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sexta-feira, julho 26, 2024

COP26: Crônica de um fracasso anunciado

A COP26 chegou ao seu sétimo dia com muito alarde, muita mídia, muitas promessas dos líderes mundiais, mas com pouca ação e pouca credibilidade na realização dos compromissos assumidos. Nem era de se esperar outra coisa daqueles que destroem o planeta em nome do lucro e esquecem os seus compromissos assim que saem do palco onde fazem seus discursos. A credibilidade e a esperança estão nas manifestações de rua e na unidade da juventude com a classe trabalhadora e o povo pobre para garantir a derrota do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista que tenha uma relação equilibrada com o planeta.

Por: Lena Souza

Discursos, demagogias, estímulo a ilusões …

O membro do parlamento britânico e presidente da COP26 Alok Sharma abriu a conferência no dia 31 de outubro, há uma semana, dizendo que “Nós sabemos o que precisamos fazer. Porque seis anos atrás, em Paris, concordamos com nosso objetivo comum. Dissemos que protegeríamos as pessoas e a natureza dos efeitos das mudanças climáticas”.[1]

No entanto nada foi feito nesses seis anos, ou melhor, o que foi feito aumentou a possibilidade de exceder os 1,5º de aquecimento global até 2040. Em seis anos sequer a maioria dos países foi capaz de apresentar suas metas de diminuição das emissões dos gases de efeito estufa de curto, médio e longo prazo.

Sendo assim, o secretário-geral da ONU, António Guterres, embora não seja nenhum pouco diferente dos líderes mundiais em seus interesses, falou algo quase verdadeiro: “Vamos ser claros, há um risco significativo de que Glasgow não cumpra suas promessas”.[2] Quase porque sabemos que o verdadeiro é que realmente não irão cumprir.

Já o representante dos EUA, John Kerry, disse estar otimista com a conferência avaliando que o senso de urgência está mais presente entre os participantes afirmando que a maioria dos países do G20 tem planos concretos para garantir que a temperatura do planeta não passe dos 1,5º. No entanto se disse surpreendido quando foi informado que, pela avaliação da Agência Internacional de Energia (AIA), os planos apresentados pelos países, devem manter o aquecimento do planeta em 1,8º até o ano 2100.

É fácil perceber nesses discursos e declarações que o objetivo é disputar protagonismo político, iludir aqueles/as que estão cobrando ações e que sofrem as consequências do colapso ambiental, e manter tudo como está. Mas como nada se mantém estático, manter tudo como está significa um aprofundamento da crise e piora na qualidade de vida daqueles/as que não fazem parte da seleta classe rica que essas autoridades presentes na COP26 representam.

… e promessas

Numa disputa para ganhar o protagonismo externo e interno, e de se mostrar como país preocupado com a crise ambiental, Joe Biden e Boris Jhonson foram aqueles que, nos primeiros dias da COP, apareceram com propostas de acordos e compromissos.

Biden foi o padrinho, com o apoio da União Europeia, do plano internacional para controlar a emissão do metano, um gás que, ainda que liberado em menores quantidades na atmosfera, tem maior poder de produzir o efeito estufa que o gás carbônico. E Boris Jhonson foi o protagonista do anúncio de um grande acordo internacional contra o desmatamento. Os dois acordos foram a pauta principal da mídia nos primeiros dias da conferência como era a pretensão dos patrocinadores.

Cabe uma análise mais profunda dos dois acordos apresentados como a salvação do planeta em outra oportunidade, mas vale a pena já destacar que ambos não são de cumprimento obrigatório. Talvez por isso mesmo foram assumidos com tanta facilidade por um número grande de países. Segundo informações da imprensa os países que apoiaram o acordo sobre as emissões de metano representam 70% da economia mundial.

Já o acordo sobre o desmatamento foi assumido por mais de 100 países, entre eles Brasil e Rússia, cujos chefes de estado, Putin e Bolsonaro enviaram declaração apoiando o acordo: “Nosso país abriga 20% das florestas do mundo, e estou convencido de que sua conservação é um aspecto fundamental na luta contra a mudança climática”, disse Putin. E Bolsonaro se manifestou declarando “Faço um chamado a todos os países para que nos ajudem a conservar todas as florestas”.[3]

Cabe destacar um comentário do Greenpeace sobre esse acordo, onde diz “Em 2014 foi assinada a chamada declaração de Nova York, que incluía o compromisso de reduzir pela metade a perda das florestas até 2020. Mas, longe de atingir essa meta, o ritmo de desmatamento aumentou nos últimos anos”.[4]  Caso o não cumprimento de acordos anteriores não seja suficiente para desconfiar das intenções dos signatários do atual acordo, basta agregar que Bolsonaro o apoiou. E o mundo inteiro sabe que sob seu governo o desmatamento da Amazônia tem crescido em níveis assustadores e, além disso, seu governo tem desestruturado e desmantelado os vários órgãos ambientais responsáveis pela fiscalização do desmatamento na região. Isso se concretiza em dados como que entre janeiro e junho de 2021, a floresta Amazônica brasileira perdeu 4.014 km², “a maior taxa de desmatamento para um primeiro semestre registrado na última década.”.[5] Além disso o governo Bolsonaro não tem feito nada para impedir o garimpo ilegal e o assassinato de líderes indígenas que defendem sua comunidade e a proteção da floresta, como denunciou a ativista indígena Txai Suruí, da etnia Paiter Suruí, em seu pronunciamento na COP26, que por sinal foi criticado por Bolsonaro.

Importante assinalar também a grande presença de empresas na COP26. E embora tentem passar a ideia de apoio e investimento às medidas para diminuir o aquecimento global, na verdade estão de olho nas questões financeiras, ou seja, nos investimentos com recursos públicos que os países estão se comprometendo para, a partir daí, abocanhar a maior parte do bolo, como estão acostumadas a fazer.

A única saída é manter e ampliar as mobilizações nas ruas

A juventude de vários países presente na conferência tem protagonizado mobilizações e atos de rua durante o evento. Neste dia 05, sexta feira aconteceu uma passeata convocada pelo movimento Fridays for Future, onde os jovens continuam pedindo mais ação e menos blá,blá,blá. “Ao grito de ‘O povo unido jamais será vencido’ e ‘O que queremos? Justiça climática. Quando a queremos? Já!’ caminhavam muitos jovens de povos indígenas da Amazônia, de outras regiões da América Latina e da Ásia e também ativistas de diferentes países africanos, que encabeçaram a comitiva desse protesto.”[6] Greta Thumberg continua dizendo em seu discurso que é tudo blá, blá, blá e que a COP26 é um verdadeiro fracasso. Disse também que os verdadeiros líderes são as pessoas que participam dos protestos e que “As vozes das gerações futuras estão sendo ignoradas com as falsas promessas”.[7]

Apoiamos e incentivamos os protestos da juventude nas ruas e continuamos afirmando que a saída está na mobilização e na luta, pois os ricos e seus representantes vão continuar fazendo lindos discursos e não cumprindo as promessas e acordos que estão encenando na COP26. Este é o 26º fracasso em mais de três décadas de enrolação. A verdadeira saída está no rompimento definitivo com esses enganadores e a organização independente da juventude em aliança com os/as trabalhadores/as e o povo pobre do planeta, a destruição do capitalismo e a construção de uma sociedade socialista. A conclusão a que devemos chegar é que o capitalismo é incompatível com a proteção do planeta e a defesa da vida só pode estar nas mãos de quem sofre as consequências de sua destruição. Só uma sociedade em bases socialistas pode estabelecer as condições para colocar em prática um plano para impedir o colapso ambiental, o que os capitalistas são incapazes de garantir.

Leia a edição especial da revista Correio Internacional que apresenta artigos que aprofundam sobre todos os problemas que o sistema capitalista está produzindo para a vida no planeta, faz um resgate da visão marxista sobre a questão ambiental e da elaboração de Marx e Engels.

Baixe a revista aqui: https://litci.org/pt/colapso-ambiental-o-capitalismo-e-o-responsavel/

Assista a plenária sobre o colapso ambiental no nosso canal do youtube: https://youtu.be/XG131qxuVts

Referências

[1] https://exame.com/noticias-sobre/examenacop26/

[2] Idem

[3] https://brasil.elpais.com/sociedade/2021-11-02/mais-de-100-paises-se-comprometem-a-reduzir-em-30-nesta-decada-suas-emissoes-de-metano-gas-responsavel-por-25-do-aquecimento.html

[4] Idem

[5] https://g1.globo.com/natureza/amazonia/noticia/2021/07/19/desmatamento-na-amazonia-cresce-51percent-nos-ultimos-11-meses-em-relacao-ao-periodo-anterior-aponta-imazon.ghtml

[6] https://brasil.elpais.com/internacional/2021-11-05/greta-thunberg-a-cop26-e-um-fracasso.html

[7] idem

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