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sexta-feira, setembro 13, 2024

Assassinato de Hanieh e Shukr: Israel prepara agressão ao Líbano e ao Irã

No dia 31 de julho, o Estado de Israel assassinou o principal dirigente do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã, onde ele estava para participar da posse do novo presidente iraniano. No dia anterior, o dirigente do Hezbollah Fouad Shukr foi assassinado por um míssil israelense em Dahye, bairro de maioria xiita em Beirute, onde vivem muitos integrantes do Hezbollah.

Por: Fábio Bosco

Os dois assassinatos tem como objetivo expandir a agressão israelense para o Líbano e para o Irã, e ao mesmo tempo, manter a agressão genocida em Gaza e na Cisjordânia, para esvaziar a crise interna israelense e salvar o governo Netanyahu.

Crise Interna Israelense dá um salto após o 7 de outubro

O Estado de Israel já vivia uma importante crise econômica e política antes do 7 de outubro. Por um lado, a economia está em crise desde o início de 2023 entre outros motivos pela fuga de capitais das áreas de tecnologias. Por outro lado, a reforma judicial imposta pelo governo Netanyahu teve a oposição de amplos setores sionistas liberais incluindo desde capitalistas até setores das forças armadas, do Mossad, do Shin Bet e da burocracia estatal.

A partir da ação da resistência palestina liderada pelo Hamas no dia 7 de outubro até os dias de hoje, novas crises se somaram às anteriores. (1)

A primeira crise está relacionada com a perda de credibilidade do Estado de Israel e do governo Netanyahu frente à população judia israelense que entendeu que o discurso de “segurança” é uma fraude, e que se mobiliza para exigir eleições para derrubar o governo.

A segunda crise está relacionada com o esforço de guerra. O prolongamento do genocídio em Gaza tem forte impacto na economia tanto pelos custos como pela mobilização de reservistas. Sob pressão das forças armadas e da população, o governo iniciou a convocação de integrantes da comunidade Haredim (judeus ultra-ortodoxos) para prestar serviço militar. Os Haredim estão se mobilizando contra a convocação e enfrentam forte repressão policial. É importante ter em conta que os dois partidos que representam os Haredim integram o governo Netanyahu e sua saída pode levar à queda do governo. (2)

Outro fator que afeta a mobilização de soldados é a resistência palestina em Gaza. Apesar do genocídio em curso no qual mais de 40 mil palestinos foram assassinados (número que pode chegar a 186 mil segundo a revista Lancet) e 70% de todas as edificações de Gaza (residências, escolas, hospitais, comércio) foram destruídas, as forças da resistência palestina operam ações de guerrilha contra as forças israelenses e mantém ocultos mais de 100 presos israelenses há 300 dias. (3)

A questão dos presos israelenses nos remete à terceira crise: os familiares dos presos israelenses apoiaram o genocídio acreditando que os presos seriam libertados. Hoje, no entanto, os familiares se mobilizam contra o governo Netanyahu exigindo um cessar-fogo imediato para libertar os presos. Suas mobilizações crescem a cada semana e se tornaram populares apesar da repressão policial.

Por fim, a crise com a extrema direita fascista sionista. Recentemente, uma turba liderada por integrantes do governo e membros do parlamento invadiram o campo militar de Sde Teman para libertar nove soldados israelenses presos por tortura bárbara e estupro de prisioneiros palestinos de Gaza. Isto levou a um conflito entre o chefe militar e os ministros fascistas-sionistas. Há uma campanha em curso para exigir investigação independentes sobre estes casos de tortura e estupro. (4)

Para escapar desta crise multifacetada, Netanyahu lança ataques assassinos nas capitais do Líbano e do Irã para provocar uma guerra generalizada, arrastar o imperialismo em sua defesa militar, além de evitar qualquer tipo de cessar-fogo em Gaza e ganhar uma sobrevida. (5)

Os imperialismos em vias de serem arrastados para a guerra regional a contragosto

Os imperialismos (estadunidense, europeu, japonês, chinês e russo) não querem a expansão da agressão militar israelense por questões econômicas e de estabilidade social.

A agressão israelense atingirá a economia mundial devido ao aumento do preço do petróleo e à interrupção do tráfego comercial no mar vermelho, uma das mais importantes rotas marítimas do mundo. Além disso, pode abrir caminho a uma onda de radicalização anti-imperialista, antissionista e democrática de massas que ameace toda a ordem regional.

No entanto, o enfraquecimento do imperialismo dominante (Estados Unidos), particularmente num momento de eleições nacionais polarizadas, possibilita a Netanyahu incendiar o Oriente Médio e tentar arrastar os Estados Unidos e possivelmente o imperialismo europeu, para a defesa militar de Israel da mesma forma que os Estados Unidos e o Reino Unido fazem contra os iemenitas Houthis.

O regime iraniano e o Hezbollah não querem guerra

O regime iraniano e o Hezbollah já demonstraram por palavras e ações sua oposição a um conflito militar generalizado com Israel. No entanto, o assassinato de Ismail Haniyeh e Fouad Shukr os obrigam a dar alguma resposta. Qualquer resposta, por mais contida que seja como tem sido até agora, pode servir de motivo para Israel iniciar uma agressão generalizada. (6)

Hamas quer o cessar-fogo permanente e a ANP quer Gaza

O Hamas quer um cessar-fogo permanente como pré-condição para a troca de prisioneiros. No longo prazo, ao contrário do que a mídia imperialista informa, o Hamas não propõe a destruição do Estado de Israel, mas sim uma hudna (palavra árabe para trégua) de 20 ou 30 anos entre o Estado de Israel e um mini-estado palestino, sem o reconhecimento formal mútuo. Isto possibilitaria a reconstrução de Gaza e o fortalecimento do Hamas. (7)

A Autoridade Nacional Palestina, controlada pelo partido palestino Fatah, quer assumir o controle em Gaza no lugar do Hamas, e formar um mini-estado palestino em cooperação de segurança com o Estado de Israel. Seu principal competidor é o milionário (e criminoso) palestino Mohammad Dahlan, que é apoiado pelos Emirados Árabes para governar Gaza liderando tropas estrangeiras.

As principais organizações da esquerda palestina (FPLP, FDLP e Partido do Povo) capitulam aos regimes árabes e ao chamado “Eixo da Resistência” liderado pelo Irã e pelo Hezbollah e, na Palestina, se dividem entre o apoio à ANP (sob a alegação de defesa do secularismo), ao Hamas ou à uma posição auto proclamatória de oposição à ambos. (8)

Avançar na solidariedade rumo a uma Palestina livre, do rio ao mar

Não está claro se Israel conseguirá arrastar o Irã e o Hezbollah para uma guerra contra o desejo de seus líderes. É possível que o líder iraniano Ayatollah Khamenei e o líder do Hezbollah Hassan Nasrallah engulam todas as provocações israelenses, sem reação proporcional, como tem feito até agora. De qualquer forma nós nos opomos a qualquer agressão israelense, seja dentro ou fora da Palestina.

Ao mesmo tempo defendemos uma solidariedade ativa, inclusive militar, com os palestinos. Infelizmente a única força árabe que constrói uma solidariedade efetiva são os iemenitas houthis.

Em caso de guerra entre Israel e o Irã ou o Hezbollah, estaremos no campo militar libanês e iraniano para derrotar Israel.

No entanto, não podemos colocar todas nossas esperanças nessas organizações e regimes burgueses. É necessário impulsionar a organização independente da classe trabalhadora palestina e árabe para lutar pelo fim do Estado de Israel, pela libertação da Palestina, do rio ao mar, e pela derrubada dos regimes autocráticos árabes, rumo a uma Federação Socialista de Países Árabes.

NOTAS:

https://www.addameer.org/news/5382

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