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quinta-feira, março 28, 2024

A fundação da IV Internacional


Em 3 de setembro cumprem-se 77 anos da fundação da IV Internacional. Ao contrário da Terceira, que foi produto da maior vitória do proletariado mundial – a tomada do poder na Rússia – a Quarta é consequência de uma grande derrota, a provocada pela contrarrevolução stalinista que arrebatou esse poder à classe operária.

Essa construção foi precedida por uma longa batalha iniciada por Lenin, que em 1922 chamou Trotsky a formar “um bloco contra a burocracia em geral e contra o Birô de Organização (dirigido por Stalin) em particular” [1] . E foi continuada por Trotsky a partir de 1923.Mas essa batalha foi derrotada, deixando um rastro de exilados, mortos e prisioneiros nos campos de concentração de Stalin.

Bolchevismo e stalinismo

Após a queda do Muro de Berlim, quando esses crimes vieram à tona, foram muitos os que renegaram a construção do partido revolucionário e abandonaram a luta pelo poder operário, substituindo-a pela busca de espaços dentro do sistema capitalista. Uma das justificativas foi que “o stalinismo era a continuidade do leninismo”.

Não há melhor resposta que a que dava Trotsky quando recebia acusações similares: “A exterminação de toda a velha geração bolchevique, de uma grande parte da geração intermediária que tinha participado da guerra civil, e também de uma parte da juventude que tinha levado mais a sério as tradições bolcheviques, demonstra a incompatibilidade não somente política senão também diretamente física, entre o bolchevismo e o stalinismo. Como é possível que não se veja isto?”[2]. E para explicar o porquê da degeneração burocrática, Trotsky dizia: “Recordemos o prognóstico que tinham feito os bolcheviques não somente às vésperas da Revolução de Outubro, senão também alguns anos antes. O agrupamento fundamental das forças, a escala nacional e internacional, abre, pela primeira vez, para o proletariado de um país tão atrasado como Rússia, a possibilidade de chegar à conquista do poder.

Mas esse mesmo agrupamento de forças permite assegurar de antemão que, sem a vitória mais ou menos rápida do proletariado dos países adiantados, o Estado operário não poderia se manter na Rússia. O regime soviético abandonado às suas próprias forças, cairá ou degenerará. Mais exatamente: primeiro degenerará e depois cairá rapidamente. Tenho tido oportunidade de escrever sobre isto, mais de uma vez, desde 1905” [3].

A Quarta como continuidade revolucionária da Terceira Internacional

Consequente com essa definição, Trotsky soube reconhecer a derrota sofrida. O estado soviético não podia se regenerar, o partido comunista e a Terceira eram irrecuperáveis. Mas os golpes recebidos não o dobraram. Pelo contrário, continuou apostando no triunfo da revolução mundial e dedicou-se ao que considerou a tarefa mais importante de sua vida: a construção do novo partido revolucionário mundial que preservasse o legado do leninismo, para que as novas gerações estivessem armadas para responder às revoluções que, mais tarde ou mais cedo, explodiriam. Assim, em 3 de setembro de 1938, no auge da contrarrevolução, durante o avanço do nazismo e do terror stalinista, fundou-se a IV Internacional. As organizações que a compunham eram muito débeis, mas a sua frente estava o dirigente revolucionário mais provado pela história.
Consciente do perigo que representava, Stalin, dois anos depois, em 20 de agosto de 1940, fez com que ele fosse assassinado.

Passaram-se 77 anos…

Nestes anos, obtiveram-se grandes triunfos: derrotou-se o fascismo na Segunda Guerra Mundial, expropriou-se o capitalismo na China, em Cuba, no Leste Europeu, derrotou-se o imperialismo ianque no Vietnã… Mas esses triunfos foram táticos, porque não se conseguiu superar a grande derrota estratégica: a perda da direção revolucionária. A Terceira foi destruída e a Quarta dispersou-se. Enquanto o stalinismo, saindo fortalecido da Segunda Guerra, converteu-se no grande obstáculo para o desenvolvimento da revolução mundial e, finalmente, acabou restaurando o capitalismo em todo o mundo.

Custou caro essa grande traição. Os processos revolucionários de 89, 90 e 91, foram derrubando, um a um, todos os regimes de partido único, encabeçados pelo PC do Leste europeu e da URSS, liquidando o aparelho stalinista central. Isso levou à crise e debilitamento das burocracias em todo o mundo e abriu a possibilidade do surgimento de novas direções.

O imperialismo aproveitou a queda dos regimes stalinistas para sua campanha do “fracasso do socialismo” e da “supremacia do capitalismo”. Mas hoje, no meio da crise mundial que provoca desemprego e destruição das condições de vida nos principais países imperialistas, já ninguém fala dessa “superioridade”.

A classe operária europeia responde com força aos ataques de seus governos. A resistência iraquiana derrotou a política de Bush. A estratégia de Obama atola no Afeganistão. E, na América Latina, o temor imperialista ao ascenso latino-americano sustenta governos como o de Chávez ou de Evo Morales.

Não há dúvidas de que a História deu a razão a Trotsky. A burocracia stalinista acabou restaurando o capitalismo, mostrando a falsidade da teoria do socialismo em um só país e reafirmando que a revolução socialista será internacional ou não será. E justificou sua confiança na revolução mundial, já que esta se apresenta uma e outra vez. Mas, quando “a realidade se faz mais trotskista do que nunca”, a IV Internacional não existe. Por isso, não pode haver tarefa mais importante e mais urgente que a sua reconstrução. O que implica reafirmar seu programa, que “se sintetizava em três palavras: ditadura do proletariado” e apoia-se em dois pilares fundamentais: a democracia operária e a independência política de toda variante patronal. Significa ademais, resgatar o modelo do partido leninista baseado no centralismo democrático e defender a moral revolucionária dos permanentes ataques da patronal e das burocracias.

Notas:

[1] Diário da secretária de Lenin.
[2] L. Trotsky, Bolchevismo e stalinismo.
[3] Idem



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NT:[2] MST – Movimento Socialista dos Trabalhadores – principal partido do que era a Tendência Morenista que rompeu com a LIT em 1992. No Brasil: MES.

Tradução: Rosangela Botelho

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