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Hong Kong

Nova greve geral em Hong Kong

setembro 5, 2019

Após três meses de luta permanente da juventude, dos trabalhadores e do povo de Hong Kong, realizou-se uma nova greve geral no território, desta vez de 48 horas.

Por: Alejandro Iturbe

A greve foi convocada pela central HKCTU (Confederação Sindical de Hong Kong) [1] e organizações estudantis e juvenis pelas reivindicações democráticas que geraram este processo de luta [2].

Foram manifestações intensas que repetiram as características combativas e ativas da greve anterior de 5 de agosto. Foi precedida por ações de bloqueio do aeroporto da cidade que, junto com a adesão dos funcionários do transporte aéreo, fez com que fosse cancelada grande quantidade de voos [3].

Também houve piquetes sobre o MTR (metrô) que obstruíram esse transporte que circulou com poucos passageiros frente às habituais multidões que o utiliza [4]. A linha para o aeroporto ficou parada durante grande parte da greve. Foi importante a adesão dos trabalhadores do setor bancário, com piquetes que percorriam os bancos.

Novamente tiveram papel destacado os estudantes secundaristas e universitários (apesar das universidades estarem de férias) que realizaram massivos atos e manifestações e chamam a uma greve geral do setor da educação a partir da data de reinício das aulas [5]. A polícia de Hong Kong reprimiu com dureza algumas dessas manifestações e inclusive entrou em várias universidades, e realizou dezenas de detenções.

Os novos dias de luta voltam a mostrar que, tal como assinalamos em nosso artigo anterior, a ameaça intimidatória do regime de Beijing ao instalar tropas e armamentos na fronteira com o território não atemorizou o povo de Hong Kong. Pelo contrário, levou-o a reforçar sua luta [6].

Este processo desgastou ao extremo a governadora Carrie Lam, cuja renúncia é exigida por grande parte dos manifestantes e que não consegue derrotar nem controlar o processo de luta. Na realidade, perdeu o controle do território. Esta situação a levou a expressar que “está desencorajada e disposta a renunciar”, mas não renuncia porque não há “nenhum sucessor à vista” [7].

Como já assinalamos em outros artigos, como reflexo da crise política, este “descontrole” levou a uma forte queda dos negócios locais e também da China continental, como assinala o jornal especializado Wall Street Journal [8]. Nesse contexto, os setores mais concentrados da burguesia de Hong Kong, como Li Ka-shing, o empresário mais rico do território, chamam a “parar os protestos porque os lucros começaram a cair” [9].

Os meios de comunicação imperialistas dedicam muito espaço à situação e refletem a posição de seus governos (fazer de conta que apoiam as reivindicações democráticas e, ao mesmo tempo, evitar que a luta extravase) chamam desesperadamente à “não violência” e à não intervenção militar do exército chinês no território[10].

Por sua vez, o regime de Beijing se encontra ante uma contradição cada vez mais aguda. Ainda continua no terreno da ameaça e da intimidação, como expressam as declarações de seus funcionários e embaixadores no exterior [11]. Entretanto, é evidente que está hesitando muito para dar o passo da intervenção militar direta, pelas consequências imprevisíveis que esta poderia ter nos terrenos político e econômico a nível nacional e internacional.

Mas se permanece só na ameaça e na intimidação, como até agora, isso não dá resultado, transmite uma imagem de debilidade que, a partir de Hong Kong, poderia começar a estender-se à China continental e “acender outros incêndios” nos trabalhadores e nas massas chinesas mais de conjunto. Algo que é intolerável para um regime ditatorial.

Por isso, reiteramos o que assinalamos em nosso último artigo: “Ambos os processos (o avanço da luta democrática em Hong Kong e suas consequências no terreno econômico local e da China continental) podem atuar como uma ‘pinça’ que se fecha e levá-lo a definir uma repressão direta. Dado seu caráter ditatorial e repressivo, a entrada das tropas chinesas é uma possibilidade real e presente.

A juventude, os trabalhadores e o conjunto do povo de Hong Kong mostraram sua disposição de luta e sua combatividade e, portanto, sua disposição de desempenhar uma forte resistência neste caso. Porém existe o risco de que se repita (a um nível corrigido e maior) um massacre como o que esse regime realizou na Praça Tiananmen em 1989.

Acreditamos ser imprescindível preparar-se para essa possibilidade. Neste sentido, no âmbito de nosso pleno apoio à sua luta, queremos reiterar duas considerações. A primeira é que é uma falsa ilusão pensar que os países imperialistas e seus governos serão aliados nesta luta. Eles já começaram a criticar ‘a violência’ dos manifestantes e, como vimos, só estão preocupados com a situação de seus negócios. A realidade é que, para além de suas declamações ‘democráticas’, foram e são aliados da ditadura chinesa. Muito menos acreditar na burguesia de Hong Kong…

A única e verdadeira solidariedade virá dos trabalhadores e dos povos do mundo. Que todas as centrais sindicais, organizações sociais e populares, e organismos de direitos humanos repudiem esta ameaça do regime de Beijing e, se ela se concretizar, na medida de suas possibilidades, tomem medidas reais contra esse regime e as exijam de seus governos. Um exemplo dessa solidariedade foi a resolução aprovada pela CSP-Conlutas do Brasil. Também foi aprovada pela central francesa Solidaires e a Rede Sindical de Solidariedade e Luta na qual ambas participam.

A segunda é que a extensão de sua luta ao conjunto da China e aos trabalhadores do continente passou a ser uma tarefa de primeira ordem no desenvolvimento do heroico combate que vem concretizando o povo de Hong Kong. A tarefa que unifica é derrubar o regime ditatorial de Beijing”.

De nossa parte, a LIT-QI reitera nosso apoio à luta dos jovens, os trabalhadores e todo o povo de Hong Kong, repudiamos as ameaças militares do regime de Beijing, e chamamos a realizar uma grande campanha internacional de solidariedade e apoio a essa luta.

Notas:

[1] http://en.hkctu.org.hk/content/mass-strike-against-tyranny-call-workers-strike-29-39

[2] https://litci.org/es/menu/mundo/asia/hong-kong/hong-kong-proceso-movilizacion-democratica-no-se-detiene/

[3] https://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,manifestantes-bloqueiam-aeroporto-de-hong-kong-neste-domingo-e-quarenta-pessoas-sao-presas,70002991977 y https://www.youtube.com/watch?v=v0Zrhfdqvbw

[4] http://www.hurriyetdailynews.com/hong-kong-protesters-target-trains-urge-general-strike-146230

[5] https://www.youtube.com/watch?v=ki6kXkXq4ZA

[6] https://litci.org/es/menu/mundo/asia/hong-kong/pueblo-hong-kong-no-se-intimida-frente-la-amenaza-militar-beijing/

[7] https://www.nytimes.com/2019/09/03/world/asia/hong-kong-protests-carrie-lam.html?te=1&nl=boletin&emc=edit_bn_20190904?campaign_id=42&instance_id=12105&segment_id=16709&user_id=00d43cf2b74587eee8cd749aa535ec7f&regi_id=7524510220190904

[8] https://www.wsj.com/video/how-turmoil-in-hong-kong-could-hurt-china/

[9] https://thenewdaily.com.au/news/world/2019/08/20/hong-kong-protests-billionaires/?fbclid=IwAR0yo9s99UjzYZHuNxsgXM8Y-_vebtXAb-mZ0KC6CO9-d7y2RzpQKnLnxN4

[10] https://elpais.com/elpais/2019/09/01/opinion/1567353564_416830.html

[11] https://www.clarin.com/mundo/embajador-china-situacion-incontrolable-hong-kong-vamos-quedarnos-brazos-cruzados-_0_TReemU558.html

Tradução: Lilian Enck

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