sáb maio 11, 2024
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Ante a morte do ex-presidente Tabaré Vázquez

Aos 80 anos faleceu, faleceu na madrugada de 6 de dezembro em sua residência no Prado, Tabaré Vázquez. Ele nasceu no bairro de La Teja em janeiro de 1940, filho de Elena Rosas e um operário da Ancap, Héctor Vázquez. Liderança indiscutível da Frente Ampla (FA) e durante anos foi dirigente do Partido Socialista (PS). Em 1989 venceu as eleições para o Município de Montevidéu sendo o primeiro prefeito pela FA.

Por: IST Uruguai
Em 2005 foi eleito presidente da república, descontinuando mais de 150 anos de governos antioperários de brancos e colorados. Esses velhos partidos exploradores que, na crise de 2002 durante a presidência do Colorado Jorge Batlle, aplicaram duros ajustes que mergulharam a classe operária e os setores populares na mais profunda miséria.
Desta forma, a chegada da FA ao governo foi para várias gerações de seus honestos militantes de base, para amplos setores da classe operária, para os defensores dos direitos humanos e para os setores populares, uma esperança de mudança.
Esperança que se personificou na figura de Tabaré Vázquez, que catalisou essa ilusão popular que se expressou de forma massiva em todo o país na celebração de sua vitória eleitoral em 2005, quando pronunciou sua famosa frase: “Festejem uruguaios, festejem”.
Durante a sua primeira presidência criou o MIDES (Ministério do Desenvolvimento Social) que significou, para um importante setor humilde da população, começar a receber um benefício do Estado, bem como planos de trabalho que lhes permitiam obter uma fonte de emprego.
Também sabemos que muitos trabalhadores conseguiram um emprego ou aumento de salário, o que melhorou sua situação em relação à crise de 2002, por isso atribuem essas conquistas aos governos da FA e de Tabaré Vázquez.
Foi por esta razão que, diante de sua morte, milhares de pessoas, incluindo muitos trabalhadores, acompanharam o enterro. Respeitamos sua dor e angústia, assim como sua opinião sobre os governos da FA e Vázquez em particular.
Nós da IST, com profundo respeito e de forma fraterna, queremos dizer aos trabalhadores, aos estudantes e a quem ainda se sente representados pela direção da Frente Ampla, que apesar das fortes emoções que muitos vivem com esta morte, é necessário começar a fazer um profundo balanço dos governos de Vázquez e da FA.
Tabaré Vázquez e a Frente Ampla. Os discursos e os fatos
Nós, da IST, vimos debatendo há anos, acompanhando as lutas das operárias e operários e estudantes. Nestes processos temos repetidamente apontado a necessidade de construir um partido de esquerda, socialista e revolucionário por fora da FA.
Acreditamos que as conquistas arrancadas pelos setores operários e populares de 2005 até agora foram produto das lutas que se desenvolveram. O governo, em uma situação de grande enriquecimento dos capitalistas, concedeu apoiado nessa situação econômica.
Em 2007, Vázquez recebeu no Uruguai o maior genocida do mundo e chefe do imperialismo norte-americano, George W. Bush. As bases da Frente Ampla reagiram naquele momento e foram às ruas às dezenas de milhares para repudiar a sua presença.
Enquanto, por um lado, no dia 18 de julho, inclusive com muitas bandeiras da FA, os trabalhadores e estudantes repudiaram a presença imperialista, a direção da FA juntamente com Tabaré Vázquez e José Mujica prestaram homenagens a este criminoso na Residência presidencial de Anchorena.
Embora Vázquez tenha pertencido a um partido que leva o nome de Socialista e que a FA se autodenomina de esquerda, a direção e os partidos que a integram não pretendem de forma alguma mudar os fundamentos desta sociedade como em algum momento sustentaram em seu discurso. É por isso que, quando a crise econômica recomeçou, seus verdadeiros interesses vieram à tona e observamos, como ano após ano, os ricos vão ficando mais ricos e cada vez mais as operárias e operários, aposentados e estudantes vivem muitos sofrimentos. Passamos por milhares de dificuldades e agora, sob o governo de direita, a queda dos salários, a miséria e o desemprego estão se aprofundando.
Devemos lembrar também às mulheres trabalhadoras e às mais humildes, que lutam contra o machismo e que conquistaram o direito de decidir sobre o próprio corpo, que foi Vázquez quem vetou a primeira lei da interrupção voluntária da gravidez, afirmando que “o aborto não é uma ato médico (…) e que a lei era contrária aos princípios constitucionais e aos compromissos internacionais assumidos pelo Uruguai ”(1). Inclusive o próprio Vázquez foi votar na consulta popular não obrigatória organizada pela direita, que precisava de 25% de participação do eleitorado para que a revogação da lei do aborto fosse levada a referendo.
Em 2015, durante o segundo governo de Vázquez, sua ministra da Educação, María Julia Muñoz, decretou a essencialidade contra as professoras, atacando o direito de greve com um decreto que nunca revogaram enquanto estiveram no comando e que veio do governo reacionário do Colorado Jorge Pacheco Areco.
E foi a multidão nas ruas com sua luta de professores e alunos que obrigou o governo a retroceder e retirar o decreto com o qual o direito à greve foi cortado e que aprofundou um mal-estar irreversível em muitos trabalhadores com a FA.
E hoje vemos também como o avanço deste governo de direita contra as liberdades democráticas se baseia no fortalecimento da guarda republicana que levou adiante a FA com sua política no Ministério do Interior.
O patrulhamento das Forças Armadas na fronteira é também consequência do decreto que Vázquez e a FA aprovaram para permitir ao exército patrulhar a zona fronteiriça e que hoje a direita repressiva tem o prazer de utilizá-lo a fundo.
Para citar um último exemplo, a questão dos Direitos Humanos foi outra grande carência desses governos progressistas, onde a organização Familiares reclamava do avanço quase nulo nos casos de desaparecidos e da impunidade de que gozaram e continuam a gozar os golpistas, torturadores e assassinos.
Apesar das maiorias parlamentares, os governos da FA não anularam a lei de impunidade. Pelo contrário, o próprio Tabaré Vázquez quis “virar a página” instituindo o finalmente frustrado “Dia do Nunca Mais”, que foi simbolizado no abraço entre Vázquez e Bordaberry, filho do ditador.
É por isso que o ex-presidente do Colorado Julio María Sanguinetti, ferrenho inimigo do socialismo e do comunismo, declarou hoje que Vázquez “levou a Frente Ampla ao poder pela primeira vez e marcou um feito histórico (…) sua chegada expulsou muitos fantasmas e acredito que é verdade e esse foi seu grande legado (…) aproximou a Frente Ampla do respeito pela democracia liberal, pelo Estado de direito e pela economia de mercado contemporânea. Hoje damos um zoom e vemos como é grande e esse é o grande legado que o doutor Vázquez deixa”. (2)
Nós da IST dizemos aos trabalhadores que para além dos sonhos que muitos trabalhadores depositaram e depositam no grupo dos partidos agrupados na FA, eles não são nenhuma alternativa que queira acabar com a direita e este sistema social capitalista.
Basta ver que seus legisladores votaram quase 50% da Lei de Urgente Consideração (medidas do governo de direita de Lacalle Pou, ndt.). Mudar essa direção política para a classe operária é uma necessidade. Sua política nos leva de derrota em derrota, seus dirigentes estão assimilados ao capitalismo, a um parlamento com suculentos salários e regalias, totalmente afastado dos trabalhadores.
Outra esquerda deve ser levantada: uma esquerda socialista revolucionária e internacional. É por isso que a partir da IST chamamos a lutar juntos contra o governo de direita de Lacalle Pou e a fazer um balanço do que significou o progressivismo no governo, para poder avançar numa nova construção onde os trabalhadores sejam os que lideram.
1) https://www.infobae.com/sociedad/2020/12/06/el-dia-que-tabare-vazquez-veto-el-aborto-en-uruguay-y-cuales-fueron-sus-fundamentos- para-aquela-decisão /
2) (https://www.subrayado.com.uy/sanguinetti-recordo-vazquez-como-un-adversario-resputoso-y-un-gobernante-democratico-n696887
Tradução: Lena Souza

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