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quarta-feira, junho 26, 2024

Uruguai| Tribunais, honra e vergonha. A luta contra a impunidade deve continuar

Agosto de 2020 terminou com um temporal político que está chocando grande parte dos cidadãos. Na rua, nas faculdades, nos escritórios e fábricas, em toda a mídia, se está falando novamente dos presos políticos. Das torturas, dos assassinatos, dos voos da morte, dos sequestros de crianças… em fim, do Plano Condor que assolou vários países da América Latina e que muitos negaram tolamente até hoje.

Por: Mónica
Este é um tema importante para os uruguaios e latino-americanos desde que se instauraram as ditaduras militares no continente nas décadas de 60 e 70. Um tema que mantém uma ferida aberta que dói profundamente e nos obriga a estar em luta permanente para manter viva a memória.  Para saber a verdade e exigir que se faça justiça… para saber por fim qual o destino final e onde se encontram os restos de nossos desaparecidos.
Nesses dias, a organização de Mães e Familiares divulgou publicamente as declarações do repressor Gilberto Vásquez que confirmam que houve torturas, que se executou a vários militantes com é o caso do professor Júlio Castro, que houve um segundo voo da morte.
Por isso, volta à discussão pública a questão de como pode ser que um importante setor dos militares que assassinaram e torturaram naqueles anos ainda continuem soltos pelas ruas ou, no máximo, com prisão domiciliar. Voltam os nomes de Gavazzo, Silveira, Vázques, Tróccoli… que uma e outra vez iludem a justiça com perucas, tentativas de fugas e todo tipo de artimanhas. Como é possível? De quem é a responsabilidade? Dos ministros da época? Do Poder Executivo? Aí saberemos parte da verdade.
Mas somente se pode compreender todo o processo quando se denuncia que isso é possível porque são amparados pelo Pacto do Clube Naval assinado pelo Partido Colorado e a Frene Ampla e a posterior Lei da Caducidade ou Lei de Impunidade, com o aval do Partido Nacional. Essa foi a realidade da “saída negociada” da ditadura em nosso país.
A partir de 2006, quando começaram os governos da Frente Ampla, milhares de ativistas pelos direitos humanos se mobilizaram ativamente contra estes pactos e outros pactos posteriores que tinham sido “concordados” entre setores do Exército e setores do MLN representados por Fernandez Huidobro ou pelo mesmíssimo ex-presidente Mujica. Pactos dos quais os responsáveis não querem falar nem reconhecer publicamente. Somente repetem que isso vai terminar quando “morrerem todos”.
Pelo contrário, nos reivindicamos o direito de saber a verdade agora, já passaram mais de 30 anos e as novas gerações tem direito a conhecer os fatos reais, por mais dolorosos que sejam.
Porém, à frente dessa luta pelos direitos democráticos, a verdade e a justiça não estiveram dirigentes de peso, que se colocaram a cabeça. Pelo contrário, a partir das cúpulas tanto da FA como do PIT-CNT se fez tudo para desalentar a luta, isolá-la e por fim provocar uma imensa decepção entre os honestos lutadores das bases.
Manini Rios e o foro privilegiado
O principal dirigente do Cabildo Abierto, partido militar que integra a coalizão do governo presidido pelo Lacalle Pou, foi eleito senador. Tem uma causa aberta na Justiça por não haver denunciado ao Poder Executivo as declarações de Gavazzo sobre sua responsabilidade no assassinato do militante universitário Roberto Gromensoro.
Manini Rios várias vezes repetiu na mídia sua disposição de não se amparar nos privilégios parlamentares no caso que a Justiça o convocar. Agora chegou o dia e já não se mostra tão decidido. Vários parlamentares da coalizão manifestaram que darão seu apoio e não votarão os foros.
Os parlamentares da Frente Ampla, sozinhos, não tem o número suficiente de votos exigidos para retirar os foros. Mas também não chamam a suas bases, aos trabalhadores e aos estudantes, a todos aqueles que lutam pelos direitos humanos e as liberdades democráticas a ir para as ruas, a rodear o Parlamento, a exigir a retirada do foro de Manini.
Mães e familiares se pronunciaram publicamente exigindo ao Parlamento votar contra o foro. E apresentaram as atas de outro Tribunal de Honra (de 2006) nas quais o Coronel Gilberto Vázquez declara descaradamente haver executado militantes, sua participação no segundo voo, haver torturado, sido parte ativa da repressão na Argentina, em estreita colaboração com um dos chefes da sinistra Triple A, o repressor argentino Aníbal Gordon.
A posição dos familiares é acompanhada por dezenas de milhares. Manini tem que ser despojado de seus foros, para ir à justiça e prestar conta dos seus atos. E junto com ele, todo político que também tenha incorrido em delito.
Mas, com todo o respeito que nos merece esta organização, nós entendemos que isso será uma tarefa difícil de conseguir se não se convoca a uma grande mobilização, como a já histórica manifestação todo 20 de maio, que leve esta reivindicação para as ruas em todos os cantos do país.
Como nós da IST escrevemos em nosso jornal Rebelión: Que eles sigam em seu jogo parlamentar garantindo a impunidade e colocando lenha no fogo. Por debaixo seguimos acumulando a raiva que qualquer fagulha pode fazer explodir”. (1)

  • Julgamento e castigo a todos os assassinos, torturadores, violadores de DDHH e seus cumplices!
  • Prisão comum para todos eles!
  • Toda a verdade sobre os desaparecidos!

Notas: https://www.ist.uy/proyecto-para-restablecer-la-ley-de-caducidad-la-pagina-que-no-pueden-dar-vuelta/
Tradução: Túlio Rocha

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