qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

Classismo e internacionalismo

No presente artigo, como parte do aniversario de 15 anos do Partido dos Trabalhadores, abordamos o tema a partir de nossa perspectiva revolucionária de classe. Somos um partido classista e internacionalista, veremos o que isso significa.

Por: PT-Costa Rica
O que são as classes sociais?
O proletariado é quem produz as riquezas, através de seu trabalho coletivo; porém quem se apropria das riquezas é a burguesia. Isto porque os meios para produzir riquezas (os campos, as fábricas, as máquinas) são propriedade da burguesia. O proletariado não tem meios para produzir, então vende sua mão de obra. No mundo são milhões de pessoas que não possuem nada, nem uma casa, nem uma ferramenta, ou um terreno para cultivar. Estas pessoas para sobreviverem têm que vender seu trabalho (ou sua capacidade de produzir) para um burguês. Existe uma dependência, no sistema atual, entre ambas as classes. A burguesia precisa contratar proletários para movimentar sua produção, por sua vez o proletariado precisa de um burguês que o pague para trabalhar.
Este sistema impera em todos os países do mundo, o capitalismo é um sistema global e a exploração descrita acima ocorre em toda a sociedade. Mesmo nos países que se dizem socialistas, como Venezuela, Cuba ou Nicarágua, o que realmente existe é capitalismo e exploração. A burguesia é uma só e o proletariado é um só, independente das nacionalidades.
Nós revolucionários, queremos que esta exploração acabe, queremos derrubar este sistema. A história comprovou como uma classe pode derrubar outra e organizar uma nova sociedade. Esta é justamente a tarefa que a classe trabalhadora tem diante de si: acabar com o poder da burguesia e organizar uma nova sociedade socialista.
Para o PT é muito importante afirmar isto.  Atualmente, muitos grupos de esquerda, abandonaram a perspectiva de uma revolução socialista da classe operária, adotaram uma estratégia reformista e deixaram de fazer trabalho político revolucionário sobre a classe, para no melhor dos casos, dedicar-se a fazer lutas e conseguir votos.
A classe é muito ampla
Hoje as classes sociais são um tanto diferentes das que Marx e Engels conheceram, inclusive diferentes das que Lenin e Trotsky conheceram. O avanço do capitalismo e a diversificação da economia transformaram a classe trabalhadora em vários setores muito heterogêneos. Trotsky já incorporava em sua análise as classes médias como um setor social de importância.
Poderíamos dizer que todas as pessoas que dependem de um salário são parte da classe trabalhadora. Mas nesta classe trabalhadora há diferenças, o trabalhador do chão de fábrica ou uma trabalhadora da plantação de abacaxis, não é a mesma coisa que um gerente de banco ou um administrador de um centro comercial. Também são diferentes os empregados do comércio, dos serviços ou do turismo.
Todos estes tipos de trabalho têm papéis diferentes no capitalismo. Alguns têm a ver com a produção de mercadorias, outros com a sua comercialização e venda, outros com maximizar estes lucros, alguns com o entretenimento, etc.
Quem deve liderar a revolução?
A primeira revolução socialista triunfante, a revolução russa de outubro, foi liderada pela classe operária. A esta se seguiu um período de revoluções em todo o mundo, deformadas pelo estalinismo, onde foi o Exército Vermelho quem expropriou a burguesia. Eventualmente se perde a perspectiva de uma revolução da classe operária e esse “quem deve fazer a revolução” é ocupado por outros setores. Vieram revoluções protagonizadas pelos camponeses, pela guerrilha, movimentos da juventude e dos oprimidos.
Só a classe operária foi capaz de tomar o poder e mantê-lo. Todas as revoluções feitas por outros setores antes mencionados, não tiveram um bom final. Por um lado, deram lugar a estados operários deformados, onde não era a classe que governava e sim uma casta burocrática. Depois vimos muitas revoluções das grandes massas, que derrubam governos, até ditaduras, mas não expropriam a burguesia. Inclusive foram vistos casos onde tomaram o poder e depois o devolveram à burguesia.
Para nós, é fundamental debater este abandono da classe operária. Ainda defendemos que o grupo social que deve colocar-se à frente da revolução para poder construir um novo Estado e uma nova sociedade, é o proletariado industrial. O setor industrial do proletariado compreende os trabalhadores que se encontram em indústria extrativa, a agroindústria ou a indústria manufatureira, que são indispensáveis para a produção de mercadorias e geração de riquezas.
Alguns diziam que o operário industrial ia desaparecer, a robotização da produção e outras melhorias iriam tornar os operários desnecessários. Entretanto, o proletariado industrial não deixa de crescer. Isto é produto de diversos fatores, o aumento da agroindústria é uma máquina de proletarizar camponeses, além disso, o fato das companhias procurarem colocar fábricas em diferentes lugares do mundo, também ampliou e aumentou o proletariado industrial pelo globo.
A classe operária industrial tem três características muito importantes. A primeira é sua localização na produção, esse trabalho produtivo que transforma a matéria prima em mercadorias acabadas. Uma greve dos trabalhadores industriais afetaria duramente o conjunto da sociedade. Um claro exemplo é que durante a COVID a burguesia desenvolveu uma guerra à morte para que as máquinas não parassem, para que os operários industriais não deixassem de trabalhar, para que os campos não deixassem de ser lavrados. Todos os demais setores puderam de uma forma ou outra, experimentando perdas, mandar seus empregados para casa ou deixar de funcionar, algo impensável para quem produz as riquezas de verdade.
Outra característica é que o trabalho é realizado de forma coletiva. É a classe que pode dar uma base social à coletivização da produção, que pode gerar um Estado que responda aos interesses comuns dos trabalhadores. Nas diferentes fases da produção (que é internacional) participam necessariamente pessoas que trabalham, todos sem se conhecer, inclusive sem conhecer qual será o produto final.
Alguns trabalham nas minas que extraem ferro e cobre, outros estão nas fábricas que fazem os parafusos, os cabos, as lâminas, também há os que trabalham na montagem final. Hoje para que exista uma mercadoria, um produto qualquer, a classe operária de todo o planeta teve que trabalhar. Entretanto, a riqueza que sai desta mercadoria, não será vista pelos trabalhadores do mundo. Esta é apropriada por um punhado de ricos capitalistas em todo o mundo. Por isso se diz que no capitalismo a produção é social, mas a apropriação da riqueza é individual. É tarefa dos trabalhadores transformar esta riqueza em um bem social, tirando das mãos da burguesia e colocando a serviço das necessidades dos povos. A importância do operário industrial para a economia é tanta, que ainda sem ser numeroso, pode chegar a dirigir uma revolução. Tal foi o caso da Rússia, onde o proletariado representava uma pequena porcentagem da população, mas tinha um peso social enorme.
Finalmente, o proletariado não só está sofrendo um ataque quanto ao seu nível salarial, mas uma perda de muitas conquistas importantes dos séculos XIX e XX, desde garantias trabalhistas até a precarização da educação e da saúde públicas que foram direitos ganhos pelo movimento operário há décadas. Tudo isto hoje está sendo arrebatado pela burguesia, retrocedendo o nível de vida da classe trabalhadora a passos acelerados.
A importância de outros setores para a revolução
Não estamos dizendo que só importam os operários e todos os outros setores não. As lutas das mulheres, do setor LGBT, dos negros e dos indígenas são muito importantes. Entretanto, estas lutas têm limites importantes, normalmente não vão além de lutar por garantias democráticas. Por outro lado, estas lutas por opressões, costumam envolver diferentes classes sociais, com participação e até direção de setores da burguesia. Para nós é fundamental desenhar um limite de classe no movimento, queremos participar das lutas das mulheres, dos nicaraguenses, dos negros, mas para ganhá-las para um programa revolucionário e de classe.
O abandono da classe operária como sujeito da revolução teve graves consequências para estes próprios movimentos. Teriam um impacto diferente se a classe operária organizada participasse. Parando a produção, a burguesia seria afetada em seu suprimento de riquezas, dando-lhe um caráter de classe e revolucionário determinante à luta. Mas a classe esteve ausente dos últimos processos de luta na Costa Rica e no mundo.
A conclusão é simples, para conseguir vencer numa revolução, a classe operária industrial precisa colocar-se à frente de outros setores da classe trabalhadora e inclusive das classes médias, que tomem o programa socialista e revolucionário. Desta forma, as lutas dos oprimidos avançarão muito mais rápido, com vistas a uma sociedade socialista livre de toda opressão e discriminação.
Organizar a classe sem fronteiras
A organização da classe trabalhadora deve ser internacional. Isto porque a economia em todo o mundo é uma só, tem ramos que vinculam todos os países dentro da cadeia de produção. Necessariamente este sistema deve ser derrotado em escala internacional. Não é verdade que seja possível o socialismo em um só país, esta ideia é uma das muitas deformações que o Stalinismo fez à luta revolucionária. Por isso o partido que organiza o proletariado, deve ser também internacional.
O PT é parte da Liga Internacional dos Trabalhadores, que é um esforço para reconstruir a IV Internacional. Construímos partidos revolucionários no mundo, participando em diferentes processos revolucionários ao redor do globo. Quando dizemos internacionalistas não é só um adorno ou uma auto condecoração.
Durante o processo de abril de 2018, promovemos uma campanha de solidariedade que conseguiu apoio material para a revolução nicaraguense. A realidade é que só a construção de um partido revolucionário na Nicarágua poderá derrubar a ditadura.  Vemos a revolução centro-americana como uma só, uma queda das ditaduras em Honduras e Nicarágua, é uma tarefa de todos os revolucionários da região.
Por outro lado, a solidariedade entre povos é uma tradição do movimento operário. Em nossa tradição de solidariedade internacional, quando da revolução sandinista de 79, nossa organização organizou a brigada Simón Bolívar que participou em importantes combates. Durante as guerras mundiais os revolucionários chamavam a não participar da guerra, por serem operários de um país matando outros operários de outro país em nome de suas burguesias.
A classe precisa de seu partido
Há setores que pensam que para que aconteça uma revolução não é preciso um partido político. Isto pode estar certo, entretanto, estas revoluções não podem ser socialistas sem o partido e sem a classe. Para alcançar a revolução, a classe operária industrial deve ser quem se coloca à frente, para fazê-lo precisa de sua organização política. Somente organizado em um partido político, poderá cumprir sua tarefa histórica de derrotar a burguesia e construir o socialismo. Precisa de um partido e um programa diferente dos partidos da grande e pequena burguesias, um programa com independência de classe, revolucionário e socialista.
O PT se colocou a serviço de construir esta organização no país. Um partido político para dirigir a luta revolucionária da classe. Por muitos anos a esquerda da Costa Rica se concentrou no sindicalismo do setor público e dos estudantes universitários, reflexo desse abandono da classe trabalhadora. A Frente Ampla é um latente exemplo disto, mas eles não só abandonaram a classe, mas sim toda a perspectiva revolucionária, classista e internacionalista. Este abandono levou a que a FA se convertesse em um partido a mais do regime, tanto assim que fazem parte do governo do PAC, sendo cúmplices do ataque tirano que a classe trabalhadora sofre.
Nós, por outro lado, temos participado de greves dos operários da construção, operários das plantações de abacaxi e dos cafezais, temos acompanhado um processo de organização sindical no setor privado. Temos sido o partido que leva o verdadeiro programa revolucionário para a classe trabalhadora, nosso objetivo é chegar a ser um grande partido da classe operária.
Em um contexto onde a expressão “socialismo ou barbárie” é mais correta do que nunca; açoitados pelo desemprego, fome e doenças, fazemos um chamado para unirem-se à nossa organização. Vamos construir juntos o partido da classe operária, lutemos com todas as nossas forças contra este sistema que assassina, oprime e explora. Vamos construir o nosso futuro por meio da luta revolucionária, estamos firmes em nossa convicção de que a classe operária romperá suas correntes Até o Socialismo, não há volta atrás!
Tradução: Lilian Enck

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