Já são mais de 240 dias da nova fase da Nakba – a catástrofe palestina, cuja pedra fundamental foi a formação do Estado racista e colonial de Israel, em 15 de maio de 1948. Em sua busca por uma “solução final”, avalizada pela cumplicidade internacional, o regime sionista avança no genocídio em Gaza e na limpeza étnica em toda a Cisjordânia. Mas, o povo palestino resiste heroicamente e a solidariedade internacional se intensifica.
Por: Soraya Misleh
Na estreita faixa de Gaza, os bombardeios massivos já mataram pelo menos cerca de 45 mil palestinos, dentre os quais 70% são mulheres e crianças. Na Cisjordânia já são mais de 1.500 mortos. A máscara do Estado de Israel cai, revelando sua cara horrenda.
A fúria sanguinária dos sionistas
Em 26 de maio, as forças de ocupação sionistas perpetraram o “massacre das tendas”, queimando vivos dezenas de palestinos alojados em acampamentos improvisados. As imagens das atrocidades, que incluíram crianças decapitadas, elevaram a indignação, expressa em grandes protestos, ao redor do mundo, inclusive em São Paulo.
Capítulo mais recente da coleção macabra de atrocidades que já começa a ser chamado de “Holocausto Palestino” –, o “massacre das tendas” ocorreu apenas dois dias depois de que a Corte Internacional de Justiça (CIJ) ordenou o fim da agressão sionista a Rafat, último reduto, antes da fronteira com o Egito, para milhões de palestinos deslocados.
No mesmo mês, o Tribunal Penal Internacional (TPI) pediu a prisão dos genocidas Benjamin Netanyahu e Yoav Galant, respectivamente primeiro-ministro e ministro da Defesa de Israel.
Apesar das ações limitadas, descabidas e deseducativas que equiparam o terrorismo sionista à legítima resistência palestina, ao arrepio do próprio Direito Internacional em que essas instituições se sustentam, a resposta de Israel foi a esperada: retomou a ultrapassada propaganda de que seriam iniciativas supostamente antissemitas e deu sequência às atrocidades, com um, dois e mais massacres das tendas.
Demonstrou, assim, não apenas a impunidade que norteia o projeto colonial do enclave militar do imperialismo, mas reafirmou que a máquina da morte sionista não será parada por dentro do sistema na qual se assentam tais instituições. Virá das ruas, dos oprimidos e explorados em todo o mundo.
Resistência
Em meio aos escombros, palestinos agradecem a solidariedade internacional
Em várias partes do mundo, a juventude tem protagonizado uma série de acampamentos estudantis contra a cumplicidade de suas universidades com o genocídio. Sua demanda central é pelo boicote acadêmico a Israel. Ou seja, o fim dos convênios de suas instituições com universidades sionistas – todas elas cúmplices da colonização, do apartheid, da limpeza étnica e do genocídio do povo palestino.
Esse processo, que teve início em abril, na Universidade de Columbia, em Nova York, nos EUA, se espraiou, segue por todo o coração do império, tendo atingido também a Europa, a Ásia, a Oceania, a América Latina, além de Canadá e México – trazendo a memória dos levantes universitários contra a Guerra do Vietnã e contra o apartheid na África do Sul.
Em várias dessas instituições, a resposta foi repressão brutal, com prisões, perseguições e criminalização dos estudantes. Em outras, foram alcançadas vitórias parciais ou totais.
O Brasil não ficou alheio a esse processo. O primeiro acampamento se deu na Universidade de São Paulo, seguido por estudantes das universidades Federal do Maranhão (UFMA) e Estadual de Campinas (Unicamp). Em todos, a demanda comum foi a exigência do fim do genocídio em Gaza, com cessar fogo imediato, boicote acadêmico e que Lula rompa imediatamente relações com o Estado terrorista de Israel.
Palestinos em Gaza enviaram suas mensagens aos acampamentos. Em suas tendas escreveram: “Obrigado, estudantes!” e “Nós vemos e saudamos vocês.” Treze organizações estudantis de Gaza emitiram uma declaração nesse sentido.
“Enquanto permanecemos sob as bombas da ocupação, resistindo ao genocídio nazi, lamentando os nossos colegas e professores martirizados e testemunhando a destruição das nossas universidades, saudamos os exemplos de solidariedade oferecidos por estudantes que enfrentam prisão, violência policial, suspensão, despejo e expulsão”, diz a nota.
Livre do rio ao mar
Ampliar o exemplo da “Intifada nas universidades”
A jornalista palestina Bisan Owda, que segue cobrindo o genocídio de seu próprio povo e compõe o time de heróis palestinos da profissão, divulgou um vídeo em seu Instagram intitulado “A revolução nas universidades”, expressando o sentimento em relação aos acampamentos da juventude.
“Vivi toda a minha vida na Faixa de Gaza e nunca senti tanta esperança como agora. Pela primeira vez nas nossas vidas, como palestinos, ouvimos uma voz mais alta do que as suas vozes [da ocupação] e o som das suas bombas”, disse.
Além disso, a jornalista fez o chamado por uma “Intifada nas universidades”. Ou seja, por um levante popular e que a juventude nunca volte atrás.
Atendendo à reivindicação do povo palestino, seguimos exigindo o fim de toda forma de cumplicidade com o genocídio. Exigimos o fim dos convênios com universidades israelenses, mas também dos acordos que possibilitam que as balas que são testadas sobre as cobaias humanas nas quais Israel converte os palestinos todos os dias e, depois, sejam compradas por governos estaduais, do Rio de Janeiro e São Paulo à Bahia e ao Amazonas.
Balas que, sabemos, servem ao genocídio pobre e negro e indígena. Por isso, também, exigimos que Lula rompa todas as relações econômicas, militares e diplomáticas com o Estado de Israel. Até que tenhamos uma Palestina livre, do rio ao mar.
