qui abr 25, 2024
quinta-feira, abril 25, 2024

Exigimos a libertação de todos os presos políticos da ditadura na Nicarágua

No dia 5 de julho, o governo de Ortega prendeu 6 opositores ao seu governo. Entre as 6 pessoas detidas encontravam-se 2 dirigentes estudantis: Lesther Alemán e Max Jerez. Prenderam também 4 integrantes do Movimento Camponês: Pedro Mena, Fredy Navas, Pablo Morales e Medardo Mairena.

 

Por: PT-Costa Rica

Medardo Mairena além de ser pré-candidato presidencial foi também uma das principais figuras de oposição ao projeto do Canal promovido por Ortega.

A isto se somam as detenções de 12 de junho passado dos ex sandinistas Dora María Téllez e Hugo Torres, e as opositoras Ana Margarita Vigil e Suyen Barahona, sob a acusação de “incitar a ingerência estrangeira nos assuntos internos” e “pedir intervenções militares” contra o governo.

Também se somam aos de 4 candidatos à presidência da oposição de direita já detidos, à intervenção da ONG Fundación Violeta Barrios de Chamorro, e a dezenas de detenções de dirigentes e ativistas opositores ao governo.

Quem Ortega pretende atacar com estas detenções?

Temos profundas diferenças estratégicas com a oposição de direita ao governo de Ortega. Nós os consideramos nossos inimigos, pois são pró-imperialistas, entreguistas e tem um vergonhoso histórico de pacto com a ditadura da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN).

Mas acreditamos que estas detenções são, na realidade, tentativas da ditadura de aplacar e intimidar o movimento popular que desde 2018 vem se manifestando massivamente contra o governo.

O governo de Ortega disfarçou estas detenções de “anti- imperialismo” e “anti- ingerência”, supostamente defendendo a soberania da Nicarágua contra a ingerência dos Estados Unidos e da OEA. Entretanto, na verdade, estes ataques tem 2 propósitos:

Em primeiro lugar, existe uma política de “ganhar as eleições a qualquer custo” e uma verdadeira preocupação de perdê-las no interior da FSLN. Isto provocou a intervenção do sandinismo sobre a Comissão Nacional de Eleições (CNE), a busca de ilegalizar partidos da oposição (a anulação da cédula do PRD por exemplo), e a preparação de eleições sem as mínimas garantias democráticas.

Da mesma forma se busca forçar pactos de “cohabitação” com setores da oposição “pactistas” que buscam uma saída pactuada, desde que sua cota de poder esteja garantida, ou seja respeitado seus interesses individuais (setores tais como Humberto Ortega, ou a própria Cristiana Chamorro).

Em segundo lugar, consideramos que o objetivo principal é que o governo busca intimidar e desmobilizar o movimento popular que desde 2018 vem colocando em questão a permanência de Ortega no poder.

As detenções mencionadas aqui são apenas uma pequena amostra da escalada repressiva dos últimos meses. Segundo os dados do movimento popular haveria pelo menos 130 presos políticos ligados a este movimento, que continuam encarcerados de forma injusta e ilegal. Ao que se somam as denúncias de casos de tortura, intimidação de familiares de integrantes destes movimentos e o desrespeito aos seus direitos mais básicos.

Junto com isso, também estão as dezenas de assassinatos de ativistas que continuam impunes (como o assassinato recente do dirigente camponês Ernesto Jarquín), a escalada das agressões policiais contra manifestantes durante estas últimas semanas e o constante assédio e ameaças contra organizações de familiares de vítimas, camponesas e estudantis.

Uma enorme quantidade de pessoas exiladas, mais de 100.000 pessoas que tiveram que deixar para trás seus entes queridos, moradia e trabalho, são a outra face desta repressão, que alcançou amplíssimos setores do povo nicaraguense.

O estalinismo, a esquerda reformista e seu vergonhoso apoio à ditadura

A ampla maioria da esquerda “reformista” e dos setores que provém do estalinismo continua sustentando um apoio vergonhoso e cúmplice à ditadura capitalista de Ortega, ao negarem-se a condenar abertamente seu governo.

Na verdade, o governo de Ortega não é um governo anti-imperialista, muito menos anticapitalista e nem sequer “progressivo” em matéria de política econômica ou social.

Pelo contrário, o governo de Ortega, desde sua volta ao poder em 2006, demonstrou ser um governo ditatorial, com um programa entreguista e completamente compatível com o capitalismo semicolonial na Nicarágua. Além de ser um governo que pactuou com os setores empresariais uma série de ataques contra as condições de vida da classe trabalhadora e dos setores populares.

O giro em suas posições sobre o TLC (apoiando sua implementação e execução), o projeto entreguista do Canal (Lei 840), a promoção aberta do regime de zona franca (que passou de 70.000 trabalhadores para mais de 125.000 durante seu governo), os ataques à previdência social e a Instituto Nicaraguense de seguridade Social (INSS), e o próprio ataque aos direitos democráticos dos setores trabalhadores, demonstram de forma inequívoca o caráter entreguista e semicolonial do projeto da FSLN.

Os fatos recentes obrigaram alguns destes partidos a fazer declarações no papel contra os “abusos” do governo de Ortega. Entretanto, isto não apaga os quase 15 anos de cumplicidade com esta ditadura, 15 anos de apoio vergonhoso a Ortega utilizando o próprio prestígio para ajudar a disfarçar este governo de progressivo, anti-imperialista e até de socialista.

Declarar-se “contra os excessos” do governo de Ortega sem condenar abertamente sua ditadura, sem deixar evidente que estes não são “excessos”, mas a própria natureza deste governo, sem denunciar seu entreguismo, e sem colocar-se claramente do lado do povo nicaraguense que luta contra o tirano nas ruas, é de fato, um apoio velado.

A política do imperialismo: defender a estabilidade que a ditadura lhe propicia

No último período e com a ascensão de Joe Biden ao poder nos Estados Unidos, ficou evidente que o principal interesse do imperialismo é chegar a acordos com os governos da região para que construam o tampão migratório, do fluxo sul-norte que não para de aumentar desde a última crise de 2007 e que a crise do Coronavírus potencializou.

No início de junho, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, reuniu-se na Costa Rica com representantes de alto nível dos países centro-americanos, incluindo a Nicarágua, onde destacou que a ordem de Biden é estancar as “causas profundas” da migração de centro-americanos e que tem hoje uma crise na fronteira norte do México.

Nesse mesmo sentido ocorreu a visita da vice-presidente estadunidense Kamala Harris a Guatemala, que tinha como questão central, 4 bilhões de dólares em “ajudas” para conter a migração a partir do triângulo norte.

Para o governo de Biden, o papel repressivo dos governos ditatoriais e autoritários de Ortega, Juan Hernandez (Honduras, ndt.) ou do próprio Nayib Bukele (El Salvador, ndt.), são uma garantia de que o fluxo migratório se manterá estável, e com isso, como o governo de Alejandro Giammattei militar e reprimir a fronteira com o México para evitar a passagem de migrantes.

A repressão de Ortega sobre o povo da Nicarágua é funcional aos interesses do imperialismo, e, portanto diante da situação atual, não passará de aprovar sanções seletivas contra famílias e funcionários do governo da Nicarágua, enquanto do ponto de vista econômico garante o modelo de exportação de mercadorias e exploração da mão de obra com o TLC e as zonas francas, e o financiamento por meio dos organismos financeiros regionais.

Condenamos a repressão do governo de Ortega! Exijamos a libertação dos presos políticos na Nicarágua!

O Partido dos Trabalhadores e da Liga Internacional dos Trabalhadores, manifestamos nosso mais absoluto repúdio à repressão do governo de Ortega contra o movimento popular, e denunciamos que estas detenções são uma tentativa de intimidar e frear este movimento.

Novamente nos somamos ao clamor do povo nicaraguense, que desde 2018 tem dando enormes lições de luta e exigimos a libertação imediata de todos os presos políticos detidos pela ditadura de Daniel Ortega e Rosario Murillo. E também alertamos que na Nicarágua só poderão existir eleições livres se a ditadura cair e o povo puder organizar eleições com as mais amplas garantias democráticas que não podem ser alcançadas hoje.

 

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