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Belarús

Uma revolução sacode a Bielorrússia

outubro 2, 2020

As manifestações de massas contra o regime autoritário de Aleksandr Lukashenko na Bielorrússia abriram uma situação revolucionária no país. Os protestos irromperam após as eleições fraudadas do dia 9 de agosto que deram a vitória ao presidente que governa o país com mãos de ferro desde 1994.

Por: PSTU Brasil
A onda de mobilizações, que contrariaram até mesmo a candidata derrotada da oposição, a liberal Svetlana Tijanóvskayaque, chegou a reunir quase 200 mil pessoas na capital Minsk e deixou o regime a beira do colapso. Foi respondida com uma repressão brutal, com milhares de presos, além de cenas de espancamento e relatos de tortura nas prisões. Sites e jornais foram censurados.
A repressão, porém, só serviu para aumentar a onda de revolta e os protestos. Aos manifestantes, juntou-se o movimento operário com greve em todo o território.
A ilusão do diálogo
Diante da enorme onda de protestos e do perigo de que ela transborde, a União Europeia e um conselho de notáveis, com políticos e celebridades do país e de fora, vem realizando um apelo ao diálogo e tentam uma saída negociada com o regime ditatorial de Lukashenko. Porém diálogo com o governo significa nada mais que garantir ao ditador e a seus capangas que governem por tempo indeterminado. O próprio presidente não parece disposto a qualquer diálogo e avança na repressão e na perseguição, inclusive de dirigentes operários.
Lukashenko é apoiado pelo regime de Putin, da Rússia, que já ajudou a esmagar a revolução ucraniana, embora até o momento tenha se abstido de uma intervenção direta no país, mas mantém colaboração ativa com a repressão. Para se ter uma ideia, os jornalistas da televisão bielorrussa foram trocados por jornalistas russos. Os agentes da KGB, agência de espionagem homônima da antiga agência soviética, mantêm monitoramento permanente dos ativistas e do povo bielorrusso.
Putin apoia a ditadura de Lukashenko pelo temor de que o seu regime autoritário seja o próximo a enfrentar contestação. “Depois de Bielorrússia, será a Rússia”, disse o próprio ditador.
Já a União Europeia age para conter a revolução por temer que seus interesses na região sejam ameaçados. Uma das razões da pobreza na Bielorrússia é o pagamento da dívida pública com a Rússia e com os bancos internacionais. Por isso Lukashenko impôs ataques como a reforma da Previdência. E, da mesma forma que Putin, a União Europeia também teme que o exemplo da região seja seguido pelo resto da Europa Oriental, transformada hoje numa semicolônia da Alemanha e da França.
As greves operárias se tornam referência para a luta do povo bielorrusso a ponto de os nomes das fábricas serem repetidos nas manifestações, como MTZ, MZKT, Soligorsk e MAZ. Não é por menos que a prioridade do governo seja a repressão ao movimento operário.
FORA LUKASHENKO!
Comitê Operário Unificado de Greve deve assumir a direção das lutas
Apesar da força do movimento contra a ditadura Lukashenko, as mobilizações carecem de uma direção da classe trabalhadora que possa levar a cabo a derrubada desse regime e desmantelar os órgãos repressores, garantindo, como defende o Partido Operário Internacionalista (POI), seção da LIT-QI na Rússia, “liberdade de expressão, de manifestação e protestos, de reunião, liberdade sindical e de livre organização”.

De um lado, há Putin, e de outro, o Conselho Coordenador, que aposta numa saída negociada, com ou sem Lukashenko, mas mantendo a estrutura de dominação e exploração do país. Por isso, o POI defende que o Comitê Operário Unificado de Greve, surgido diretamente da luta nas fábricas, tome para si a iniciativa de liderar o movimento em escala nacional e fazer avançar a mobilização até a derrubada da ditadura.
Para que o povo bielorrusso não siga refém de outras forças políticas e não se mantenha nos becos sem saída dos diálogos com a ditadura, porém, é preciso superar a ausência de uma direção da classe trabalhadora com um programa operário e revolucionário. Condições que a revolução em curso coloca a possibilidade de realizar.
SAIBA MAIS
Ditador é um fóssil e uma caricatura do stalinismo
A Bielorrússia declarou independência da antiga URSS em julho de 1990. Em 1994, ocorreram as primeiras eleições para presidente, que elegeram Lukashenko. Logo após eleito, o recém-empossado presidente, que havia servido o Exército soviético e dirigido uma fazenda estatal da URSS, começou a implementar medidas para restringir as liberdades democráticas e perseguir opositores.
A figura caricata de Lukashenko ganhou repercussão internacional ao sugerir, em plena pandemia, “vodca e sauna” para o combate ao coronavírus. O país que chegou a ser um dos mais industrializados da região, destacando-se na importação de tratores, sofreu importante revés na década de 1990, aumentando sua dependência em relação à Rússia e à União Europeia. E, com as reformas neoliberais, seu povo sofreu profundo rebaixamento das condições de vida.

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