militares ingleses descrevem como "missoes suicidas noturnas". O Diario The Washington Post publicou criticas de agentes de inteligencia dos Estados Unidos que consideram que "basicamente os britanicos tem sido derrotados no sul".

O fracasso militar imperialista esta intimamente relacionado com o fracasso em dotar-se de uma base politico social consistente. Os yanques conseguiram formar um governo titere em 2005, apoiando-se nos partidos tradicionais da maioria curda (10% da populacao do pais) em troca de dar-lhes autonomia regional, em pequenas formacoes colaboracionistas sunnitas, e nos partidos influenciados pelo clero shiita e pelo regime vizinho do Ira. Em eleicoes realizadas com enorme abstencao, foi eleito um presidente curdo, Yalal Talabani e um primeiro ministro pertencente a Alianca Unida Iraquiana (shiita), que logo trocaram por outro da mesma organizacao que atualmente e o primeiro ministro, Nuri Al Maliki. Mas este governo, ja de inicio ilegitimo e odiado pela maioria da populacao, foi caindo em pedacos. Em 06 de abril de 2006 o partido shiita encabecado por Muqtada Sadr, que conta com uma poderosa milicia armada, o "Exercito de Mahdy", que tinha 3 ministros e 30 deputados, abandonou o governo. Fez isto depois de imensas manifestacoes, que eles mesmos convocaram, nas quais milhares de pessoas gritavam consignas pela imediata retirada yanque. Al Maliki saiu no dia seguinte ao dizer que nao pediria a retirada dos norte-americanos. De imediato Sadr se viu obrigado a responder publicamente. Disse que se Maliki mantinha o que disse, retirava-se do governo. Isto foi o que finalmente ocorreu. Em 18 de abril os ministros que respondem a Sadr retiraram-se do governo. Sobre o "Exercito Mahdy", responsaveis da inteligencia norte-americana calculam que esta milicia cresceu durante o ano passado ate chegar a quase 60.000 combatentes e alguns membros do Pentagono consideram que e mais eficaz militarmente que o exercito iraquiano" (WWW.iraqsolidaridad.org, Carlos Varea, 231/7). E interessante o fato de que o proprio governo Muqtada Sadr chamou publicamente os milicianos do exercito Mahdy a nao enfrentarem-se com o exercito iraquiano (o ramado pelos Estados Unidos), mas sim conseguir evitar que prossigam os enfrentamentos.

Alem disso, ha outras milicias que operam de forma semi-legal, dominam bairros ou pequenas cidades e que de fato tem mais poder que o exercito, Uma carta de suboficiais yanques que combateram no Iraque, publicada pelo New York Times, diz: "Os chefes do batalhao (do exercito iraquiano) nao tem influencia sobre milhares de seus soldados que, em uma cadeia de mando anomala, so a suas proprias milicias professam verdadeira lealdade".

O enfrentamento sectario entre shiitas e sunitas, com elementos de guerra civil, quase seguramente foi estimulado, como denuncia a resistencia, pelos ocupantes. Alias, e outro tipico exemplo da lei do "bombeiro louco". Dividiram sim em grande medida os iraquianos. Mas isto nao deteve a resistencia, mas a transformou em um "monstro" de mil cabecas que golpeia o invasor desde cada bairro e povoado. Isso torna totalmente impossivel aos yanques corromper seus lideres, como ja tentaram. Por isso fracassou o governo de Al Maliki pese a ter tido o apoio formal inicial de importantes partidos shiitas, curdos e sunnitas

Sem o apoio dos lideres shiitas, incluindo o proprio Sadr, e Ira, Estados Unidos nao poderia ter montado um governo titere como o que fez. Ou seja, a tatica yanque para tentar apoiar-se em algo, foi fazer acordos instaveis com os shiitas e com o Irã.

Por um lado deve-se denunciar que estas direcoes shiitas e o regime iraniano, atuaram assim como cumplices encobertos da ocupacao. Enquanto Arabia Saudita, Jordania e Turquia foram e sao cumplices abertos da dita ocupacao yanque, proporcionando bases militares e muita outra colaboracao, Ira atua como pais independente com direcao nacionalista burguesa, buscando acordos e tratando de tirar partido disso. Ou seja, Ira nao atuou como uma direcao consequentemente antiimperialista, pese a ser permanentemente hostilizado pelos Estados Unidos e Gra Bretanha por seu programa nuclear. Sua acao foi negociar para tentar ter sua propria base de apoio dentro do Iraque e assim obrigar os Estados Unidos a negociar diretamente com eles, coisa que fizeram os yanques citando-os inclusive em uma conferencia em Bagda para discutir sobre a "seguranca iraquiana". Sendo totalmente legitimo que Ira tente defender seu interesse nacional frente ao imperialismo, e inclusive que estabeleca negociacoes com os yanques, e no entanto uma traicao as lutas nacionais no Oriente Medio, que o facam passando por cima e as custas da resistencia armada iraquiana, negociando sobre o futuro do Iraque com os ocupantes e reforcando o governo colaboracionista de Al Maliki.

Nos ultimos meses o governo seguiu se debilitando. Em julho de 2007 retirou-se o partido colaboracionista sunita, o Partido Islamico, ficando reduzido o apoio politico ao governo aos dois partidos curdos e ao movimento de Maliki, claramente muito minoritaria na comunidade shiita. Dos 40 ministros renunciaram o governo 23 no mes de setembro de 2007. Fica cada vez mais claro que este governo titere nao se sustentaria nem um dia ante uma retirada yanque.


1.2 – Libano, o Vietna de Israel


A derrota do exercito israelense na guerra do Libano em junho de 2006 e um fato historico que marca o aprofundamento qualitativo da crise do estado sionista, que e o baluarte fundamental do imperialismo no Oriente Medio. Se Iraque e o novo Vietna para os Estados Unidos, o Libano foi o Vietna de Israel. A derrota no Libano em 2006 poe em crise essa capacidade de aterrorizar aos povos vizinhos e aos palestinos. O que em Israel chamam eufemisticamente forca "dissuasoria". Esta crise se expressou em manifestacoes massivas de 200 mil pessoas, que uniam direitistas com pacifistas, contra o governo de Olmert por ter "conduzido mal" a guerra do Libano.

Diziamos na minuta de maio de 2006 que o triunfo do Hamas nas eleicoes palestinas mostrou a decisao de que foi uma consequencia direta da Intifada e da radicalizacao das massas palestinas que nao veem saidas atraves dos acordos com Israel e o esgotamento politico da direcao da OLP e Al Fatah. Paralelamente a este fenomeno, no Libano se fortalecia mais e mais o partido politico militar mais anti-sionista, Hezbollah, formado precisamente na resistencia a Israel que ja tinha conseguido em 2000 expulsar o exercito israelense do Libano.

A contra-ofensiva imperialista-sionista para enfrentar essa nova situacao foi jogar gasolina ao fogo.

Israel em 2006, tentando esmagar o Hamas, bombardeou primeiro a Faixa de Gaza, povoada por um milhao e meio de palestinos, arrasando sua infra-estrutura e matando milhares de pessoas. Logo, em junho, invadiu o Libano, bombardeou suas cidades, destruiu milhares de casas, matou ou feriu milhares de libaneses. Ambas invasoes as realizou com o pretexto de liberar 3 soldados israelenses capturados em acao belica (2 pelos libaneses e 1 pelos palestinos). Na realidade pretendia arrasar a resistencia palestina e o Hezbollah.

Mas tudo deu errado. Hezbollah nao se desarmou, e emergiu como um partido mais forte do Libano apos a guerra. O exercito israelense teve que retirar-se depois de perder 150 tanques e centenas de soldados. Ate hoje nao recuperou os tres soldados pelos quais desencadeou a guerra. Israel foi repudiado pela populacao mundial a um grau sem precedentes.

No Libano, que tinha antes da invasao israelense um governo de "unidade nacional", com politicas neoliberais e muito vinculado ao imperialismo yanque e frances, abriu-se uma crise politica depois da guerra de 34 dias. Hezbollah saiu da guerra com um imenso prestigio popular e a populacao repudiou o governo. Hezbollah, que estava no governo, ante a abrupta mudanca de correlacao de forcas, pediu uma "reestruturacao" do mesmo e a destituicao do primeiro ministro Fuad Siniora, no marco de sua politica de unidade nacional. Isto levou a uma crise politica, bombardeando a guerra civil, que ainda nao se resolveu. Hezbollah, que jogou um rol positivo ao encabecar a resistencia a Israel e derrotar o exercito israelense, tem um programa totalmente pro burgues. Entretanto, sua posicao anti-sionista e ao ser cabeca de uma milicia armada de massas, faz que seja nao assimilavel ao regime.

A crise de Israel pela derrota militar se agrava porque e um enclave imperialista, que so se pode sustentar como estado mediante o apoio imperialista e o terror genocida contra os palestinos e outros povos arabes e do Oriente Medio. Em 2007 Israel fez uma nova tentativa de destruir o Hamas em conivencia militar direta, pela primeira vez, de Al Fatah-OLP. Entregou armas a Al Fatah para dar um golpe de estado e liquidar o Hamas. Porem tambem resultou num fracasso. Hamas derrotou o golpe em 48 horas e assumiu o controle da Faixa de Gaza. O presidente Abbas de AL Fatah deu o golpe de estado na Cisjordania dissolvendo de fato o parlamento (com maioria do Hamas), tirando assim a mascara e convertendo-se em auxiliar direto de Israel.

O mandatario ordenou o desarmamento de todas as milicias na zona que domina Cisjordania assim tentou liquidar a influencia do Hamas. Mas a propria milicia de Fatah, as Brigadas dos Martires de Al Aqsa, nega-se a entregar seu arsenal e pede a demissao e Fayad. Ante o cerco de fome criado por Israel com apoio de Bush e da direcao de Al Fatah, em janeiro de 2008, os palestinos de Gaza encabecados pelo Hamas, derrubaram o muro da fronteira do Egito e milhares deles cruzaram a fronteira livremente para alimentar-se e abastecer-se. O prestigio do Hamas em vez de cair, cresce. Ate houve acoes unitarias de setores da esquerda israelense junto a palestinos para romper o cerco do sionismo em Gaza.

A crise de Israel tem tambem manifestacoes sociais. Afloram as contradicoes de classe, habitualmente tapadas pela guerra eterna que vive desde sua fundacao. Em abril houve uma greve de 250.000 estudantes universitarios contra o projeto de reforma da educacao superior que preve reduzir os fundos para as universidades e aumentar as taxas que sao cobradas aos estudantes, convertendo cada vez mais a educacao superior em um privilegio para ricos.

Isto significa que o povo trabalhador israelense esta rompendo com o sionismo? Lamentavelmente nao e assim. Ainda que uma valente minoria que enfrenta a politica genocida para os palestinos, entre eles soldados que se negam a ir aos territorios ocupados para reprimir, a maioria da populacao segue atras do discurso racista do sionismo. Porem, pela primeira vez em sua historia a quantidade de habitantes judeus que emigra de Israel e maior que a quantidade de imigrantes, o que e gravissimo para sustentar o Estado enclave.

Ademais, Egito, outro aliado dos Estados Unidos, o primeiro pais arabe que renunciou a Israel, tambem enfrenta crescentes reclamacoes e greves.

Em dezembro de 2006 declararam-se em greve 20.000 trabalhadores texteis da empresa estatal al-Mahala, na cidade de Mahala El-Kobra (a 130 km a noroeste do Cairo), iniciaram uma greve quando a direcao da empresa anunciou que nao pagaria os salarios extras prometidos pelo governo no inicio do ano. A greve durou 5 dias e os trabalhadores ocuparam as fabricas, negando-se a voltar ao trabalho ate que a direcao desse um passo atras.

Durante esses dias milhares de trabalhadores participaram de assembleias e denunciaram que tudo se tratava de um plano do governo para tornar a fabrica atrativa aos investidores estrangeiros para sua posterior privatizacao. Esta era a primeira greve na cidade desde o ano de 1988. Os trabalhadores nao se limitaram a reivindicacoes sindicais, mas tambem denunciaram a falta de direitos democraticos que existe com o regime de Mubarak e a repressao que o governo exerce sistematicamente contra os ativistas sindicais e de esquerda. A policia nao se atreveu a intervir durante os 5 dias de greve. E o exercito rodeou a cidade sem tentar a repressao. O periodico opositor al-Wafd a qualificou como uma "revolucao obreira".


1.3- Paquistao e os problemas do imperialismo na Asia Central


A derrota de Israel no Libano e a derrota yanque no Iraque estao produzindo profundas mudancas nas correlacoes de forcas em toda a regiao de influencia que abrange a grande parte de paises arabes e dos paises islamicos nao arabes vizinhos como Ira, Paquistao e Afeganistao. Paquistao e um aliado chave dos estados Unidos e foi a base principal da invasao do Afeganistao em setembro de 2001. E governado pela ditadura do general Pervez Musharraf, que mantinha um parlamento subordinado aos seus designios.

Teve que desencadear um auto golpe para tratar de superar a crise desencadeada neste pais de quase 150 milhoes de habitantes. Produziram-se milhares de detentos, fecharam-se radios e canais de televisao opositores, etc.

Musharraf padece a insuportavel contradicao de ser um fantoche de Bush na Asia Central, assentada em fortes setores burgueses exportadores e multinacionais. Por sua vez, aliado em sua origem aos integristas islamicos, vinculados diretamente aos talebas afegaos, que lhe proporcionaram sua ideologia ultra reacionaria e alguma base popular. Entretanto, os talebas antes eram amigos dos Estados Unidos e agora sao inimigos. Com a invasao ao Afeganistao comecou a se quebrar a alianca interna entre os islamicos do Paquistao e o regime.

Musharraf  tratava de manter o equilibrio, respeitando os espacos dos integristas principalmente na educacao religiosa. Estes tem 15% da votacao total, aproximadamente, mas colaboram com o governo no parlamento eleito com eleicoes fraudulentas e deportacoes. A outra principal sustentacao de Musarraf e o exercito que tem um enorme orcamento. O Paquistao fabrica armas atomicas, apontando contra a India com a qual tem uma rivalidade historica e uma disputa pelo territorio da Caxemira cuja populacao queria se unir ao Paquistao, mas que foi conquistada pela India, quando ambos os paises se dividiram apos a retirada do imperialismo ingles depois da 2? guerra mundial.

Os Estados Unidos nao encontraram nada criticavel no fato de que o Paquistao adquirira armas atomicas.

A suspensao do presidente da suprema corte, o juiz Iftikhar Mohammed Chaudry, em 9 de marco de 2007, desatou enormes mobilizacoes populares democraticas. Bandos armados atacaram os manifestantes, diante da paciencia da policia, causando 41 mortes e centenas de feridos, em 12 e 13 de maio em Karachi. Posteriormente em julho, produziu-se um conflito com os islamicos que terminou em um terrivel massacre de centenas de milhares de pessoas na chamada Mesquita Vermelha. Estes fatos tem debilitado o regime. Musharraf tentou buscar um acordo com a opositora, tambem pro – imperialista, Benazir Butho, que foi derrotada pelo proprio Musharraf. Porem, o autogolpe nao conseguiu estabilizar a situacao e o assassinato de Butho, que havia retornado recentemente de seu exilio, nao fez mais que abrir perspectivas incertas para o imperialismo porque pode aprofundar-se a crise em uma regiao convulsionada.

No Afeganistao, a primeira invasao yanque logo apos o atentado das Torres Gemeas, realizada em outubro de 2001, ha uma resistencia crescente e tampouco conseguiu consolidar um regime titere mais alem de Kabul, a capital. Como no Iraque, os invasores yanques e europeus so dominam o solo que pisam suas tropas e tem que recorrer a frequentes bombardeios, com as consequentes vitimas civis (os chamados "danos colaterais") para defender suas bases militares.


1.4- Ira, outro ponto conflituoso


Este descontrole tambem se expressa na relacao do imperialismo com o Ira. Por um lado ameaca bombardear-lo e estabelece sancoes economicas. Por outro lado convidou o Ira para uma conferencia em Bagda para "estabilizar" o Iraque. Semelhante esquizofrenia na politica imperialista se expressa no Iraque onde governa atraves de uma alianca que tem as forcas mais pro iranianas.

O Ira segue adiante com eu programa nuclear e ganhou independencia frente ao imperialismo. Mas o regime esta longe de ser consequentemente antiimperialista. Sua colaboracao na estabilidade do governo titere de Al Maliki no Iraque e uma traicao a resistencia iraquiana. O regime iraniano enfrenta crescente crise interna. A abertura pro imperialista iniciada pelo governo anteriores de Mohamed Jatami com o yanque Clinton fracassou. O triunfo eleitoral de Mahmud Ahmadineyad, o presidente atual, marcou um giro mais nacionalista impulsionado por um descontentamento interno com o regime e o odio ao imperialismo. Ahmadineyad ganhou em junho de 2005 com promessas de equidade social. Prometeu "por comida na mesa de todos". Mas agora cresce novamente o descontentamento, em primeiro lugar o descontentamento social em um pais onde ha grande quantidade de pobreza e marginalizacao. Tambem as reclamacoes democraticas pela repressao aos costumes e especialmente as mulheres. Em fevereiro/marco houve uma importante greve nacional de professores. "Fomos a escola, mas ficamos sentados na sala de professores sem dar aula. Nosso salario e ridiculo" disse a IPS um professor que tem trabalhar como taxista a tarde. "A um professor como a uma professora lhes ficam so 300 dolares depois da deducao de impostos e do seguro. Em Teera, uma familia de quatro membros com uma renda menor de 500 dolares ao mes e pobre. Nossas familias estao passando mal", acrescentou. A greve foi reprimida, com a detencao de grande parte dos dirigentes. Isto provocou uma crise politica. Segundo a agencia de noticias iraniana IRNA, 138 dos 190 membros da Assembleia Consultiva Islamica (parlamento) firmaram uma mocao de juizo politico ao ministro Mahmoud Farshidi.


CAPITULO 2.


Os Estados Unidos entre a crise do Iraque, a luta dos imigrantes e uma possivel recessao.


O final do governo de Bush caminha a um mau final, ja que sua ultima parte do governo esta afundada numa combinacao de crises. O fracasso da guerra do Iraque, o comeco de um ascenso, com a vanguarda nas mobilizacoes dos imigrantes e a crise economica, que abre a possibilidade certa de uma recessao (desenvolvida no capitulo 3) no pais imperialista dominante.

No mes de julho no New York Times, o principal jornal do imperialismo yanque, publicou um editorial chamando a retirar-se do Iraque.

"E hora de os Estados Unidos deixarem o Iraque, sem mais demora que o tempo que necessite o Pentagono para organizar uma saida ordenada. Igual a muitos estadunidenses, haviamos postergado esta conclusao, esperando um sinal de que o presidente Georg. W. Bush realmente estivesse tratando de tirar os Estados Unidos do desastre que criou ao invadir o Iraque sem causa suficiente, apesar da oposicao global e sem um plano para estabilizar o pos guerra".

O Times ve-se obrigado a reconhecer, de forma vergonhosa, que apoiou a invasao e ocupacao: "A principio acreditamos que depois de destruir o governo, o exercito e a policia, os Estados Unidos estava obrigado a tentar alcancar algumas das metas que Bush dizia perseguir, como construir um Iraque estavel e unificado".

O Times lanca uma voz de alarme, que foi repetida por importantes generais: "A guerra esta esgotando as aliancas do pais e suas forcas armadas. E uma distracao perigosa da luta a morte contra os terroristas. E uma carga crescente para os contribuintes e uma traicao ao mundo, que necessita da aplicacao sabia do poder e os principios estadunidenses…

Manter as tropas no Iraque so fara que a coisa seja pior. Os Estados Unidos tem cerca de 160.000 soldados no Iraque. Retirar-los sem correr risco sera um desafio formidavel. A saida deve ser tudo o que nao  foi a invasao: deve estar baseada na realidade e respaldada por recursos adequados".

Mais clara confissao de derrota impossivel! E que derrota! O New York Times fala nada menos que do esgotamento da capacidade militar do imperialismo.

Tres senadores chave do partido Republicano, governante nos Estados Unidos, pediram essa semana para a Casa Branca revisar antes de setembro a estrategia de aumentar a presenca militar no Iraque. As desercoes desencadearam apos um discurso pronunciado na segunda feira no senado pelo republicano Richard Lugar, membro do Comite de Relacoes Exteriores dessa camara do congresso legislativo. Suas criticas e as de seus pares George Voinovich e John Warner sugerem que estao esgotando rapidamente a paciencia dos legisladores republicanos diante da politica do presidente George W. Bush no Iraque.

Ao mesmo tempo, uma investigacao divulgada esta semana pela revista Newsweek indicou que apenas 23% dos entrevistados aprovam a gestao do presidente nesse pais do Golfo (Persico ou Arabico), um nivel sem precedentes.

A mesma sondagem revelou que a aprovacao de Bush em geral tambem alcancou uma baixa historica de 26% dos entrevistados, chegando aos valores de Richard Nixon pouco depois de sua renuncia em 1974 (IPS, 23/08/2007).

Este giro na opiniao popular se expressou nas eleicoes legislativas do ano passado, que foram um verdadeiro plebiscito contra a guerra. Todas as pesquisas mostraram que os votantes queriam derrotar Bush e sua politica. A derrota do partido Republicano foi acachapante.

Inclusive em alguns lugares, onde puderam avancar candidaturas anti-guerra claras conquistaram exitos eleitorais, como o caso de Tammy Duckworth, uma ex piloto de helicopteros militares que perdeu suas duas pernas na guerra do Iraque, que fez campanha opondo-se a guerra desde sua cadeira de rodas e foi eleita deputada pelo sexto distrito de Illinois (nos suburbios de Chicago), um lugar onde, nos ultimos 32 anos, os republicanos haviam ganho todas as eleicoes. Keith Ellison tambem realizou sua campanha pedindo a retirada das tropas no quinto distrito de Minnesota, e e o primeiro muculmano negro eleito deputado no pais.

Mas, de conjunto, o voto anti-guerra foi ate os democratas. Neste sentido, o sistema bipartidarista seguiu funcionando. Por isso e factivel que os presidenciais de novembro de 2008 triunfem o partido Democrata, seja Hillary Clinton ou Obama seu candidato. Porem, frente a guerra os democratas fizeram o que e coerente com sua historia e classe social a que representam, sao o outro grande partido da burguesia imperialista: voltaram a  votar os creditos de guerra para que Bush aumentasse inclusive o numero de efetivos militares. Isso provocou uma rapida e massiva desilusao popular. Pesquisas de junho de 2007 mediram que so 23% dos norte-americanos apoiam o Congresso liderado pelos democratas (pesquisa do jornal NBC News-Wall Street Journal no inicio de junho (publicado pela ISO).


2.1- O DESCONTENTAMENTO COM A GUERRA CRESCE


O descontentamento e muito grande e tambem ha ativismo contra a guerra. Mas ha um enorme vazio de direcao.  Cindy Sheehan, a mae de um soldado morto no Iraque, que se converteu em lider antiguerra, rompeu publicamente com o partido Democrata depois que este votou os fundos de guerra e anunciou que apresentara sua propria candidatura ao Congresso com uma plataforma antiguerra.

Segundo remonta El Obrero Socialista, jornal espanhol da ISSO de junho: "O repudio de quem se opoe a guerra foi imediato, incluindo muitas vozes liberais que no passado nao so aceitaram, mas tambem justificaram as capitulacoes dos democratas. Keith Olbermann de MSNBC denunciou o acordo como uma "vergonhosa, traicao bipartida". Eli Pariser de MoveOn.org disse que seu grupo trabalharia contra os democratas "que foram eleitos para terminar a guerra, mas que agora votam por mais caos e mais tropas."

"De acordo com uma ultima pesquisa do New York Times e CBS News, seis de cada dez estadunidenses pensam que os Estados Unidos nunca deveria ter ido a guerra, tres quartos creem que o escalamento de tropas nao teve nenhum efeito ou que o fez as coisas piorarem, e quase dois tercos querem uma data definida para a retirada das tropas no proximo ano.

"Entao, porque os democratas nao puderam votar contra o financiamento da ocupacao, ou ao menos seguir aprovando legislacao com data de retirada das tropas para seguir pondo pressao sobre Bush?

"A ativista antiguerra Cindy Sheehan falou por muitos em uma carta aberta aos democratas no congresso: "Absolutamente, nao ha nenhuma razao sa ou defendivel para que voces tenham entregado ao Sangrento Rei George mais dinheiro para condenar mais nossos bravos, cansados e prejudicados soldados, e a gente do Iraque, a mais morte e carnificina. Voces pensam que dando-lhe mais dinheiro e politicamente conveniente, mas e uma abominacao moral, e cada segundo que a ocupacao do Iraque dura, voces terao mais e mais sangue em vossas maos."


2.2- Elementos da crise militar yanque no Iraque

 

O conceito de "esgotamento" militar que utiliza o Times e muito significativo. E que os Estados Unidos nao pode dispor de 500.000 soldados para tentar arrasar a resistencia como sim dispos dessa quantidade na guerra do Vietna. O maior imperialismo mundial so dispoe agora de 160.000 soldados para invasoes. Eliminaram o recrutamento forcado dos cidadaos para evitar o que lhes ocorreu no Vietna, a rebeliao de soldados na propria frente de batalha, o boicote militar e a extensao do descontentamento antibelico a grande parte da sociedade morte-americana. Agora tem um exercito pago, de pobres, soldados "profissionais", nos fatos mercenarios que entram no exercito "voluntariamente" so para poder estudar e ter um oficio. Porem, lhes resulta cada dia mais dificil conseguir soldados. Varios generais ja advertiram que e impossivel manter a ocupacao do Iraque com 160.000 soldados, que necessitariam de no minimo 500.000. Mas isto e impossivel sem desencadear uma crise politica inedita nos Estados Unidos. Foi dificil inclusive no inicio da invasao, quando esta contava com apoio popular nos Estados Unidos (de qualquer forma, sempre foi "apoio" para que vao outros, claro). Agora, com 70% abertamente contra sera impossivel conseguir mais soldados.

 

 

Tratam de substitui-los com mercenarios, inclusive contratados por empresas privadas (ja ha mais de 100 mil), e armamento sofisticado e aviacao. Porem, esta guerra voltou a demonstrar que os soldados sao insubstituiveis numa guerra. E muito mais quando pretende-se ocupar o terreno com uma resistencia armada massiva e apoiada pela populacao.


2.3- Avanca o ascenso com a luta dos imigrantes. Primeira greve na General Motors desde 1976


A mobilizacao dos imigrantes iniciada com muita forca em 2006 baixou no 1? de maio de 2007, mas se manteve como um movimento muito forte que comecou a criar organizacoes permanente de mobilizacao e enfrentamento aos grupos fascistas "anti imigrantes". Por outro lado o movimento comecou a ter um claro eixo nos trabalhadores imigrantes. "250 mil em Chicago e mais milhares atraves das cidades estadunidenses marcharam no dia do trabalhador para dizer: "Somos trabalhadores, nao criminosos". Assim os manifestantes decisivamente mostraram que o gigante, o movimento, nao dormiu, e que ao contrario mantem intacto seu impulso na busca da plenitude de direitos para os trabalhadores sem documentacao. O multitudinario respaldo a legalizacao para os 12 milhoes de sem-documentos veio apesar de que algumas organizacoes pro-imigrantes, que outrora marcharam, manifestaram-se contra a mobilizacao. Seu argumento foi que os grandes protestos provocariam uma reacao por parte dos conservadores atentando contra a possibilidade de obter uma reforma migratoria compreensiva no congresso. Pelo contrario, os que organizaram as marchas do 1? de Maio creem que ainda que haja muitas estrategias que fortalecam a luta, o poder do protesto e crucial para faze-la avancar. O tamanho dos protestos foi ainda mais impressionante se considerarmos o incremento de batidas e deportacoes levadas a cabo pela Agencia de Imigracao e Aduanas (ICE – por sua sigla em ingles). Com estas, ICE nao so tenta intimidar o movimento, tambem busca manter os trabalhadores sem-documento a margem da atividade politica. Alias, so criaram uma enorme quantidade de ira. Assim foi exposto pelo movimento em Chicago, quando fortemente armados policiais e agentes do CEI sitiaram um centro comercial e seus ocupantes em um bairro predominantemente mexicano, uma semana antes da marcha.. Rapidamente, centenas de ativistas juntaram-se no centro da batida a protestar. O protesto realizou-se gracas as redes de respostas rapidas que, em Chicago e em outras cidade do pais, comecam a formarem-se para lidar com os ataques do ICE ou de outras forcas antiimigrantes. A certeza com que o movimento respondeu ao ataque em La Villita ajudou a construir momento para a mobilizacao do 1? de Maio (El Obrero Socialista, jornal em espanhol da ISO).

Em 24 de setembro, pela primeira vez desde 1976, declararam-se em greve 73.000 trabalhadores das 59 fabricas da General Motors nos Estados Unidos. A greve, como muitas das greves dos ultimos anos nos Estados Unidos tem seu centro no seguro medico. Os trabalhadores organizaram piquetes de greve. Segundo a agencia Reuters: "A greve foi um giro inesperado depois que a maratona de conversas parecia levar ambas as partes a um acordo historico que teria permitido a GM reduzir o custo anual dos planos de saude em 5.000 milhoes de dolares. "Podem empurrar ao precipicio, e isso aconteceu aqui", disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Automotores Unidos (UAW em sua sigla em ingles), Chris Sherwood, aos jornalistas". A burocracia explicou todos os esforcos que fez para o acordo e agregou: "desde 2003 nossos membros fizeram esforcos extraordinarios cada vez que a empresa nos apresentou os problemas pendentes: a reestruturacao, a reducao de pessoal, a quebra de sua antiga filial Delphi, o acordo de seguro de saude de 2005. Em todos os casos o sindicato fez esforcos adicionais para alcancar solucoes razoaveis" (jornal La Jornada, Mexico 24/09). Nas entrelinhas le-se que a base operaria ficou indignada diante da tentativa de corte no seguro medico. A greve foi total e durou dois dias. Fechou-se com um acordo da UAW com a patronal, em que a GM faz concessoes menores.

Tanto as grandes mobilizacoes dos imigrantes latinos, como a greve da GM revelam que esta produzindo-se uma mudanca. A combinacao da derrota yanque no Iraque com o desinflar da bolha imobiliaria e suas consequencias cobre as massas, provavelmente acelerem este processo de luta da classe trabalhadora norte-americana.

 

Capitulo 3


Uma nova crise economica aguda, com centro nos Estados Unidos


Como reafirmamos no documento de 2006, continuamos no marco da crise cronica da economia mundial iniciada em fins da decada de 60. Nesse texto afirmamos que desde o ano de 2002 se caracterizava uma conjuntura sem fases agudas de crise, diferentemente do que ocorrera na decada de 90, quando tivemos as crises mexicana (1994), asiatica (1997), russa (1998) e  argentina (2001). Este processo relativamente longo de crescimento economico mundial apresentava a novidade de se dar de forma equivalente em todas as regioes do planeta, ainda que em algumas, especialmente a India e a China, o crescimento fosse muito mais alto.

 Na ocasiao, destacamos algumas caracteristicas especificas desta conjuntura: aumento dos precos das materias primas – petroleo, agro alimentos (soja, milho e trigo), minerais (ouro, prata e cobre) – e a permanencia do agudo desequilibrio da economia norte-americana com o aprofundamento do deficit da balanca de pagamentos e do deficit fiscal, somado ao agravamento da divida interna das familias e empresas.  

 Tudo isto nos permitia afirmar que esse crescimento nao era "normal", que nao se dava uma recuperacao da taxa de lucro nos setores produtivos, e que esse crescimento se sustentava na valorizacao ficticia do capital especulativo. Ja entao indicavamos como uma de suas manifestacoes a "bolha" nos mercados imobiliarios, em especial nos Estados Unidos (embora tambem tenhamos apontado outros casos, como os da Inglaterra e Espanha). Faziamos todas estas afirmacoes no contexto de um debate com os que viam um "capitalismo sadio" que supostamente retomava um caminho de crescimento de longo prazo semelhante ao do "boom" expansionista de 1948-67, ou ainda com os que, embora reconhecessem os desequilibrios e fatores especulativos, sustentavam que a superexploracao da mao de obra chinesa bastaria para ampliar a mais-valia em escala mundial e resolver a tendencia de queda da taxa de lucro.

Nos reafirmavamos que nao era assim, principalmente porque a classe operaria mundial, com a unica excecao da China, nao havia sido derrotada e estava resistindo as politicas da contra-revolucao economica permanente.


3.1. O desenvolvimento da crise


Finalmente, depois de duas ameacas fortes, uma em maio/junho de 2006 e a outra em fevereiro de 2007, terminou explodindo a bolha imobiliaria ianque entre julho e agosto de 2007.

A origem da "bolha" esta no ano de 2001. Os estados unidos achavam-se num processo recessivo, resultado de outra bolha especulativa acarretada pela explosao das empresas tecnologicas e a queda do Nasdaq em marco de 2001. Este processo se agravou com o caos generalizado que se seguiu a derrubada das torres em setembro desse mesmo ano. Na ocasiao, o governo de Bush, para reativar a economia, lancou bilhoes de dolares no mercado, sobretudo com gastos militares, gerando um impressionante aumento do gasto publico e a reaparicao do deficit fiscal na economia norte-americana. Ao mesmo tempo, a reserva federal baixou a taxa de juros de referencia para 1% ao ano, ficando claro que se tratava de reativar a economia por todos os meios e modos.

Toda essa massa de recursos, que nao se dirigia nem a novos investimentos tecnologicos nem a industria, terminou gerando uma expansao de creditos para o consumo voltados essencialmente para o mercado imobiliario, levando as alturas o preco dos imoveis nos Estados Unidos. Comecava a crescer a bolha.

Com centro nos negocios imobiliarios a economia ianque cresceu fortemente, como a do resto do mundo, entre os anos de 2002 e 2006, chegando-se a oferta de creditos hipotecarios sem nenhuma exigencia previa sobre os antecedentes dos tomadores nas chamadas hipotecas "subprime". Por sua vez, os proprios bancos passaram a pedir dinheiro emprestado, oferecendo como garantia essas mesmas hipotecas, e colocavam esse dinheiro nos mercados especulativos, comprando acoes e bonus ou financiando a compra de umas empresas por outras, dando lugar a uma onda de fusoes e aquisicoes. Essas operacoes logo se dirigiram para fora dos Estados Unidos, gerando uma "ciranda" que se espalhou pelo Canada, Europa e Asia.

Entretanto, com o valor das propriedades nas alturas, os agentes imobiliarios passaram a ter cada vez mais dificuldade para encontrar novos compradores. Os precos das propriedades comecaram a baixar e se acumulavam os imoveis invendaveis. A isto se somou o aumento das taxas de juros, e muitos se viram impossibilitados de pagar as prestacoes de suas hipotecas, tornando praticamente impossivel o resgate de um numero cada vez maior de creditos. Foi ai que se deu a reacao em cadeia.

Em julho de 2007, entraram em quebra os fundos de risco do banco de investimentos ianque Bearstearns, acarretando uma queda brusca na bolsa de wall street. Quando tudo parecia acalmar-se, quebrou o American Home Mortgage Investment, banco hipotecario ianque. E depois a sequencia de acontecimentos se estendeu a outras instituicoes que nao tinham nada a ver com o negocio imobiliario, mas estavam atreladas a ciranda financeira mencionada acima. A principios de agosto o banco alemao IKW anunciou que estava em graves dificuldades e o ministerio das financas da Alemanha teve que intervir para salva-lo. Em 9 de agosto, o Bnp-Paribas, maior banco frances, congelou tres fundos de credito que haviam investido em hipotecas subprime para impedir que os poupadores retirassem o seu dinheiro e levassem a quebra do banco.  Em 22 de agosto a situacao se agravou quando se soube que tres grandes Bancos de Nova York tiveram que recorrer a reserva federal por se encontrarem em dificuldades; nesse mesmo dia o Banco britanico Barclays teve recusado um pedido de credito interbancario dirigido ao HSBC. Diante de uma crise que se expandia mundialmente, comecou em agosto a operacao de "salvamento". Os bancos centrais dos paises imperialistas inundaram de divisas o mercado mundial para evitar a quebradeira. Apos varias intervencoes que, segundo se calcula, lancaram ao mercado mundial quase 500 bilhoes de dolares, muitos acreditaram que haviam conseguido deter a bola de neve que levava a um "crack" das financas mundiais. A isto se somou a reserva federal ianque, que, depois de baixar a taxa de desconto (usada para socorrer os bancos em dificuldades), reduziu finalmente em setembro a taxa de referencia em meio ponto, fixando-a em 4,75% anuais.

Em comecos de outubro parecia que o pior havia passado, e que o ciclo se reiniciava inflando uma nova bolha, agora com centro nas principais bolsas de valores do mundo. Os responsaveis da politica economica mundial apostavam que o risco de uma explosao global tinha sido estancado, evidentemente que ao custo de inchar ainda mais a massa de capital especulativo que vive circulando pelo planeta. O Dow Jones e o Nasdaq comecavam a se recuperar, e se emitiam novas acoes pelo valor de 11, 300 bilhao de dolares no trimestre (no trimestre anterior haviam sido emitidos Us$ 6,300 bilhao). Como disse um operador de wall street, "a crise existe, mas fazemos de conta que nao", isto e, todo o mundo apostava no aumento continuo da bolha. Ao final do mes de outubro, embora muitos bancos apresentassem forte queda, as bolsas tinham recuperado os valores do periodo anterior a crise. 

Para continuar inflando a bolha, foi criado em outubro um fundo anti crise privado do qual faziam parte o Citygroup, o JP Morgan Chase e o Bank of America. Este fundo dispunha de 100 bilhoes de dolares para compra de papeis da divida hipotecaria deixados de lado pelos investidores. Ao mesmo tempo, a reserva federal ianque fazia a sua parte decretando em duas ocasioes uma reducao de 0,25% e colocando a taxa de juros de referencia em 4,25% no final de dezembro.

Ate o mes de dezembro de 2007, a reserva federal ianque e o banco central europeu tinham lancado ao sistema mais de um bilhao de dolares, ao mesmo tempo em que o governo de bush anunciava um plano de resgate dos devedores hipotecarios.  

Comecaram tambem a aparecer operacoes diarias de resgate "privadas", em que fundos de governos asiaticos, principalmente da China e Cingapura, e do oriente medio (Arabia Saudita, Kuwait) entravam nos grandes bancos e empresas de investimento como "prestamistas" ou "capitalizadores". Estes fundos, denominados "fundos soberanos", sao tao importantes que chegaram a figurar na capa de uma edicao da revista inglesa the economist como uma esquadrilha de helicopteros a invadir os mercados financeiros com as bandeiras desses paises. Com um volume de capital de Us$ 3,5 bilhoes, ou seja, 10% dos ativos financeiros de todo o mundo, esses fundos desembarcaram com tudo e so em Wall Street ja colocaram us$ 69 bilhoes. Em muitos casos, a sua participacao acionaria ja representa um decimo do capital das firmas em que ingressaram. Entre os que receberam dinheiro desses "fundos soberanos" estao grandes corporacoes, como o Citybank, Merryl Lynch, Morgan Stanley e Barclays.

Em janeiro a crise voltou com tudo. O Citybank, o Merryl Lynch e o J. P. Morgan tiveram que reconhecer perdas de 10 bilhoes de dolares cada um. Ao mesmo tempo, indicando claramente que uma recessao se aproximava, comecaram a ser divulgados alguns dados alarmantes da economia norte-americana, como as baixas vendas no periodo natalino, uma taxa de desemprego de cinco por cento e, ainda mais grave, uma inflacao de 4,1%, a mais alta em 26 anos. O governo de Bush reconheceu a crise e, para aumentar o consumo, anunciou um "pacote" de medidas das quais a mais importante era um corte de Us$ 145 bilhoes nos impostos, o que correspondia a 1% do total da economia ianque.

No dia 21 de janeiro, segunda-feira, aconteceu uma queda espetacular em varias bolsas de todo o mundo, a excecao de Wall Street, que nesse dia nao operou por ser feriado nos Estados Unidos. Os que tinham pensado numa "recuperacao" viram como num unico dia se esfumava toda a alta das cotizacoes ocorrida em 2007. A reserva federal ianque reagiu quase com desespero, baixando a taxa de juros em 0,75%, a maior baixa efetuada em 25 anos, e isto sem esperar uma reuniao ordinaria que deveria ser realizada poucos dias depois. Imediatamente apos essa reuniao a taxa voltou a cair meio ponto, chegando a tres por cento. Normalmente, movimentos deste tipo deveriam produzir uma alta quase automatica das bolsas, mas desta vez a recuperacao foi nula ou apenas mediocre. E isto apesar de a reducao da taxa de juros pela reserva federal vir acompanhada de medidas semelhantes do banco da Inglaterra, que reduziu a sua taxa de 5,75% para 5,5%, e do Canada, que a reduziu de 4,25% para 4%.

Como se nao bastasse, a especulacao financeira continua a se espalhar por todo lado. Na Franca, alem da crise vivida pelo Bnp-Paribas, primeiro banco frances, estourou um escandalo envolvendo a Societe Generale, segundo maior banco do pais, obrigado a declarar um prejuizo de 4,9 bilhoes de euros  (7,2 bilhoes de dolares), causado por operacoes fraudulentas de um funcionario. Ja na Inglaterra, o Northern Rock, oitavo banco do pais em importancia, esteve a ponto de afundar e foi virtualmente "nacionalizado" pelo governo.

O maior problema e que nao se tem ideia exata da dimensao dessas perdas, porque os bancos escondem seus prejuizos enquanto podem e, quando sao obrigados a declara-los, anunciam perdas espetaculares que geram grandes abalos por toda a parte. Ate o momento foram admitidas perdas por um valor de Us$ 200 bilhoes, calculando-se que o montante final pode variar, segundo as estimativas, entre as somas de 400 e 800 bilhoes de dolares.


3.2. Consequencias da crise              


E necessario detalhar as possiveis consequencias desse descalabro financeiro global. As consequencias diretas da espetacular queda das bolsas sobre os niveis mundiais do consumo sao de pouca importancia, exceto nos EUA e, em menor medida, na Inglaterra.

Nesses dois paises, os trabalhadores podem ser diretamente afetados por uma queda das bolsas, ja que muitos estao em fundos de pensao cujas cotas variam diariamente e o valor de seu patrimonio (principalmente suas casas) depende fortemente do valor desses ativos.

Mas a crise produz outro efeito, a diminuicao do credito, que repercute mundialmente de modo mais igual e afeta os niveis do consumo em todo o mundo. No caso dos paises semicoloniais endividados, isto significa o fim do credito barato e das possibilidades ilimitadas" de negociacao de sua divida, com risco de terem de recorrer novamente aos 'famosos planos de "ajuste"para fazer frente aos vencimentos.

Outro efeito colateral que muitos temem, em especial na Europa, e a explosao de outras "bolhas imobiliarias", que tem permitido a alguns paises um periodo de certo "alivio" economico, como e o caso da Espanha e Irlanda.

Ha tambem o problema do chamado "efeito antagonico da relacao entre as taxas de juros e os tipos de cambio", uma vez que ha muito tempo o dolar vem caindo diante das outras moedas, especialmente o euro. Uma reducao da taxa de juros para tentar a reativacao da economia, como se esta fazendo nos Estados Unidos de forma quase desesperada, faz baixar ainda a mais a cotacao do dolar, e, na Europa, encarece enormemente o euro, acarretando uma alta insuportavel do custo de vida. Em paises como a Italia, onde os salarios sao mais baixos que na Franca e Alemanha, isto ja esta ocasionando greves e crises politicas.

Finalmente, a curto ou medio prazo (6 a 8 meses) veremos se esta crise vai produzir ou nao uma desaceleracao de toda a economia mundial. Ninguem duvida, a esta altura, que neste ano o crescimento sera menor do que em 2007. A pergunta e se caminhamos para uma crise que, afetando num primeiro momento a India e a China, em seguida Taiwan, Coreia e Japao, se estenda a partir dai como uma recessao gigantesca por todo o planeta.


3.3. As moedas: a desvalorizacao do dolar


O dolar despenca diante do euro e do yen. A valorizacao da moeda europeia poe em risco o crescimento economico das economias que crescem menos, como Italia e Franca. Ja vemos Sarkozy questionar o banco central europeu por aumentar a liquidez para salvar os especuladores, em vez de baixar as taxas de juros, pois a politica do banco central provoca a valorizacao do euro frente ao dolar. Para Sarkozy, seria necessario baixar as taxas de juros como faz a reserva federal americana. Isto seria o mesmo que defender a desvalorizacao do euro. Outra moeda que tambem esta em queda livre e a libra esterlina, que acumula uma desvalorizacao de 15%, deixando o euro em posicao ainda mais dificil. A sorte da libra ja e motivo de discussao, com ameacas de "desligar-se do euro". Isto implicaria uma grave crise politica na Europa. O quadro se complica com as lutas enfrentadas por Sarkozy, a derrota de Angela Merkel nas eleicoes regionais alemas, a queda do governo italiano e as dificuldades de Zapatero na Espanha.

No Japao, o yen tem-se valorizado fortemente contra o dolar, ao mesmo tempo em que existem serias ameacas de uma nova onda recessiva como a que ocorreu durante os anos noventa.


3.4. O preco das commodities: metais, materias primas agricolas e petroleo


Enquanto isso, continuam a subir os precos das "commodities" como trigo, soja, milho, cobre e ouro, e nao se sabe ate onde vai esta tendencia de alta, embora tenha havido uma pequena baixa durante a crise de janeiro, frente ao temor de uma queda da demanda mundial.

O petroleo chegou a Us$ 100,00 o barril. E importante saber por que aumentam os precos desses bens. Ha um fator "contavel", uma vez que aumentam em dolar, moeda que vem caindo diante das demais divisas. Por isto Chavez tentou, sem exito, substituir a cotacao do cru em dolares por outra, correspondente a uma cesta de moedas das quais  a principal seria o euro. Mas, mesmo em euros ou ienes, o petroleo, os minerais em geral e as demais materias primas continuam subindo, embora menos do que se seus precos sao expressados na moeda norte-americana.

No caso do petroleo, ja em nossa minuta de 2006 apontavamos a causa do aumento na conjuncao de tres fatores, ou seja, a crise do oriente medio, o aumento do consumo mundial, em particular da China, e os fatores especulativos, que inchavam a cotacao nos chamados mercados futuros em todas as bolsas do mundo. Assinalavamos tambem que tinhamos duvidas com respeito a um possivel quarto fator, o esgotamento do mineral, ja que os estudos sao contraditorios e tendiamos a concordar com os que sustentam que, embora a curva do esgotamento mundial desse bem se aproxime com o tempo, este ainda nao e um fator central na determinacao do preco a curto prazo.

Sobre o primeiro fator (o atoleiro em que estao metidos os Estados Unidos no Oriente Medio) nao ha a menor duvida de que influi para o aumento do preco do barril. E claro que os ianques tem a seu favor o fato de o principal regulador, a OPEP, contar com a pesada influencia da Arabia Saudita, seu firme aliado na organizacao. As possibilidades de intervencao da Venezuela e da Russia podem ser tambem um fator determinante na fixacao do preco.

O aumento da demanda, em especial a demanda chinesa, esta estreitamente ligado ao desenvolvimento da crise mundial em suas relacoes com a economia real. Se ha uma desaceleracao global, e evidente que baixara a demanda do cru e, consequentemente, tambem o seu preco. Mas e no fator especulativo do preco do barril que de fato se estao dando modificacoes. A crise financeira aberta nos meses de julho-agosto do ano passado, e depois a de janeiro, acarretaram, em varias ocasioes uma baixa do preco nos mercados especulativos, ainda que, como e evidente, ele voltasse a subir sempre que os sucessivos "resgates" injetavam novamente dinheiro no mercado.

Ha uma "commoditie" que esta subindo ate as nuvens no marco dessa crise: o ouro, que ja esta ao redor de 900 dolares a onca e nem por isto deixa de crescer, refletindo o temor dos especuladores. Como sempre acontece quando ha uma crise global e ninguem sabe em que moeda buscar protecao, o ouro passa a ser o respaldo universal, como equivalente geral que sempre existiu no capitalismo.


3.5. O aumento da inflacao e o risco de "estagflacao"    


Entretanto, outras nuvens pesadas surgem no horizonte da economia mundial. Aparecem sinais de que a economia ianque corre riscos de encaminhar-se para o que tecnicamente se chama "estagflacao", ou seja, a estagnacao acompanhada de inflacao. O aumento de precos chegou a 4,3% em 2007, e, nos Estados Unidos, este aumento vai de par com o aumento do preco dos alimentos e do petroleo. Se se verificar a aparicao do fenomeno inflacionario, juntando-se a este a recessao o que teremos e a "estagflacao", repetindo-se com isto uma crise aguda semelhante a de 1973. O mais grave e que neste caso ficaria anulada a possibilidade de usar um dos recursos hoje em dia mais empregados, que e o lancamento de bilhoes de dolares ao mercado. As baixas da taxa de juros operadas pela reserva federal, as operacoes multimilionarias de resgate dos bancos, tudo isto entraria em crise e a alternativa obrigatoria seria evitar a recessao ou acelerar a inflacao. Portanto, a "estagflacao" realmente inutiliza as ferramentas classicas da politica economica. Basta recordar que a crise de 1973 arrastou a economia ianque a uma deterioracao somente superada, e apenas em parte, quase oito anos depois, durante o governo Reagan, com uma brutal politica de superexploracao da propria classe trabalhadora norte-americana.

Por enquanto, este fenomeno parece limitado aos Estados Unidos, embora a inflacao da zona euro tenha sido, em novembro e dezembro, a mais alta dos ultimos seis anos, levando a uma media anual de 3,1% neste periodo.


3.6   Projecao de recessao nos EUA e reducao do crescimento no resto do Mundo


Desde novembro passado, o preco das casas ja caiu 8,4% nos Estados Unidos. No quarto trimestre de 2007, o PIB norte-americano registrou uma progressao de apenas 0,6%, dando assim como resultado um aumento de apenas 2,2 no ano. Este e o pior indice desde 2002, e apenas para comparacao lembramos que 2006 apresentara um crescimento de 2,9% do PIB.

Ja ninguem duvida de que esta havendo uma forte baixa do nivel da atividade nos Estados Unidos. Ate mesmo a palavra "recessao", que muitos evitam pronunciar por se tratar de um ano eleitoral, esta cada vez mais presente no discurso dos analistas burgueses. Os mais otimistas falam de pelo menos dois trimestres de recessao, enquanto outros preveem  um ciclo que pode durar ate 2009.

A crise financeira ja comecou a castigar duro a economia ianque. Primeiramente comecaram como e obvio, os licenciamentos nos setores da construcao e financeiro. Ja para o final do ano comecaram a aparecer os dados mais crueis, com um aumento de 5% do desemprego. No final de janeiro havia 17.000 postos de trabalho a menos que no mes anterior, a maior queda desde 2001. Com relacao aos efeitos diretos da crise das hipotecas, calcula-se que entre 500.000 e 2 milhoes de pessoas perderao suas casas.

A consequencia para o resto do mundo sera, no minimo, uma desaceleracao do crescimento havido desde o ano de 2003. O proprio FMI rebaixou suas projecoes de crescimento do PIB mundial em 2008 para 4,8%, corrigindo sua projecao anterior ao deslanchamento da crise, que era de 5,2%. No caso dos Estados Unidos, a correcao foi ainda mais forte, caindo de 2,8% para 1,9%. Para os paises do euro se projeta agora um crescimento de 2,1%, quando antes eram esperados 2,5%, o que significa a reversao da expectativa de um crescimento maior dos Estados Unidos frente a Europa. Outras analises chegam a prognosticos ainda mais baixos.    

 

3.7. As consequencias para a China, India e paises semi-coloniais


Os efeitos de uma recessao nos estados Unidos sobre a economia mundial sao imprevisiveis, ja que esse pais absorve atualmente 75% do excedente mundial.

O consumo norte-americano representa quase 9 bilhoes de dolares, enquanto o da China nao passa de um milhao e o da India e de apenas 600 milhoes de dolares. Quanto aos paises semi-coloniais, o certo e que o financiamento de sua economia sera  caro, podendo isto gerar problemas para o pagamento da sua divida externa, embora possam continuar com altos niveis de crescimento se o preco das materias primas se mantem alto. Mas o problema e o que acontecera se a recessao se estende.

Esta e a questao que mais assusta a burguesia e o imperialismo. E ela que esta na discussao de todos os analistas burgueses quando falam de uma "desconexao" da crise, [isto e, da desvinculacao de suas consequencias para as diferentes areas economicas]. O fato e que metade das exportacoes chinesas se dirige aos Estados Unidos, Europa e Japao. Por sua vez, 60% dos componentes dos produtos sao importados, razao pela qual uma queda da sua producao tem repercussao para todos os produtores desses bens intermediarios e materias primas.

 Evidentemente, uma recessao nos EUA nao afeta a todos os paises por igual. No caso da China, 8% do PIB vao direto para os EUA enquanto que no caso da India esse percentual e de 2%?. Na Asia, os mais expostos sao Cingapura, Hong-kong e Malasia, que exportam mais de 20% do seu PIB para os EUA.   

No caso da America Latina, o mais afetado sera sem duvida o Mexico, que vende 85% de suas exportacoes para os Estados Unidos, alem dos paises Centroamericanos e, na America Latina, o Chile, que exporta para os EUA 30% de sua  producao.


Conclusoes


Todos os desequilibrios que destacamos na minuta mundial de 2006 continuam presentes, corrigidos e aumentados.

Cremos que se pode afirmar que ja estamos atravessando uma nova fase aguda da crise, com centro nos paises imperialistas, em particular nos EUA, a partir do impacto de todos esses desequilibrios. Estamos assistindo ao primeiro capitulo dessa crise, onde se ve como a explosao da bolha ianque vai desequilibrando um a um todos os mercados financeiros e especulativos do mundo. Nos proximos meses poderemos ver suas consequencias para a economia real (v. Anexo), comecando pela recessao norte-americana e os menores niveis de crescimento dos ultimos anos na Europa e Japao. Deixamos em aberto se vai a haver um capitulo 3 dessa crise, isto e, se a China tambem sera de fato atingida por ela. Se tal coisa acontecer, assistiremos sem duvida a uma queda dos precos das materias primas e a uma recessao mundial que inevitavelmente afetara os paises semi-coloniais.


Capitulo 4


A Europa cheia de greves


Com o triunfo do conservador meter em vereda" a classe trabalhadora francesa, a que encabecou as lutas contra os planos neoliberais na Europa nos ultimos anos e que, com seu contundente Sarkozy a presidencia da republica na Franca, a burguesia europeia afastou a esperanca de "NAO no plebiscito de maio de 2006 colocou abaixo o projeto de constituicao da Uniao Europeia feito na medida desses planos neoliberais. Esperavam que SArkozy cumprisse ma Franca o rol que cumpriu Tatcher nos anos 90 na Gra Bretanha e que, junto com a Alemanha democrata crista Angela merkel, e os centro-esquerdistas neoliberais Prodi da Italia e Brown da Gra Bretanha, dar outro grande salto ao "estado do bem estar" no conjunto da Europa, atacando todas as conquistas trabalhadoras que datam do pos-guerra, para o que a burguesia chama de "melhorar a competitividade" (ou seja, aumentar a taxa de exploracao).

Depois do fracasso pelo plebiscito frances e holandes em 2005 da Constituicao Europeia neoliberal, agora, passados dois anos, aprovaram quase em segredo um novo tratado que e o mesmo, mas piorado. O tratado deve ser ratificado pelos 27 paises membros antes de junho de 2009, mas sem submete-lo a consulta popular. Assim, os "democratas" governos da Uniao Europeia pretendem passar por cima dos povos, "poupar-se" da discussao publica, sem nenhuma Assembleia constituinte ou consulta popular. Se atuam assim, debilitando toda a pretensao de legitimidade, e justamente porque temem um fracasso ainda pior que o anterior caso tentem alguma forma de consulta.

Sarkozy comecou a governar a Franca e seus planos nao estao andando muito bem. Pelo contrario: nao so houve grandes greves na Franca, mas tambem durante o mes de outubro houve milhoes de grevistas na Italia, na Gra Bretanha houve uma dura greve dos carteiros e trabalhadores do metro e na Alemanha dos condutores ferroviarios, manifestacoes de massa na Dinamarca. E, ate em Zurich, Suica (pais que nao e formalmente da Uniao Europeia, mas que joga um importante papel financeiro na Europa), sairam as ruas 20.000 trabalhadores da construcao em uma combativa manifestacao exigindo seus direitos em varios idiomas (foi a manifestacao trabalhista mais importante na Suica desde 1918).


4.1 – Franca e a greve de outubro


Franca viveu em 18 de outubro uma imensa greve com mobilizacoes dos trabalhadores contra a tentativa do presidente conservador Nicolas Sarkozy e seu primeiro ministro Francois Fillon de aumentar-lhes a idade para aposentadoria. A greve foi maior que o previsto e maior que as 1995. "Sarko, ate tua mulher esta farta de ti" este cartaz de um manifestante demonstra o clima de duro confronto, e o humor frances zombando do presidente que acaba de divorciar-se de sua esposa Cecilia. Pararam os ferroviarios, o metro de Paris, os coletivos, a eletricidade, o correio, setores da educacao. Organizaram-se grandes manifestacoes de rua em 602 cidades. Segundo os numeros dos sindicatos, umas 300.000 pessoas se manifestaram em todo pais e so em Paris foram 25.000. Em muitos lugares votou-se seguir em greve, pese o chamado da burocracia sindical a voltar ao trabalho, apos a parada de 24 horas de quinta-feira, 18 de outubro. Uma semana antes houve uma marcha de 13.000 trabalhadores contra a reforma do sistema de saude (pretendem eliminar o tradicional sistema de saude publica gratuita).

Os niveis de apoio as paralisacoes, reconhecidos pelo governo, foram superiores a 75%, superaram a paralisacao de 1995.

Em 1995 o primeiro ministro Alan Juppe, sob a presidencia de Chirac, tentou uma reforma similar e a onda de paralisacoes que provocou lhe custou o posto. Esta vitoria do movimento trabalhador impediu que se aplicassem na Franca as reformas neoliberais que o capitalismo impos na maior parte da Europa e em escala mundial.

No ano passado foi a imensa mobilizacao estudantil que derrotou o projeto de flexibilizacao trabalhista chamado CPE (Contrato de primeiro emprego).

Dado que a atual reforma que propoe o governo so afeta um milhao e meio de trabalhadores, dos chamados "regimes especiais", de estatais que aposentam com 37,5 anos de contribuicao (o governo quer aumentar ate os 40 anos que regem hoje entre os privados), nao se esperava o grande apoio operario e popular aos grevistas. Sarkozy argumentou que queria terminar com os "privilegios". Tentou assim dividir os trabalhadores. Mas estes advertiram que a ofensiva de Sarkozy nao ficaria apenas entre os servidores publicos. Seu plano e mais global. Pretende fazer o mesmo que fez Tatcher na Gra Bretanha na decada de 80, desmantelar as conquistas trabalhistas. Por isso a imensa reacao. Porem, ademais, a Franca encheu-se de greves de fabricas e empresas contra abusos patronais, despedidas e ameacas patronais de  mudar a fabrica para a China ou a outro lugar com mao de obra barata. Pararam por aumento de salarios os trabalhadores da Air France e fizeram uma larga greve os estudantes de medicina contra uma taxa que queriam cobrar-lhes. Tambem pararam os advogados e trabalhadores de tribunais, contra uma tentativa de "modernizar a justica"… fechando centenas de tribunais.

A burocracia sindical da CGT (PC), FO (socialistas) e outras agremiacoes nao propoem nenhuma continuidade na luta.

A dirigente "socialista" Segolene Royal, longe de propor nada distinto, passeia e veio a Argentina abracar os Kirchner. Nas manifestacoes gritava-se "Todos juntos, todos juntos, contra os patroes e o governo".


4.2 – Na Italia um milhao se mobilizam contra a flexibilizacao trabalhista


Simultaneamente As greves da Franca, na Italia um milhao de pessoas encheram Roma de bandeiras vermelhas, sairam a protestar em meados de outubro exigindo do governo contratos de trabalho. A manifestacao foi chamada pela Refundacao Comunista e o Partido dos Comunistas Italianos, que apoiam o governo. Os dirigentes disseram que "nao e contra o governo". Porem, os manifestantes estavam indignados com Prodi. Mas, alem disso, havia milhoes de grevistas. Em outubro pararam os trabalhadores da Alitalia, os hospitais reclamando melhores salarios, e uma maior atencao aos seus setores nos pressupostos gerais do Estado, os empregados das farmacias privadas, os bombeiros, os professores primarios e secundarios fizeram uma paralisacao e chamaram a uma manifestacao nacional em Roma, os professores universitarios, os operarios metalurgicos, os pilotos na Alitalia, os caminhoneiros e os empregados do comercio. A centro-esquerda de Prodi se deteriora rapidamente enfrentada por sua propria base votante.

Em fevereiro houve grandes manifestacoes de 100 mil pessoas em Vicenza para impedir que se ampliasse uma base yanque.

Tambem participaram o PdC e o PRC, os dois partidos comunistas que sao parte do governo, deixando claro, obviamente, que "ninguem esta contra o governo". A burocracia sindical italiana havia convocado um referendo em julho para aprovar o acordo de "paz social". Salvo pequenos setores da esquerda, nao houve uma oposicao organizada ao acordo. Ganhou o SIM por 4 milhoes de votos contra o NAO que obteve 1 milhao. Porem, o mais interessante e que o "nao" conseguiu a maioria no setor de metal, cerca de 65% nas fabricas de mais de 500 trabalhadores.


4.3 – Gra Bretanha: param os carteiros, o metro e ate a policia


Na Gra Bretanha a renuncia do desgastado Blair e sua substituicao por Gordon Brown inauguraram um governo mais debil e ao Partido Trabalhista e cada vez mais dificil frear as reclamacoes dos trabalhadores. Brown foi eleito em meio a confusas promessas de retirada do Iraque e se distanciar de Bush. Em outubro fizeram uma massiva greve 130.000 que inclusive ultrapassou a legalidade ao prolongar-se alem dos prazos autorizados. Reclamam contra um plano de reestruturacao e despensa de 40.000. Logo repetiram paralisacoes semanais ate entrarem em uma negociacao. O Royal Mail (correio real) move na Gra Bretanha envios aos ministerios, aeroportos, negocios e comercios do pais, muitos dos quais dependem da chegada de cheques, ordens postais ou envios de mercadoria.

Em agosto, os trabalhadores do metro de Londres votaram a favor da greve para defender seus empregos e condicoes trabalhistas. O voto a favor foi massivo, 1.369 votos, frente a 70 votos contra. Os trabalhadores enfrentam-se contra a perda de empregos e ameacas a suas pensoes depois que Metronet, que e responsavel da gestao de novas linhas do metro londrino, entrou na administracao do metro em julho. Os trabalhadores exigem que garantam seus empregos. O secretario geral do sindicato RMT, Bob Crow, que se reivindica trotskista disse: "Nossos membros falaram em uma unica voz e unida, disseram que nao estao dispostos a pagar o fracasso do PPP com seus empregos, condicoes trabalhistas ou pensoes". Alem do mais, acrescentou: "O que nossos membros querem e que lhes transfiram a uma organizacao do setor publico, que e a unica maneira de proteger seus empregos e pensoes".

No final de agosto tambem houve a primeira greve nacional de 20.000 funcionarios das prisoes da Gra Bretanha e Gales, que terminou depois que o sindicato aceitou reabrir as negociacoes com o governo por questoes salariais. No inicio de setembro foram os policiais que exigiram que lhes devolvessem seu direito a greve ja que suas relacoes com o governo haviam alcancado seu nivel mais baixo em trinta anos. Agora a Federacao de Policiais, com seus 140.000 membros, o sindicato dos bombeiros e de funcionarios de prisoes planejam fazer uma campanha conjunta para que seus salarios subam acima da inflacao. Aos policiais sao proibidos nao so o direito de greve como tambem discutir a questao.

Porem, no inicio deste ano a base votou por maioria acachapante estudar a opcao de pressionar para conseguir o pleno direito a greve se nao conseguem suas pretensoes salariais. Tambem houve uma greve de 113.000 funcionarios da administracao publica, durante dois dias.


4.4 – A Alemanha e a greve dos ferroviarios por salarios e contra a privatizacao


Na Alemanha foi a greve de 30 horas, em 25 de outubro, dos 20.000 maquinistas ferroviarios que paralisou o sistema ferroviario. Reclamavam aumento salarial. O pano de fundo da greve e a tentativa de privatizacao dos trens que agora sao estatais. Eles desafiaram a principal burocracia do sindicato ferroviario nacional que esteve contra a greve porque pediram um aumento salarial "desmedido" segundo a empresa.

Em junho foi a grande mobilizacao contra a reuniao do G-8 que se realizou na Alemanha. 100.000 pessoas provenientes de toda a Europa reviveram as mobilizacoes chamadas "altermundialistas". Em diferentes colunas coordenadas, atraves dos bosques e dos campos e cruzando rios a pe, dezenas de milhoes de manifestantes conseguiram transpor as barreiras policiais para chegar no perimetro de seguranca de Heiligendamm e conseguiram bloquear distintas rotas de acesso ao complexo onde se desenvolveu a conferencia. Isto atrapalhou a chegada das delegacoes. A policia, com seu equipamento pesado e seus veiculos blindados nao pode seguir os altermundialistas atraves dos bosques e dos campos.


4.5 – A Espanha e o Ascenso no resto da Europa


Na Espanha houve uma greve geral em Cadiz em abril contra o fechamento da empresa Delphy. Em outubro sairam os trabalhadores da Mercedes Benz que se manifestaram no centro de Barcelona, e fizeram uma greve de 9 dias contra o fechamento da fabrica.

Produziram-se enfrentamentos violentos entre moradores de origem muculmana, que resistiram a um despejo e demolicao de suas casas em terrenos tomados em uma zona denominada "La Canada", na periferia mais marginal e pobre de Madrid, com a policia antidisturbios. A cena era semelhante a Intifada palestina, com mulheres, homens e criancas respondendo com pedras e tudo o que tinham as maos. Essas lutas que comecam a eclodir entre a imigracao causaram impacto no pais, e encontraram importante solidariedade de cidadaos sensibilizados pelo tema, a quem fazem chegar todo tipo de ajudo material aos afetados pela repressao, inclusive ja iniciaram a reconstrucao de usas casas nos mesmos territorios ocupados em um desafio aberto as autoridades, esbocando a continuacao do conflito.

Na Grecia houve, no inicio de 2007, uma grande greve da educacao em protesto contra a privatizacao da educacao superior do pais. A greve foi convocada pelo Sindicato Nacional de Trabalhadores da Grecia (ADEDY) para protestar contra os planos do governo de reformas a educacao superior. Foram ocupadas quase todas as faculdades pelos estudantes e houve manifestacoes massivas de dezenas de milhares em Atenas e nas principais cidades do pais.

NA Dinamarca em 2 de outubro 90.000 pessoas manifestaram-se frente ao parlamento em Copenhague, convocadas pelo sindicato de empregados publicos, FOA, exigindo maior salarios e contratacao de mais trabalhadores publicos. O alcance da radicalizacao pode ser visto pela manha quando a policia anunciou pela radio que participaria das manifestacoes pela primeira vez em 25 anos. Nas manifestacoes pode ver-se muitos policiais com uniforme gritando consignas. Na assembleia houve varios oradores, incluindo o presidente do LO (confederacao sindical danesa), Hans Jensen, e o presidente do sindicato de estudantes DGS. No Leste Europeu registrou-se uma importantissima greve de medicos e enfermeiras na Polonia.  As enfermeiras reclamavam um incremento salarial de 30% e um incremento do gasto com saude que chega a 6% do PIB (no ano passado elas tinham conseguido 30% de aumento mas como questao excepcional por um ano, portanto este ano, quando termina este pagamento extra, elas se defrontam com uma queda de 30% em seus salarios). A queda nas condicoes de vida e de trabalho do setor da saude e tao grande que uma das consignas da greve era "Queremos trabalhar aqui, nao emigrar", dando conta do fato que como consequencia disso milhares de trabalhadores e profissionais da saude polacos hoje trabalham em diferentes paises da Uniao Europeia.

Em 19 de junho realizou-=se a chamada "marcha branca" em Varsovia, na qual participaram 20.000 trabalhadoras da saude. Instalaram um acampamento com centenas de toldos em frente ao escritorio do primeiro ministro. A greve e o acampamento onde muitas enfermeiras fazem greve de fome e sustentado com a solidariedade de muitos residentes de Varsovia que fazem chegar comida, mantas e sacos de dormir aos grevistas acampados.

Na Bulgaria estao em greve 80% dos professores de todo pais ha um mes (todo o mes de outubro) reclamando um aumento salarial de 100% (ganham 174 euros por mes).


4.6 – Os imigrantes: um papel chave nas lutas europeias


Este breve relato, necessariamente incompleto, mostra a extensao e radicalizacao do movimento grevista na Europa. Em quase todos os casos os imigrantes africanos, turcos, argelinos, latino-americanos, de primeira ou segunda geracao (filhos de imigrantes desempenham um papel muito destacado como vanguarda no movimento operario. Eles sao os que questionam mais frontalmente a burocracia sindical ja que em geral estao totalmente excluidos das direcoes sindicais.

Na Inglaterra o movimento antiguerra colocou os imigrantes muculmanos como protagonistas nas manifestacoes multitudinarias de repudio a invasao do Iraque.

So na Espanha "legais" e "nao legais" ja beiram os 3 milhoes. A imigracao na Espanha chega a 6,5% da populacao total, aproximando-se vertiginosamente dos 7% da Franca e 8% da Alemanha. E tema central nos programas e nas campanhas eleitorais em toda a Europa. O combate a imigracao e a principal bandeira que a direita agita.

Milhoes de pobres vao se concentrando nas principais metropoles imperialistas. E a globalizacao da populacao mundial em termos dramaticos de superexploracao. E a mao de obra barata que necessitam para manter sua "competitividade".

As perseguicoes e deportacoes sao cumprem o papel de mante-los submetidos como mao de obra barata. Ao mesmo tempo, fazem vista grossa, permitindo outros ingressos pelos aeroportos e vias terrestres. Assim, mantem uma grossa massa de trabalhadores imigrantes ativos de reserva, ilegais, para seguir obtendo vultosos lucros. Os trabalhadores em condicao de ilegais, calcula-se que atualmente cheguem na Espanha em torno de 130.000 pessoas. Segundo a Lei de "Extranjeria" na Espanha, a gestao para a tramitacao de uma possivel "oferta de emprego, legalizacao, regularizacao e permissao para trabalhar", deve ser feita pela patronal, ou seja, que cada trabalhador estrangeiro fica entregue as maos de inescrupulosas e exploradoras empresas. Os imigrantes se veem assim submetidos a perseguicoes, ao amontoamento, a exclusao social, chantagens, redes de trafico de imigracao semi-escrava, abusos e obstaculos de todo tipo, e ao final uma lenta e grande tramitacao burocratica estatal para uma nada segura entrega de um visto de trabalho, questao que tende a levar anos. Alem disso, quando chegam sao permissoes de trabalho com muitas limitacoes. Durante anos, os patroes exigirao visto de trabalho, e ao nao te-la (sendo o patrao quem deveria tramita-la), dirao ao imigrante que nao podem dar trabalho formal com contrato, e que entao, a unica alternativa que podem oferecer e que "em negro", o que significa faze-lo sem direitos tipo algum, em condicoes totalmente precarias, sem contratos, como trabalhador imigrante temporario, e por uns escassos euros (3 ou 4 euros por hora), com o qual, se verao obrigados a trabalhar o dobro ou o triplo  de horas que um cidadao europeu, mas so para alcancar o minimo para sobreviver, surgindo uma nova massa social carregada de ressentimentos e frustracoes, que passarao a ser a nova extrema pobreza concentrada em guetos e bairros de imigrantes dentro das reluzentes e avancadas sociedades capitalistas europeias. Esta situacao, sem duvidas deixa a imigracao fazendo os piores trabalhos e com a mao de obra mais mal paga, convertendo-se no setor mais explorado dos trabalhadores na Europa, em uma nova subclasse social de trabalhadores multietnicos, de todas as nacionalidades e todos os cantos do mundo.

A imigracao aparece como um fenomeno incontrolavel. A crise e a calamidade do terceiro mundo entram pelas narinas ate chegar ao coracao das metropoles imperialistas. Esta e outra face da globalizacao, como uma forma de integracao da crise economica mundial, como um todo que cerca e comeca a encher das mais variadas formas as potencias capitalistas desenvolvidas.

Com a globalizacao, paradoxalmente, os trabalhadores imigrantes se veem integrados como uma so classe explorada dentro das principais potencias, ajudando a criar condicoes favoraveis para uma possivel unidade de todos os trabalhadores de todas as nacionalidades com os trabalhadores nativos, como uma so classe internacional. Surgem como um novo setor de massas proletarias que podem atuar como um nexo desempenhando um importante papel de unidade entre as lutas antiimperialistas dos paises semi-coloniais com as dos paises imperialistas. Assim tambem os trabalhadores nativos devem entender que lutar pelos direitos dos imigrantes e lutar pelos direitos de todos os trabalhadores.

A imigracao hoje e um poderoso e novo gigante adormecido, mas com evidentes sintomas de que esta despertando, em um periodo em que se desenvolve recorrentemente a necessidade da organizacao. A rebeliao dos suburbios na Franca em 2005 foi uma explosao sem direcao nem objetivos claros, mas a recente greve da construcao na Suica mostrou imigrantes integrados ao movimento operario como um fator ativo. De igual forma as lutas em Madrid defendendo suas precarias vivendas conseguiram atrair a solidariedade de setores populares.

De fato ja existem centenas e centenas de Associacoes de imigrantes de todo tipo: culturais, desportivas, sociais, sindicais, de solidariedade, redes para trabalho e arrendamento, comerciais, de imprensa e comunicacao, juvenis, federacoes, reivindicativas e associacoes mais vanguardistas diretamente de luta.

A demanda mais importante para o massivo setor de "ilegais" e "Papeis para todos". E em geral o respeito aos direitos humanos e culturais, "a trabalho igual, iguais direitos, igual salario para todos".

De conjunto os trabalhadores em superar a crise historica de direcao, estao enfrentando os planos capitalistas, em alguns casos transpondo a burocracia.


Capitulo 5


America Latina: A situacao revolucionaria e o papel dos governos de conciliacao de classes


Um profundo processo revolucionario inquieta a America Latina nos ultimos anos. Foi a resposta operaria e popular frente a contra-revolucao economica, os planos neoliberais que privatizaram e liquidaram empresas estatais, levaram a quebra milhares de empresas e provocaram desocupacao massiva, precarizacao, flexibilizacao e terceirizacao trabalhista. Este processo teve como maximas expressoes grandes insurreicoes nacionais de massas na Bolivia (2000, 2003 e 2005) derrubando os governos de Sanchez de Losada e Mesa; no Equador (1997, 2000 e 2005) derrubando 3 governos (Bucaram, Mahuad e Gutierrez); na Argentina em 2001, varrendo o governo de De La Rua; Venezuela em 2002 derrotando o golpismo pro-yanque; no Peru com a derrocada do ditador Fujimori (ano 2000). Em muitos casos, conseguiram triunfos democraticos e economicos; conseguiu-se anular privatizacoes (agua em Cochabamba em 2000), impor processos de nacionalizacao parcial de hidrocarbonetos e outras empresas; impos convocatoria de Assembleias constituintes e suspendeu ou limitou o pagamento da divida externa em varias oportunidades, como na Argentina em 2001 e Equador agora. Ao calor destes processos revolucionarios surgiram novos governos frente-populistas que se apresentaram diante das massas como "antineoliberais", ainda que em grande medida este fosse so um discurso e concessoes menores. E inclusive surgiram alguns paises independentes (Venezuela, Bolivia e Equador). Assim, quando afirmamos que existe uma situacao revolucionaria no continente e pelo simples e objetivo fato que estao acontecendo revolucoes, processos revolucionarios, insurreicoes, etc.ainda que nenhum destes processos consiga -pela falta de uma direcao revolucionaria- impor um governo dos trabalhadores nem iniciar passos em direcao ao socialismo. Estes fatos so acontecem porque existe uma situacao objetiva que os possibilita.

E necessario precisar os diferentes periodos pelos quais passou a luta de classes e os fenomenos politicos em nosso continente, a conjuntura atual e suas perspectivas, assim como as tarefas para nossa corrente no proximo periodo, cheio de desafios e oportunidades assim como nos agrupamentos que se reivindicam do trotskismo.


5.1 – O Argentinazo de 2001 abriu um novo periodo na situacao revolucionaria


O Argentinazo deu inicio a um novo periodo de ascenso , de triunfos do movimento operario, campesino e popular, dentro da situacao revolucionario latino-americana. O imperialismo yanque quis contra-atacar dando um golpe na Venezuela, mas a mobilizacao de massas derrotou esse projeto em abril de 2002 e logo fez o mesmo com a sabotagem petroleira no fim desse ano. Em 2004 a direita venezuelana perdeu tambem o referendo revogatorio.

No marco deste novo periodo, o ascenso revolucionario aprofundou-se na Bolivia. Em outubro de 2003 uma insurreicao popular (a chamada guerra do gas) derrubou Sanchez de Losada e em 2005 caiu seu substituto, Carlos Meza. Em dezembro de 2005 Evo Morales e o MAS ganharam as eleicoes com 54% dos votos, levando pela primeira vez na historia um indigena-campones a presidencia.

Em 2005, no Equador caiu o governo de conciliacao de classes de Lucio Gutierrez, levado pouco tempo antes ao poder pelo ascenso de massas. Este mesmo ascenso levara finalmente, atraves de novas eleicoes Rafael Correa ao poder, constituindo um novo governo frente-populista, aliado ao chavismo.

Em 2006-2007 vivemos a extensao do ascenso da luta de classes a novos paises. Entrou com tudo o Mexico, com as greves dos mineiros e o levante de Oaxaca, e com as mobilizacoes de milhares contra a fraude eleitoral nas eleicoes presidenciais. O ascenso tambem se estende ao resto da America Central com greves sindicais e protestos estudantis em El Salvador e Nicaragua. Na America do Sul cresceram as greves na Argentina, Colombia e se somaram ao ascenso Peru e Chile.


5.2 – Chile e Peru se incorporam ao ascenso das lutas


Chile era o regime mais consolidada e o pais mais estavel, com relacoes privilegiadas com o imperialismo a partir da contra-revolucao pinochetista. Chile nao viveu a revolucao democratica que comoveu a America Latina inteira na decada de 80. A saida da ditadura foi pactuada como uma reforma que nao afetara a estrutura legal e economica anti-operaria  imposta por Pinochet.

Os governos da Concertacao (alianca do PS e da DC) mantiveram as leis pinochetistas no social, economico e tambem a repressao brutal dos policiais a toda manifestacao popular.

Mas em 2006 Chile mudou. A rebeliao de 800 mil estudantes secundaristas foi a primeira grande mobilizacao de massas desde o golpe de 1973. Os estudantes conquistaram um triunfo parcial em sua demanda de acesso gratuito a universidade. Posteriormente, em 2007, irrompeu o movimento operario com a greve de 30.000 mineiros do cobre. Uma greve durissima com enfrentamentos com a policia e piquetes que queimaram onibus, e que conseguiu um triunfo importante. Tambem triunfou uma greve de trabalhadores florestais, com o saldo de um trabalhador morto enquanto enfrentava os policiais. Este ascenso eclodiu pese as expectativas iniciais do governo da socialista Bachelet, que foi visto por grandes setores de massas como uma renovacao na Concertacao. Um dos centros da luta foi derrotar a terceirizacao trabalhista e impor a negociacao salarial e de condicoes de trabalho por setor industrial.

O outro pais que se incorporou de cheio foi Peru, esgotando-se em poucos meses os creditos que as massas prestaram a Alan Garcia e o PARA. A acao do governo de Garcia foi dar continuidade aos planos neoliberais, jogando-se a conseguir a assinatura do TLC como sua grande aposta politica, respondendo assim ao conjunto da burguesia e principalmente a exportadora. A resposta das massas se expressou contundente em primeiro lugar pela via eleitoral. Nas eleicoes regionais e municipais de novembro o PARA perdeu 8 dos 11 governos regionais que tinha antes de governar o pais. E curioso que tampouco Ollanta Humala com um confuso discurso nacionalista, tenha podido firmar-se como uma opcao.

Como os chilenos, os trabalhadores peruanos se levantaram contra a terceirizacao que se impos na decada de 90, especialmente os mineiros e portuarios. Tambem desempenharam um importante papel os cocaleiros para enfrentar a tentativa governista, cumprindo ordens do imperialismo, de erradicar a folha de coca. Uma luta que nos irmana com os cocaleiros bolivianos. Em terceiro lugar houve levantes regionais por mais fundos e autonomia de recursos naturais e contra a contaminacao e exploracao mineira. Por ultimo, os docentes sairam numa greve geral nacional contra a tentativa de Alan Garcia de liquidar suas conquistas com uma reforma legal. As lutas desembocaram em massivos bloqueios de pistas e enfrentamentos |as forca repressiva houve mortos e feridos, mas em geral a policia nao pode impedir os bloqueios, o governo teve que negociar para evitar que desembocasse em uma greve geral nacional, ajudados pelo fato de nao existir nenhuma centralizacao nacional, ja que a CGTP totalmente burocratizada nao cumpriu esse papel. Por outro lado, a boa situacao economica para a burguesia foi o outro fatos que sustentou o governo pese a catastrofe eleitoral do PARA e ter baixado para 30% de aprovacao popular.


5.3 – Mexico e America Central no auge de lutas


Mexico e America Central, no periodo do pos Argentinazo se somam ao ascenso trabalhador e popular. A importancia do Mexico neste processo e chave, ja que se trata do pais limitrofe com os Estados Unidos. E evidente que ha um efeito contagioso e uma inter-relacao entre o ascenso dos imigrantes no pais do norte, que protagonizaram em 2006 de fato uma greve no 1? de maio, com os trabalhadores e setores populares do Mexico. Em maio de 2006 iniciou a heroica greve dos professores de Oaxaca, que durou quase ate o fim do ano e que se transformou em um movimento insurrecional popular, com duros enfrentamentos e com o surgimento de um novo organismo, embriao do poder popular local, como a Assembleia dos Povos e Oaxaca (APPO).

Este ascenso se expressou de forma distorcida no voto em Lopez Obrador candidato do PRD nas eleicoes presidenciais, que teria derrotado o oficialista PAN e o PRI. Uma gigantesca fraude impediu esse triunfo eleitoral que nao fez mais que mostrar que as tendencias ate o frente populismo sao um processo unico e parte da situacao revolucionaria que vai do Rio Bravo ate Ushuaia. Contra a fraude chegaram a se mobilizar mais de 500 mil pessoas ao Zocalo, no Distrito Federal. Em 2007, por exemplo, produziu-se uma grande greve mineira que chegou a durar mais de 4 meses. Mais de 1.300mineiros paralisaram as minas do Grupo Mexico na cidade de Cananeia.

O ascenso veio generalizado na America Central. Em 2006 houve na Guatemala uma paralisacao do setor da saude. Em El Salvador houve protestos estudantis exigindo a anulacao do aumento do transporte publico. Em Honduras houve greves de professores durante 2006 e 2007. No Panama houve no fim de 2007 uma greve de mais de 5.000 medicos por aumento salarial. Na Republica Dominicana houve em 2007 uma greve geral em junho e julho que afetou o transporte, o comercio, as industrias e as escolas.

Em agosto,, setembro e outubro de 2007, na Costa Rica houve grandes mobilizacoes contra o TLC (Tratado de Livre Comercio com os Estados Unidos), ate 150 mil pessoas sairam as ruas. O governo pactuou com a oposicao burguesa ao TLC a realizacao de um plebiscito. O presidente Oscar Arias conseguiu ganhar o plebiscito. Mas por uma margem tao pequena que os movimentos populares de oposicao denunciaram fraude e anunciaram a preparacao de uma greve geral contra a adesao ao TLC.


5.4- Novo mapa politico: os governos de frente popular


O aprofundamento da situacao revolucionaria e que explica o surgimento dos governos frente-populistas ou agora chamados de centro-esquerda, como uma tendencia geral da America Latina. Trata-se de governos burgueses de tipo diferente em relacao aos normais da decada de 90, como o foram os de Menem, Cardoso, Sanchez de Losada, Fujimori, Toledo, Lagos, Fox, Moscoso, Pastrana ou agora Uribe na Colombia, governos que aplicaram rigorosamente as politicas neoliberais. Estes novos governos, fruto do ascenso e os processos revolucionarios que destruiu ou levou a uma enorme crise os partidos tradicionais e em algumas circunstancias o proprio regime democratico burgues, sao governos de conciliacao, frente populistas, com elementos nacionalistas e em alguns casos viram-se obrigados a tomar medidas de algum enfrentamento dom o imperialismo, a fazer concessoes ao movimento de massas que conquistaram parcialmente algumas reivindicacoes. Estes governos se baseiam na conciliacao de classes com as organizacoes trabalhadoras e populares. Nao deixam de ser burgueses e de ter um carater contra-revolucionario. Seu objetivo e desmobilizar os trabalhadores, e normalizar o regime politico, sobretudo nos casos que, como na Venezuela, Equador ou Bolivia foram seriamente golpeados, levando a maiores sofrimentos ou derrotas importantes e historicas, como aconteceu com Salvador Allende no Chile de 1973, ou Nicaragua nos anos 80. Governos de frente popular ou com elementos de frente popular, sao os de Lula, Chavez, Evo Morales, Tabare Vasquez, Correa, Kirchner ou Daniel Ortega. No Mexico pode ter surgido se assumisse o governo o PRD de Lopez Obrador. Na Colombia em reflexo deste processo geral vem se dando com o reiterado triunfo de uma formacao de centro-esquerda (Polo Democratico) das prefeituras de Bogota, fato inedito na historia da Colombia.

Existem muitas desigualdades entre as caracteristicas destes governos. Como assinalavamos na Minuta mundial de maio e 2006, nao podemos por um signo igual entre todos os governos frente-populistas ja que a partir da definicao geral "abre-se um leque de combinacoes que determinam distintas formas de frente populares, nas quais se mantem sua essencia contra-revolucionaria, respondendo, como veremos, a diferentes situacoes sociais" (N. Moreno, CI n? 13, pag 24).

Distinguir entre los distintos tipos de gobiernos de frente popular es clave para las politicas y las tacticas. Los definimos como enemigos de la clase trabajadora y los sectores populares y siempre los denunciamos y nunca le damos apoyo politico.  Los gobiernos de Lula, Kirchner, Tabare Vazquez son claramente agentes del imperialismo yanqui. En cambio los de Chavez, Morales o Correa tienen roces y choques con el imperialismo y por eso todavia podemos definir a sus paises como independientes.

"Defendemos o confronto total com os agentes do imperialismo. No entanto, enquanto tenham o apoio das massas, aos governos independentes os criticamos por inconsequentes e lhes exigimos que adotem medidas revolucionarias imprescindiveis para fazer avancar ou defender a independencia do pais. Defendemos um programa transicional, permanente, na perspectiva de que o paises seja cada vez mais independente. Por exemplo, na Nicaragua, temos que criticar o governo porque nao expropria toda a burguesia, que, de fato, apoia aos "contra". E temos que exigir aos sandinistas que apliquem as medidas de expropriacao…" (N. Moreno, C.I. N° 24 2007, pagina 59)

Enquanto, por exemplo, sobre os governos de Lula, Kirchner ou Tabare prima a denuncia; nossa tatica frente aos governos de Chavez, Morales e Correa e a de denuncia e exigencia, tal como o aconselhava Moreno.

A politica central do imperialismo yanque frente a estes governos de frente popular esta centrada na negociacao e nos pactos. Sobretudo depois da derrota do golpe pro-ianque que tentaram em abril de 2002 na Venezuela e as posteriores derrotas politicas. Ainda que descarte o garrote, o que prima e a negociacao por usa grande debilidade regional e, sobretudo, pela derrota que o imperialismo esta sofrendo no Iraque.

Que sejam governos de conciliacao nao significa que nao existam, em algumas circunstancias e paises, choques com o imperialismo e as burguesias. Por exemplo, na Bolivia seguem os choques e disputas entre o governo Evo Morales e a oligarquia e imperialismo. A aprovacao da reforma constitucional desencadeou uma grave crise entre Morales e os governadores da direita, alentados pelo imperialismo.

Por isso, e um erro das correntes sectarias por signos iguais em todos os governos frente-populistas e ter uma mesma politica e tatica para todos. Por exemplo, e claro que na Bolivia deve-se defender o governo de Evo Morales ante qualquer intentona golpista, separatista e reacionaria, sem dar-lhe apoio politico a seu governo.


5.5 – A conjuntura e o papel da frente popular


Deve-se reconhecer que os governos de frente popular tiveram um relativo exito em canalizar politicamente o ascenso revolucionario e evitar, por enquanto, novas crises revolucionarias. Na conjuntura conseguiram certa estabilidade politica e nao houve novas tentativas de insurreicoes nacionais para derrubar por essa via governos, salvo no caso de Lucio Gutierrez, em 2005.

Seriam duas as causas desta certa estabilidade conjuntural:

a) o ascenso se canalizou pela via eleitoral e, como subproduto do processo de lutas e insurreicoes surgiram estes novos governos com uma relacao diferente com o movimento de massas. Governos frente populistas ou com elementos de frente popular, incorporando partidos e personalidades do movimento trabalhador e popular. Nos casos mais avancados da Venezuela, Bolivia e Equador, com caracteristicas de independencia frente ao imperialismo. Em outros como na Argentina, submetido ao imperialismo, mas com um discurso duplo de suposta independencia e "antineoliberal", ao mesmo tempo em que dao concessoes menores as massas, especialmente no terreno democratico. No caso do Brasil formando um governo com o Partido dos Trabalhadores e o maximo dirigente politico trabalhador do Brasil, Lula. No Uruguai e um caso similar ao triunfar a Frente Ampla e na Nicaragua a FSLN.

b) O segundo elemento e uma conjuntura economica relativamente favoravel, a partir da alta de precos de materias primas. Ainda que nao se superasse nenhum dos problemas estruturais sociais e economicos, na conjuntura esta situacao permitiu que houvesse mais emprego, que as massas recuperaram algumas conquistas economicas, que os governos deem algumas concessoes aos setores mais explosivos e permitiu que se rearmasse a frente burguesa.  Lula, por exemplo, institui a chamada "bolsa familia" que abarca mais de 40 milhoes de pessoas em situacao de extrema pobreza, que sao grande parte de sua nova base social. O ascenso se canalizou entao em batalhas importantes mas parciais por melhorias economicas. Um exemplo claro foram as greves por salarios em quase todos os paises e, em especial, as grandes greves mineiras. Apoiados em grande medida nos altos precos das mineradoras, os mineiros chilenos, peruanos, mexicanos, bolivianos, exigiram e conseguiram, mediante duras greves, melhorias economicas e nas condicoes de trabalho.

Neste sentido e diante da debilidade politica de Bush e o imperialismo na regiao, e importante ver o papel que cumpre Lula e seu governo, como agente direto do imperialismo para atuar como mediador e negociador para buscar manter uma estabilidade social na America do Sul. Este papel cumpre unido aos governos de Kirchner e Bachelet. Nao e casual que sao os tres paises que enviaram tropas ao Haiti, e atuam permanentemente, em especial Lula, para tratar conter Chavez e Morales e buscar que cada vez mais cheguem ao acordo com os ianques, reduzam seus embates politicos e economicos e retomem o carater semicolonial de seus paises. Por isso, na Bolivia diante da crise politica "independentista" incentivada pela oligarquia de Santa Cruze as provincias da chamada "Media Luna" contra Evo Morales, foram Lula e Bachelet os que rapidamente foram ao auxilio montando um ato de apoio em La Paz contra qualquer tentativa desestabilizadora. Aproveitando tambem a debilidade politica de Chavez apos a derrota no referendo.


5.6 – O castro-chavismo e o neo-reformismo latino-americano


Como diziamos nas Teses Politicas de 2003: "Desde o inicio dos anos 90 surge o que denominamos como o "novo reformismo", que de novo so tem o discurso ja que e a mesma politica traidora da velha social democracia e do stalinismo. O reformismo, modelo seculo XXI, tem a mesma falsa concepcao da possibilidade de mudancas graduais dentro do sistema capitalista, em governos com unidade com setores burgueses e da chamada "sociedade civil" O que tem de novo e uma parte de seu discurso adequado a etapa pos-queda do muro de Berlin. Acentuam um discurso pseudo-democratico, pelo odio das massas as ordens de cima, dos burocratas ou dos "secretarios gerais". Sao os campeoes da "democracia participativa", da "democracia radical" ou das "consultas populares" para seguir enganando as massas. A outra cara deste novo discurso e a consigna de que "nao vao mais os partidos com o centralismo democratico" e vao para propostas horizontalistas da democracia direta oposta a organizacao de partidos revolucionarios. Suas consignas politicas, encabecadas pelo Forum Social Mundial, sao "outro mundo e possivel', nos marcos do capitalismo; via uma "melhor distribuicao da riqueza" entre ricos e pobres; desde distintos angulos, sao os ideologos da "nao tomada do poder" pelos trabalhadores mas sim de "construir poder desde baixo" e de nao fazer revolucoes" (Teses pagina 18).

Na America Latina existe uma versao particular do neo-reformismo que e a unidade de Hugo Chavez-Fidel Castro. Justamente e uma versao adequada ao aprofundamento do ascenso revolucionario que vive a regiao desde os anos 90. Por isso Hugo Chavez a encabeca com um discurso aparentemente mais radical que o FSM, a social-democracia europeia (Le Monde Diplomatique), setores da igreja catolica, o subcomandante Marcos ou o PT. Com a consigna do Socialismo do Seculo XXI expressa uma nova versao do nacionalismo burgues que teve seus antecedentes historicos em Lazaro Cardenas, Peron, Allende, Velazco Alvarado ou Torrijos. Tambem tem um discurso mais radical, ainda que nao no plano das medidas economicas nacionalizantes. Chavez adota um discurso socialista apegado a imagem de Castro, citando Marx, Engels, Lenin, Che e inclusive Leon Trotsky. E um dos poucos, senao o unico governo burgues que fez um ato de homenagem a Trotsky no aniversario de seu assassinato.

O castro-chavismo surge como uma corrente inimiga da autonomia da classe trabalhadora, da independencia de classe, do poder para os trabalhadores e o povo, de ruptura com o imperialismo e as multinacionais, definitivamente da revolucao socialista. Entretanto, por suas brigas pessoais com o imperialismo e porque as massas com suas lutas obtiveram reais ainda que pequenas conquistas consegue uma importante simpatia entre o movimento de massas nao so de seu pais, tambem entre a vanguarda da America Latina e do mundo. Por isso, converteu-se no principal obstaculo para a construcao de direcoes operarias e socialistas revolucionarias.

Apos a queda do stalinismo de Moscou, debilitados os PC's, o castrismo e inclusive proximo da desaparicao fisica do proprio Fidel Castro, Chavez outorga nova vida ao castrismo e a sua politica etapista, de economia mista, de apoio a Kirchner e Lula, ou seja, uma politica contra a revolucao, de impedir o avanco da luta para o triunfo da revolucao socialista. Papel que o castrismo cumpre com exito desde decadas e em especial, liquidando as revolucoes dos anos 80 e Nicaragua e El Salvador.   

Milhoes veem Chavez e seu governo como uma alternativa frente a Bush e frente aos governos pro-ianques. Por isso milhoes de lutadores da esquerda e antiimperialista creem que o caminho do socialismo e o das empresas mistas, do Banco do Sul, dos pactos com as patronais e os governos do MERCOSUL, Russia ou Ira, etc. Seus petrodolares estao a servico do apoio a sua figura e seu projeto politico reformista.


5.7 – O revisionismo se recria por tras do castro-chavismo e se reafirma como obstaculo a construcao de uma direcao revolucionaria


Se nas decadas de 70-80 o obstaculo foi o guerrilheirismo e seu frente-populismo de entao (Tupamaros, Monteneros, ERP, FSLN, FMLN, ELN, MIR, Sendero Luminoso) agora o e o castro-chavismo. O guerrilheirismo levou ao desastre milhares de jovens e lutadores honestos. Entao correntes do trotskismo (mandelismo, SWP dos EUA) cederam a essas pressoes e a moda politica de entao. O Morenismo se construiu dando uma dura batalha politica contra essa corrente, bem apegado ao movimento operario e construindo partidos internacionalistas. Agora a batalha e contra o castro-chavismo e tambem hoje setores que se dizem trotskistas voltam a capitular, agora a moda "bolivariana" como o mandelismo (a LCR da Franca), The Militant (Alan Woods), o MST da Argentina ou a corrente majoritaria do PSOL no Brasil (MES, ex SU e outros), entre outros. O revisionismo da atual etapa capitula ao castro-chavismo, abandonando a independencia de classe e a luta consequentemente antiimperialista e anticapitalista, a luta por governos dos trabalhadores e o povo, a luta pela expropriacao da burguesia e do imperialismo, a luta pela construcao de partidos revolucionarios combativos.

O revisionismo cumpriu sempre um papel devastador para a construcao da Internacional e os partidos revolucionarios em cada pais. Na historia do trotskismo as personagens mudaram, mas sempre sua justificativa foi um "falso objetivismo: a pressao do movimento de massas e tao forte que obrigara todas as direcoes a adotar um curso centrista revolucionario permanente cada vez mais progressivo" (N. Moreno, Atualizacao do Programa de Transicao, Teses X, pag. 37). E que, portanto, a tarefa dos revolucionarios e apoiar essas direcoes e nao critica-las como direcoes oportunistas. E que por isso tampouco esta colocada a tarefa imprescindivel e urgente de construir partidos revolucionarios.

Isto e o que, as distintas variantes do revisionismo atual, fazem frente ao castro-chavismo. Tanto a corrente internacional da LCR francesa, como The Militant, encabecada por Alan Woods, passando pelo bloco MES (PSOL)-MST (Argentina), todos tem acordo com matizes em:

a) Apoiar o governo Chavez, b) em diluir-se no PSUV negando-se a construir um partido revolucionario na Venezuela, como antes se negaram na revolucao nicaraguense, c) em abandonar e combater a independencia de classe, o classismo cedendo as pressoes do nacionalismo burgues e do PC cubano. Com esta politica nefasta contribuiram a combater a corrente classista e revolucionaria que encabeca Orlando Chirino, favorecendo a divisao das forcas sindicais classistas, objetivo claro do governo de Chavez e do PC cubano, seu aliado e assessor permanente.

A UIT-CI se reafirma como corrente internacional trotskista e morenista, no combate contra o revisionismo em nossas fileiras, sob todas suas formas. Consciente de que este segue sendo uma dos grandes obstaculos na dura batalha pela independencia de classe, por construir a internacional e os partidos revolucionarios para a acao.


5.8 – Ate onde vai Chavez depois da derrota do referendo?


A derrota de Chavez no referendo pela reforma constitucional e uma dura derrota politica do governo de Chavez como do castro-chavismo. E um duro golpe que recebeu seu projeto bonapartista nacional-burgues. E um triunfo para os lutadores trabalhadores e populares, (ainda que a direita tambem o aproveite) porque essa reforma constitucional nao tinha nada de progressivo para o movimento de massas. Pretendia consolidar constitucionalmente o aprofundamento das tendencias bonapartistas de seu governo com maiores poderes como presidente para ir contra o movimento operario e as massas, como ja vinha fazendo rechacando as demandas de controle ou gestao operaria da PDVSA e outras empresas estatais; impedindo a autonomia sindical e combatendo o classismo que encabeca Orlando Chirino e sua corrente o pressionando pela filiacao massiva ao PSUV como partido unico do governo.

A derrota no plebiscito nao foi por um fortalecimento da direita nem fruto das massas ate ela. Esta demonstrado, como o proprio chavismo o reconhece, que a derrota foi produzida porque mais de 3 milhoes de pessoas (trabalhadores e setores populares) que vinham apoiando Chavez, majoritariamente se abstiveram e uma minoria foi ao NAO ou ao VOTO NULO. Ou seja, houve um rechaco a reforma e uma rebeliao de base as ordens de Chavez e seu governo, expressando seu protesto uma vez que nao se solucionam os problemas sociais das massas.

A partir da derrota sofrida e a reerguida politica da direita pro-imperialista, ha setores da esquerda pro-chavista que alentam e prognosticam uma radicalizacao a esquerda do governo Chavez, com medidas de expropriacao e nacionalizacoes, como ocorreu em Cuba nos anos 60. Nao vemos nenhum elemento que indique isso. Desde ja nunca podemos descartar a hipoteses teorica de que um futuro ataque do imperialismo possa levar a uma radicalizacao e que o chavismo exproprie e rompa com a grande burguesia e as multinacionais.

Mas, a realidade mostra o oposto a uma radicalizacao a esquerda do governo venezuelano. Chavez nao se prepara para a ruptura senao para intensificar os acordos com a grande burguesia. Por exemplo, dias antes do referendo havia desabastecimento de leite. Logo apos a derrota, o governo autorizou um aumento dos precos do leite ao inves de embargar a burguesia do setor que desabasteceu o mercado. Por outro lado, na atual conjuntura nao e hoje a politica do imperialismo tentar um golpe na Venezuela senao usar a derrota politica de Chavez para redobrar as pressoes para que ceda (via Lula e Kirchner). Por isso a direita na mesma noite do triunfo do SIM, chamou a uma "reconciliacao nacional".

Neste sentido, Chavez e o chavismo tendem a repetir o ciclo de todos os movimentos nacionalistas burgueses que, por seu carater de classe, vao ate a negociacao com o imperialismo e as burguesias. Assim foi como grandes movimentos nacionalistas foram convertendo-se em instrumentos do imperialismo como ocorreu com o peronismo, o MNR boliviano, o PRI mexicano ou o APRA peruano. Indubitavelmente tera que ver em que ritmo vao se dando, ja que nesses mesmos movimentos citados o processo foi longo, nao se deu de um dia para o outro. Sobre esta etapa, pela maior crise politica, economica e militar do imperialismo, estes novos movimentos podem ter mais margem para confundir as massas.

Desde 2004, apos derrotar a direita no referendo revogatorio de agosto desse ano, Chavez entrou na etapa de negociacao. Desde entao o confronto com o imperialismo e a oposicao manteve-se, porem mais limitado e comecaram a esbocar-se com maior peso e transparencia as contradicoes do governo com o movimento de massas. Esse processo de negociacao e pactos com as multinacionais e a burguesia continua depois da derrota do referendo. Esta negociacao esta aberta, nao se concluiu. Por isso, Chavez ainda nao se converteu em um agente direto do imperialismo. Mas sua dinamica e para um acordo e que a Venezuela deixe de ser um pais independente.

Neste processo devemos precisar que comecou o processo de ruptura com Chavez por parte de setores da vanguarda da classe trabalhadora, que se expressou fundamentalmente nas lutas operarias. O referendo nao e ainda a expressao de uma ruptura de massas, mas sim um alerta e um chamado de atencao. Sem duvida, o resultado abre melhores condicoes para a batalha contra o reformismo, o revisionismo e para a construcao do partido revolucionario na Venezuela, se soubermos manter nossa clara localizacao de oposicao e independencia de classe, de defesa das conquistas do processo revolucionario e se continuarmos dialogando com milhoes que comecam a ter duvidas sobre o projeto chavista.


5.9 – No movimento operario avanca o processo de revolucao antiburocratica e de surgimento de novos organismos e novos dirigentes.


Ao calor do ascenso operario e popular, esta se produzindo, desde anos e com desigualdades, um processo de novos organismos de  trabalhadores e de novos dirigentes sindicais, de uma imensa vanguarda lutadora que se da tanto no campo sindical como campesino, estudantil e popular.

Queremos dar um destaque em especial ao processo de surgimento do novo no movimento trabalhador latino-americano porque e nossa classe, porque cumpre e pode cumprir um papel de protagonista nas mudancas revolucionarias e porque ali estao milhares e milhares de lutadores de vanguarda que sao o elemento para construir os partidos revolucionarios em cada pais.

Consideramos que este processo e parte da revolucao politica mundial que deu um salto qualitativo em 1989 com a queda do aparato stalinista.  Por revolucao politica queremos dizer uma rebeliao dos trabalhadores contra suas direcoes operarias burocraticas e traidoras. Este e o processo mais dinamico que cruza o ascenso na America do Sul e America Central.

Este processo de revolucao politica tem um ponto mais avancado na Venezuela. Porque ali essa rebeliao das bases deu como resultado o surgimento de uma nova central trabalhadora, a UNT, de novos sindicatos classistas e da corrente CCURA. Parte deste processo tambem e o surgimento da Conlutas e outras expressoes de ruptura e oposicao a direcao burocratica da CUT no Brasil; a Assembleia Popular dos Povos de Oaxaca (APPO); os corpos de delegados combativos dos ferroviarios, do Metro ou as seccionais opositoras da CTERA (docentes) da Argentina, os sindicatos do Cobre e outros que encabecam as greves no Chile, a COR de EL Alto ou a COD (Central Operaria Departamental) de Cochabamba na Bolivia; as tendencias classistas no Uruguai, a corrente que encabeca o Sindicato da Seguridade Social no Panama, com Priscilla Vasquez como grande dirigente.

Algumas caracteristicas deste processo sao:

a) os novos dirigentes e os novos organismos surgem ao calor de duras lutas pelas suas reivindicacoes e enfrentando os governos, as patronais e a burocracia sindical.

b) existe um extenso processo embrionario de democracia operaria, tudo se discute e se resolve em assembleias, ali a base passa por cima dos velhos dirigentes.

c) os novos organismos e suas direcoes nao sao homogeneas nem todas sao classistas. Ha de tudo: desde correntes chavistas e frente-populistas (PC, maoistas, anarcos), sindicalismo anti-partido, ate setores classistas e trotskistas. Isto e chave para poder atuar sem sectarismo e com politicas concretas para nao cair no propagandismo esteril.

E muito importante tomar a realidade tal qual e e os organismos e as novas direcoes com todas suas contradicoes para nao cair nem no oportunismo, de embelezar os fenomenos  novos nem no sectarismo de ignorar as contradicoes e desigualdades de cada processo. Por exemplo, se bem o novo e mais avancado passa pelo surgimento de uma nova central como a UNT, e CCURA na Venezuela, os sindicatos que rompem com a CUT no Brasil e aponta formar outra central, nao e esse o processo geral continental. Segue havendo novas direcoes dentro das velhas estruturas como demonstram as oposicoes nos sindicatos das burocraticas CGT e CTA da Argentina ou ainda na mesma situacao na CUT do Brasil ou na CUT do Chile, etc.

Por isso, para a UIT e suas secoes o lugar fundamental de atuacao, neste periodo, e o movimento trabalhador em geral, impulsionando as novas direcoes desde as realidades de cada pais. Por isso devemos ser patriotas das novas organizacoes como a UNT, CCURA ou Conlutas e seguir impulsionando as novas direcoes nos velhos sindicatos e centrais. Por exemplo, seria um disparate sair com uma consigna continental por novas centrais trabalhadoras. Nosso centro e por novas direcoes sindicais antiburocraticas e classistas.

Cremos que as novas direcoes surgem das lutas e do enfrentamento com velhos aparatos, como uma necessidade para poder enfrentar de forma consequente os patroes e o governo. Todos estes elementos, os tres que assinalamos, sao importantes para nao cair em erros. Como seria nao ver que nas novas direcoes ha de tudo, que nao predomina ainda o classismo e a independencia de classe.

Por exemplo, a LIT toma o processo do novo a imagem e semelhanca da Conlutas, que nucleia sindicatos e setores sindicais que vem da ruptura com Lula e o PT. Esta deve ser a causa pela qual eles ignoram ou minimizam o processo da UNT e os novos sindicatos da Venezuela, que e o processo mais importante de surgimento de novos organismos de massas.

Essa central surgiu em 2002 ao calor da luta contra o golpe falido de Bush e contra a sabotagem petroleira que encabecou a velha e podre burocracia sindical da CTV. Ou seja, que surge defendendo o governo de Chavez do golpe reacionario e pro-imperialista. O novo na Venezuela nao surgiu da ruptura com Chavez, como aconteceu com a Conlutas no Brasil que ainda nao chega a magnitude do processo de rebeliao da Venezuela. Pelo contrario, a Conlutas organiza ainda uma pequena minoria do movimento sindical brasileiro.

A UNT, quando surgiu como uma nova central chegou a nuclear centenas de milhares de trabalhadores e de sindicatos combativos, que esvaziaram a velha CTV tao grande e importante como aparato burocratico como e a CGT argentina e ate a mesma CUT do Brasil ou Chile. Ou seja, trata-se de algo imenso, quase um milhao de trabalhadores esvaziaram a velha central traidora e formaram uma nova central. Na Venezuela surgem centenas de sindicatos com novas direcoes que com plebiscitos, eleicoes ou a pau, varrem os burocratas da CTV. Logicamente a maioria da direcao ou das correntes da UNT sao pro-chavistas, precisamente porque o processo de ruptura de massas com Chavez ainda nao irrompeu, esta em seu comeco. Porem, e um sectarismo muito grande ignora-la e nao ver que desde sua fundacao o programa da central levantou como bandeira a autonomia sindical do estado e do governo. Que tenha sido o movimento trabalhador, em especial encabecado ou influenciado por dirigentes trotskistas como Chirino e outros, que se tenha jogado a derrota da sabotagem petroleira, e de grande importancia. E uma visao sindicalista e sectaria da LIT e de outras correntes trotskistas (PO, PTS) nao ver que foi a partir dai que se aprofunda a revolucao antiburocratica na Venezuela.

Desde 2002 ha uma dura batalha contra o governo Chavez e seus agentes que tratam de destruir este processo de revolucao sindical antiburocratica, em especial liquidar a UNT e sua independencia. Hoje a maioria das correntes da UNT rendeu-se ao chavismo e a UNT nao funciona, tem se diluido como uma central. Nesse sentido ha um retrocesso. Porem, a batalha esta aberta. Seguem havendo uma forte corrente de sindicatos e de UNT regionais, que influencia o setor de Chirino, Bodas, a UNT Aragua, etc, que seguem batalhando pela organizacao sindical classista e autonoma. Esta nao e uma batalha menor. Porque esta em jogo a principal conquista sindical surgida nos ultimos 10 anos e depende, em parte, o futuro da revolucao venezuelana de como fica a UNT e os sindicatos classistas. E se continuam lutando por sua autonomia em relacao ao governo Chavez.

A visao equivocada da LIT os leva a destacar, em seu texto sobre a America Latina, como mais importante que a UNT e a CCURA, a Tendencia Classista do Uruguai e MIC da Argentina, que sao organismos pequenos em seus paises ou a organizar um encontro sindical com a COB, que se opoe ou tem criticas ao governo Evo Morales, o que e progressivo, mas nao deixa de ser uma central burocratica que boicotou todas as insurreicoes que se produziram na Bolivia. Fazer um encontro sindical continental, inclusive com a COB, e muito bom e deve-se apoiar. O ruim e nao precisar o carater dessa alianca, de que se trata de uma unidade de acao com setores burocraticos com varios pontos progressivos e nao uma plenaria de correntes classistas. Nao e casual que a convocatoria nao mencione os governos concretos da Bolivia, Brasil ou Venezuela.

Por isso e chave, primeiro ver o processo geral e, segundo, ver como se manifesta em cada pais, porque disso depende a politica e a possibilidade de atuar corretamente para disputar a direcao com os setores burocraticos e reformistas.

Na Argentina o processo central de novos organismos e nova direcao se da de baixo, como e tradicao, nos corpos de delegados e comissoes internas (ferroviarios, Metro, Fate, Hospital Frances, Hospital Garrahan, Indec, Mafisa, Casino, etc). Tambem comecou a refletir em sindicatos (docentes, Zanon), ainda que seja muito minoritario. Nesse sentido, o processo nao passa centralmente pelo MIC que, agora e uma debil coordenacao com muito peso das tendencias politicas, em especial do centrismo anti-partido. Porem, a tendencia a busca de uma coordenacao e uma necessidade e por isso nossa corrente participa no MIC como de toda forma de coordenacao de lutas.

Por outro lado, e indubitavel que depois da Venezuela, o outro processo importante e o do Brasil e do surgimento da Conlutas como de outras expressoes de ruptura com a burocracia petista da CUT. Com a contradicao de que ainda o ascenso esta por atras do resto do continente. A origem da Conlutas e do inicio da ruptura politica e sindical com o PT e a CUT esteve na greve contra a privatizacao da previdencia dos professores e servidores publicos de 2003. Desde entao, centenas de sindicatos se desfiliaram e crescem as listas de oposicao naqueles que ficam na CUT. O PCdoB que esta no governo Lula com ministros acaba de sair da CUT com 400 sindicatos e fundou uma nova central que nao tem nada de progressivo senao uma luta de aparatos, enquanto segue apoiando e participando do governo petista.

Sobre a Bolivia, o mais progressivo se da em oposicao a direcao majoritaria burocratica da COB. Nas direcoes de alguns estados como em Cochabamba e El Alto. NA Bolivia os organismos refletem o processo revolucionario em curso. Nos picos das mobilizacoes surgem formas de duplo poder. Foi o caso da COR de El Alto e a Fejude, que e um organismo mais popular. Devemos estudar mais a oposicao da atual Federacao Mineira de Oruro que se mobilizou contra o governo de Evo Morales e triunfaram.

O outro fenomeno que temos que ter em conta, e o dos sindicatos campesinos cocaleiros da Bolivia e Peru, essencialmente (tem que ver no Equador). Nao e movimento operario direto, mas e uma combinacao especifica. Na Bolivia e no Peru, e uma combinacao de sindicato e comuna.

Na Bolivia, em alguns lados sao ex mineiros convertidos em cocaleiros. Foram a base de Evo Morales. Porem, sempre ha perda de controle. Em Cochabamba as organizacoes de cocaleiros foram a vanguarda da insurreicao de janeiro de 2007 (ver revista correspondencia 23). No Peru, as organizacoes dos cocaleiros estiveram na cabeca das paralisacoes regionais de Arequipa, Cuzco, Huanuco, etc. Surgiu se seu seio uma formacao politica Kusca, da qual participamos. . Ultimamente as bases substituiram seu dirigente Palomino.

No Chile o ressurgimento do movimento trabalhador esta encabecado por novos dirigentes que dirigem alguns sindicatos, como os do cobre, que triunfaram em sua greve enfrentando a velha federacao burocratica do gremio. Mas essa direcao esta hegemonizada por dirigentes do PC (Cuevas), que de fato atuam passando por cima dos lineamentos do Partido Comunista. O mesmo na greve do diario do PC El Siglo. Sao dirigentes que em geral tem desgastes ou choques com a direcao do PC, mas seguem sendo frente-populistas e simpatizantes de Fidel e Chavez, por exemplo. Porem, na maior parte das greves chilenas, predominou o metodo de assembleias, nao podiam resolver na greve do cobre se nao consultavam as bases. E tambem se da algo novo que e a coordenacao de distintos sindicatos por empresas, que esta proibido por lei.

Desde a UIT priorizamos este processo e apoiamos os novos organismos para alem das direcoes que tenham. Damos em seu seio a batalha pela democracia operaria, pela independencia de classe, pela unidade para a luta, etc.

O sindicalismo classista da Venezuela, continua sendo o ponto mais avancado. Nossas tarefas e consignas passam pela defesa do processo que abriu a UNT; em defesa do sindicalismo classista e autonomo; estamos pela unidade sindical para a luta e pela autonomia do governo, do estado e as patronais; contra a burocratizacao dos novos sindicatos levantamos a democracia operaria e o rechaco a toda vantagem do estado ou das patronais; chamamos a defender o processo se surgimento de um sindicalismo classista e autonomo que deu origem a UNT, aos sindicatos e a CCURA; apoiamos a luta dos petroleiros, da UNT de Aragua, de Sanitarios Maracay, o direito a discussao de convenio dos empregados publicos, rechacamos o processamento judicial dos dirigentes sindicais, etc. Para a UIT nao ha programa de luta operaria continental que nao parta da defesa da UNT fundacional, dos sindicatos classistas, da UNT de Aragua e de sua corrente classista em particular. Chamamos a defesa do direito a autonomia sindical e a lutar dos sindicatos classistas da Venezuela. Para nos o Encontro convocado pela Conlutas e a COB de julho de 2008 deve levantar estas bandeiras, por exemplo. A UIT tem que manter a campanha, como desde distintas formas viemos fazendo.

Chamamos ao apoio e desenvolvimento da Conlutas, de coordenacoes intersindicatos, de registros de oposicoes sindicais na CUT e outras centrais (FO), impulsionando as lutas e na perspectiva de uma nova central unitaria, combativa e autonoma do governo no Brasil. No Panama impulsionamos a frente de sindicatos e correntes sindicais que se agrupam ao redor do Sindicato de Seguridade Social como polo de nova direcao. No Chile defendemos de qualquer ataque do governo e das patronais a Confederacao do Cobre e os sindicatos de interempresas, seja qual seja sua direcao politica; na Costa Rica chamamos a reintegracao de Salas, dirigente da CGT que se opos ao Tratado do TLC. Em todos os lados chamamos a unidade contra as velhas burocracias sindicais, apoiamos os novos organismos e novos dirigentes; impulsionamos a democracia operaria para que seja a base que resolva tudo. Apoiamos o Encontro sindical Latino Americano de julho de 2008, sob estas bandeiras de luta.

As perspectivas na America Latina sao as que crescam os choques entre as massas e os governos burgueses sejam frente populistas ou nao. Sera no aprofundamento do ascenso que as massas irao fazendo a experiencia com os governos rente populistas, e em especial com Chavez, Morales e Correa. Ao calor das lutas operarias, campesinas, juvenis e populares se seguira alimentando o processo de surgimento do novo, a nivel dos organismos e da direcao politica sindical.


Capitulo 6


As tarefas e as campanhas politicas


Temos que definir quais sao as consignas e campanhas mais importantes para o proximo periodo para ter iniciativas e contribuir a unidade de acao em geral e a unidade com setores aliados e afins, como ao fortalecimento da UIT-CI e suas secoes.

O fazemos no marco de que ratificamos o programa estrategico pela revolucao socialista mundial e o poder operario e popular, que esta contido nas bases de fundacao da UIT-CI.

Para a acao propomos distinguir entre as campanhas gerais com algumas mais especificas que damos prioridade para ter iniciativas especiais pela UIT-CI

Entre as gerais e de ampla unidade de acao o estao:

*Fora Bush e o imperialismo do Iraque. Pelo triunfo da resistencia iraquiana

*Nao as ameacas e as sancoes economicas ou militares ao Ira

*Abaixo a ditadura paquistanesa. Fora as tropas imperialistas do Afeganistao

*Todo apoio ao povo palestino. Defesa do Hamas. Nao ao pacto ianque-sionista-OLP

*Apoio as lutas dos trabalhadores do mundo contra os planos de exploracao capitalista

*Apoio as lutas dos imigrantes na Europa e EUA

*Nao ao pagamento da divida externa: Exigimos que Venezuela, Equador, Bolivia e Cuba encabecem uma Frente de Paises Devedores para nao pagar.

*Fora as tropas brasileiras, argentinas e chilenas do Haiti. Nao a ALCA e aos TLC. Nao ao bloqueio a Cuba.


Propostas de campanhas especiais:


1) Em defesa de Chirino e os dirigentes e organizacoes do sindicalismo classista e autonomo da Venezuela

Esta e uma campanha prioritaria que devemos propor e lancar de forma unitaria com outros setores na America Latina e Europa diante dos ataques politicos do governo como tambem com medidas repressivas como foi Chirino ter sido despedido da PDVSA ou outras que se possam produzir contra os dirigentes e organizacoes classistas. Por exemplo, com a LIT-CI, o POS do Mexico, organizacoes que se reivindicam do trotskismo da America Central, Argentina, Chile, Austria, Alemanha, Espanha; propo-la a Conlutas e outras organizacoes sindicais, estudantis, etc. Fazer eventos em cada pais, com este objetivo de difundir as posturas do setor classista e independente do governo na Venezuela.


2) Abaixo a ditadura capitalista do PC na China.

Basta de trabalho escravo. Pelo direito de greve, a formas sindicatos e plenas liberdades democraticas. Abaixo a restauracao capitalista. E uma campanha mais propagandista (entrevistas, revistas, difundir suas lutas), que pode dar uma personalidade a nossa internacional dado que quase nenhuma corrente politica da esquerda denuncia a ditadura chinesa nem reclama sua derrubada. China e um tema de grande atualidade e desde a UIT podemos dar nossa visao e uma politica em solidariedade com as lutas operarias e campesinas deste gigante mundial, no movimento trabalhador e nas universidades.


3) Em comemoracao aos 40 anos do Maio Frances

E outra campanha especial de reivindicacao e de recordacao da mobilizacao trabalhadora-estudantil de maio de 1968, que comoveu a Franca e o mundo. Pode ter impacto e peso politico nas universidades e entre a juventude, atraves de entrevistas, conferencias e editando materiais, nos meios estudantis das universidades e nos colegios secundaristas.


4) Aos 70 anos de fundacao da IV (setembro de 1938). Pelo socialismo com democracia operaria.

Esta pode ser outra campanha de reivindicacao do legado do trotskismo mas de difusao pela positiva da necessidade do Socialismo com democracia operaria versus o Socialismo do segulo XXI das empresas mistas, etc. Pode-se organizar entrevistas, conferencias, etc. Nossa corrente acaba de reeditar oPrograma de Transicao que pode lancar-se como parte da campanha.


Anexo Economia


Projecoes de crescimento economico

Media das projecoes elaboradas pelo FMI, banco mundial, OCDE e publicacoes especializadas. Mencionam-se em primeiro lugar os percentuais de 2007.

Os EUA cresceram 2,2% em 2007. Para 2008 se espera 1,8%, com desemprego de 5%. Inflacao: 4,1% em 2007 e 2, 8% em 2008.

Canada: 2,9% e 1,9% crescimento. Inflacao 2,5% e 1,9%. Desemprego 5,9%. O problema e a grande valorizacao do dolar canadense frente ao americano, com reflexos sobre a compettivdade da economia.

Europa: paises do euro: crescimento 2,7% e 1,8%. Inflacao 3,1% e 2,3%. O desemprego (alto) continua em 7,2%. Outro problema e a revalorizacao do euro, mas o banco central  europeu se nega a baixar as taxas de juros.


Vejamos o caso dos principais paises:

Alemanha: crescimento 2,5% e 1,9%. Desemprego 8,4%.

Franca: crescimento 3,2% e 1,8%. Desemprego 7,9%.

Espanha: crescimento 3,8% e 2,4%. Desemprego 8,2%, com tendencia de queda. Problema: a bolha imobiliaria.

Fora da zona euro: Inglaterra: 2,9% e 1,9%. Inflacao 5,3%.  Diminuicao da bolha e continua desvalorizacao da libra. Isto pode tornar mais competitiva a economia, mas o problema e que 10% da economia britanica depende da city de londres, isto e, do negocio financeiro e imobiliario, que, se afundar, arrastara toda a economia.

Na Europa do Leste, alguns paises mantem crescimento alto com taxas medias em torno de 5,5 a 6% (Polonia, Republica Checa). Outros estao quase em recessao (Hungria 1% em 2007 e 3% em 2008).

Russia: 7,6% e 6,7%, dependendo das consequencias da crise sobre o preco do petroleo e o do gas.

Economias asiaticas:

India 8,9% e 7,7%; China 11,2% e 10,1%; Japao 1,9% e 1,4% (quase recessao).


Quem paga os desequilibrios

Alguns dados para esclarecer as articulacoes da economia ianque com a mundial. Recomendamos ler "os desequilibrios da economia norte-americana" na minuta mundial de 2006. 

Os Estados Unidos tem deficit de 813 bilhoes de dolares na balanca de pagamentos, ou seja, 4,8% do pib. A Inglaterra tem um deficit alto, de 168 bilhoes de dolares. Sao os dois grandes "compradores" do mercado mundial.


Quem sao seus fornecedores?

Os grandes "vendedores" sao os paises com superavit na balanca de pagamentos: China 261 bilhoes de dolares, Arabia Saudita 146 bilhoes, Russia 128 bilhoes, Japao 107 bilhoes.

Poderiamos acrescentar a Alemanha (268 bilhoes), embora tudo se compense dentro da zona euro, cujo superavit e de apenas 47 bilhoes, com muitos paises deficitarios)

Entao, o no do problema e: o que vai passar se os EUA deixam de comprar por causa da sua recessao? Cairao primeiro os grandes vendedores e em seguida os provedores das materias primas, isto e, o conjunto dos paises semi-coloniais.

Outro dado importante: paises com grandes deficits fiscais: EUA com 1,7% do PIB, Japao 2,5%, Inglaterra 3%, zona euro 0,9% do PIB.

A grande questao e quem financia esses deficits (fiscais e de balanca de pagamentos). Vejamos onde se encontram as grandes reservas do mundo:

Primeiramente China, com 987,9 bilhoes de dolares, em seguida Russia com 281 bilhoes, Taiwan 265 bilhoes, Coreia do Sul 234 bilhoes, India 168 bilhoes e Cingapura 135 bilhoes.

Ou seja: estes paises vendem para os Estados Unidos, acumulam ganhos de exportacao e depois emprestam aos estados unidos para que este pais administre o seu deficit.

Contudo, embora as "vendas" saiam da Asia, a maioria dos vendedores sao empresas ianques ou europeias: nenhuma das 12 empresas que mais vendem no mundo e Russa, chinesa ou indiana. Sao, na ordem: Wall Mart (ianque), Exxon-mobil (ianque), Royal Dutch Shell (anglo-holandesa), British Petroleum (britanica), General Motors (ianque), Toyota (japonesa), Chevron (ianque), Daimler-Chrisler (alema), Conoco-Philips (ianque), Total (francesa), General Electric (ianque) e Ford motors (ianque). 


Reuniao ampliada UIT-CI – Janeiro 2008

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