dom maio 26, 2024
domingo, maio 26, 2024

Argentina| Feminicídios: matam quase tantas mulheres quanto nos roubos

Em 2009 foi sancionada a Lei 26.485, para combater a violência machista. Passaram-se anos (com o kirchnerismo e depois o macrismo no Governo) sem que a letra legal fosse passada à ação e com orçamentos ridículos em relação às necessidades e à gravidade dos problemas. Como estamos hoje?

Pouco depois da Frente de Todos (FdT) chegar ao Governo, foi criado o Ministério de Mulheres, Gêneros e Diversidade, a partir do qual foram prometidas grandes mudanças. Foi propagandeada também a conquista de um Orçamento Nacional com Perspectiva de Gênero.

Das grandes mudanças (Plano Nacional de Ação contra as Violências por motivos de Gênero, Plano Nacional de Igualdade na Diversidade e Interrupção Voluntária da Gravidez – IVE) só se avançou, e parcialmente, no terreno da aplicação da Lei do Aborto Legal. O Orçamento Nacional com Perspectiva de Gênero consistiu essencialmente em mudar programas da ANSES- Administração Nacional da Seguridade Social (Subsídio Universal por Filho – AUH, por caso) ou do Desenvolvimento Social (Cartão Alimentação, Potencializar Trabalho e outros) à linha “mulheres e diversidade”.

As atuais ministras de Mulheres, Gênero e Diversidade, Ayelén Mazzina e de Desenvolvimento Social, Victoria Tolosa Paz, criam mesas de trabalho, falam de projetos de igualdade de oportunidades para gêneros e diversidades. Enquanto isso as notícias diárias de mulheres e pessoas trans desaparecidas, baleadas, apunhaladas, mortas a golpes ou queimadas continuam a nos horrorizar.

Ficar em casa também é inseguro

Durante os anos da pandemia, ficar em casa significou maiores situações de violência machista. Em 2022, os números diminuíram levemente, mas, igualmente, 242 mulheres, meninas e pessoas trans foram assassinadas por razões de gênero, ao mesmo tempo que 200 filhos e filhas ficaram sem mãe.

Quando se fala em insegurança, não são contabilizadas as agressões, tentativas de feminicídios e feminicídios, que em sua grande maioria ocorrem no âmbito familiar. Por exemplo, na província de Buenos Aires ocorreram 86 feminicídios no ano passado, muito próximo dos 130 assassinatos femininos ocorridos durante roubos. E em 2023?

  • Entre 1 de janeiro e 30 de abril de 2023 ocorreram 99 feminicídios e 3 transfeminicídios
  • Dos 99 feminicídios, 86 foram assassinatos íntimos de mulheres e 12 feminicídios relacionados
  • 55 %  foram cometidos por parceiros e ex parceiras das vítimas
  • 59,6% ocorreram na casa da vítima
  • 20 vítimas haviam realizado pelo menos uma denúncia e 14 tinham medidas de proteção
  • Pelo menos 71 crianças perderam suas mães devido à violência machista
  • Houve 96 tentativas de feminicídio e 17 tentativas de feminicídios relacionados

Fonte:

Observatório  das Violências de género“Agora sim nos veem”, Informe elaborado com base em mídias gráficas e digitais de todo o país.

Estes números correspondem a crimes possivelmente evitáveis, se as políticas requeridas fossem aplicadas.

Mais de 99 vidas ceifadas até agora em 2023! Como as de: Nilda Rosa González apunhalada e depois esquartejada pelo seu esposo Juan Sanabria Báez, em Moreno, província de Buenos Aires; Camila Mendoza, de 26 anos, arrastada e golpeada até à morte pelo seu marido Juan Carlos Segovia e um amigo do mesmo, em Lisandro Olmos, La Plata ; Rosa Alejandra Céliz assassinada a machadadas na localidade tucumana de Aráoz, pelo seu esposo Raúl Albarracín; Jésica Olguín, atada pelos pés e mãos e enforcada pelo seu ex marido Juan Manuel Tarres em Guaymallén, Mendoza; Sofía Agustina Bravo, uma jovem trans assassinada em La Carlota, Córdoba,  crime de ódio presumido.

Organizar a autodefesa nos locais de trabalho, estudo e nos bairros

Tivemos governos de ambos os lados da nomeada “fissura” e continuam nos fazendo desaparecer, estuprando e matando. A juventude é o alvo principal deste flagelo social.

Parlamentos, Justiça, Polícia, Delegacias da Mulher e a violência machista continua.

A “autodefesa feminista” também não é suficiente. Os feminicídios e a violência machista em geral atingem também os homens: são pais, filhos, irmãos, namorados, amigos das vítimas. Um exemplo é o de Tehuel de la Torre: dois anos se passaram desde o desaparecimento do jovem trans de 22 anos, emboscado em uma entrevista para um suposto trabalho. Seu pai Andrés acredita que foi vítima de uma rede de tráfico e percorre desesperadamente o país, buscando-o. É doloroso: faz lembrar outro pai, o de María Cash, desaparecida em 2011, que perdeu a vida em um acidente de carro, tentando encontrá-la. Por isso, devemos organizar a autodefesa com todos/as. Temos que ser vanguarda em levar este debate às nossas companheiras e companheiros de trabalho, estudo e aos bairros. Exigir ou obrigar que as organizações operárias e estudantis o assumam, porque é imprescindível não só enfrentarmos juntos/as a violência machista mas também a repressão estatal/patronal à lutas.                                                                                                   

Tradução: Lílian Enck

Argentina | Feminicídios: matam quase tantas mulheres quanto nos roubos

Em 2009 foi sancionada a Lei 26.485, para combater a violência machista. Passaram-se anos (com o kirchnerismo e depois o macrismo no Governo) sem que a letra legal fosse passada à ação e com orçamentos ridículos em relação às necessidades e à gravidade dos problemas. Como estamos hoje?

Pouco depois da Frente de Todos (FdT) chegar ao Governo, foi criado o Ministério de Mulheres, Gêneros e Diversidade, a partir do qual foram prometidas grandes mudanças. Foi propagandeada também a conquista de um Orçamento Nacional com Perspectiva de Gênero.

Das grandes mudanças (Plano Nacional de Ação contra as Violências por motivos de Gênero, Plano Nacional de Igualdade na Diversidade e Interrupção Voluntária da Gravidez – IVE) só se avançou, e parcialmente, no terreno da aplicação da Lei do Aborto Legal. O Orçamento Nacional com Perspectiva de Gênero consistiu essencialmente em mudar programas da ANSES- Administração Nacional da Seguridade Social (Subsídio Universal por Filho – AUH, por caso) ou do Desenvolvimento Social (Cartão Alimentação, Potencializar Trabalho e outros) à linha “mulheres e diversidade”.

As atuais ministras de Mulheres, Gênero e Diversidade, Ayelén Mazzina e de Desenvolvimento Social, Victoria Tolosa Paz, criam mesas de trabalho, falam de projetos de igualdade de oportunidades para gêneros e diversidades. Enquanto isso as notícias diárias de mulheres e pessoas trans desaparecidas, baleadas, apunhaladas, mortas a golpes ou queimadas continuam a nos horrorizar.

Ficar em casa também é inseguro

Durante os anos da pandemia, ficar em casa significou maiores situações de violência machista. Em 2022, os números diminuíram levemente, mas, igualmente, 242 mulheres, meninas e pessoas trans foram assassinadas por razões de gênero, ao mesmo tempo que 200 filhos e filhas ficaram sem mãe.

Quando se fala em insegurança, não são contabilizadas as agressões, tentativas de feminicídios e feminicídios, que em sua grande maioria ocorrem no âmbito familiar. Por exemplo, na província de Buenos Aires ocorreram 86 feminicídios no ano passado, muito próximo dos 130 assassinatos femininos ocorridos durante roubos. E em 2023?

  • Entre 1 de janeiro e 30 de abril de 2023 ocorreram 99 feminicídios e 3 transfeminicídios
  • Dos 99 feminicídios, 86 foram assassinatos íntimos de mulheres e 12 feminicídios relacionados
  • 55 %  foram cometidos por parceiros e ex parceiras das vítimas
  • 59,6% ocorreram na casa da vítima
  • 20 vítimas haviam realizado pelo menos uma denúncia e 14 tinham medidas de proteção
  • Pelo menos 71 crianças perderam suas mães devido à violência machista
  • Houve 96 tentativas de feminicídio e 17 tentativas de feminicídios relacionados

Fonte:

Observatório  das Violências de género“Agora sim nos veem”, Informe elaborado com base em mídias gráficas e digitais de todo o país.

Estes números correspondem a crimes possivelmente evitáveis, se as políticas requeridas fossem aplicadas.

Mais de 99 vidas ceifadas até agora em 2023! Como as de: Nilda Rosa González apunhalada e depois esquartejada pelo seu esposo Juan Sanabria Báez, em Moreno, província de Buenos Aires; Camila Mendoza, de 26 anos, arrastada e golpeada até à morte pelo seu marido Juan Carlos Segovia e um amigo do mesmo, em Lisandro Olmos, La Plata ; Rosa Alejandra Céliz assassinada a machadadas na localidade tucumana de Aráoz, pelo seu esposo Raúl Albarracín; Jésica Olguín, atada pelos pés e mãos e enforcada pelo seu ex marido Juan Manuel Tarres em Guaymallén, Mendoza; Sofía Agustina Bravo, uma jovem trans assassinada em La Carlota, Córdoba,  crime de ódio presumido.

Organizar a autodefesa nos locais de trabalho, estudo e nos bairros

Tivemos governos de ambos os lados da nomeada “fissura” e continuam nos fazendo desaparecer, estuprando e matando. A juventude é o alvo principal deste flagelo social.

Parlamentos, Justiça, Polícia, Delegacias da Mulher e a violência machista continua.

A “autodefesa feminista” também não é suficiente. Os feminicídios e a violência machista em geral atingem também os homens: são pais, filhos, irmãos, namorados, amigos das vítimas. Um exemplo é o de Tehuel de la Torre: dois anos se passaram desde o desaparecimento do jovem trans de 22 anos, emboscado em uma entrevista para um suposto trabalho. Seu pai Andrés acredita que foi vítima de uma rede de tráfico e percorre desesperadamente o país, buscando-o. É doloroso: faz lembrar outro pai, o de María Cash, desaparecida em 2011, que perdeu a vida em um acidente de carro, tentando encontrá-la. Por isso, devemos organizar a autodefesa com todos/as. Temos que ser vanguarda em levar este debate às nossas companheiras e companheiros de trabalho, estudo e aos bairros. Exigir ou obrigar que as organizações operárias e estudantis o assumam, porque é imprescindível não só enfrentarmos juntos/as a violência machista mas também a repressão estatal/patronal à lutas.                                                                                                   

Tradução: Lílian Enck

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