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sexta-feira, março 29, 2024

A fundação da IV: a grande batalha de Trotsky

Há 69 anos, no dia 20 de agosto de 1940, Stalin conseguiu um grande objetivo: seu verdugo Ramón Mercader acabou com a vida de León Trotsky. Não tinha sido suficiente, lhe tirar todas as tarefas de estado, expulsá-lo do partido bolchevique, desterrá-lo, persegui-lo e assassinar seus familiares, amigos e partidários. Trotsky vivo representava um grande perigo para Stalin e a camarilha burocrática.

 

Era necessário exterminá-lo para cortar o fio histórico da Revolução de Outubro. Trotsky foi o presidente do soviet de Petrogrado na revolução de 1905; o criador e dirigente do Comitê Revolucionário que dirigiu militarmente a tomada do poder em outubro de 1917; a única pessoa no mundo, segundo Lenin, “capaz de construir a partir do nada, o Exército Vermelho” e levá-lo a vitória na guerra civil.

 

Mas, segundo ele mesmo, sua tarefa mais importante não foi nenhuma dessas, senão a construção da IV Internacional, como continuidade histórica da Terceira dirigida por Lenin. Essa é a que ele considerava a grande batalha da sua vida.

 

A batalha pela IV Internacional

 

Em julho de 1933, faz público sua mudança de estratégia: após 10 anos, deixa de lado a luta para recuperar à III Internacional: “No dia 5 de abril, após a resolução do Comitê Executivo da Komintern (apoiando a decisão do partido alemão) teríamos que ter proclamado: A Internacional Comunista está morta! (.) Somos os embriões da formação de uma organização revolucionária” (L. Trotsky, “Por novos partidos e uma nova Internacional”).

 

E aí começa a grande batalha pela construção da IV, em grande parte contra seus próprios seguidores. Os argumentos contrários foram muitos. Aos que diziam que ainda não era chegado o momento, Trotsky respondeu: “Os céticos perguntam: mas, é chegado o momento de criar uma nova internacional? É impossível, dizem, criar uma Internacional ‘artificialmente’, ‘somente grandes acontecimentos podem fazê-la surgir’, etc. (…) A Quarta Internacional já surgiu de grandes acontecimentos: as maiores derrotas do proletariado na história. (.) A causa dessas derrotas está na degeneração e a traição da antiga direção. A luta de classes não admite interrupção. Para a revolução, a Terceira Internacional, após a Segunda, está morta. Viva a IV Internacional” [1].

 

Aos que diziam que não havia preparo programático, contestou: “Nisto é onde temos menos necessidade de partir do zero. Baseamo-nos em Marx e Engels. Os quatro primeiros congressos da Internacional Comunista legaram-nos uma herança programática inestimável” (Escritos. agosto 1933).

 

E insistia que a fundação da Quarta tinha que ver com uma necessidade imprescindível dos trabalhadores: “O proletariado precisa de uma Internacional em todas as épocas e sob todas as circunstâncias (…) mesmo nas épocas de pior retrocesso teremos que nos preparar para o futuro ascenso orientando corretamente nossos quadros. As lamentações fatalistas sobre o retrocesso objetivo geralmente refletem um retrocesso subjetivo” (Idem, 1936).

 

“Para nós, a Internacional é um instrumento do qual o proletariado tem necessidade, do mesmo modo que tem necessidade de um partido nacional. É preciso criar esse instrumento, melhorá-lo, afiná-lo. É isso que nós fazemos. Não esperamos que alguém o faça por nós. Convidamos todos os revolucionários a colocar as mãos na massa desde agora, imediatamente, sem perder um minuto” (idem, julho 1939).

 

E assim, no meio do avanço do terror estalinista e fascista, Trotsky desenvolveu uma batalha política, programática e ideológica contra os setores centristas que rompiam com a socialdemocracia, a quem queria ganhar, e contra seus próprios seguidores. A batalha durou cinco longos anos, até que finalmente, em 3 de setembro de 1938, IV Internacional foi fundada.

 

A atualidade dessa batalha

 

Hoje, a classe operária mundial deve enfrentar as consequências da crise capitalista. A luta contra as demissões e o desemprego, contra a deterioração do salário, pela moradia, contra a destruição da saúde e da educação pública, estão colocadas em todos os países do mundo, mas não há quem coordene e organize essa luta mundial. O mesmo acontece nos chamados “países do terceiro mundo” com a luta contra o saque imperialista e em defesa da soberania nacional.

 

A classe operária e os povos do mundo manifestaram-se em massa contra a guerra no Iraque, contra os ataques genocidas de Israel, contra a ofensiva da Média Luna boliviana, contra o golpe em Honduras. Mas não há quem organize e potencialize esta solidariedade internacional.

 

Tudo isto nos faz concordar com Trotsky quando dizia: “Para nós, a Internacional é um instrumento do qual o proletariado tem necessidade do mesmo modo que tem necessidade de um partido nacional. É preciso criar esse instrumento.”. Por esse motivo, a reconstrução da IV Internacional é a tarefa central da LIT-QI e dos seus partidos.

 

Também concordamos com Trotsky no método com o qual encarou essa construção. Apesar do que sua figura representava, sempre esteve contra a autoproclamação. Fez todo o possível para ganhar para esse projeto os setores que rompiam pela esquerda com as organizações reformistas. Por isso recusamos os métodos de pequenos grupos internacionais, como o encabeçado pelo PO (Partido Operário) da Argentina, que se autoproclama como “a IV Internacional”.

 

Do mesmo modo, enfrentamos a política do MST (Movimento Socialista dos Trabalhadores) de chamar agrupamentos nacionais e internacionais, reformistas e revolucionários, já que como afirmava Trotsky: “É evidente que não se pode pensar em construir uma nova internacional com base em organizações que partem de princípios profundamente diferentes e às vezes opostos. A Oposição de Esquerda levou à Conferência seu próprio programa, com o objetivo de ajudar à separação principista dos reformistas e dos centristas e, nuclear às organizações revolucionárias homogêneas” [2].

 

Também coincidimos no tipo de partido mundial definido no Programa de Transição: “Sem democracia interna não há educação revolucionária. Sem disciplina não há ação revolucionária. A estrutura interna da IV Internacional baseia-se nos princípios do centralismo democrático: plena liberdade de discussão, unidade completa na ação”. Esta definição hoje está sendo amplamente questionada, inclusive por setores que vêm de nossa corrente e que seguem reivindicando a Quarta.

 

A eles dizemos que a vida tem confirmado esse princípio organizativo defendido por Trotsky, já que, como dizia Nahuel Moreno: “sem exceção alguma, todas as experiências de federalismo ou de trotskismo nacional terminaram na lixeira da história” [3].

 

Notas:

[1] Programa de Transição

[2] León Trotsky, Escritos, Tomo V, Vol. l

[3] Tese de fundação da LIT-QI (1982)

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