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Argentina| Como teria que enfrentar o acordo com o FMI?

março 21, 2022

O governo, a oposição e todo o peronismo estão muito indignados com a queima de pneus e as pedras jogadas no Congresso que ocorreu no dia em que os deputados votaram por pagar US$ 44 bilhões mais juros ao FMI.

Por: PSTU-Argentina

Apontam isso como atos praticados por criminosos e começaram uma caça às bruxas, com batidas e prisões. Com isso querem desviar a verdadeira discussão e a verdadeira violência, o roubo que significa o pagamento desse roubo que Mauricio Macri contratou. Os deputados aparecem na mídia se vitimizando por não conseguirem “debater” a entrega do país em paz. Querem que deixemos que roubem em paz, com o povo em silêncio e ficando no “molde”. Indignam-se com vidros quebrados, com a mesma mecânica de pensamento de quem se indigna com paredes pichadas diante do estupro ou do feminicídio. Para essas pessoas, a violência da fome e do desemprego é legal, porque a exercem através de sua democracia para ricos, com sua polícia e juízes administrados por ricos, para defender os interesses dos abutres do sistema financeiro e das multinacionais que vêm roubar tudo de nós. Essa democracia é uma mentira, porque um país onde mais da metade da população vive na pobreza não pode ser democrático. O que realmente vivemos é a ditadura do capital, do lucro dos empresários e seus fantoches do Governo, do Congresso e do Senado.

A operação da mídia e as batidas e prisões são preventivas, eles querem nos intimidar, porque sabem que em algum momento a raiva vai explodir. Por isso também atacaram imediatamente Sebastián Romero, “o gordo do morteiro”, membro do PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) que está preso justamente por ser um símbolo dessa luta do povo que enfrentou a Reforma da Previdência em 2017. Infelizmente, as maiores forças da esquerda ecoaram essa campanha, ao invés de se posicionarem abertamente em defesa do protesto e repúdio à repressão do Estado. Mas não só isso, a maioria da esquerda tinha uma atitude pacifista, totalmente adaptada às instituições do Estado, uma atitude de “deputados bons e responsáveis”. Somos totalmente contra isso e queremos discuti-lo, porque a crise em que estamos mergulhados não tem outra saída senão a preparação de um novo Argentinazo, uma nova revolução, que retire do poder os fantoches das multinacionais e os bancos, e coloque no seu lugar os trabalhadores e o povo.

A institucionalização de denúncias e lutas não é o método dos revolucionários.

Diante dessa situação, antes de 10 de março e também depois, foram desencadeados debates na esquerda e na vanguarda, que precisam ser desenvolvidos.

Queremos fazer esse debate com a FIT-U como um todo, sem rodeios, porque o papel da representação da esquerda no parlamento, os deputados desta Frente, estava longe, em nossa opinião, do papel que os revolucionários deveriam ter no parlamento burguês, ainda mais pelo tamanho desta entrega.

Se concordamos que o pacto com o FMI é mais fome, desnutrição, mais pobreza para a população, não deveria utilizar a conquista de ter representação no Congresso para fazer todo o possível para enfrentar esse acordo? Não era necessário fazer um escândalo quebrando os protocolos da sessão? Não merecia ao menos fazer algo como o que Zamora fez em 1991, quando repudiou a presença de Bush no Congresso? Não deveria ter havido um escândalo quando começou a repressão, apresentar uma moção para adiar a sessão, etc.?

Em relação à mobilização de fora, em um primeiro momento expressamos que uma rádio aberta em frente ao Congresso era e é muito menos do que suficiente, e que, embora não houvesse condições sequer semelhantes às de dezembro de 2017, para se considerar algo semelhante, foi necessário marcar a perspectiva de que só podemos derrotar esse acordo com a ação massiva e direta dos trabalhadores. Mas mesmo uma queima de pneus (que não deixa de ser um ato simbólico) gerou rechaço das forças da FIT-U, que não propõem outra perspectiva que não a testemunhal e pacífica. Seja sobre o que deveria ser feito fora do recinto, ou sobre o que deveria ser feito dentro, o debate subjacente é o mesmo.

O que teríamos feito se fôssemos deputados?

Nós, revolucionários, não confiamos nas instituições e em seus “debates”, porque existem apenas para garantir fraudes e roubos às massas populares e trabalhadoras. Então, dentro dessa câmara de deputados, cheia de luxos e confortos, tem gritar, tentar por todos os meios acabar com uma votação que é a fome, que é mais mortalidade infantil, mais desemprego e ajuste, não é o debate de uma lei de trânsito. Interromper dentro como tenta-se interromper fora.

O regime político não hesitará em afastar pela força os/as deputados/as de esquerda que tentem por todos os meios evitar a farsa do século, e nós estaremos lá, convocaremos os sindicatos e a todo mundo para defender o que é nosso, e é muito possível que sejamos presos e condenados e teremos que desenvolver enormes campanhas de solidariedade sem dúvida, mas a farsa do século não pode ser apenas denunciada, por mais voz que se levante, nos marcos institucionais, com suas formas. Quando o acordo Chevron-YPF foi votado na legislatura de Neuquén, quando se executava essa entrega monumental, houve um deputado que deixou a instituição e, junto com os trabalhadores, enfrentou a repressão com pedras, Raúl Godoy. Ele foi questionado, mas apenas pelos ricos do poder.

Então, se fôssemos deputados, dali eles nos tirariam de lá algemados ou não nos tirariam, porque não há outra atitude a não ser levantar, gritar em megafones, atrapalhar ao máximo a sessão de entrega, cortar microfones, etc., os deputados e assessores de esquerda na primeira linha.

Uma discussão necessária

Há muito que levantamos este debate com as forças da FIT-U, de cujas listas fazemos parte, e acreditamos ser urgente fazê-lo, pois com o acirramento da entrega, a situação vai piorar e os parlamentares poderiam ter um papel muito educativo e denunciador, grande, deixando de estar atrelados à institucionalidade.

Teremos outras oportunidades, porque a entrega e ajuste são grandes e permanentes, por isso fazemos esse debate sem rodeios, a institucionalização das lutas não traz nenhum benefício para nossa classe.

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