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Argentina | Aprofundar a luta contra o Governo Milei e os governadores

Agentes antidisturbios controlam a um grupo de personas que protesta em Buenos Aires. AFP
dezembro 4, 2024

Por: Comitê Executivo do PSTU/Argentina |

O movimento operário e popular, sempre que foi convocado pelas suas direções sindicais, tem demonstrado predisposição para a luta, atitude perante as provocações das forças de segurança, mas sobretudo solidariedade face aos conflitos em curso. Após os dias de mobilizações e greves de 30 de outubro.

A situação nos lares operários é cada vez mais dolorosa: todos os dias recebemos contas de serviços com aumentos, restringimos questões básicas como alimentação e medicamentos, ou recreação, para podermos pagar a luz, o gás ou o transporte urbano.

As taxas de pobreza crescem da mesma forma que os lucros das empresas, à custa da pilhagem dos recursos naturais, da especulação financeira e dos salários de pobreza, especialmente nas indústrias geradoras de riqueza.

Mas não satisfeito com isso, o setor empresarial concentrado quer aprofundar ainda mais a Reforma Trabalhista (para aumentar a produção com menos trabalhadores/as e salários mais baixos). O Governo, a pedido do FMI, pretende impor uma Reforma das Pensões/Aposentadorias para aumentar a idade e pagar valores ainda mais baixos do que os míseros atuais. Estes abusos andam de mãos dadas com a penalização de medidas de luta como os bloqueios e a eliminação de qualquer lei que proteja os chamados “bens comuns”.

Os restantes setores patronais médios e pequenos também querem se beneficiar da flexibilidade laboral e eventualmente aproveitar alguns conflitos sindicais para obter isenções fiscais, aumento de subsídios e assim aumentar os seus lucros e outras vantagens.

A política no seu jogo eleitoral sem saída

Enquanto passamos fome, os dirigentes políticos e sindicais já preparam um cenário para “votarmos com sabedoria” em 2025 e 2027. As facções do peronismo são as primeiras que o incentivam. Os outros partidos do regime – sejam eles pró-governo ou críticos – estão na mesma sintonia, com o apoio dos grandes meios de comunicação capitalistas que implementam essa agenda na vida política nacional.

A atitude apenas testemunhal das forças de esquerda contribui para este cenário e as direções dos movimentos piqueteros e dos movimentos sociais, em sua maioria, estão numa situação semelhante de passividade, sendo este último um dos setores mais atingidos tanto pela perseguição repressiva e pelo ajuste econômico cruel. A nosso ver, focar a luta no aspecto eleitoral, neste momento, é criminoso porque prejudica o estado de espírito dos contingentes de trabalhadores que, de uma forma ou de outra, saem à luta em diversos pontos do país.

O conflito universitário e o conflito da Aerolinhas

O Governo necessita derrotar estes dois setores pois deve demonstrar que o seu “plano motosserra” – além de ajustar – visa derrotar os sindicatos e qualquer resistência que surja. Por isso, a luta das universidades e dos trabalhadores aeronáuticos tem tido apoio e solidariedade em todo o país, da mesma forma com os trabalhadores da saúde ou aposentados.

Houve ações, como ocupações estudantis ou greves em aeroportos. Porém, para derrotar Milei devemos pensar em como massificar, coordenar as lutas e, acima de tudo, como conseguir uma solidariedade ativa. É muito importante não se isolar, buscar todo tipo de iniciativas.

É verdade, por exemplo, que as ocupações de universidades são acontecimentos políticos importantes. Mas também é fundamental que quem os dirige não se separe das bases estudantis, incentivando assembleias por curso, propondo-se a eleger delegados por disciplina ou carreira. Em suma, construir uma estrutura capaz de realizar essas tarefas, como ir às fábricas, unir as reivindicações num documento comum, agregar as reivindicações dos bairros. Conseguindo assim uma força massiva para medidas de ação direta contra o Governo e os interesses que representa.

O 30 de outubro foi um passo importante

A firmeza dos setores de transportes que pararam foi um duro golpe para Milei e para as empresas. Outros sindicatos como ATE [trabalhadores estatais], SUTEBA [professores da província de Buenos Aires], ATECH [professores de Chubut], trabalhadores municipais do interior, rodoviários, petroquímicos, padeiros e estudantes universitários deram maior força ao dia de luta.

Mas o papel traidor da CGT e da UTA ou as declarações de “apoio” de sindicatos como o Plástico ou a UOM [metalúrgicos] sem se aderirem à medida da luta, foram funcionais para o Governo.

A esquerda e os movimentos sociais realizaram centenas de bloqueios e ações no meio da manhã. Estiveram longe de afetar a produção e o comércio. Outra situação teria sido se, em vez disso, por exemplo, fossem aos supermercados ou frigoríficos de forma organizada para pedir a comida que falta. Ou manifestar-se na entrada de jazimentos ou empresas por trabalho genuíno. Os acordos gerais e coordenação com os trabalhadores ocupados são fundamentais.

Como seguir?

Quase um ano depois do Governo Milei, a necessidade de se livrar dele torna-se mais evidente para a classe trabalhadora. Como conseguir essa massividade por meio de medidas contundentes e de uma luta frontal e determinada é a reflexão que devemos começar a debater.

Não confiamos na saída eleitoral. Entendemos que o único caminho é voltar aos tempos de 2001 contra De la Rúa-Cavallo ou de 2017 contra a Reforma Previdenciária de Macri. Por isso é necessário nos unirmos na luta, para superar as atitudes divisionistas como na ATE (ou outros setores sindicais) que apesar de convocar, o faz setorialmente, retirando a força que é necessária diante da escalada repressiva nas marchas , e também nos locais de trabalho, como o ataque à estatal Intercargo, nos aeroportos.

Não podemos perder de vista que estas divisões e traições de organizações respondem também às orientações do PJ e do seu interno eleitoral, onde Cristina Kirchner tem uma grande responsabilidade de apaziguar a luta.

É por isso que devem ser as assembleias que votam para coordenar as lutas e formar comissões que alcancem a unidade e uma agenda comum. Nenhuma reivindicação deve ser deixada de fora, desde o feminicídio, o ambientalismo, a fome ou a educação, no caminho para alcançar plenárias abertas de delegados e ativistas com mandatos de base que forjam a partir de baixo um plano de luta com vista a uma Greve Geral ativa.

Milei pode ser derrotado

Se os trabalhadores da indústria de óleo e azeite, com sete dias de greve e piquetes, conseguiram impor suas condições salariais, se os petroleiros da Patagônia, com piquetes nos campos, conseguiram ficar isentos do Imposto de Renda sobre seus salários, se os estudantes universitários e setores da saúde conquistaram a simpatia e o apoio da sociedade, se os aposentados demonstram todas as quartas-feiras que precisamos enfrentar o protocolo antipiquetes de [Ministra da Segurança] Bullrich, significa que há espírito e exemplos de luta e predisposição

A greve do dia 30 deverá permitir-nos também outra reflexão: é possível parar por fora da CGT e da CTA. Portanto – sem deixar de exigir dos dirigentes – devemos promover o caminho de enfrentamento do Governo, de cada setor, combatendo as consequências do seu plano (salários miseráveis, demissões, insegurança laboral, etc.). Os delegados do setor devem ser os primeiros a trazer as opiniões das bases para as iniciativas de luta. Precisamos de criar condições para passar da defesa ao ataque. E isso significa que devemos começar a considerar que tipo de sociedade queremos, que tipo de educação e saúde, etc. Mas o fundamental é que este sistema capitalista já não existe e devemos implementar outro sistema, sem exploração ou opressão, onde a classe operária governe através de uma revolução social que inicie a transição para o socialismo.

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