O ano em que tudo aconteceu
Quando começamos a escrever o tradicional resumo do que aconteceu no mundo neste ano que está terminando, e como o refletimos na nossa página, surge uma primeira conclusão: vivemos numa época agitada e os anos anteriores foram intensos para a Humanidade. Mas este ano superou e não nos deu um momento de trégua: uma guerra na Europa, tensões crescentes no mundo, inúmeras greves operárias contra os efeitos da inflação persistente e os ataques dos governos, rebeliões e processos revolucionários em vários países do mundo e, como se não bastasse, um coronavírus que, por meio de suas mutações permanentes, veio para ficar.
Por: LIT-QI
Vamos começar com a questão do coronavírus. No início de 2022, a maioria dos governos do mundo “decretou” o “fim da pandemia”, ao mesmo tempo em que uma nova variante (Omicron) se espalhava com alto índice de contágios [1]. Esta política era a continuidade lógica da “normalização” da pandemia e da necessidade de retomar a plena atividade econômica e, com ela, os níveis “normais” de exploração dos trabalhadores e geração de lucros.
Depois a pandemia tornou-se “endemia” (doença crônica, mas estável no seu impacto) e o Covid uma “gripe forte”: uma nova doença crônica passou a fazer parte dos riscos e sofrimentos quotidianos dos trabalhadores com um elevado e persistente número de infeções [2]. A combinação da destruição acelerada da natureza realizada pelo capitalismo, a alta concentração populacional e sua proximidade com animais que são “pontes” de zoonoses (doenças que são transmitidas de animais para humanos) preparam, inevitavelmente, novas pandemias. Não é uma conclusão nossa: é o que dizem muitos especialistas e os próprios organismos internacionais, como a OMS [3].
No campo da economia mundial, em 2021, os governos burgueses e a imprensa capitalista anunciaram aos quatro ventos que, “agora sim”, começava a grande recuperação e crescimento econômico. Já em 2021, consideramos que, na realidade, se tratava de uma recuperação a baixa altitude, anémica, que ia travar mais ou menos rapidamente. Além disso, vinha marcada por uma alta inflação em todo o mundo. A realidade confirmou esse prognóstico. Ambos os componentes foram agravados pelas consequências da guerra na Ucrânia [4].
As greves operárias
Para além do debate sobre se já estamos em recessão nas principais economias do mundo ou se estamos nos aproximando dela, a verdade é que a inflação alta atinge duramente os salários e o padrão de vida dos trabalhadores em todo o mundo. Um golpe que dá continuidade aos recebidos durante a pandemia e, além disso, se soma aos ataques que representam os planos de ajuste implementados pelos governos e os efeitos das privatizações (totais ou parciais) e as reduções nos serviços públicos.
Diante desses ataques, 2022 nos mostrou a confirmação e o crescimento de uma tendência já anunciada no ano anterior: a crescente entrada da classe trabalhadora na luta, a partir de suas estruturas. A lista de greves em todo o mundo é muito longa e extensa [5]. Neste quadro, avaliamos que o epicentro se localizou nos trabalhadores europeus e, dentro deles, nos trabalhadores britânicos.
Na Grã-Bretanha, o gatilho foi o aumento dos ataques do governo aos serviços públicos, como transporte e saúde, com privatizações e reduções. O ponto de partida foi a greve dos ferroviários e, a partir daí, uma sucessão de outras greves que hoje são centradas nos trabalhadores dos hospitais e do sistema de saúde [6]. Há uma dinâmica de greve geral que as diferentes burocracias sindicais tentam evitar, de várias formas. A verdade é que esta onda de lutas se combina com uma crise dentro da burguesia devido às consequências do Brexit e esta combinação já provocou a queda do governo de Boris Johnson [7] e o desgaste muito rápido e saída de Elizabeth Truss [8].
O epicentro dessas greves e lutas operárias tem sido a Grã-Bretanha. Mas teve expressões em muitos países, mesmo naqueles que não vivem um processo geral de lutas. Por exemplo, no Brasil, houve uma luta muito dura dos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN (uma das principais empresas do país com milhares de operários) por um novo acordo salarial. Nesse ínterim, a luta se acirrou porque a empresa demitiu a comissão que os operários haviam escolhido para negociar (acabaram por ser reintegrados) [9].
O importante de todo o processo é que, nas eleições sindicais (também inclui outras fábricas da região), os trabalhadores escolheram uma nova direção baseada na vanguarda da luta. Deram assim um primeiro passo muito importante numa tarefa que se apresenta como urgente para a maioria dos trabalhadores do mundo: substituir a burocracia sindical (que trai abertamente as lutas ou as encabeça para isolá-las e detê-las) por novos dirigentes surgidos da luta. Nesse quadro, nossa seção no Brasil avançou em sua influência entre os trabalhadores da CSN e da cidade de Volta Redonda [10].
Esta série de greves é produzida com objetivos econômicos ou defensivos, mas têm um profundo significado político, porque aponta contra o cerne das políticas centrais das burguesias e dos governos: por um lado, reduzir salários e piorar as condições de trabalho e, por outro, privatizar ou reduzir serviços públicos, como transporte e saúde.
Fazendo um balanço de 2022 e suas perspectivas para o próximo ano, um elemento central para a LIT-QI é que nossa classe começa a lutar a partir de suas estruturas, com sua organização e seus métodos. Portanto, é uma tarefa central conectar e intervir neste processo para impulsionar seu avanço e desenvolvimento. Ao mesmo tempo, como vimos no exemplo da CSN, a classe operária é o centro onde queremos nos construir.
As rebeliões no mundo
Não só houve muitas greves, mas também várias rebeliões populares importantes, algumas das quais chegaram ao nível de verdadeiros processos revolucionários. Foi o caso do Sri Lanka (antigo Ceilão), um país insular, ao sul da Índia. Lá, uma onda persistente de mobilizações e greves obrigou o odiado presidente Gotabaya Rajapaksa (eleito há alguns anos por uma grande maioria do voto popular) a renunciar e fugir do país e deixou o regime político que liderou junto com seu irmão Mahinde severamente atingido [11]. Embora o Sri Lanka seja um país relativamente pequeno e pouco conhecido no mundo, tem um significado para os trotskistas porque décadas atrás uma organização dessa origem (o LSSP) teve grande peso nos processos de luta [12].
Um impacto internacional muito maior teve a rebelião ocorrida no Irã em resposta ao assassinato de uma jovem curda por um agente da chamada Polícia Moral, por “não usar o jihad corretamente” (lenço tradicional usado por mulheres muçulmanas). A resposta a este fato foi o estopim para a explosão de uma grande raiva acumulada contra a ditadura clerical dos aiatolás e se transformou em uma rebelião nacional contra o regime que continua, apesar da dura repressão [13]. A mobilização alcançou um primeiro triunfo porque o regime anunciou a dissolução da odiada Polícia Moral [14].
Já no campo dos “gigantes”, em novembro, foram inúmeras as lutas e mobilizações operárias e populares espalhadas por grande parte da China às quais, por sua importância internacional, dedicamos vários artigos [15]. O estopim foi o cansaço dos trabalhadores e do povo chinês contra as medidas sufocantes da política denominada “Covid 0”, aplicada pela ditadura capitalista do PC chinês como ferramenta repressiva a serviço da manutenção dos altíssimos níveis de exploração aos quais submete a classe trabalhadora de seu país. Mas esta foi apenas a fagulha que acendeu o “capim seco” da raiva acumulada contra este regime e a dinâmica do movimento aponta diretamente contra ele. Consciente desse perigo, a ditadura recuou e eliminou algumas das medidas mais irritantes. Nesse sentido, podemos considerar que a onda de rebeldia obteve um primeiro triunfo parcial [16].
América latina
Aqui vamos nos referir a três países. Em Cuba, no final de setembro, houve inúmeros protestos contra o apagão que afetou todo o país. Na verdade, foi um salto nos cortes parciais e rotativos que sofrem diariamente os trabalhadores e o povo cubano. Ao analisar os fatos, reiteramos nossa caracterização de que o regime castrista restabeleceu o capitalismo nos anos 1990 e abriu um processo de semicolonização do país pelo imperialismo, enquanto os altos quadros (principalmente do exército) se enriqueceram e se transformaram em uma nova burguesia. Ao longo do caminho, eles atacaram e destruíram muitas das conquistas obtidas após a revolução de 1959. Ao mesmo tempo, eles negam qualquer liberdade democrática real ao povo cubano: o regime castrista foi transformado em uma ditadura capitalista. Os protestos e mobilizações que acontecem (como os de 11J de 2021) e estes recentes são a resposta do povo cubano a esta realidade. Por isso, caracterizamos que são “lutas justas” e as apoiamos e defendemos contra aqueles que as definem como “contrarrevolucionárias” ou dizem que, entre elas e o regime castrista, “não têm lado”[17].
Outra questão muito importante foram as eleições no Brasil: uma ampla aliança encabeçada por Lula e o PT (que incluía até figuras da direita tradicional como Geraldo Alckmin) derrotou a candidatura do atual presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Em sua campanha, o PSTU sustentou que Lula não era o “mal menor”, mas uma das duas variantes promovidas pela burguesia brasileira e pelo imperialismo (inclusive a preferida) [18].
Ao contrário, a maioria da esquerda brasileira e mundial vê e comemora a vitória de Lula como uma nova expressão da “onda progressista” que está ocorrendo no continente na esteira das vitórias eleitorais de Pedro Castillo no Peru, Boric no Chile e Gustavo Petro na Colômbia. A realidade é que esses governos (que não enfrentam o imperialismo nem as burguesias nacionais) se desgastaram muito rapidamente, frustrando as expectativas que as massas depositavam neles [19].
O governo de Pedro Castillo já “faleceu”. Tomou posse com grande expectativa do campesinato pobre do interior e de muitos operários das grandes cidades. Mas rapidamente mostrou que não estava disposto a mudar nada nem apelar à mobilização operária e popular para avançar nesse caminho. Foi enfraquecendo cada vez mais e perdendo espaço diante de um Congresso dominado pela direita que o cercava e queria derrubá-lo.
Mais uma vez, não recorreu à mobilização operária e popular para se defender e tentou um golpe de Estado (fechando o Congresso com o apoio das Forças Armadas). Fracassou e foi destituído pelo Congresso que nomeou sua vice-presidente Dina Bularte como sua substituta para conseguir estabilizar um governo “normal” [20]. Mas não consegue: apesar da repressão, principalmente no interior, há importantes mobilizações de camponeses nas zonas rurais, que rejeitam o novo governo, e nas cidades, o movimento operário também se mobiliza. A direção deste processo nas cidades é a Confederação Geral de Trabalhadores do Peru – CGTP (influenciada pelo PC) e tenta levar a mobilização para uma solução negociada com o governo através da convocatória de novas eleições presidenciais. No quadro de uma profunda crise do regime político e com as massas nas ruas, nossa seção peruana (o PST) intervém com uma política revolucionária [21].
A guerra na Ucrânia
No contexto de um ano muito agitado, a guerra na Ucrânia é, sem dúvida, o acontecimento mais importante, desde fevereiro último. Uma nova guerra na Europa, mais de 75 anos após o fim do grande conflito que abalou o continente e quase 30 anos após as guerras geradas pela explosão da Federação Iugoslava.
Num conflito em que se expressam e combinam fatores muito complexos, a LIT-QI caracterizou que se tratava de uma guerra entre um país opressor/agressor (Rússia) contra um país oprimido/agredido (Ucrânia). Com base nessa caracterização e, segundo os critérios de Lênin e Trotsky, “tínhamos pátria”: apoiamos incondicionalmente a resistência ucraniana para derrotar a invasão russa, especialmente a resistência da classe operária que se localizava no centro dessa luta. Por se tratar de uma guerra, colocamos como questão central desse apoio a de garantir as armas para essa resistência. Acompanhamos passo a passo as mudanças na dinâmica da guerra [22].
Ao mesmo tempo, propusemos uma política para a classe trabalhadora e as massas ucranianas contra os ataques do governo Zelensky e da burguesia ucraniana, levando em conta a consciência das massas sobre o governo, a burguesia e os imperialismos. Com o mesmo método, também denunciamos e combatemos a OTAN e nos opusemos a qualquer possibilidade de sua entrada direta no conflito.
Toda esta política também se expressou em fortes debates públicos (com vários artigos para eles) com as organizações que apoiam a agressão de Putin ou aquelas que têm assumido a posição de “não ter lado” e mesmo com as que apoiam a resistência ucraniana, mas negam que tenham o direito de exigir armas de governos estrangeiros.
Não paramos nas palavras, essa política estava nas ruas: levamos grandes cartazes a várias mobilizações (como as de 8 de março, 1º de maio ou os acampamentos dos piqueteiros argentinos), realizamos atos unitários com outros partidos, impulsionamos resoluções e ações em sindicatos e outras organizações de massa, etc.
As mais destacadas destas ações são realizadas no âmbito da Rede Sindical Internacional que integramos juntamente com organizações sindicais da Europa. Por exemplo, em sua reunião realizada na França, em abril passado, para a qual levamos um ativista que representante do setor sindical operário ucraniano. Dessa reunião saiu o I Comboio de Solidariedade Operária para a Ucrânia, que chegou no país e reuniu-se com dirigentes sindicais mineiros que participam da resistência [23]. Em seguida, foi realizado um II Comboio [24] e, em dezembro, uma conferência online aberta com membros da Rede e sindicalistas da cidade industrial de Kryvyi Rih para avaliar o andamento da campanha e a situação da guerra [25]. Orgulhamo-nos da nossa posição perante a guerra na Ucrânia e, neste contexto, das ações concretas de apoio e solidariedade à resistência operária neste país que impulsionamos.
Alguns tópicos
No marco de um ano tão intenso, a LIT-QI completou 40 anos de fundação. Nossa página dedica um especial a este aniversário, composto por diversos artigos e vídeos que abordam nossa história, suas principais posições teóricas e políticas e debates com outras organizações que se reivindicam trotskistas [26]. Nestes artigos reafirmamos a nossa estratégia de tomada do poder pela classe operária a nível nacional como passo para a realização da revolução socialista internacional, que a classe operária é o nosso lugar privilegiado de construção e intervenção e que o nosso modelo de internacional é aquele dos primeiros anos da Terceira Internacional liderada por Lenin e Trotsky. Para encerrar esta campanha, será lançado em fevereiro um e-book com todos os artigos do especial.
O ano de 2022 termina com um evento que não tem origem na luta de classes, mas que chamou a atenção de muitos milhões no mundo: a Copa do Mundo no Catar. Abordamos esse evento denunciando seus muitos aspectos condenáveis: a grosseira negociação do futebol como show business com o qual este país foi eleito sede, as péssimas condições em que trabalhadores estrangeiros (essencialmente da Índia) construíram os estádios (e suas consequências de acidentes e mortes) e a dura opressão e repressão sofrida por mulheres e homossexuais no Catar[27]. Ao mesmo tempo, muitos de nossa equipe editorial, como milhões de trabalhadores em todo o mundo, seguiram com paixão o destino das seleções e se alegraram ou sofreram com elas.
Dissemos que a Copa do Mundo não é um fato da luta de classes, mas, inevitavelmente, foi atravessada por considerações políticas. Por exemplo, a seleção iraniana não cantou o hino de seu país antes da partida contra a Inglaterra, no que foi visto como uma demonstração de solidariedade às vítimas da repressão em seu país. O desenrolar do torneio foi determinando uma divisão de torcedores entre aquelas seleções que eram consideradas representantes dos países semicoloniais (Argentina e Marrocos) contra as “potências imperialistas europeias” (como Espanha e essencialmente França). Em muitos países do mundo, grande parte da comemoração pelo campeonato conquistado pela seleção argentina teve essa conotação.
Para fechar o círculo da relação entre futebol e política, ainda durante a própria Copa do Mundo, começou a crescer a campanha internacional contra a execução e pela liberdade de Amir Nasr-Azadani, jogador de futebol profissional iraniano, condenado à morte. por ter participado e apoiado os protestos contra o regime dos aiatolás. A LIT-QI apoia e impulsiona esta campanha internacional [28].
Queremos encerrar esta retrospectiva de 2022 com algumas considerações. Vimos que o ano nos mostrou uma profunda crise da “ordem mundial imperialista” através da guerra na Ucrânia, uma economia internacional que “não se destrava” e inúmeras lutas estruturais de nossa classe assim como diversas rebeliões que questionam regimes e governos ou os forçam a recuar (alguns, como no Sri Lanka, são derrubados). Consideramos muito possível que 2023 mantenha esta dinâmica ainda que o imperialismo e as burguesias nacionais e seus governos tentem derrotá-la ou, pelo menos, desviá-la.
A realidade nos mostrará qual dessas duas forças prevalecerá. Mas o que reafirmamos é nosso compromisso de apoiar e impulsionar essas lutas e, na medida de nossas possibilidades, intervir ativamente nelas. A nossa página está ao serviço desta tarefa e, nela, da construção da LIT-QI.
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[1] Omicron: onda final ou pandemia eterna? https://litci.org/pt/2022/01/24/omicron-onda-final-ou-pandemia-eterna/
[2] Infecções por Covid-19 seguem estáveis no mundo, segundo a OMS – El Comercio
[3] https://www.who.int/es/news-room/questions-and-answers/item/pandemic-prevention–preparedness-and-response-accord
[4] O impacto da guerra russo-ucraniana na economia mundial. https://litci.org/pt/2022/03/06/o-impacto-da-guerra-russo-ucraniana-na-economia-mundial/
[5] Veja, por exemplo, Inflation hits workers – International Workers League (litci.org)
[6] Entrevista | O processo de luta mais impressionante do momento está ocorrendo na Grã-Bretanha. https://litci.org/pt/2022/09/13/entrevista-na-gra-bretanha-esta-ocorrendo-o-processo-de-luta-mais-impressionante-do-momento/
[7] É hora de derrotar Boris Johnson e os conservadores nas ruas. https://litci.org/pt/2019/09/09/e-hora-de-derrotar-boris-johnson-e-os-conservadores-nas-ruas/
[8] https://www.dw.com/es/liz-truss-la-breve-hecatombe-pol%C3%ADtica-en-gran-breta%C3%B1a/a-63512788
[9] Veja operadoras da CSN se levantando contra superexploração e injustiças | PSTU e Vitória! Justiça determina reintegração de dois demitidos na CSN | PSTU
[10] PSTU realiza plenária de apresentação da festa para operadoras da CSN de Volta Redonda e seus familiares | PSTU
[11] Ver, entre outros artigos: https://litci.org/pt/2022/07/12/sri-lanka-uma-revolucao-em-curso-derruba-o-presidente-rajapaksa/ e https://litci.org/pt/2022/08/10/sri-lanka-quais-sao-as-perspectivas-depois-da-destituicao-do-presidente-rajapaksa/
[12] https://litci.org/pt/2022/07/27/sri-lanka-o-dia-em-que-os-trotskistas-paralisaram-o-pais/
[13] Veja, entre vários artigos, https://litci.org/pt/2022/12/06/declaracao-da-lit-qi-em-apoio-aos-protestos-no-ira/
[14] Ver https: https://litci.org/pt/2022/11/12/ira-sobre-a-rebeliao-contra-o-regime-dos-aiatolas/
[15] Ver https: https://litci.org/pt/category/china/
[16] https://litci.org/pt/2022/12/12/ditadura-chinesa-retrocede-em-sua-politica-de-combate-a-covid-19/
[17] https://litci.org/pt/2022/10/19/sobre-os-protestos-contra-o-apagao-em-cuba/
[18] Brasil | https://litci.org/pt/2022/09/28/nao-seja-refem-do-mal-menor-por-que-o-voto-util-e-na-vera-e-no-16/
[19] https://litci.org/pt/2022/11/11/governos-progressistas-uma-onda-que-nao-sera-tao-rosa/
[20] https://litci.org/pt/2022/12/09/o-fim-do-governo-castillo-e-a-necessidade-urgente-de-reconstruir-a-acao-independente-da-classe-trabalhadora/
[21] https://litci.org/pt/2022/12/10/peru-paralisacao-nacional-para-que-saiam-todos/
[22] Veja os numerosos artigos publicados nesta página em https://litci.org/pt/ucrania/ e a revista Correio Internacional No. 25 dedicada à guerra.
[23] https://litci.org/pt/2022/05/03/csp-conlutas-vai-a-ucrania-com-comboio-operario-internacional-e-realiza-entrega-de-donativos/
[24] https://litci.org/pt/2022/10/14/sindicalistas-realizam-o-segundo-comboio-de-ajuda-operaria-a-ucrania/
[25] https://litci.org/pt/2022/12/12/rede-sindical-promove-conferencia-com-sindicalistas-ucranianos-em-dezembro/
[26] https://litci.org/pt/40anos/
[27] Veja entre outros artigos: https://litci.org/pt/2022/11/20/copa-do-mundo-catar-2022-uma-ode-ao-luxo-e-ostentacao-manchada-com-sangue-humilde-e-trabalhador/
Catar 2022: um catalisador para a agitação social – Liga Internacional dos Trabalhadores (litci.org)
[28] https://litci.org/pt/2022/12/17/nao-a-execucao-de-amir-nasr-azadani/
Quando começamos a escrever o tradicional resumo do que aconteceu no mundo neste ano que está terminando, e como o refletimos na nossa página, surge uma primeira conclusão: vivemos numa época agitada e os anos anteriores foram intensos para a Humanidade. Mas este ano superou e não nos deu um momento de trégua: uma guerra na Europa, tensões crescentes no mundo, inúmeras greves operárias contra os efeitos da inflação persistente e os ataques dos governos, rebeliões e processos revolucionários em vários países do mundo e, como se não bastasse, um coronavírus que, por meio de suas mutações permanentes, veio para ficar.
Por: LIT-QI
Vamos começar com a questão do coronavírus. No início de 2022, a maioria dos governos do mundo “decretou” o “fim da pandemia”, ao mesmo tempo em que uma nova variante (Omicron) se espalhava com alto índice de contágios [1]. Esta política era a continuidade lógica da “normalização” da pandemia e da necessidade de retomar a plena atividade econômica e, com ela, os níveis “normais” de exploração dos trabalhadores e geração de lucros.
Depois a pandemia tornou-se “endemia” (doença crônica, mas estável no seu impacto) e o Covid uma “gripe forte”: uma nova doença crônica passou a fazer parte dos riscos e sofrimentos quotidianos dos trabalhadores com um elevado e persistente número de infeções [2]. A combinação da destruição acelerada da natureza realizada pelo capitalismo, a alta concentração populacional e sua proximidade com animais que são “pontes” de zoonoses (doenças que são transmitidas de animais para humanos) preparam, inevitavelmente, novas pandemias. Não é uma conclusão nossa: é o que dizem muitos especialistas e os próprios organismos internacionais, como a OMS [3].
No campo da economia mundial, em 2021, os governos burgueses e a imprensa capitalista anunciaram aos quatro ventos que, “agora sim”, começava a grande recuperação e crescimento econômico. Já em 2021, consideramos que, na realidade, se tratava de uma recuperação a baixa altitude, anémica, que ia travar mais ou menos rapidamente. Além disso, vinha marcada por uma alta inflação em todo o mundo. A realidade confirmou esse prognóstico. Ambos os componentes foram agravados pelas consequências da guerra na Ucrânia [4].
As greves operárias
Foto: Protestos na Grã-Bretanha
Para além do debate sobre se já estamos em recessão nas principais economias do mundo ou se estamos nos aproximando dela, a verdade é que a inflação alta atinge duramente os salários e o padrão de vida dos trabalhadores em todo o mundo. Um golpe que dá continuidade aos recebidos durante a pandemia e, além disso, se soma aos ataques que representam os planos de ajuste implementados pelos governos e os efeitos das privatizações (totais ou parciais) e as reduções nos serviços públicos.
Diante desses ataques, 2022 nos mostrou a confirmação e o crescimento de uma tendência já anunciada no ano anterior: a crescente entrada da classe trabalhadora na luta, a partir de suas estruturas. A lista de greves em todo o mundo é muito longa e extensa [5]. Neste quadro, avaliamos que o epicentro se localizou nos trabalhadores europeus e, dentro deles, nos trabalhadores britânicos.
Na Grã-Bretanha, o gatilho foi o aumento dos ataques do governo aos serviços públicos, como transporte e saúde, com privatizações e reduções. O ponto de partida foi a greve dos ferroviários e, a partir daí, uma sucessão de outras greves que hoje são centradas nos trabalhadores dos hospitais e do sistema de saúde [6]. Há uma dinâmica de greve geral que as diferentes burocracias sindicais tentam evitar, de várias formas. A verdade é que esta onda de lutas se combina com uma crise dentro da burguesia devido às consequências do Brexit e esta combinação já provocou a queda do governo de Boris Johnson [7] e o desgaste muito rápido e saída de Elizabeth Truss [8].
O epicentro dessas greves e lutas operárias tem sido a Grã-Bretanha. Mas teve expressões em muitos países, mesmo naqueles que não vivem um processo geral de lutas. Por exemplo, no Brasil, houve uma luta muito dura dos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN (uma das principais empresas do país com milhares de operários) por um novo acordo salarial. Nesse ínterim, a luta se acirrou porque a empresa demitiu a comissão que os operários haviam escolhido para negociar (acabaram por ser reintegrados) [9].
O importante de todo o processo é que, nas eleições sindicais (também inclui outras fábricas da região), os trabalhadores escolheram uma nova direção baseada na vanguarda da luta. Deram assim um primeiro passo muito importante numa tarefa que se apresenta como urgente para a maioria dos trabalhadores do mundo: substituir a burocracia sindical (que trai abertamente as lutas ou as encabeça para isolá-las e detê-las) por novos dirigentes surgidos da luta. Nesse quadro, nossa seção no Brasil avançou em sua influência entre os trabalhadores da CSN e da cidade de Volta Redonda [10].
Esta série de greves é produzida com objetivos econômicos ou defensivos, mas têm um profundo significado político, porque aponta contra o cerne das políticas centrais das burguesias e dos governos: por um lado, reduzir salários e piorar as condições de trabalho e, por outro, privatizar ou reduzir serviços públicos, como transporte e saúde.
Fazendo um balanço de 2022 e suas perspectivas para o próximo ano, um elemento central para a LIT-QI é que nossa classe começa a lutar a partir de suas estruturas, com sua organização e seus métodos. Portanto, é uma tarefa central conectar e intervir neste processo para impulsionar seu avanço e desenvolvimento. Ao mesmo tempo, como vimos no exemplo da CSN, a classe operária é o centro onde queremos nos construir.
As rebeliões no mundo
Foto: Protestos no Cazaquistão
Não só houve muitas greves, mas também várias rebeliões populares importantes, algumas das quais chegaram ao nível de verdadeiros processos revolucionários. Foi o caso do Sri Lanka (antigo Ceilão), um país insular, ao sul da Índia. Lá, uma onda persistente de mobilizações e greves obrigou o odiado presidente Gotabaya Rajapaksa (eleito há alguns anos por uma grande maioria do voto popular) a renunciar e fugir do país e deixou o regime político que liderou junto com seu irmão Mahinde severamente atingido [11]. Embora o Sri Lanka seja um país relativamente pequeno e pouco conhecido no mundo, tem um significado para os trotskistas porque décadas atrás uma organização dessa origem (o LSSP) teve grande peso nos processos de luta [12].
Um impacto internacional muito maior teve a rebelião ocorrida no Irã em resposta ao assassinato de uma jovem curda por um agente da chamada Polícia Moral, por “não usar o jihad corretamente” (lenço tradicional usado por mulheres muçulmanas). A resposta a este fato foi o estopim para a explosão de uma grande raiva acumulada contra a ditadura clerical dos aiatolás e se transformou em uma rebelião nacional contra o regime que continua, apesar da dura repressão [13]. A mobilização alcançou um primeiro triunfo porque o regime anunciou a dissolução da odiada Polícia Moral [14].
Já no campo dos “gigantes”, em novembro, foram inúmeras as lutas e mobilizações operárias e populares espalhadas por grande parte da China às quais, por sua importância internacional, dedicamos vários artigos [15]. O estopim foi o cansaço dos trabalhadores e do povo chinês contra as medidas sufocantes da política denominada “Covid 0”, aplicada pela ditadura capitalista do PC chinês como ferramenta repressiva a serviço da manutenção dos altíssimos níveis de exploração aos quais submete a classe trabalhadora de seu país. Mas esta foi apenas a fagulha que acendeu o “capim seco” da raiva acumulada contra este regime e a dinâmica do movimento aponta diretamente contra ele. Consciente desse perigo, a ditadura recuou e eliminou algumas das medidas mais irritantes. Nesse sentido, podemos considerar que a onda de rebeldia obteve um primeiro triunfo parcial [16].
América latina
Foto: Protestos no Peru
Aqui vamos nos referir a três países. Em Cuba, no final de setembro, houve inúmeros protestos contra o apagão que afetou todo o país. Na verdade, foi um salto nos cortes parciais e rotativos que sofrem diariamente os trabalhadores e o povo cubano. Ao analisar os fatos, reiteramos nossa caracterização de que o regime castrista restabeleceu o capitalismo nos anos 1990 e abriu um processo de semicolonização do país pelo imperialismo, enquanto os altos quadros (principalmente do exército) se enriqueceram e se transformaram em uma nova burguesia. Ao longo do caminho, eles atacaram e destruíram muitas das conquistas obtidas após a revolução de 1959. Ao mesmo tempo, eles negam qualquer liberdade democrática real ao povo cubano: o regime castrista foi transformado em uma ditadura capitalista. Os protestos e mobilizações que acontecem (como os de 11J de 2021) e estes recentes são a resposta do povo cubano a esta realidade. Por isso, caracterizamos que são “lutas justas” e as apoiamos e defendemos contra aqueles que as definem como “contrarrevolucionárias” ou dizem que, entre elas e o regime castrista, “não têm lado”[17].
Outra questão muito importante foram as eleições no Brasil: uma ampla aliança encabeçada por Lula e o PT (que incluía até figuras da direita tradicional como Geraldo Alckmin) derrotou a candidatura do atual presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Em sua campanha, o PSTU sustentou que Lula não era o “mal menor”, mas uma das duas variantes promovidas pela burguesia brasileira e pelo imperialismo (inclusive a preferida) [18].
Ao contrário, a maioria da esquerda brasileira e mundial vê e comemora a vitória de Lula como uma nova expressão da “onda progressista” que está ocorrendo no continente na esteira das vitórias eleitorais de Pedro Castillo no Peru, Boric no Chile e Gustavo Petro na Colômbia. A realidade é que esses governos (que não enfrentam o imperialismo nem as burguesias nacionais) se desgastaram muito rapidamente, frustrando as expectativas que as massas depositavam neles [19].
O governo de Pedro Castillo já “faleceu”. Tomou posse com grande expectativa do campesinato pobre do interior e de muitos operários das grandes cidades. Mas rapidamente mostrou que não estava disposto a mudar nada nem apelar à mobilização operária e popular para avançar nesse caminho. Foi enfraquecendo cada vez mais e perdendo espaço diante de um Congresso dominado pela direita que o cercava e queria derrubá-lo.
Mais uma vez, não recorreu à mobilização operária e popular para se defender e tentou um golpe de Estado (fechando o Congresso com o apoio das Forças Armadas). Fracassou e foi destituído pelo Congresso que nomeou sua vice-presidente Dina Bularte como sua substituta para conseguir estabilizar um governo “normal” [20]. Mas não consegue: apesar da repressão, principalmente no interior, há importantes mobilizações de camponeses nas zonas rurais, que rejeitam o novo governo, e nas cidades, o movimento operário também se mobiliza. A direção deste processo nas cidades é a Confederação Geral de Trabalhadores do Peru – CGTP (influenciada pelo PC) e tenta levar a mobilização para uma solução negociada com o governo através da convocatória de novas eleições presidenciais. No quadro de uma profunda crise do regime político e com as massas nas ruas, nossa seção peruana (o PST) intervém com uma política revolucionária [21].
A guerra na Ucrânia
No contexto de um ano muito agitado, a guerra na Ucrânia é, sem dúvida, o acontecimento mais importante, desde fevereiro último. Uma nova guerra na Europa, mais de 75 anos após o fim do grande conflito que abalou o continente e quase 30 anos após as guerras geradas pela explosão da Federação Iugoslava.
Num conflito em que se expressam e combinam fatores muito complexos, a LIT-QI caracterizou que se tratava de uma guerra entre um país opressor/agressor (Rússia) contra um país oprimido/agredido (Ucrânia). Com base nessa caracterização e, segundo os critérios de Lênin e Trotsky, “tínhamos pátria”: apoiamos incondicionalmente a resistência ucraniana para derrotar a invasão russa, especialmente a resistência da classe operária que se localizava no centro dessa luta. Por se tratar de uma guerra, colocamos como questão central desse apoio a de garantir as armas para essa resistência. Acompanhamos passo a passo as mudanças na dinâmica da guerra [22].
Ao mesmo tempo, propusemos uma política para a classe trabalhadora e as massas ucranianas contra os ataques do governo Zelensky e da burguesia ucraniana, levando em conta a consciência das massas sobre o governo, a burguesia e os imperialismos. Com o mesmo método, também denunciamos e combatemos a OTAN e nos opusemos a qualquer possibilidade de sua entrada direta no conflito.
Toda esta política também se expressou em fortes debates públicos (com vários artigos para eles) com as organizações que apoiam a agressão de Putin ou aquelas que têm assumido a posição de “não ter lado” e mesmo com as que apoiam a resistência ucraniana, mas negam que tenham o direito de exigir armas de governos estrangeiros.
Não paramos nas palavras, essa política estava nas ruas: levamos grandes cartazes a várias mobilizações (como as de 8 de março, 1º de maio ou os acampamentos dos piqueteiros argentinos), realizamos atos unitários com outros partidos, impulsionamos resoluções e ações em sindicatos e outras organizações de massa, etc.
As mais destacadas destas ações são realizadas no âmbito da Rede Sindical Internacional que integramos juntamente com organizações sindicais da Europa. Por exemplo, em sua reunião realizada na França, em abril passado, para a qual levamos um ativista que representante do setor sindical operário ucraniano. Dessa reunião saiu o I Comboio de Solidariedade Operária para a Ucrânia, que chegou no país e reuniu-se com dirigentes sindicais mineiros que participam da resistência [23]. Em seguida, foi realizado um II Comboio [24] e, em dezembro, uma conferência online aberta com membros da Rede e sindicalistas da cidade industrial de Kryvyi Rih para avaliar o andamento da campanha e a situação da guerra [25]. Orgulhamo-nos da nossa posição perante a guerra na Ucrânia e, neste contexto, das ações concretas de apoio e solidariedade à resistência operária neste país que impulsionamos.
Alguns tópicos
No marco de um ano tão intenso, a LIT-QI completou 40 anos de fundação. Nossa página dedica um especial a este aniversário, composto por diversos artigos e vídeos que abordam nossa história, suas principais posições teóricas e políticas e debates com outras organizações que se reivindicam trotskistas [26]. Nestes artigos reafirmamos a nossa estratégia de tomada do poder pela classe operária a nível nacional como passo para a realização da revolução socialista internacional, que a classe operária é o nosso lugar privilegiado de construção e intervenção e que o nosso modelo de internacional é aquele dos primeiros anos da Terceira Internacional liderada por Lenin e Trotsky. Para encerrar esta campanha, será lançado em fevereiro um e-book com todos os artigos do especial.
O ano de 2022 termina com um evento que não tem origem na luta de classes, mas que chamou a atenção de muitos milhões no mundo: a Copa do Mundo no Catar. Abordamos esse evento denunciando seus muitos aspectos condenáveis: a grosseira negociação do futebol como show business com o qual este país foi eleito sede, as péssimas condições em que trabalhadores estrangeiros (essencialmente da Índia) construíram os estádios (e suas consequências de acidentes e mortes) e a dura opressão e repressão sofrida por mulheres e homossexuais no Catar[27]. Ao mesmo tempo, muitos de nossa equipe editorial, como milhões de trabalhadores em todo o mundo, seguiram com paixão o destino das seleções e se alegraram ou sofreram com elas.
Dissemos que a Copa do Mundo não é um fato da luta de classes, mas, inevitavelmente, foi atravessada por considerações políticas. Por exemplo, a seleção iraniana não cantou o hino de seu país antes da partida contra a Inglaterra, no que foi visto como uma demonstração de solidariedade às vítimas da repressão em seu país. O desenrolar do torneio foi determinando uma divisão de torcedores entre aquelas seleções que eram consideradas representantes dos países semicoloniais (Argentina e Marrocos) contra as “potências imperialistas europeias” (como Espanha e essencialmente França). Em muitos países do mundo, grande parte da comemoração pelo campeonato conquistado pela seleção argentina teve essa conotação.
Para fechar o círculo da relação entre futebol e política, ainda durante a própria Copa do Mundo, começou a crescer a campanha internacional contra a execução e pela liberdade de Amir Nasr-Azadani, jogador de futebol profissional iraniano, condenado à morte. por ter participado e apoiado os protestos contra o regime dos aiatolás. A LIT-QI apoia e impulsiona esta campanha internacional [28].
Queremos encerrar esta retrospectiva de 2022 com algumas considerações. Vimos que o ano nos mostrou uma profunda crise da “ordem mundial imperialista” através da guerra na Ucrânia, uma economia internacional que “não se destrava” e inúmeras lutas estruturais de nossa classe assim como diversas rebeliões que questionam regimes e governos ou os forçam a recuar (alguns, como no Sri Lanka, são derrubados). Consideramos muito possível que 2023 mantenha esta dinâmica ainda que o imperialismo e as burguesias nacionais e seus governos tentem derrotá-la ou, pelo menos, desviá-la.
A realidade nos mostrará qual dessas duas forças prevalecerá. Mas o que reafirmamos é nosso compromisso de apoiar e impulsionar essas lutas e, na medida de nossas possibilidades, intervir ativamente nelas. A nossa página está ao serviço desta tarefa e, nela, da construção da LIT-QI.
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[1] Omicron: onda final ou pandemia eterna? https://litci.org/pt/2022/01/24/omicron-onda-final-ou-pandemia-eterna/
[2] Infecções por Covid-19 seguem estáveis no mundo, segundo a OMS – El Comercio
[3] https://www.who.int/es/news-room/questions-and-answers/item/pandemic-prevention–preparedness-and-response-accord
[4] O impacto da guerra russo-ucraniana na economia mundial. https://litci.org/pt/2022/03/06/o-impacto-da-guerra-russo-ucraniana-na-economia-mundial/
[5] Veja, por exemplo, Inflation hits workers – International Workers League (litci.org)
[6] Entrevista | O processo de luta mais impressionante do momento está ocorrendo na Grã-Bretanha. https://litci.org/pt/2022/09/13/entrevista-na-gra-bretanha-esta-ocorrendo-o-processo-de-luta-mais-impressionante-do-momento/
[7] É hora de derrotar Boris Johnson e os conservadores nas ruas. https://litci.org/pt/2019/09/09/e-hora-de-derrotar-boris-johnson-e-os-conservadores-nas-ruas/
[8] https://www.dw.com/es/liz-truss-la-breve-hecatombe-pol%C3%ADtica-en-gran-breta%C3%B1a/a-63512788
[9] Veja operadoras da CSN se levantando contra superexploração e injustiças | PSTU e Vitória! Justiça determina reintegração de dois demitidos na CSN | PSTU
[10] PSTU realiza plenária de apresentação da festa para operadoras da CSN de Volta Redonda e seus familiares | PSTU
[11] Ver, entre outros artigos: https://litci.org/pt/2022/07/12/sri-lanka-uma-revolucao-em-curso-derruba-o-presidente-rajapaksa/ e https://litci.org/pt/2022/08/10/sri-lanka-quais-sao-as-perspectivas-depois-da-destituicao-do-presidente-rajapaksa/
[12] https://litci.org/pt/2022/07/27/sri-lanka-o-dia-em-que-os-trotskistas-paralisaram-o-pais/
[13] Veja, entre vários artigos, https://litci.org/pt/2022/12/06/declaracao-da-lit-qi-em-apoio-aos-protestos-no-ira/
[14] Ver https: https://litci.org/pt/2022/11/12/ira-sobre-a-rebeliao-contra-o-regime-dos-aiatolas/
[15] Ver https: https://litci.org/pt/category/china/
[16] https://litci.org/pt/2022/12/12/ditadura-chinesa-retrocede-em-sua-politica-de-combate-a-covid-19/
[17] https://litci.org/pt/2022/10/19/sobre-os-protestos-contra-o-apagao-em-cuba/
[18] Brasil | https://litci.org/pt/2022/09/28/nao-seja-refem-do-mal-menor-por-que-o-voto-util-e-na-vera-e-no-16/
[19] https://litci.org/pt/2022/11/11/governos-progressistas-uma-onda-que-nao-sera-tao-rosa/
[20] https://litci.org/pt/2022/12/09/o-fim-do-governo-castillo-e-a-necessidade-urgente-de-reconstruir-a-acao-independente-da-classe-trabalhadora/
[21] https://litci.org/pt/2022/12/10/peru-paralisacao-nacional-para-que-saiam-todos/
[22] Veja os numerosos artigos publicados nesta página em https://litci.org/pt/ucrania/ e a revista Correio Internacional No. 25 dedicada à guerra.
[23] https://litci.org/pt/2022/05/03/csp-conlutas-vai-a-ucrania-com-comboio-operario-internacional-e-realiza-entrega-de-donativos/
[24] https://litci.org/pt/2022/10/14/sindicalistas-realizam-o-segundo-comboio-de-ajuda-operaria-a-ucrania/
[25] https://litci.org/pt/2022/12/12/rede-sindical-promove-conferencia-com-sindicalistas-ucranianos-em-dezembro/
[26] https://litci.org/pt/40anos/
[27] Veja entre outros artigos: https://litci.org/pt/2022/11/20/copa-do-mundo-catar-2022-uma-ode-ao-luxo-e-ostentacao-manchada-com-sangue-humilde-e-trabalhador/
Catar 2022: um catalisador para a agitação social – Liga Internacional dos Trabalhadores (litci.org)
[28] https://litci.org/pt/2022/12/17/nao-a-execucao-de-amir-nasr-azadani/
O ano em que tudo aconteceu
Quando começamos a escrever o tradicional resumo do que aconteceu no mundo neste ano que está terminando, e como o refletimos na nossa página, surge uma primeira conclusão: vivemos numa época agitada e os anos anteriores foram intensos para a Humanidade. Mas este ano superou e não nos deu um momento de trégua: uma guerra na Europa, tensões crescentes no mundo, inúmeras greves operárias contra os efeitos da inflação persistente e os ataques dos governos, rebeliões e processos revolucionários em vários países do mundo e, como se não bastasse, um coronavírus que, por meio de suas mutações permanentes, veio para ficar.
Por: LIT-QI
Vamos começar com a questão do coronavírus. No início de 2022, a maioria dos governos do mundo “decretou” o “fim da pandemia”, ao mesmo tempo em que uma nova variante (Omicron) se espalhava com alto índice de contágios [1]. Esta política era a continuidade lógica da “normalização” da pandemia e da necessidade de retomar a plena atividade econômica e, com ela, os níveis “normais” de exploração dos trabalhadores e geração de lucros.
Depois a pandemia tornou-se “endemia” (doença crônica, mas estável no seu impacto) e o Covid uma “gripe forte”: uma nova doença crônica passou a fazer parte dos riscos e sofrimentos quotidianos dos trabalhadores com um elevado e persistente número de infeções [2]. A combinação da destruição acelerada da natureza realizada pelo capitalismo, a alta concentração populacional e sua proximidade com animais que são “pontes” de zoonoses (doenças que são transmitidas de animais para humanos) preparam, inevitavelmente, novas pandemias. Não é uma conclusão nossa: é o que dizem muitos especialistas e os próprios organismos internacionais, como a OMS [3].
No campo da economia mundial, em 2021, os governos burgueses e a imprensa capitalista anunciaram aos quatro ventos que, “agora sim”, começava a grande recuperação e crescimento econômico. Já em 2021, consideramos que, na realidade, se tratava de uma recuperação a baixa altitude, anémica, que ia travar mais ou menos rapidamente. Além disso, vinha marcada por uma alta inflação em todo o mundo. A realidade confirmou esse prognóstico. Ambos os componentes foram agravados pelas consequências da guerra na Ucrânia [4].
As greves operárias
Foto: Protestos na Grã-Bretanha
Para além do debate sobre se já estamos em recessão nas principais economias do mundo ou se estamos nos aproximando dela, a verdade é que a inflação alta atinge duramente os salários e o padrão de vida dos trabalhadores em todo o mundo. Um golpe que dá continuidade aos recebidos durante a pandemia e, além disso, se soma aos ataques que representam os planos de ajuste implementados pelos governos e os efeitos das privatizações (totais ou parciais) e as reduções nos serviços públicos.
Diante desses ataques, 2022 nos mostrou a confirmação e o crescimento de uma tendência já anunciada no ano anterior: a crescente entrada da classe trabalhadora na luta, a partir de suas estruturas. A lista de greves em todo o mundo é muito longa e extensa [5]. Neste quadro, avaliamos que o epicentro se localizou nos trabalhadores europeus e, dentro deles, nos trabalhadores britânicos.
Na Grã-Bretanha, o gatilho foi o aumento dos ataques do governo aos serviços públicos, como transporte e saúde, com privatizações e reduções. O ponto de partida foi a greve dos ferroviários e, a partir daí, uma sucessão de outras greves que hoje são centradas nos trabalhadores dos hospitais e do sistema de saúde [6]. Há uma dinâmica de greve geral que as diferentes burocracias sindicais tentam evitar, de várias formas. A verdade é que esta onda de lutas se combina com uma crise dentro da burguesia devido às consequências do Brexit e esta combinação já provocou a queda do governo de Boris Johnson [7] e o desgaste muito rápido e saída de Elizabeth Truss [8].
O epicentro dessas greves e lutas operárias tem sido a Grã-Bretanha. Mas teve expressões em muitos países, mesmo naqueles que não vivem um processo geral de lutas. Por exemplo, no Brasil, houve uma luta muito dura dos trabalhadores da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN (uma das principais empresas do país com milhares de operários) por um novo acordo salarial. Nesse ínterim, a luta se acirrou porque a empresa demitiu a comissão que os operários haviam escolhido para negociar (acabaram por ser reintegrados) [9].
O importante de todo o processo é que, nas eleições sindicais (também inclui outras fábricas da região), os trabalhadores escolheram uma nova direção baseada na vanguarda da luta. Deram assim um primeiro passo muito importante numa tarefa que se apresenta como urgente para a maioria dos trabalhadores do mundo: substituir a burocracia sindical (que trai abertamente as lutas ou as encabeça para isolá-las e detê-las) por novos dirigentes surgidos da luta. Nesse quadro, nossa seção no Brasil avançou em sua influência entre os trabalhadores da CSN e da cidade de Volta Redonda [10].
Esta série de greves é produzida com objetivos econômicos ou defensivos, mas têm um profundo significado político, porque aponta contra o cerne das políticas centrais das burguesias e dos governos: por um lado, reduzir salários e piorar as condições de trabalho e, por outro, privatizar ou reduzir serviços públicos, como transporte e saúde.
Fazendo um balanço de 2022 e suas perspectivas para o próximo ano, um elemento central para a LIT-QI é que nossa classe começa a lutar a partir de suas estruturas, com sua organização e seus métodos. Portanto, é uma tarefa central conectar e intervir neste processo para impulsionar seu avanço e desenvolvimento. Ao mesmo tempo, como vimos no exemplo da CSN, a classe operária é o centro onde queremos nos construir.
As rebeliões no mundo
Foto: Protestos no Cazaquistão
Não só houve muitas greves, mas também várias rebeliões populares importantes, algumas das quais chegaram ao nível de verdadeiros processos revolucionários. Foi o caso do Sri Lanka (antigo Ceilão), um país insular, ao sul da Índia. Lá, uma onda persistente de mobilizações e greves obrigou o odiado presidente Gotabaya Rajapaksa (eleito há alguns anos por uma grande maioria do voto popular) a renunciar e fugir do país e deixou o regime político que liderou junto com seu irmão Mahinde severamente atingido [11]. Embora o Sri Lanka seja um país relativamente pequeno e pouco conhecido no mundo, tem um significado para os trotskistas porque décadas atrás uma organização dessa origem (o LSSP) teve grande peso nos processos de luta [12].
Um impacto internacional muito maior teve a rebelião ocorrida no Irã em resposta ao assassinato de uma jovem curda por um agente da chamada Polícia Moral, por “não usar o jihad corretamente” (lenço tradicional usado por mulheres muçulmanas). A resposta a este fato foi o estopim para a explosão de uma grande raiva acumulada contra a ditadura clerical dos aiatolás e se transformou em uma rebelião nacional contra o regime que continua, apesar da dura repressão [13]. A mobilização alcançou um primeiro triunfo porque o regime anunciou a dissolução da odiada Polícia Moral [14].
Já no campo dos “gigantes”, em novembro, foram inúmeras as lutas e mobilizações operárias e populares espalhadas por grande parte da China às quais, por sua importância internacional, dedicamos vários artigos [15]. O estopim foi o cansaço dos trabalhadores e do povo chinês contra as medidas sufocantes da política denominada “Covid 0”, aplicada pela ditadura capitalista do PC chinês como ferramenta repressiva a serviço da manutenção dos altíssimos níveis de exploração aos quais submete a classe trabalhadora de seu país. Mas esta foi apenas a fagulha que acendeu o “capim seco” da raiva acumulada contra este regime e a dinâmica do movimento aponta diretamente contra ele. Consciente desse perigo, a ditadura recuou e eliminou algumas das medidas mais irritantes. Nesse sentido, podemos considerar que a onda de rebeldia obteve um primeiro triunfo parcial [16].
América latina
Foto: Protestos no Peru
Aqui vamos nos referir a três países. Em Cuba, no final de setembro, houve inúmeros protestos contra o apagão que afetou todo o país. Na verdade, foi um salto nos cortes parciais e rotativos que sofrem diariamente os trabalhadores e o povo cubano. Ao analisar os fatos, reiteramos nossa caracterização de que o regime castrista restabeleceu o capitalismo nos anos 1990 e abriu um processo de semicolonização do país pelo imperialismo, enquanto os altos quadros (principalmente do exército) se enriqueceram e se transformaram em uma nova burguesia. Ao longo do caminho, eles atacaram e destruíram muitas das conquistas obtidas após a revolução de 1959. Ao mesmo tempo, eles negam qualquer liberdade democrática real ao povo cubano: o regime castrista foi transformado em uma ditadura capitalista. Os protestos e mobilizações que acontecem (como os de 11J de 2021) e estes recentes são a resposta do povo cubano a esta realidade. Por isso, caracterizamos que são “lutas justas” e as apoiamos e defendemos contra aqueles que as definem como “contrarrevolucionárias” ou dizem que, entre elas e o regime castrista, “não têm lado”[17].
Outra questão muito importante foram as eleições no Brasil: uma ampla aliança encabeçada por Lula e o PT (que incluía até figuras da direita tradicional como Geraldo Alckmin) derrotou a candidatura do atual presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Em sua campanha, o PSTU sustentou que Lula não era o “mal menor”, mas uma das duas variantes promovidas pela burguesia brasileira e pelo imperialismo (inclusive a preferida) [18].
Ao contrário, a maioria da esquerda brasileira e mundial vê e comemora a vitória de Lula como uma nova expressão da “onda progressista” que está ocorrendo no continente na esteira das vitórias eleitorais de Pedro Castillo no Peru, Boric no Chile e Gustavo Petro na Colômbia. A realidade é que esses governos (que não enfrentam o imperialismo nem as burguesias nacionais) se desgastaram muito rapidamente, frustrando as expectativas que as massas depositavam neles [19].
O governo de Pedro Castillo já “faleceu”. Tomou posse com grande expectativa do campesinato pobre do interior e de muitos operários das grandes cidades. Mas rapidamente mostrou que não estava disposto a mudar nada nem apelar à mobilização operária e popular para avançar nesse caminho. Foi enfraquecendo cada vez mais e perdendo espaço diante de um Congresso dominado pela direita que o cercava e queria derrubá-lo.
Mais uma vez, não recorreu à mobilização operária e popular para se defender e tentou um golpe de Estado (fechando o Congresso com o apoio das Forças Armadas). Fracassou e foi destituído pelo Congresso que nomeou sua vice-presidente Dina Bularte como sua substituta para conseguir estabilizar um governo “normal” [20]. Mas não consegue: apesar da repressão, principalmente no interior, há importantes mobilizações de camponeses nas zonas rurais, que rejeitam o novo governo, e nas cidades, o movimento operário também se mobiliza. A direção deste processo nas cidades é a Confederação Geral de Trabalhadores do Peru – CGTP (influenciada pelo PC) e tenta levar a mobilização para uma solução negociada com o governo através da convocatória de novas eleições presidenciais. No quadro de uma profunda crise do regime político e com as massas nas ruas, nossa seção peruana (o PST) intervém com uma política revolucionária [21].
A guerra na Ucrânia
No contexto de um ano muito agitado, a guerra na Ucrânia é, sem dúvida, o acontecimento mais importante, desde fevereiro último. Uma nova guerra na Europa, mais de 75 anos após o fim do grande conflito que abalou o continente e quase 30 anos após as guerras geradas pela explosão da Federação Iugoslava.
Num conflito em que se expressam e combinam fatores muito complexos, a LIT-QI caracterizou que se tratava de uma guerra entre um país opressor/agressor (Rússia) contra um país oprimido/agredido (Ucrânia). Com base nessa caracterização e, segundo os critérios de Lênin e Trotsky, “tínhamos pátria”: apoiamos incondicionalmente a resistência ucraniana para derrotar a invasão russa, especialmente a resistência da classe operária que se localizava no centro dessa luta. Por se tratar de uma guerra, colocamos como questão central desse apoio a de garantir as armas para essa resistência. Acompanhamos passo a passo as mudanças na dinâmica da guerra [22].
Ao mesmo tempo, propusemos uma política para a classe trabalhadora e as massas ucranianas contra os ataques do governo Zelensky e da burguesia ucraniana, levando em conta a consciência das massas sobre o governo, a burguesia e os imperialismos. Com o mesmo método, também denunciamos e combatemos a OTAN e nos opusemos a qualquer possibilidade de sua entrada direta no conflito.
Toda esta política também se expressou em fortes debates públicos (com vários artigos para eles) com as organizações que apoiam a agressão de Putin ou aquelas que têm assumido a posição de “não ter lado” e mesmo com as que apoiam a resistência ucraniana, mas negam que tenham o direito de exigir armas de governos estrangeiros.
Não paramos nas palavras, essa política estava nas ruas: levamos grandes cartazes a várias mobilizações (como as de 8 de março, 1º de maio ou os acampamentos dos piqueteiros argentinos), realizamos atos unitários com outros partidos, impulsionamos resoluções e ações em sindicatos e outras organizações de massa, etc.
As mais destacadas destas ações são realizadas no âmbito da Rede Sindical Internacional que integramos juntamente com organizações sindicais da Europa. Por exemplo, em sua reunião realizada na França, em abril passado, para a qual levamos um ativista que representante do setor sindical operário ucraniano. Dessa reunião saiu o I Comboio de Solidariedade Operária para a Ucrânia, que chegou no país e reuniu-se com dirigentes sindicais mineiros que participam da resistência [23]. Em seguida, foi realizado um II Comboio [24] e, em dezembro, uma conferência online aberta com membros da Rede e sindicalistas da cidade industrial de Kryvyi Rih para avaliar o andamento da campanha e a situação da guerra [25]. Orgulhamo-nos da nossa posição perante a guerra na Ucrânia e, neste contexto, das ações concretas de apoio e solidariedade à resistência operária neste país que impulsionamos.
Alguns tópicos
No marco de um ano tão intenso, a LIT-QI completou 40 anos de fundação. Nossa página dedica um especial a este aniversário, composto por diversos artigos e vídeos que abordam nossa história, suas principais posições teóricas e políticas e debates com outras organizações que se reivindicam trotskistas [26]. Nestes artigos reafirmamos a nossa estratégia de tomada do poder pela classe operária a nível nacional como passo para a realização da revolução socialista internacional, que a classe operária é o nosso lugar privilegiado de construção e intervenção e que o nosso modelo de internacional é aquele dos primeiros anos da Terceira Internacional liderada por Lenin e Trotsky. Para encerrar esta campanha, será lançado em fevereiro um e-book com todos os artigos do especial.
O ano de 2022 termina com um evento que não tem origem na luta de classes, mas que chamou a atenção de muitos milhões no mundo: a Copa do Mundo no Catar. Abordamos esse evento denunciando seus muitos aspectos condenáveis: a grosseira negociação do futebol como show business com o qual este país foi eleito sede, as péssimas condições em que trabalhadores estrangeiros (essencialmente da Índia) construíram os estádios (e suas consequências de acidentes e mortes) e a dura opressão e repressão sofrida por mulheres e homossexuais no Catar[27]. Ao mesmo tempo, muitos de nossa equipe editorial, como milhões de trabalhadores em todo o mundo, seguiram com paixão o destino das seleções e se alegraram ou sofreram com elas.
Dissemos que a Copa do Mundo não é um fato da luta de classes, mas, inevitavelmente, foi atravessada por considerações políticas. Por exemplo, a seleção iraniana não cantou o hino de seu país antes da partida contra a Inglaterra, no que foi visto como uma demonstração de solidariedade às vítimas da repressão em seu país. O desenrolar do torneio foi determinando uma divisão de torcedores entre aquelas seleções que eram consideradas representantes dos países semicoloniais (Argentina e Marrocos) contra as “potências imperialistas europeias” (como Espanha e essencialmente França). Em muitos países do mundo, grande parte da comemoração pelo campeonato conquistado pela seleção argentina teve essa conotação.
Para fechar o círculo da relação entre futebol e política, ainda durante a própria Copa do Mundo, começou a crescer a campanha internacional contra a execução e pela liberdade de Amir Nasr-Azadani, jogador de futebol profissional iraniano, condenado à morte. por ter participado e apoiado os protestos contra o regime dos aiatolás. A LIT-QI apoia e impulsiona esta campanha internacional [28].
Queremos encerrar esta retrospectiva de 2022 com algumas considerações. Vimos que o ano nos mostrou uma profunda crise da “ordem mundial imperialista” através da guerra na Ucrânia, uma economia internacional que “não se destrava” e inúmeras lutas estruturais de nossa classe assim como diversas rebeliões que questionam regimes e governos ou os forçam a recuar (alguns, como no Sri Lanka, são derrubados). Consideramos muito possível que 2023 mantenha esta dinâmica ainda que o imperialismo e as burguesias nacionais e seus governos tentem derrotá-la ou, pelo menos, desviá-la.
A realidade nos mostrará qual dessas duas forças prevalecerá. Mas o que reafirmamos é nosso compromisso de apoiar e impulsionar essas lutas e, na medida de nossas possibilidades, intervir ativamente nelas. A nossa página está ao serviço desta tarefa e, nela, da construção da LIT-QI.
________________________________________
[1] Omicron: onda final ou pandemia eterna? https://litci.org/pt/2022/01/24/omicron-onda-final-ou-pandemia-eterna/
[2] Infecções por Covid-19 seguem estáveis no mundo, segundo a OMS – El Comercio
[3] https://www.who.int/es/news-room/questions-and-answers/item/pandemic-prevention–preparedness-and-response-accord
[4] O impacto da guerra russo-ucraniana na economia mundial. https://litci.org/pt/2022/03/06/o-impacto-da-guerra-russo-ucraniana-na-economia-mundial/
[5] Veja, por exemplo, Inflation hits workers – International Workers League (litci.org)
[6] Entrevista | O processo de luta mais impressionante do momento está ocorrendo na Grã-Bretanha. https://litci.org/pt/2022/09/13/entrevista-na-gra-bretanha-esta-ocorrendo-o-processo-de-luta-mais-impressionante-do-momento/
[7] É hora de derrotar Boris Johnson e os conservadores nas ruas. https://litci.org/pt/2019/09/09/e-hora-de-derrotar-boris-johnson-e-os-conservadores-nas-ruas/
[8] https://www.dw.com/es/liz-truss-la-breve-hecatombe-pol%C3%ADtica-en-gran-breta%C3%B1a/a-63512788
[9] Veja operadoras da CSN se levantando contra superexploração e injustiças | PSTU e Vitória! Justiça determina reintegração de dois demitidos na CSN | PSTU
[10] PSTU realiza plenária de apresentação da festa para operadoras da CSN de Volta Redonda e seus familiares | PSTU
[11] Ver, entre outros artigos: https://litci.org/pt/2022/07/12/sri-lanka-uma-revolucao-em-curso-derruba-o-presidente-rajapaksa/ e https://litci.org/pt/2022/08/10/sri-lanka-quais-sao-as-perspectivas-depois-da-destituicao-do-presidente-rajapaksa/
[12] https://litci.org/pt/2022/07/27/sri-lanka-o-dia-em-que-os-trotskistas-paralisaram-o-pais/
[13] Veja, entre vários artigos, https://litci.org/pt/2022/12/06/declaracao-da-lit-qi-em-apoio-aos-protestos-no-ira/
[14] Ver https: https://litci.org/pt/2022/11/12/ira-sobre-a-rebeliao-contra-o-regime-dos-aiatolas/
[15] Ver https: https://litci.org/pt/category/china/
[16] https://litci.org/pt/2022/12/12/ditadura-chinesa-retrocede-em-sua-politica-de-combate-a-covid-19/
[17] https://litci.org/pt/2022/10/19/sobre-os-protestos-contra-o-apagao-em-cuba/
[18] Brasil | https://litci.org/pt/2022/09/28/nao-seja-refem-do-mal-menor-por-que-o-voto-util-e-na-vera-e-no-16/
[19] https://litci.org/pt/2022/11/11/governos-progressistas-uma-onda-que-nao-sera-tao-rosa/
[20] https://litci.org/pt/2022/12/09/o-fim-do-governo-castillo-e-a-necessidade-urgente-de-reconstruir-a-acao-independente-da-classe-trabalhadora/
[21] https://litci.org/pt/2022/12/10/peru-paralisacao-nacional-para-que-saiam-todos/
[22] Veja os numerosos artigos publicados nesta página em https://litci.org/pt/ucrania/ e a revista Correio Internacional No. 25 dedicada à guerra.
[23] https://litci.org/pt/2022/05/03/csp-conlutas-vai-a-ucrania-com-comboio-operario-internacional-e-realiza-entrega-de-donativos/
[24] https://litci.org/pt/2022/10/14/sindicalistas-realizam-o-segundo-comboio-de-ajuda-operaria-a-ucrania/
[25] https://litci.org/pt/2022/12/12/rede-sindical-promove-conferencia-com-sindicalistas-ucranianos-em-dezembro/
[26] https://litci.org/pt/40anos/
[27] Veja entre outros artigos: https://litci.org/pt/2022/11/20/copa-do-mundo-catar-2022-uma-ode-ao-luxo-e-ostentacao-manchada-com-sangue-humilde-e-trabalhador/
Catar 2022: um catalisador para a agitação social – Liga Internacional dos Trabalhadores (litci.org)
[28] https://litci.org/pt/2022/12/17/nao-a-execucao-de-amir-nasr-azadani/