Bélgica
Já está na hora de fechar nossas usinas nucleares
junho 3, 2011
Alcançando hoje o nível de alerta histórico de Chernobyl, a catástrofe de Fukushima já voltou a colocar sobre a mesa de maneira clara o debate sobre o problema nuclear. Com esta irremediável catástrofe humana e ambiental, está em jogo todo o problema da questão energética de nossa sociedade.
Como andam nossas usinas?
Atualmente na Bélgica, são sete os reatores nucleares funcionando que e produzem cerca de 55% da nossa eletricidade. Esses reatores, agrupados em duas centrais (Tihange e Doel) foram construídos entre 1974 e 1985. Inicialmente foi estimado que seu ciclo de vida útil fosse de 30 anos, logo foi prolongado para 40…
Se até hoje nossas centrais não sofreram acidentes maiores, podemos perguntar: até quando?… De fato, a forma em que são administradas é particularmente inquietante. Com a liberalização do setor da eletricidade, a pressão dos investidores privados, neste caso o grupo GDF-Suez (da qual Electrabel é a filial belga), colocou em marcha uma política de maximização dos lucros.
O plano de reestruturação «Transform 2003» destruiu cerce de 1.700 empregos estatutários. A política da direção tem sido de subcontratar o máximo de serviços. Em 2007, a CGSP (Central Geral de Serviços Públicos) denunciava a presença de mais de 1.000 empresas terceirizadas, apenas para a planta de Tihange1. Em um informe de uma frente única sindical, apresentado ao Comitê da empresa (Tihange) em 2004 2, podia-se ler que «recorrer sistematicamente a operadores de empresas terceirizadas, muitas vezes mal informados pois não estão integrados na rede interna, aumenta por sua vez a fragilidade intrínseca (risco de erros no plano técnico) mas também extrínseca às instalações (sabotagem, terrorismo)».
Os sindicatos têm denunciado em diversas ocasiões «a perda de referências organizativas», uma «perda de conhecimentos», uma negligência em relação à manutenção preventiva, assim como «novos riscos». "Os efeitos da deterioração cada vez maior das instalações tem tomado forma nos últimos meses, as deficiências graves (incêndio, explosão) afetando principalmente os cabos ou equipamentos de alta tensão. Estes defeitos podem engendrar graves acidentes de pessoas e afetar de maneira preocupante a segurança das instalações nucleares”. "[…] Todo o material (bombas, instalações eletrônicas, válvulas…) não é conservado preventivamente como era antes. As normas de segurança são menos respeitadas".
Nestes últimos anos, na escala mundial, são muito poucos reatores que tem sido encomendados ou construídos. Por isso, a idade médias dos reatores em serviço aumenta de ano em ano; sobretudo, a prolongação do ciclo de vida útil das centrais se converteu em um fato primordial para a industria nuclear. É certo que, mesmo sem ter a experiência, as velhas centrais nucleares estão expostas a maiores riscos de falhas ou desintegrações . Desgraçadamente, os benefícios que elas engendram fazem passar as considerações sobre a saúde publica e o meio ambiente para segundo plano.
Segundo Eric De Keuleneer, professor da Solvay Brussels School of Economics3, o custo das usinas nucleares belgas tem sido amortizada em 20 anos. Por outro lado, a Comissão de Regulação da Eletricidade e do Gás (CREG) estima que a renda nuclear é cerca de 2.000 milhões de euros por ano, em beneficio da Electrabel4 a filial belga tem reputação por sua rentabilidade no seio do grupo GDE-Suez. O que é inadmissível é que em 2009 o governo (Herman Van Rompuy, primeiro ministro, e Paul Magnette, ministro de energia) assinou um protocolo de acordo com o grupo francês, da qual Albert Frère é o primeiro acionista, para assegurar-lhes até 50 anos de funcionamento para nossos mais antigos reatores nucleares. Dito de outra forma, prorrogaram ainda mais a data da primeira fase de saída da energia nuclear, até 2025. É claro que o governo previa recuperar uma parte dos lucros por meio de um “imposto nuclear” equivalente a 860 milhões de euros para os 5 primeiros anos. Mas já em 2009, o PDG Gérar Mestrallet se negava a pagar-lo. Alem desse imposto, é de conhecimento publico que o Estado se movimenta para que Electrabel não pague (ou pague quase nada de) impostos.
Outro aspecto da indústria nuclear civil, significativo para os governos através do mundo, é a importante questão do armamento. Para poder ser utilizado nos reatores civis, o urânio natural deve passar por um processo de enriquecimento de seu isótopo 235. Como subproduto desse processo resulta o urânio empobrecido, 1,7 vezes mais denso que o chumbo, que se utiliza na fabricação de munições para penetrar em blindagens. A indústria do armamento nuclear é particularmente rentável e diretamente ligada ao nuclear civil, mas também é militar e politicamente estratégica.
Que tipo de luta contra a energia nuclear?
A energia nuclear é qualitativamente mais eficaz que as outras fontes de energia disponíveis até agora pelo homem, mas ela é também qualitativamente mais perigosa. Um acidente como o de Fukushima causa enormes desastres no meio ambiente e na saúde publica, e esses danos são irreparáveis, pelo menos com os meios atuais.
Não estamos contra os progressos tecnológicos em si mesmos, inclusive no setor nuclear, mas condenamos toda utilização dessa tecnologia nas mãos irresponsáveis do imperialismo e de seus governos. Os enormes benefícios das centrais civis ocultam completamente o fato de que é nossa segurança que esta em jogo. Denunciamos igualmente todos os governos que estão dispostos, para garantir os lucros de suas empresas de armamento, a produzir e vender esta tecnologia.
Para precisar esta posição poderíamos dar outro exemplo. Hoje há em media mais de quatro mortos por dia nas minas de carvão na China. Possuímos os meios técnicos para evitar que estes mineiros trabalhem em condições dignas do século XIX, mas a lógica capitalista prefere transladar a extração de carvão neste país onde a mão de obra é “barata”.
Aderimos à declaração da LIT-CI que, logo do acidente de Chernobyl em 1986, já afirmava que: "Sendo que até o momento não existe a possibilidade concreta de um acordo mundial apontando a eliminar os riscos da radioatividade atômica, a eliminação dos detritos, a utilização da energia nuclear na corrida armamentista e a militarização do espaço, estamos a favor do fechamento de todas as centrais nucleares ".
Não se trata de voltar a idade da pedra suprimindo toda produção de eletricidade. Mas se podemos incentivar a redução do consumo elétrico, também é tecnicamente possível sair do nuclear rapidamente. Outras técnicas foram apresentadas e não oferecem tantos riscos. Privilegiamos particularmente as energias denominadas renováveis (eólica, solar, hidráulica, biomassa, etc.) que, alem de apresentar menos riscos tem um impacto limitado sobre o meio ambiente.
Condenamos a liberalização do setor energético, que aumenta os perigos e reivindicamos a nacionalização do conjunto do setor assim como um plano de obras publicas para sua reorganização com profundidade, com a reconstrução industrial do setor nuclear.
Exigimos o fechamento de todas as usinas nucleares e aderimos neste sentido as campanhas e movimentos anti-nucleares. Apoiamos particularmente a luta sindical dos trabalhadores das centrais que, defendendo suas condições de trabalho, são os primeiros a poder denunciar os riscos que as centrais engendram e fazer pressão sobre os proprietários das mesmas e sobre os governos.
Do mesmo modo, afirmamos que nossa segurança e nosso meio ambiente só poderiam ser realmente protegidos uma vez excluídas todas as considerações capitalistas, e isso no seio de uma sociedade onde as necessidades poderão ser manejadas de maneira racional em função das possibilidades técnicas que se controlem. Assim também, nossa luta pelo fechamento das centrais nucleares se inscreve incontestavelmente no marco de nossa luta pelo socialismo!
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1 www.lavenir.net/article/detail.aspx?articleid=8460
1 www.lavenir.net/article/detail.aspx?articleid=8460
Fonte: Presse Internationale nº 80, Maio 2011
Tradução: América Riveros