sáb jul 27, 2024
sábado, julho 27, 2024

México| A corrupção capitalista mata

Diante da tragédia anunciada na Linha 12 do metrô

Na noite de 3 de maio, o espanto com as imagens do acidente no Metrô da Cidade do México varreu o país e o mundo. A indignação popular cresceu quando os primeiros números de mortos e feridos hospitalizados foram divulgados. Mas esses números vêm crescendo e estão longe de ser definitivos. No entanto, a comoção foi generalizada quando reapareceram as evidências sobre as causas do desastre: corrupção e falhas em sua construção, que foram alertadas há muito tempo, sem que nenhuma “autoridade” as corrigisse. Isso rapidamente impactou nas alturas e velhas fissuras foram reabertas dentro do poder político, que representa o poder econômico oligárquico semicolonial.

Por: CST-México

Desde 10 de março de 2020, com a queda do trem da Linha 1 na estação de Tacubaya, passando pelo incêndio no Posto de Controle Central em 9 de janeiro de 2021, foram reafirmadas com muita frequência explosões e outras avarias graves no Sistema de Transporte Coletivo, STC – Metro. Outros desastres graves ocorreram há muitos anos, com dezenas de fatalidades, como a que ocorreu no Viaduto da linha 2, em outubro de 1975. Porém, desta vez, assistimos à catástrofe mais grave do Metro desde a sua criação em 1969 E é uma tragédia anunciada. Muitos “previram” e não poucos alertaram que o Metro era e é uma bomba-relógio.

Mas os governantes continuam afirmando que “está seguro” nas já rotineiras coletivas de imprensa. A diretora do Metrô, Florencia Serranía – rica empresária do ramo ferroviário – e a chefe de governo da cidade do México (CDMX), Claudia Scheinbaum vieram com cara de um velório diante das câmeras e microfones para lamentar as vítimas, dar condolências e dizer que “vão solicitar o trabalho de peritos internacionais” para determinar as causas do acidente. E agora, quando questionado “se poderia ser sabotagem”, sua resposta foi que “nada está descartado”.

A verdadeira “sabotagem” no Metro é o abandono e a privatização dos transportes

Diante de tanto cinismo dos responsáveis ​​diretos, dizemos: Não só “não descartamos nada”! Ao contrário, nenhuma expertise internacional é necessária para descobrir quais são as principais causas e quem é o responsável.

Com certeza não são os trabalhadores do Metro, que durante anos estiveram separados da manutenção das vias da Linha 12, porque essa obra foi contratada à empresa privada francesa TSO. Porque essa linha, ironicamente chamada de Dourada “foi construída pelo consórcio ICA, CARSO de Carlos Slim e a francesa Alstom, durante o governo de Marcelo Ebrard (atual chanceler). Ela nasceu doente e assim ficaria pelo resto da vida, por isso o Metro tinha que gastar recurso todos os anos, destinado a conter e mitigar as avarias provocadas pela incompatibilidade entre os carris e os trens, projetados pela CAF espanhola ”[1] .

 

O dia da inauguração, Carlos slim, Calderón e Marcelo Ebrard

As vítimas são os humildes moradores da periferia de Tlahuac, que desde o início das obras alertaram e denunciaram a intenção de construir um pesado viaduto elevado para o trem em um terreno lamacento e com conhecidos deslocamentos sísmicos. Após o terremoto de 2017, o governo da CDMX confirmou: “Há danos no coração desta estrutura localizada no trecho Nopalera-Olivos, o que enfraquece sua função integral no suporte de peso e de elasticidade” 2.

E não consertaram! Os principais responsáveis ​​são os governos que contrataram e contratam novas obras a empresas privadas, que continuam comprando o silêncio dos eternos burocratas sindicais “charros” (pelegos, ndt.), que até hoje continuam no conluio com todos esses governos. Hoje os corruptos “governantes e opositores” de ontem e de hoje estão em campanha eleitoral e jogam a culpa um no outro. Para eles, “vale tudo” para ganhar votos. Até usar os cadáveres! Foi nojento o espetáculo de alguns candidatos da oposição do Partido de Ação Nacional (PAN), que se fotografaram em frente às ruínas no dia seguinte e foram repudiados pelos parentes das vítimas. Todos esses políticos patronais procuram limpar sua barra diante de um povo indignado até a repugnância.

Mas ninguém se engana mais! Todos, todos os governos fazem parte do mesmo regime político, do mesmo sistema econômico do grande capital. Todos são igualmente responsáveis ​​por mortes e danos irreparáveis. Todos esses criminosos, políticos e empresários viajaram juntos no mesmo “vagão inaugural” da Linha Dourada em 2012: Felipe Calderón, Marcelo Ebrard, Miguel Ángel Mancera, Mario Delgado, Carlos Slim … E a empresária e atual diretora Serranía já esteve responsável pelo Metro em 2004-05, enquanto Andrés Manuel López Obrador (AMLO) era chefe do governo da cidade do México. O secretário-geral do Sindicato Nacional do STC-Metrô durante 43 anos, Fernando Espino Arévalo partilhou em silêncio todos estes negócios duvidosos, tem toda a sua família em cargos de gestão do STC e construiu o seu próprio grupo empresarial à custa dos Serviços e contratos do metrô.

O desastre da linha 12 revela a relação estreita e podre entre o poder político e econômico

As repercussões do desastre geraram um cruzamento de recriminação entre o magnata Carlos Slim, que é o oligarca “Alfa” do México, agora também beneficiado pelo governo da “Quarta Transformação” e o chanceler Marcelo Ebrard, que colocado no poder por López Obrador como segundo personagem de seu governo. Foi Ebrard, como chefe do governo da cidade do México, quem iniciou e inaugurou a polêmica Linha “Dourada” e atualmente tem ambições presidenciais óbvias para 2024. No entanto, o reaparecimento do espectro fedorento da Linha 12 pode derrubar seus planos, com mais alvoroço do que o colapso da viga do metrô. Ebrard tentou furtivamente e sutilmente descarregar o peso da responsabilidade na CARSO, a empresa de Slim. A mesma empresa que está construindo o trecho mais suculento do famoso “Trem Maia”. E o magnata já contra-atacou mostrando que Ebrard trocou os trens do projeto original. Toda essa rede de negócios e poder estão rompendo sob a pressão da imensa onda de indignação popular. Já começaram as primeiras mobilizações “pacíficas”. Todos fazem parte do mesmo sistema e do mesmo regime. Mas em tempos de crise, dentro do mesmo sistema e regime, os interesses dos “mandantes capitalistas e líderes políticos” entram em contradição. E a podridão fica visível para os pobres. Esta “novela” mexicana apenas começou.

As vítimas da Linha 12 são pelas mesmas causas que as da pandemia covid-19

Todos nós sofremos com o desprezo pela saúde e pela vida em favor do lucro dos capitalistas locais e das corporações estrangeiras. Hoje esses hipócritas dão solenes condolências aos familiares e os seus governos colocam a “bandeira a meio mastro” em sinal de luto. Todos são velhos conhecidos e compartilham antigas e novas culpas. É por isso que eles devem compartilhar punições severas pelos danos causados. E não serão “pareceres de especialistas internacionais”, contratados de empresas estrangeiras, como a norueguesa Det Norske Veritas (DNV), que é sócia de megaprojetos governamentais, que vão determinar essas responsabilidades com “certeza” e independência.

López Obrador percebeu a indignação em massa e declarou: “Nada será escondido do povo mexicano, que deve saber toda a verdade”. E isso “será investigado sem consideração”. Mas seu “discurso” esmaeceu no dia seguinte, quando a bancada majoritária de deputados de Morena votou contra a formação de uma comissão investigativa.

Chega de simulações

Exigimos uma verdadeira investigação independente, realizada por comissões eleitas democraticamente, compostas por trabalhadores e usuários do Metrô e não por pelegos e empresários ou seus político lambe-botas.

Que ninguém fique impune pelo crime que este desastre representa. Muitos companheiros do STC Metrô se sentem oprimidos e desamparados diante de tragédias recorrentes e ameaças de novas. E o pior é que sofrem as piores perseguições e sanções quando denunciam o abandono do Metrô ou rejeitam as péssimas condições de trabalho, como os companheiros de vias de Atlalilco e outras áreas. Vários companheiros se manifestaram com bravura para denunciar a situação e seus culpados e com razão exigir a renúncia da diretora Serranía. Seguramente, já não deveria estar no cargo hár muito tempo!

Tradução: A corrupção mata e os/as mortos/as sempre são do povo!

Mas quem sustenta Serranía? Por que a chefa de governo e o presidente AMLO a mantêm? O problema é maior e está na política de privatizações de AMLO. Este governo, como os anteriores, não quer o investimento do Estado em um serviço público sob o controle de seus trabalhadores. Sua concepção é o transporte público como uma empresa privada. E não só no Metrô, mas também na Pemex e na Comissão Federal de Eletricidade, terceirizam as obras para empreiteiros privados locais e estrangeiros.

O estado mexicano tem recursos mais do que suficientes para fazer todos os investimentos para uma obra subterrânea e segura. Para tanto, exigimos que seja declarada uma moratória sobre o pagamento da dívida pública externa e interna fraudulenta e que se estabeleça um imposto especial sobre as grandes empresas capitalistas, como o próprio grupo Carso de Slim ou o grupo Azteca de Salinas Pliego e outros oligarcas. e sócios de empresas multinacionais como Oxxo, Bimbo, Coppel, Elektra, Banorte …

Além disso, já vimos que o atual governo nessas situações confia apenas nos militares. Na noite do desastre, as equipes de resgate foram totalmente retiradas e foram o Exército e a Marinha que trouxeram os trens para as oficinas. Devemos rechaçar este desprezo e assumir nas mãos dos próprios operários e técnicos o resgate do STC-Metrô como transporte público estadual, seguro e acessível aos trabalhadores que são os principais usuários. É necessário e urgente resgatar o Metrô das garras privatizantes do governo.

Chega de massacres e impunidade!

Investigação independente e punição dos responsáveis!

Estatização do STC-Metrô, sob o controle de seus trabalhadores e usuários!

Notas:

[1] Forbes México, 4 de maio de 2021

2 https://www.eluniversal.com.mx/metropoli/cdmx/estacion-olivos-temian-en-2017-colapso-de-linea-12-del-metro-tras-el-sismo, 05/04/21

Tradução: Vítor Jambo

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