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Estados Unidos

O que significa o banimento do Tik Tok?

maio 10, 2024

Em 13 de março, um projeto de lei bipartidário foi aprovado na Câmara dos Representantes que obrigaria a ByteDance a vender seu aplicativo de mídia social, o TikTok, para um novo proprietário dentro de seis meses ou ser proibida de entrar nos Estados Unidos. Embora ainda não tenha passado pelo Senado, Biden já anunciou sua intenção de sancionar a medida caso ela chegue à sua mesa.

Por: Heman Morris

Embora a regulação da mídia nos EUA não seja novidade para o Estado burguês, aplicativos de mídia social como TikTok, Instagram, Twitter etc. representam a fronteira final de uma nova forma de criação de mídia e, como tal, permanecem em grande parte não regulamentados nos EUA. Essa ameaça de banir o TikTok, portanto, representa uma escalada significativa por parte do regime de Washington, e vale a pena entender por que está especificamente na mira, por que isso está acontecendo agora e o que a classe trabalhadora deve aprender com isso.

O que é o TikTok?

Simplificando, o TikTok é um aplicativo de mídia social que combina conteúdo de vídeo curto com um fluxo de sugestões criadas por algoritmos que se adaptam aos vídeos que o usuário gosta, a fim de criar um fluxo personalizado e viciante de conteúdo de vídeo. Na época de seu lançamento, essa era uma abordagem relativamente nova para as mídias sociais; no entanto, como o TikTok ainda é a rede social que mais cresce, seu formato agora é copiado pela maioria das outras plataformas de mídia social (por exemplo: reels do Instagram/Facebook, shorts do YouTube, holofotes do Snapchat, etc.) A maioria das plataformas de mídia social se reinventou completamente para priorizar ser como o TikTok, ou pelo menos oferecer uma experiência muito semelhante por meio de seu próprio aplicativo.

Então, o que separa o TikTok dessas outras plataformas se o Congresso quer banir apenas o TikTok? A resposta óbvia é que o TikTok é a única grande plataforma de mídia social nos Estados Unidos que não é totalmente propriedade dos interesses burgueses ocidentais. De acordo com seu próprio site, a ByteDance é propriedade principalmente de três grupos, 60% por fundos globais de investimento em ações, 20% por ex-funcionários e 20% pelo fundador original, Zhang Yiming. Embora à primeira vista esses dados indiquem que a burguesia ocidental já controla o TikTok, a Reuters afirmou que Zhang continua a manter o controle majoritário dos direitos de voto.

Mais importante, a ByteDance tem sede na China e estaria sujeita a quaisquer leis de coleta de dados aplicadas pelo Estado chinês, assim como os Estados Unidos fazem com o Patriot Act. Em suma, embora seja incorreto dizer que a ByteDance e, portanto, o TikTok são controlados diretamente pelo Estado chinês, a localização da sede da ByteDance e o cultivo de relações com o Estado chinês, necessário para os capitalistas operarem na China, tornam a ByteDance e, portanto, o TikTok mais subservientes aos interesses comerciais chineses do que outros aplicativos de mídia social.

Este é o cerne da questão de por que os políticos dos EUA querem banir o TikTok. Qualquer outro motivo é uma distração ou simplesmente se distancia desse fato. Como exemplo, muitos políticos apontam as práticas de coleta de dados do TikTok e o fato de que o governo chinês pode acessar essa informaçõe. Embora a coleta e armazenamento seguro de informações de identificação, como CPF, dados bancários, geolocalização, fotos, etc., seja uma questão que deve preocupar todos os usuários de mídias sociais, pois é uma prática padrão para todas as empresas de mídia social!

Além disso, se alguém mora nos EUA, a coleta de seus dados por uma empresa americana representa uma ameaça pessoal maior para ela do que se fosse uma empresa chinesa, devido a projetos de segurança estatal como o PRISM e o Patriot Act, que permitem que dados pessoais de empresas privadas sejam entregues ao governo sem ordem judicial. Se a coleta de dados pessoais (uma prática imensamente lucrativa para a burguesia mundial) importasse para o governo dos EUA, ele deveria ameaçar proibição de forma generalizada.

Censura nas redes sociais

Também se falou muito sobre o fracasso do TikTok em censurar notícias sobre o genocídio em Gaza. Embora a empresa tenha se aproximado várias vezes de organizações sionistas para resolver as diferenças com elas, parece claro que o TikTok tem uma método mais suave para a moderação na Palestina do que outras redes sociais e até reconheceu publicamente a popularidade de uma postura pró-Palestina entre os jovens. Como resultado, eles enfrentaram falsas acusações de promover conteúdo antissemita.

Pode-se razoavelmente deduzir que um elemento disso tem a ver com as relações mais cordiais que a China e as empresas chinesas estão tentando cultivar no Oriente Médio. Além disso, para evitar controvérsias políticas, empresas de mídia social ocidentais como Instagram e Facebook estão escondendo ativamente conteúdo político em geral.

No entanto, seria um erro pegar esse exemplo e colocar o TikTok como defensor da liberdade de expressão. Documentos vazados da empresa revelam que o TikTok limita intencionalmente o público de pessoas percebidas como “feias”, “deficientes”, “pobres” ou “LGBT”. Dentro da China, sua censura é ainda mais explícita, com documentos vazados afirmando que qualquer crítica ao governo chinês pode ser totalmente censurada. O TikTok está sob a influência de forças imperialistas concorrentes e, à medida que potências não americanas continuam a ganhar destaque no cenário mundial, mais interesses privados se sentirão confortáveis em tomar posições que não coincidem com os interesses imediatos do consenso de Washington.

Embora este projeto de lei essencialmente forçasse a ByteDance a escolher um lado ou outro do imperialismo, ambas as forças representam um inimigo para os trabalhadores em todo o mundo.

O uso das redes sociais desempenhou um papel na criação de movimentos de protesto de massa aparentemente do nada (a Primavera Árabe, o levante de George Floyd, o movimento dos Coletes Amarelos), mas esses mesmos movimentos se mostraram frágeis e muitas vezes incapazes de construir espaços de organização democrática para um movimento em escala de massa. Não podemos confiar nas mídias sociais para construir os movimentos por nós, e essas plataformas são, em última análise, de propriedade e controladas pelas forças do capital global.

Pode haver momentos em que uma empresa se recuse a reprimir ou apoiar um determinado movimento social, mas todas as empresas de mídia social são meras amigas fortes e alegremente jogam os trabalhadores debaixo do ônibus para evitar penalidades ou proibições. No caso dos protestos de agricultores indianos de 2020, o Twitter baniu mais de 500 contas por criticar o primeiro-ministro Modi.

Olhando para o futuro, organizações de massa como sindicatos, partidos revolucionários e amplos movimentos sociais devem concentrar seus esforços na construção de formas de comunicação na Internet que quebrem sua dependência de empresas privadas de mídia social. Versões embrionárias disso podem ser vistas em grupos do Signal para organizar ações, listas de e-mail para compartilhar artigos e realizar debates políticos mais profundos, repositórios de informações como marxists.org e blogs independentes. Projetos ainda maiores podem e devem ser empreendidos para proporcionar formas eficazes de comunicação política e organizacional, porque, se isso não for alcançado, os movimentos de massas estarão construindo castelos em areia movediça.

Tradução: Lílian Enck

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