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sexta-feira, março 29, 2024

1º de maio na Ucrânia celebra a solidariedade internacional da classe trabalhadora

No dia 1 de maio, cerca de 60 integrantes de sindicatos, movimentos sociais e ativistas de esquerda se reuniram em Lviv para a Conferência Internacional sobre as Dimensões da Guerra para discutir seus efeitos sobre a classe trabalhadora ucraniana e a necessária solidariedade operária internacional para fortalecer a resistência ucraniana contra a agressão militar liderada pelo presidente russo Vladimir Putin.Por: Fábio Bosco

O local não poderia ser mais apropriado. A Ucrânia está no centro da luta de classes internacional e a resistência contra a agressão militar russa é de interesse da classe operária internacional bem como dos povos oprimidos que lutam por sua libertação nacional.

A conferência foi realizada no Palácio Municipal da Cultura Hnat Khotkevych Lviv, local construído pelos trabalhadores e trabalhadoras municipais de várias nacionalidades em 1934 para atividades sindicais, políticas e culturais operárias. O local sediou um importante congresso antifascista em 1936 com representantes da Ucrania, Polônia e Belarus. O Palácio está localizado na mesma área onde a ocupação nazista impôs a formação de um gueto para aprisionar e esmagar a população de origem judia durante a segunda guerra mundial. (I)

A delegação internacional  foi integrada por sindicalistas da OZZ Inicjatywa Pracownicza da Polônia, da CSP-Conlutas do Brasil, da Union Syndicale Solidaires da França, da ADL-Cobas da Itália, da Geguzes 1-osios profesiné sajunga (G1PS) da Lituânia, além de dois integrantes da organização socialista RCIT.

Esta delegação foi recebida por cerca de 40 ativistas ucranianos entre os quais sindicalistas do sindicato dos mineiros e de metalúrgicos de Kryvyi Rih, da construção civil de Lviv e dos ferroviários, da organização de mulheres Feminist Workshop, da organização de direitos de refugiados Work Safe, além da organização de esquerda Sotsyalnyi Rukh que organizou o evento.

Os Horrores da Guerra

A conferência tratou de diferentes aspectos da guerra. Um deles foi o envolvimento da classe trabalhadora na resistência armada. Sindicalistas de Kryvyi Rih fizeram um relato ao vivo em vídeo-conferência sobre a auto-organização operária armada em um dos principais centros industriais do país que está a 60 km do fronte militar. Outro relato emocionante foi o de um jovem ativista socialista ucraniano, integrante da organização de esquerda Sotsyalnyi Rukh, que está alistado no exército e que enviou uma mensagem pela solidariedade internacional – operária e socialista – de uniforme e de arma na mão.

Outra face da guerra é a situação nas áreas sob ocupação militar russa ou na linha de frente. Um sindicalista ferroviário descreveu a situação dramática na região ao redor de Kherson onde a população, particularmente das pequenas cidades ao redor, não tem acesso regular a alimentos específicos, medicamentos e tratamento médico, e que são vítimas de extorsão nos check-points do exército inimigo. Um ativista voluntário e um enfermeira contaram em transmissão ao vivo de Kyiv sobre a situação em hospitais e centros de tratamentos para pessoas com doenças mentais ou necessidades especiais na capital onde bombardeios se combinam com a falta de trabalhadores da saúde e da assistência social, além de provimentos, para constituir um cenário devastador.

Outra dimensão é a situação da população nas áreas mais distantes do fronte militar como é o caso de Lviv e da maior parte do país. Os efeitos da guerra também são dramáticos. Um dos relatos tratou dos efeitos sobre a saúde mental da população, parte da qual sofre de depressão e de sentimento de culpa por estar vivo enquanto milhares de compatriotas perdem suas vidas. Outro relato tratou da situação das mulheres sobre quem recai a responsabilidade de manutenção das famílias.

Há ainda a situação dos refugiados e refugiadas, seja os que estão dentro do país ou nos países vizinhos. Há centenas de denúncias de tráfico de pessoas seja para trabalhos precários seja para prostituição.

Na contramão dos esforços da classe trabalhadora para a resistência contra a agressão militar russa, o parlamento ucraniano sob a hegemonia de partidos burgueses liberais votou uma flexibilização geral de direitos trabalhistas durante a guerra que está sendo utilizado particularmente pelas grandes empresas nas áreas distantes do fronte militar para suspender o pagamento regular de salários e de direitos trabalhistas. Esta decisão, endossada pelo governo Zelenskii, enfraquece a resistência e se constitui em mais uma face antioperária desta guerra.

Outra questão muito importante foi o lançamento da campanha pelo cancelamento da dívida externa da Ucrânia. Além de ilegítima, essa dívida se multiplicou com o início da agressão russa em 24 de fevereiro. Apesar da campanha, as potências imperialistas e os bancos internacionais silenciam sobre a possibilidade de cancelamento da dívida injusta.

Por fim a solidariedade com os sindicalistas bielorussos do sindicato de trabalhadores da indústria de rádio e componentes eletrônicos foi lembrada. Esses sindicalistas estão presos sob alegação de “extremismo” por condenar abertamente a agressão militar à Ucrânia.

Comboio de Ajuda Operária à Ucrânia

Esta conferência internacional se complementou com a chegada do comboio de Ajuda Operária à Ucrânia. O comboio foi iniciado por organizações da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas para expressar a solidariedade da classe operária internacional com a classe operária ucraniana.

A partir de uma lista de ítens de emergência elaborada pelos sindicalistas ucranianos foram entregues para o sindicato independente dos mineiros de Kryvyi Rih 800 quilos em remédios, kits de primeiros socorros, comidas secas, alimentos prontos para bebês, baterias e geradores de energia. (II)

Participação da LIT-QI

A Liga Internacional dos Trabalhadores (Quarta Internacional) se orgulha de se posicionar incondicionalmente no campo militar da resistência ucraniana contra a agressão militar russa. Frente a maioria das organizações de esquerda que oscilam entre o apoio à agressão militar, a neutralidade ou o pacifismo, a LIT-QI apoia a resistência ucraniana bem como seu direito de auto-defesa com armas que venham até mesmo de países imperialistas. Não depositamos qualquer confiança no governo Zelenskii que, na condição de representante dos interesses da oligarquia ucraniana, avaliza uma reforma trabalhista que enfraquece a própria resistência contra a agressão russa. Defendemos ainda a dissolução da OTAN, da CSTO e de todos os pactos militares utilizados para a manutenção da ordem internacional capitalista. (III)

Impulsionamos a arrecadação de fundos para o sindicato independente dos mineiros de Kryvyi Rih e participamos de manifestações de primeiro de maio em diversos países onde levamos a mensagem de apoio incondicional à resistência ucraniana.

Nossos militantes integraram a delegação brasileira da CSP-Conlutas que impulsionou com outras organizações da Rede Sindical Internacional o comboio de Ajuda Operária à Ucrânia, e que participou da Conferência Internacional em Lviv no primeiro de maio materializando a unidade da classe operária internacional.

Militantes da LIT-QI já tiveram uma experiência similar durante a  guerra na Bósnia (1992-95), ao participar da campanha internacional de Ajuda Operária à Bósnia que organizou 12 comboios de ajuda humanitária entregues para o sindicato dos mineiros de Tuzla. (IV)

Continuaremos envidando esforços, a medida de nossas forças, para a vitória da resistência ucraniana e seus desdobramentos futuros em outros países, particularmente dentro da Rússia, dos países vizinhos e dos países oprimidos.

Notas:

(I) https://ukrainer.net/hnat-khotkevych-palace/

(II) http://cspconlutas.org.br/2022/05/csp-conlutas-comboio-vai-a-ucrania/

(III) https://litci.org/pt/porque-devemos-apoiar-a-resistencia-ucraniana/

(IV) https://litci.org/es/un-breve-esbozo-de-la-historia-de-la-lit-ci-2/

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