sex out 11, 2024
sexta-feira, outubro 11, 2024

A crise no sistema bancário e a possibilidade de nova recessão mundial

O mundo assiste, com grande preocupação, a evolução da crise no sistema bancário dos países imperialistas. A falência do Silicon Valley, seguida alguns dias depois pela do Signature Bank, nos EUA, acendeu o sinal de alarme.´

Por: Eduardo Almeida

Logo após, uma “vaquinha” bilionária dos grandes bancos evitou a falência do First Republic. Na Europa, o Credite Suisse faliu e teve de ser comprado pelo SBP, outro grande banco suíço.

Para onde vai essa crise bancária? O que está sinalizando essa crise em relação à evolução da economia mundial como um todo?

Como começou a crise

As falências de bancos dessas dimensões acenderam um alerta na economia mundial. O Silicon Valley era o 16º maior banco dos EUA, base financeira para boa parte das startups de tecnologia, e essa foi a maior falência bancária desde a recessão de 2008.

Esse banco tinha aproveitado o momento anterior, com juros baixíssimos para aplicar o dinheiro de seus clientes em títulos do tesouro norte-americano de longo prazo. Esses títulos rendem mais, mas não podem ser resgatados de imediato, sob pena de perder o rendimento. No entanto, o aumento nas taxas de juros dos EUA afetou a economia como um todo. Quando os clientes necessitaram de seu dinheiro, faltou liquidez ao banco, ou seja, não tinham dinheiro para devolver a eles. E novos empréstimos só com juros mais altos, pelo aumento nas taxas. Houve corrida ao banco, que quebrou.

O Credite Suisse era o segundo maior banco da Suíça, e com ele veio abaixo boa parte da credibilidade desse país.

Essas falências impactaram o conjunto do sistema bancário. Segundo o Financial Times, os bancos dos Estados Unidos, Europa e Japão perderam US$ 459 bilhões (R$ 2,4 trilhões) em valor de mercado em março.

Os governos imperialistas reagiram prontamente, despejando bilhões nos bancos para evitar uma expansão incontrolável da crise. Biden bancou todos os depósitos abaixo de US$ 250 mil do Silicon Valley, e depois garantiu também os acima dessa quantia. O governo suíço concedeu um empréstimo de urgência de US$ 54 bilhões ao Credite Suisse e depois esteve por trás da operação de compra desse banco pelo SBP.

Nada normal

Nos dias seguintes, aparentemente a situação voltou ao normal. As Bolsas voltaram a crescer, e as mensagens dos governos eram tranquilizadoras.

Mas tudo voltou a explodir novamente com a queda das ações do Deutsch Bank em 14,5%. Apesar de uma recuperação parcial posterior, a solidez do maior banco alemão foi abalada.

Um processo semelhante, com diferenças no tipo de aplicações e  alavancagem dos bancos, está acontecendo no sistema bancário mundial. “Os bancos mais fracos dos EUA vêm perdendo depósitos há mais de dois anos para os bancos mais fortes, mas US$ 500 bilhões foram retirados desde o colapso do SVB em 10 de março e US$ 600 bilhões, desde que o Fed  [banco central dos EUA] começou a aumentar as taxas de juros. Isso é um recorde.”, explica o economista Michael Roberts.

Agora, os governos imperialistas, o FMI, os porta-vozes do capital financeiro asseguram que a estabilidade foi preservada. Isso parece mais uma propaganda interessada que um diagnóstico realista. Na verdade, a crise recém se inicia.


Ciclos

A curva descendente da economia capitalista

Não se pode entender o que está se passando buscando explicações apenas no sistema financeiro. É preciso relacionar esse processo com a totalidade da economia imperialista e sua curva descendente pós recessão de 2007-2009.

A economia capitalista se desenvolve em ciclos. Existem os ciclos curtos de crescimento, auge e crise, de cerca de oito a dez anos, cadenciadas pela evolução da taxa média de lucros. Quando a taxa de lucros aumenta, existe um novo ciclo de investimentos, e a economia cresce. Depois do auge, quando caem os lucros, os investimentos diminuem e vem a crise, até que um aumento nos lucros permita novo período de crescimento.

Existem também as curvas mais longas da economia, que englobam vários ciclos curtos, gerados ou influenciados por eventos econômicos e extraeconômicos como novas tecnologias, novos mercados, guerras, eventos da luta de classes.

Do auge a queda

A última curva ascendente da economia foi o período da chamada globalização nas décadas de 1980 e 1990 do século 20, cuja base foram os planos neoliberais, a restauração do capitalismo nos antigos estados operários (em particular, na China transformada em “fábrica do mundo”) e a incorporação da computação na produção.

A atual curva descendente se inaugurou com a recessão de 2007-2009. Houve outra grande recessão internacional em 2020, que coincidiu e foi agravada pela pandemia de Covid 19, mas não se resumiu a ela.

Como é característico dessas fases descendentes, temos ciclos curtos com crescimento anêmico da economia imperialista.

Nessa fase descendente da economia capitalista, o crescimento capitalista da China levou ao questionamento de sua localização na divisão mundial do trabalho, levando ao enfrentamento entre o país e os EUA.

Despejando dinheiro

A política dos governos imperialistas, para evitar que as recessões internacionais de 2008 e 2020 se transformassem em depressões, foi injetar somas brutais de dinheiro público para salvar as grandes empresas e os bancos em particular. Nunca na história se gastou tanto dinheiro público para salvar o grande capital.

Isso teve duas grandes consequências, presentes nos dias de hoje, que condicionam a evolução da economia mundial.

A primeira é o gigantesco endividamento dos governos, das empresas e das pessoas. A dívida global passou de 278% do PIB global em 2007 para o recorde de 349% do PIB em 2022. Isso significa US$ 300 trilhões de dívida global, cerca de US$ 37,5 mil para cada pessoa no mundo.

O endividamento dos governos é enorme, tendo a média global passado de 76% em 2007 para 102% em 2022. Como sempre, esse endividamento vai terminar por ser cobrado dos trabalhadores, sob a forma do rebaixamento salarial e precarização do trabalho e dos serviços públicos. Vários países semicoloniais estão à beira de explosões, como Egito, Zambia, Turquia.

A segunda questão é que não ocorreu a queima do capital velho, com a falência das empresas de menor taxa de lucros, o que é típico das grandes crises. Com as gigantescas operações de salvamento das empresas, além das taxas de juros baixíssimas nos países imperialistas, um grande número de “empresas zumbis” se mantém artificialmente à beira da falência.

Agora isso está em questão, com o aumento das taxas de juros nos países imperialistas.

Direção

A política da grande burguesia para recompor as taxas de lucros

Mesmo no marco da curva descendente da economia mundial, a burguesia está buscando recompor uma nova fase ascendente. É preciso reconhecer que tem obtido vitórias nesse sentido.

É um fato que existem avanços tecnológicos que já estão sendo incorporados à produção, como a indústria 4.0, a inteligência artificial, a rede 5G e os carros elétricos.

É também muito significativo que a burguesia mundial se aproveitou da pandemia para impor um retrocesso nas condições de vida dos trabalhadores. Existe um rebaixamento salarial e precarização das relações de trabalho (com a terceirização e a uberização) e um forte aumento do desemprego. Existe um enorme exército industrial de reserva, e mesmo os trabalhadores empregados vivem muitas vezes na miséria.

Essas duas condições (avanço na técnica e rebaixamento dos salários dos trabalhadores) favoreceriam a burguesia para tentar chegar a uma nova fase ascendente da economia mundial.

Obstáculos

No entanto, dois outros elementos seguem sendo obstáculos importantes para isso.

O primeiro é a taxa média de lucros, que ainda segue sendo baixa, aquém das necessidades da burguesia para uma nova fase ascendente. Apesar dos setores de ponta alcançarem superlucros, isso ainda não alcança a média de conjunto da economia imperialista, para relançar a economia.

O segundo é a realidade da luta de classes. A burguesia necessita impor novas derrotas aos trabalhadores, para garantir uma estabilidade que permita essa nova fase ascendente. E existem problemas para isso, incluindo divisões importantes da própria burguesia, presentes tanto nos países imperialistas como semicoloniais. Desde Biden x Trump, Macron x Le Pen, até Lula x Bolsonaro, Petros x Uribe, Boric x Piñera etc..

As consequências da combinação entre essas tendências e contratendências se manifestam na instabilidade atual da economia e da luta de classes mundial. A crise atual na França após a imposição de Macron da reforma da previdência e as crises políticas recorrentes na América Latina são expressões dessa realidade.

O momento atual na curva descendente

Como dizíamos, os períodos de crescimento da economia nos ciclos curtos da curva descendente têm um caráter anêmico. Mas no último trimestre de 2022, houve uma desaceleração importante nos países imperialistas.

O PIB nos EUA cresceu apenas 0,7%, vindo de 5,4% no último trimestre de 2021. A zona Euro teve crescimento de 0%, incluindo -0,4% na Alemanha, -0,1% na Itália, 0,1% na Inglaterra e 0,1% na França.

O que está por trás disso é que a taxa de lucros das grandes empresas imperialistas está caindo. Segundo Michael Roberts, a taxa de lucros nos EUA está caindo desde o terceiro trimestre de 2022.

Um dado extremamente significativo é que as “Big Techs”, as cinco grandes empresas de tecnologia dos EUA (Apple, Microsoft, Alphabet, Meta, Amazon), apresentam queda em suas taxas de lucro e estão demitindo funcionários em larga escala. O setor de ponta, que consegue superlucros na fase ascendente, apresenta queda em seus lucros.

Isso sinaliza a possibilidade de uma nova recessão da economia mundial.

Crise explode

Bancos centrais imperialistas aumentam as taxas de juros

Agora podemos voltar para a análise da crise financeira mundial. O imperialismo tem neste momento um grau brutal de parasitismo, com grandes bolhas financeiras em todos os países do mundo.

Enormes montanhas de capital fictício (que não tem origem direta na produção) sugam a mais-valia extraída dos trabalhadores e a transferem para as mãos de um punhado de fundos financeiros imperialistas. Isso funciona como gigantescas pirâmides financeiras que amplificam os lucros em momentos de ascenso do capital.

Mas quando, na base da economia, a taxa de lucros cai, pode se precipitar uma crise financeira, que amplifica também os prejuízos, aprofundando as crises. É essa a possibilidade que está no horizonte, caso uma nova recessão mundial se concretize.

Depois da última recessão mundial e, em particular, depois do início da guerra na Ucrânia, instalou-se uma inflação persistente nos países imperialistas.

Isso terminou ocasionando uma mudança importantíssima na política dos governos imperialistas. Até então os bancos centrais vinham aplicando uma taxa de juros negativa (abaixo da inflação), para combater os efeitos das recessões. Desde 2022, para enfrentar a inflação, passaram a usar o receituário clássico da economia burguesa, que é o aumento na taxa de juros.

Nos EUA, a taxa aumentou de 0,25% em 2022 para 5% atualmente. O Banco Central Europeu aumentou as taxas de -0,5% em 2022 para 3% atualmente.

A combinação entre o aumento na taxa de juros e a queda na taxa de lucros foi o detonante da crise bancária atual. É simbólico que a primeira falência tenha sido do Silicon Valley, um banco médio dos EUA, estreitamente relacionado às empresas de tecnologia.

Horizonte

Quais são as perspectivas?

A reação dos governos, voltando a despejar bilhões de dólares públicos para salvar os grandes bancos, expressa a continuidade da política mundial imperialista. No entanto, existe uma enorme contradição entre o aumento nas taxas de juros e a atual crise bancária. O Federal Reserve (Banco Central dos EUA) e o Banco Central Europeu mantiveram a tendência de alta dos juros neste mês de março, mesmo em meio à crise bancária. Vão seguir nesse caminho, mesmo no caso de novas falências?

Nada assegura que a crise nos bancos será estancada, mesmo que se reverta o aumento na taxa de juros. Existe um problema de fundo na base da economia, que é a queda na taxa de lucros das grandes empresas. As pirâmides financeiras estão sendo abaladas.

A queda na taxa de lucros aponta para a possibilidade de uma nova recessão no horizonte. Seria a terceira recessão mundial, depois das de 2007-2009 e de 2020. Mas trata- se de uma possibilidade, não de uma certeza.

A tendência mais provável é que as contradições se aprofundem, mesmo na ausência de uma recessão internacional. Já existem crises instaladas nos governos dos países semicoloniais pelo endividamento atual. Quais países vão explodir com essas taxas de juros? Quais as consequências na luta de classes, à semelhança do que já está ocorrendo na França?

Como dizíamos no início do artigo, parece que a crise recém começa.

A crise no sistema bancário e a possibilidade de nova recessão mundial

O mundo assiste, com grande preocupação, a evolução da crise no sistema bancário dos países imperialistas. A falência do Silicon Valley, seguida alguns dias depois pela do Signature Bank, nos EUA, acendeu o sinal de alarme.´

Por: Eduardo Almeida

Logo após, uma “vaquinha” bilionária dos grandes bancos evitou a falência do First Republic. Na Europa, o Credite Suisse faliu e teve de ser comprado pelo SBP, outro grande banco suíço.

Para onde vai essa crise bancária? O que está sinalizando essa crise em relação à evolução da economia mundial como um todo?

Como começou a crise

As falências de bancos dessas dimensões acenderam um alerta na economia mundial. O Silicon Valley era o 16º maior banco dos EUA, base financeira para boa parte das startups de tecnologia, e essa foi a maior falência bancária desde a recessão de 2008.

Esse banco tinha aproveitado o momento anterior, com juros baixíssimos para aplicar o dinheiro de seus clientes em títulos do tesouro norte-americano de longo prazo. Esses títulos rendem mais, mas não podem ser resgatados de imediato, sob pena de perder o rendimento. No entanto, o aumento nas taxas de juros dos EUA afetou a economia como um todo. Quando os clientes necessitaram de seu dinheiro, faltou liquidez ao banco, ou seja, não tinham dinheiro para devolver a eles. E novos empréstimos só com juros mais altos, pelo aumento nas taxas. Houve corrida ao banco, que quebrou.

O Credite Suisse era o segundo maior banco da Suíça, e com ele veio abaixo boa parte da credibilidade desse país.

Essas falências impactaram o conjunto do sistema bancário. Segundo o Financial Times, os bancos dos Estados Unidos, Europa e Japão perderam US$ 459 bilhões (R$ 2,4 trilhões) em valor de mercado em março.

Os governos imperialistas reagiram prontamente, despejando bilhões nos bancos para evitar uma expansão incontrolável da crise. Biden bancou todos os depósitos abaixo de US$ 250 mil do Silicon Valley, e depois garantiu também os acima dessa quantia. O governo suíço concedeu um empréstimo de urgência de US$ 54 bilhões ao Credite Suisse e depois esteve por trás da operação de compra desse banco pelo SBP.

Nada normal

Nos dias seguintes, aparentemente a situação voltou ao normal. As Bolsas voltaram a crescer, e as mensagens dos governos eram tranquilizadoras.

Mas tudo voltou a explodir novamente com a queda das ações do Deutsch Bank em 14,5%. Apesar de uma recuperação parcial posterior, a solidez do maior banco alemão foi abalada.

Um processo semelhante, com diferenças no tipo de aplicações e  alavancagem dos bancos, está acontecendo no sistema bancário mundial. “Os bancos mais fracos dos EUA vêm perdendo depósitos há mais de dois anos para os bancos mais fortes, mas US$ 500 bilhões foram retirados desde o colapso do SVB em 10 de março e US$ 600 bilhões, desde que o Fed  [banco central dos EUA] começou a aumentar as taxas de juros. Isso é um recorde.”, explica o economista Michael Roberts.

Agora, os governos imperialistas, o FMI, os porta-vozes do capital financeiro asseguram que a estabilidade foi preservada. Isso parece mais uma propaganda interessada que um diagnóstico realista. Na verdade, a crise recém se inicia.


Ciclos

A curva descendente da economia capitalista

Não se pode entender o que está se passando buscando explicações apenas no sistema financeiro. É preciso relacionar esse processo com a totalidade da economia imperialista e sua curva descendente pós recessão de 2007-2009.

A economia capitalista se desenvolve em ciclos. Existem os ciclos curtos de crescimento, auge e crise, de cerca de oito a dez anos, cadenciadas pela evolução da taxa média de lucros. Quando a taxa de lucros aumenta, existe um novo ciclo de investimentos, e a economia cresce. Depois do auge, quando caem os lucros, os investimentos diminuem e vem a crise, até que um aumento nos lucros permita novo período de crescimento.

Existem também as curvas mais longas da economia, que englobam vários ciclos curtos, gerados ou influenciados por eventos econômicos e extraeconômicos como novas tecnologias, novos mercados, guerras, eventos da luta de classes.

Do auge a queda

A última curva ascendente da economia foi o período da chamada globalização nas décadas de 1980 e 1990 do século 20, cuja base foram os planos neoliberais, a restauração do capitalismo nos antigos estados operários (em particular, na China transformada em “fábrica do mundo”) e a incorporação da computação na produção.

A atual curva descendente se inaugurou com a recessão de 2007-2009. Houve outra grande recessão internacional em 2020, que coincidiu e foi agravada pela pandemia de Covid 19, mas não se resumiu a ela.

Como é característico dessas fases descendentes, temos ciclos curtos com crescimento anêmico da economia imperialista.

Nessa fase descendente da economia capitalista, o crescimento capitalista da China levou ao questionamento de sua localização na divisão mundial do trabalho, levando ao enfrentamento entre o país e os EUA.

Despejando dinheiro

A política dos governos imperialistas, para evitar que as recessões internacionais de 2008 e 2020 se transformassem em depressões, foi injetar somas brutais de dinheiro público para salvar as grandes empresas e os bancos em particular. Nunca na história se gastou tanto dinheiro público para salvar o grande capital.

Isso teve duas grandes consequências, presentes nos dias de hoje, que condicionam a evolução da economia mundial.

A primeira é o gigantesco endividamento dos governos, das empresas e das pessoas. A dívida global passou de 278% do PIB global em 2007 para o recorde de 349% do PIB em 2022. Isso significa US$ 300 trilhões de dívida global, cerca de US$ 37,5 mil para cada pessoa no mundo.

O endividamento dos governos é enorme, tendo a média global passado de 76% em 2007 para 102% em 2022. Como sempre, esse endividamento vai terminar por ser cobrado dos trabalhadores, sob a forma do rebaixamento salarial e precarização do trabalho e dos serviços públicos. Vários países semicoloniais estão à beira de explosões, como Egito, Zambia, Turquia.

A segunda questão é que não ocorreu a queima do capital velho, com a falência das empresas de menor taxa de lucros, o que é típico das grandes crises. Com as gigantescas operações de salvamento das empresas, além das taxas de juros baixíssimas nos países imperialistas, um grande número de “empresas zumbis” se mantém artificialmente à beira da falência.

Agora isso está em questão, com o aumento das taxas de juros nos países imperialistas.

Direção

A política da grande burguesia para recompor as taxas de lucros

Mesmo no marco da curva descendente da economia mundial, a burguesia está buscando recompor uma nova fase ascendente. É preciso reconhecer que tem obtido vitórias nesse sentido.

É um fato que existem avanços tecnológicos que já estão sendo incorporados à produção, como a indústria 4.0, a inteligência artificial, a rede 5G e os carros elétricos.

É também muito significativo que a burguesia mundial se aproveitou da pandemia para impor um retrocesso nas condições de vida dos trabalhadores. Existe um rebaixamento salarial e precarização das relações de trabalho (com a terceirização e a uberização) e um forte aumento do desemprego. Existe um enorme exército industrial de reserva, e mesmo os trabalhadores empregados vivem muitas vezes na miséria.

Essas duas condições (avanço na técnica e rebaixamento dos salários dos trabalhadores) favoreceriam a burguesia para tentar chegar a uma nova fase ascendente da economia mundial.

Obstáculos

No entanto, dois outros elementos seguem sendo obstáculos importantes para isso.

O primeiro é a taxa média de lucros, que ainda segue sendo baixa, aquém das necessidades da burguesia para uma nova fase ascendente. Apesar dos setores de ponta alcançarem superlucros, isso ainda não alcança a média de conjunto da economia imperialista, para relançar a economia.

O segundo é a realidade da luta de classes. A burguesia necessita impor novas derrotas aos trabalhadores, para garantir uma estabilidade que permita essa nova fase ascendente. E existem problemas para isso, incluindo divisões importantes da própria burguesia, presentes tanto nos países imperialistas como semicoloniais. Desde Biden x Trump, Macron x Le Pen, até Lula x Bolsonaro, Petros x Uribe, Boric x Piñera etc..

As consequências da combinação entre essas tendências e contratendências se manifestam na instabilidade atual da economia e da luta de classes mundial. A crise atual na França após a imposição de Macron da reforma da previdência e as crises políticas recorrentes na América Latina são expressões dessa realidade.

O momento atual na curva descendente

Como dizíamos, os períodos de crescimento da economia nos ciclos curtos da curva descendente têm um caráter anêmico. Mas no último trimestre de 2022, houve uma desaceleração importante nos países imperialistas.

O PIB nos EUA cresceu apenas 0,7%, vindo de 5,4% no último trimestre de 2021. A zona Euro teve crescimento de 0%, incluindo -0,4% na Alemanha, -0,1% na Itália, 0,1% na Inglaterra e 0,1% na França.

O que está por trás disso é que a taxa de lucros das grandes empresas imperialistas está caindo. Segundo Michael Roberts, a taxa de lucros nos EUA está caindo desde o terceiro trimestre de 2022.

Um dado extremamente significativo é que as “Big Techs”, as cinco grandes empresas de tecnologia dos EUA (Apple, Microsoft, Alphabet, Meta, Amazon), apresentam queda em suas taxas de lucro e estão demitindo funcionários em larga escala. O setor de ponta, que consegue superlucros na fase ascendente, apresenta queda em seus lucros.

Isso sinaliza a possibilidade de uma nova recessão da economia mundial.

Crise explode

Bancos centrais imperialistas aumentam as taxas de juros

Agora podemos voltar para a análise da crise financeira mundial. O imperialismo tem neste momento um grau brutal de parasitismo, com grandes bolhas financeiras em todos os países do mundo.

Enormes montanhas de capital fictício (que não tem origem direta na produção) sugam a mais-valia extraída dos trabalhadores e a transferem para as mãos de um punhado de fundos financeiros imperialistas. Isso funciona como gigantescas pirâmides financeiras que amplificam os lucros em momentos de ascenso do capital.

Mas quando, na base da economia, a taxa de lucros cai, pode se precipitar uma crise financeira, que amplifica também os prejuízos, aprofundando as crises. É essa a possibilidade que está no horizonte, caso uma nova recessão mundial se concretize.

Depois da última recessão mundial e, em particular, depois do início da guerra na Ucrânia, instalou-se uma inflação persistente nos países imperialistas.

Isso terminou ocasionando uma mudança importantíssima na política dos governos imperialistas. Até então os bancos centrais vinham aplicando uma taxa de juros negativa (abaixo da inflação), para combater os efeitos das recessões. Desde 2022, para enfrentar a inflação, passaram a usar o receituário clássico da economia burguesa, que é o aumento na taxa de juros.

Nos EUA, a taxa aumentou de 0,25% em 2022 para 5% atualmente. O Banco Central Europeu aumentou as taxas de -0,5% em 2022 para 3% atualmente.

A combinação entre o aumento na taxa de juros e a queda na taxa de lucros foi o detonante da crise bancária atual. É simbólico que a primeira falência tenha sido do Silicon Valley, um banco médio dos EUA, estreitamente relacionado às empresas de tecnologia.

Horizonte

Quais são as perspectivas?

A reação dos governos, voltando a despejar bilhões de dólares públicos para salvar os grandes bancos, expressa a continuidade da política mundial imperialista. No entanto, existe uma enorme contradição entre o aumento nas taxas de juros e a atual crise bancária. O Federal Reserve (Banco Central dos EUA) e o Banco Central Europeu mantiveram a tendência de alta dos juros neste mês de março, mesmo em meio à crise bancária. Vão seguir nesse caminho, mesmo no caso de novas falências?

Nada assegura que a crise nos bancos será estancada, mesmo que se reverta o aumento na taxa de juros. Existe um problema de fundo na base da economia, que é a queda na taxa de lucros das grandes empresas. As pirâmides financeiras estão sendo abaladas.

A queda na taxa de lucros aponta para a possibilidade de uma nova recessão no horizonte. Seria a terceira recessão mundial, depois das de 2007-2009 e de 2020. Mas trata- se de uma possibilidade, não de uma certeza.

A tendência mais provável é que as contradições se aprofundem, mesmo na ausência de uma recessão internacional. Já existem crises instaladas nos governos dos países semicoloniais pelo endividamento atual. Quais países vão explodir com essas taxas de juros? Quais as consequências na luta de classes, à semelhança do que já está ocorrendo na França?

Como dizíamos no início do artigo, parece que a crise recém começa.

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