Milton Friedman era o mais conhecido e influente representante vivo do liberalismo econômico. Sua morte em 16 de novembro, aos 94 anos, não significará o fim do liberalismo, mas ela ocorre num momento em que as políticas neoliberais estão muito questionadas.
O liberalismo não é um fenômeno novo. No século XVIII Adam Smith elaborou a teoria que sustentaria este movimento. Antes dele os fisio
Smith afirmou que se deixássemos o mercado livre, sem interferências do Estado, ele se caminharia, como que conduzido por uma imensa mão invisível, ao melhor nível de bem-estar econômico e social. Posteriormente, David Ricardo, no século XIX, levou a defesa do liberalismo ao plano internacional ao afirmar que se os países se especializassem em determinados produtos e liberassem o comércio internacional todos sairiam ganhando.
Marx, partindo de Smith e Ricardo,
As idéias de Marx geraram muita inquietação na teoria econômica dominante de modo que se desenvolveu uma nova corrente que nega a teoria do valor-trabalho e retoma a defesa do liberalismo. Esta escola (Neoclássicos ou utilitaristas) teve muita influência na economia do final do século XIX e início do século seguinte. O grande problema a combater era o excesso de intervenção do Estado na economia.
Mas com a Grande Depressão, após a queda da bolsa de Nova Iorque em 1929, o liberalismo ficou fragilizado e ganhou influência a corrente que, ainda que no campo da teoria econômica burguesa, defendia uma intervenção efetiva do Estado na economia para retomar o
Friedman e a retomada do liberalismo
O livre mercado é a melhor forma de enriquecimento dos indivíduos. Esta era a convicção de Friedman e da scola de Chicago, da qual fazia parte. Intransigente defensor da não intervenção estatal na economia, ele também defendeu a adoção de taxas de câmbio totalmente flexíveis no mercado internacional, ou seja, o livre mercado entre as nações.
Com o Prêmio Nobel de Economia que ele ganhou em 1976 se fortaleceu a corrente liberal conhecida como monetarismo que busca um controle da emissão de moedas como condição necessária e determinante para minimizar a inflação e conseguir
Friedman influenciou diversos governos desde Nixon (EUA, 1969-1974) até Margareth Thatcher (Grã-Bretanha, 1979-1990) e Ronald Reagan (EUA, 1981-1989) do qual foi conselheiro. Os dois últimos abriram a fase do neoliberalismo e construíram as bases para o Consenso de Washington (receituário de medidas neoliberais). George Bush lamentou a morte de Friedman afirmando que seu trabalho melhorou a estabilidade econômica e o nível de vida em muitos países, mais que isso: ele “foi um pensador revolucionário que fez com que a dignidade e a liberdade humanas avançassem”. Será?
A influência de Friedman lamentavelmente não se restringiu aos EUA. Apesar de teoricamente defensor das liberdades econômicas e individuais, ele foi conselheiro do ditador Pinochet no Chile e muitas de suas idéias foram adotadas por Delfim Neto, quando ministro da Fazenda, durante a ditadura militar brasileira.
Com o avanço do neoliberalismo nos anos 1980 e 1990, os governos da América Latina abriram suas economias, desregulamentaram o câmbio e outros instrumentos de proteção de suas economias, privatizaram o patrimônio estatal de forma escandalosa e retiram direitos históricos de seus trabalhadores, tudo isso conduzido e aplaudido pelo FMI e governos imperialistas. O resultado foi o aprofundamento da
Isso fez, e ainda faz, com que diversos governos fossem substituídos por outros não identificados com o neoliberalismo e tidos como de esquerda. Infelizmente, estes governos não conseguiram e não se propuseram a romper o pilar central da economia burguesa, a propriedade privada dos grandes meios de produção, não conseguiram sequer negar a fundo o próprio liberalismo. Este é o caso do governo Lula no Brasil.
Eleito na esperança de mudar o país, o governo do PT manteve todos os postulados da política monetarista e entreguista de FHC e acabou por reproduzir todos os seus ataques, inclusive o roubo do dinheiro público. Um fato exemplar é a possibilidade de Delfin Neto assumir um ministério ou outro posto de destaque no segundo mandato lulista.
A não intervenção do Estado na economia é um mito defendido pelos arautos da economia burguesa. Não existe uma economia em que o Estado não tenha que se fazer presente. O liberalismo internacional só tem como resultado a manutenção dos países subdesenvolvidos na condição de pobres e subordinados às nações ricas. A presença dos EUA, países europeus e Japão em suas economias é muito maior que a presença dos paises latinos.
Aprendamos com a nossa própria história recente. A industrialização brasileira, sem fazer apologia a mesma, só foi possível porque o Estado brasileiro assumiu para si as principais tarefas, financiando, construindo a infra-estrutura e, inclusive, montando estatais para garantir a produção pesada.