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Economia

Lutas dos trabalhadores e oprimidos no mundo contra os ataques do imperialismo

julho 29, 2022

Equador, Sri Lanka, Panamá e Grã Bretanha…

Enquanto escrevemos este artigo, os trabalhadores e as massas populares no Panamá seguem os passos de seus irmãos equatorianos e cingaleses (Sri Lanka): paralisam o país, exigem a redução dos preços dos combustíveis e da cesta básica, e enfrentam uma violenta repressão. Em outra parte do mundo, no norte imperialista, os ferroviários britânicos e de outros setores protagonizam uma dura luta contra a redução de seus salários comidos pela inflação, com uma onda de greves que enfrenta o já finado governo de Boris Johnson.

Por: Alejandro Iturbe e Ricardo Ayala

O verdadeiro roubo que a inflação significa sobre os salários e renda dos setores populares, o desabastecimento de produtos imprescindíveis e o aumento descontrolado dos preços dos alimentos estão provocando uma situação intolerável que gera crescentes respostas de luta em diversas partes do mundo e incluem verdadeiros levantes populares.

O mais recente é o ocorrido em Sri Lanka (ex – Ceilão) onde uma onda de greves e mobilizações em resposta à altíssima inflação e a falta de produtos básicos (em meio a uma grave crise de dívida externa) levou os trabalhadores e as massas populares a ocupar a residência presidencial e forçar a renúncia do presidente Gotabaya Rajapaksa, que fugiu do país[1].

Poucas semanas atrás foi o Equador que protagonizou um levante popular contra o governo do presidente Guillermo Lasso, que explodiu pela alta do preço dos combustíveis. Foi liderado pelas massas indígenas campesinas, que marcharam para as cidades e receberam o apoio dos habitantes dos bairros operários e populares. O governo Lasso teve que retroceder no aumento dos combustíveis[2].

Uma dinâmica parecida está ocorrendo no Panamá, onde há cerca de duas semanas se desenvolve uma onda de greves, manifestações e bloqueios de estradas “contra o aumento da inflação e da corrupção”[3]. Neste marco, o governo de Laurentino Cortizo busca negociar com os sindicatos. A situação tem sido descrita como “a crise de maior magnitude” das últimas décadas, com o país “à beira de uma explosão social”.

A população trabalhadora dos países semicoloniais se levanta contra a fome e a degradação social, acentuadas pelo aumento do dólar, a desvalorização de suas moedas nacionais, o aumento do custo da importação de combustíveis e uma dívida externa e uma inflação que disparam.

Mas a onda de mobilizações já afeta também a classe trabalhadora dos países imperialistas. Na primeira fila temos as greves na Grã Bretanha, expressando a profunda raiva diante da desvalorização dos salários e a queda do nível de vida pela inflação, junto com o ataque aos serviços públicos, em meio a uma crise política em que Boris Johnson apresentou sua renúncia.

Dos nossos camaradas britânicos nos chega o relato de que as e os trabalhadores britânicos ferroviários e as enfermeiras, que foram aclamados como heróis durante o período mais difícil da pandemia, agora são convertidos em párias. À mobilização dos operários ferroviários, com seis dias de paralisação até agora neste ano, somam-se os motoristas de ônibus que se declararam em greve em muitas cidades, como Liverpool, os condutores de bondes em Londres e os trabalhadores portuários. O pessoal dos hospitais (1,5 milhões de trabalhadores), professores (624.000), funcionários e bombeiros estão recebendo uma combinação de aumentos salariais inferiores à inflação, fortes perdas de emprego e piores aposentadorias e condições de trabalho.

A vanguarda da luta está sendo protagonizada pelo setor do transporte, com numerosas greves e conflitos no transporte aéreo, em diversos países e companhias aéreas. Além do transporte, temos a greve em curso dos petroleiros noruegueses [4]. O rechaço por parte do IG Metall do aumento de 4,7% do salário oferecido pela patronal metalúrgica alemã[5]  pode mudar o ambiente na região. Os conflitos começam a ocorrer também em outros países como a França ou o Estado espanhol.

Nos países europeus pertencentes à OTAN, os trabalhadores veem como, ao mesmo tempo em que seus salários se deterioram com a inflação, seus direitos trabalhistas são atacados e os serviços públicos são deteriorados, seus governos projetam gastar fortunas para rearmarem-se até os dentes.

«tempestade perfeita»

O FMI alerta sobre a tendência a uma “grande tempestade perfeita” [6]  nos países semicoloniais, com a combinação de uma crise no pagamento de suas dívidas externas, empurrada pela alta dos tipos de taxas do dólar e do euro e a desvalorização de suas moedas, junto com a alta inflação. Ao mesmo tempo, o aumento dos preços dos combustíveis, acentuado pela guerra na Ucrânia, aumenta os custos de produção e drena estes mesmos dólares para os monopólios petroleiros imperialistas.

Inclusive, algumas mídias especializadas publicam um ranking de “países com maior risco de default” (não pagamento da dívida) em 2022. Nessa lista figuram a Ucrânia, Turquia e Argentina[7]. A situação da Ucrânia, no meio de uma guerra de defesa de sua soberania nacional contra a Rússia, é muito conhecida. A Turquia e a Argentina são “panelas de pressão” com as maiores inflações do mundo e um processo paralelo de liquefação de suas moedas nacionais. Um processo semelhante vive a África do Sul, que também figura nessa lista.

Como consequência, se mantém a tendência ao surgimento de levantes populares nos países semicoloniais endividados. O fator que diferencia estes processos dos que ocorreram durante a pandemia, é a intervenção da classe operária, como mostram as greves operárias no Brasil.

Para o FMI, a tempestade perfeita está circunscrita a novas crises de inadimplência das dívidas externas dos países semicoloniais. O impulso sustentado do aumento das taxas de juros por parte da Reserva Federal dos EUA aumenta a drenagem para os bancos e instituições imperialistas e empurra à estagnação das economias. Nos países imperialistas, a alta das taxas de juros também empurra à estagnação, sem conter uma inflação que corrói gravemente os salários, aposentadorias e outras rendas. Ao mesmo tempo, põe em risco a sustentabilidade da dívida dos países periféricos do euro, como a Itália, o Estado espanhol, Portugal ou Grécia. Se a classe operária dos países europeus aumentar sua resistência, acompanhando seus irmãos ingleses, poderia se formar uma tempestade perfeita… de luta de classes.

É neste contexto que a diretora gerente do FMI, Kristalina Georgieva, propõe: “uma nova redução do crescimento mundial tanto para 2022 como para 2023… Será um 2022 difícil, e possivelmente um 2023 ainda mais difícil, com um maior risco de recessão.” [8]

Com a inflação nos máximos históricos de muitas décadas e diante da guerra energética iniciada com a Rússia, com grandes cortes do gás russo enviado à Europa e a ameaça de um corte completo, as temperaturas do tórrido verão europeu aumentam. Bruxelas propõe, a serviço da indústria alemã, reduções obrigatórias do consumo de energia em pleno inverno, que o Estado espanhol e Portugal não aceitam. A queda do “atlantista” Mario Draghi, à frente do governo da Itália, expressa os graves problemas que a União Europeia enfrenta e os grandes riscos para manter sua coesão.

Unidade de luta da classe trabalhadora mundial contra o imperialismo

Diante da iminência de uma crise generalizada da dívida pública -externa e interna -, os governos imperialistas e das nações semicoloniais orquestram uma política de “disciplina fiscal” baseada em «políticas de ajuste» contra os trabalhadores e setores populares[9]. E enquanto os salários são desvalorizados pela inflação em todo o mundo, os governos imperialistas aumentam em proporções inauditas os orçamentos militares, acentuando a exploração dos países semicoloniais mediante a dívida externa e a inflação. Entretanto não entregam à Ucrânia as armas necessárias para poder derrotar Putin, desta maneira prolongando a guerra.

Querem financiar a fatura do enorme rearmamento em marcha seja pela expropriação salarial ou pelo pagamento da dívida pública que engorda os cofres dos bancos e instituições de crédito. A necessidade imperiosa da unidade do proletariado mundial se impõe contra a ofensiva imperialista.

Lutas como as do Equador, Sri Lanka e Panamá propõem com evidência a necessidade de derrubar os governos entreguistas e, com isso, a questão da necessidade da tomada do poder pelos trabalhadores e pelas massas.  As lutas operárias, como as da Grã Bretanha, expõem de forma premente a necessidade de unifica-las em uma greve geral e propõem, além disso, a urgência da luta pela escala móvel de salários, ou seja, seu reajuste mensal segundo a alta de preços.

Por outro lado, a intervenção da classe trabalhadora com seus próprios métodos nos recentes levantes sociais é chave para o avanço sustentado da luta contra os governos que aplicam os ditames do FMI. A consigna do Não ao Pagamento da Dívida Externa (e interna) é vital para deter a exploração dos trabalhadores e dos povos.  Na Europa, por seu lado, está proposta a tarefa de lutar contra o rearmamento que os governos imperialistas realizam e que esse dinheiro seja usado para satisfazer as necessidades dos trabalhadores e não a serviço da OTAN imperialista.

Notas:

[1] https://litci.org/es/sri-lanka-una-revolucion-en-curso-derriba-al-presidente-rajapaksa/

[2] https://litci.org/es/ecuador-las-masas-vuelven-a-las-calles-ahora-contra-el-banquero-lasso/

[3] Panamá registra nueva jornada de protestas y bloqueos de vías | Las noticias y análisis más importantes en América Latina | DW | 15.07.2022

[4] La huelga de petroleros noruegos afectará a Europa – Revista Acción (accion.coop)

[5] Sindicato metalúrgico alemán anuncia nuevas huelgas | Europa al día | DW | 12.06.2022

[6] https://www.imf.org/es/Publications/fandd/issues/2022/06/confronting-a-perfect-long-storm-tharman-shanmugaratnam

[7] https://www.visualcapitalist.com/wp-content/uploads/2022/07/sovereign-debt-risk-ranking-1.png

[8] https://www.imf.org/es/News/Articles/2022/07/13/blog-how-g20-can-respond

[9] Ver, entre outros: https://www.youtube.com/watch?v=4Lh00lAByO0

Tradução: Lilian Enck

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