search
COP30

Construção Civil: A greve operária que enfrentou a desigualdade social e a COP 30

Rosi Pantoja e Roberto Aguiar

novembro 3, 2025

Enquanto famílias são despejadas de suas casas, indenizadas com valores que não garantem a compra de uma nova residência nem mesmo na região em que morava, o setor empresarial da construção civil nunca lucrou tanto com a COP 30. Os empresários lucraram com as megas obras e com os altos preços dos imóveis. E queriam lucrar ainda mais, pagando um reajuste miserável de R$ 5 nos salários e de R$ 10 na cesta básica.

Mas eles não contavam com uma pedra no meio do caminho: a organização dos operários e operárias, firmes com o seu Sindicato, filiado na CSP-Conlutas, tendo à frente os militantes do PSTU e da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI).

As verbas disponibilizadas pelos governos federal e estadual para as obras da COP 30 somam mais R$ 5 bilhões. Em meio a esse derrame de dinheiro realizado pelo presidente Lula (PT) e pelo governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), os empresários apresentaram uma proposta vergonhosa, um grande desrespeito com os operários e operárias que estão trabalharam dia e noite para que as obras da COP30 fossem finalizadas a tempo. Mas a nossa resposta a esse absurdo foi uma greve histórica, que ganhou repercussão internacional”, pontua o operário Cleber Rabelo, diretor do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil e do Mobiliário de Belém (STICMB) e militante do PSTU.

Foram 10 dias de greve, com atos de ruas, com embates contra os patrões e os governos, que tentaram a todo custo reprimir a nossa luta. Paralisamos todas as obras, incluindo as principais obras da COP 30. Desmascaramos o governador e mostramos ao mundo a desigualdade social, a opressão e a exploração que vive a classe trabalhadora na cidade sede do evento da ONU, que diz buscar saídas por justiça climática e um planeta melhor. Não foi à toa que a população apoiava massivamente a greve”, completa Cleber.

Festa do capital imobiliário

A greve desmascarou o discurso mentiroso do governador Helder Barbalho de que a COP30 vai deixar um grande legado para a população de Belém. Mostrou que avançou a concentração de riqueza nas mãos de uma minoria de empresários, com grandes obras que aprofundam as contradições e geram mais exclusão social.

O que vimos com a COP 30 foi uma grande festa do capital imobiliário. A construtora Quadra Engenharia colocou à venda apartamentos de luxo pelo valor de R$ 18 milhões.

Um pedreiro, com salário médio atual de R$ 2.063,34, teria que trabalhar 726 anos para acumular o valor de um desses imóveis. Já um servente, recebendo em média R$ 1.518,00, precisaria trabalhar 988 anos para ter acesso ao mesmo apartamento.

A especulação imobiliária não se reflete apenas no preço de compra e venda dos imóveis, mas também dos aluguéis. Mesmo antes da COP30, Belém foi considerada a segunda capital com o aluguel mais caro do país, com R$ 57,29 por metro quadrado, perdendo apenas para São Paulo, com R$ 59,83, segundados dados FipeZap.

Os preços abusivos das hospedagens chamaram a atenção da mídia. O governo Lula e seu aliado Hélder Barbalho esbravejaram punição aos hotéis que cobrassem preços exorbitantes. Mas tais medidas se resumiram a encontrar alternativas para hospedagens. O combate aos preços exorbitantes se chocaria com os interesses das redes hoteleiras, as quais estão sendo incentivadas pelos próprios governos.

Essa situação mostra com quem vai ficar o tal legado da COP 30. A riqueza produzida pela classe trabalhadora seguirá concentrada nas mãos de uma minoria. Foi contra essa realidade, fruto do sistema capitalista, que a greve operária se enfrentou.

Conquistas

Os operários e operárias da construção civil de Belém conquistaram as pautas econômicas e foram exemplo de luta as injustiças e a exploração dos patrões.

Mostramos à classe trabalhadora brasileira e mundial que é possível lutar e derrotar os empresários e os governos. Mostramos que organizada e com uma direção comprometida com os interesses dos trabalhadores, ligada a uma organização revolucionária, o PSTU, a classe operária tem uma força fenomenal”, afirma Cleber Rabelo

Com a greve obtiveram aumento real de 1,37% nos salários, garantindo um reajuste total de 6,5%, quando a patronal queria dar 5,13%; aumento de R$ 50 na cesta básica, os empresários queriam impor R$ 10; pagamento de R$ 350 referente a participação nos lucros e resultados (PLR); e uma conquista histórica, a classificação das operárias.

O papel do PSTU na greve

O PSTU tem um histórico trabalho junto aos operários e operárias da construção civil de Belém. A categoria reconhece a presença e o apoio do partido nas suas lutas. Não foi diferente nesta greve. Em todas as passeatas, lá estavam as bandeiras vermelhas do PSTU tremulando no ar.

O PSTU tem uma relação forte com a classe operária brasileira. Enxergamos o papel central que a classe operária cumpre dentro do sistema capitalista, como força motriz e força revolucionária para derrotar esse sistema opressor e explorador”, diz Aurinor Gama, coordenador geral do Sindicato e militante do PSTU.

A vitória que obtivemos é parte da combinação da presença de uma direção revolucionária e socialista à frente do sindicato, que construiu a greve apoiada na base, dialogando em cada obra, disputando a consciência da categoria de que era hora de irmos ao embate. Isso foi só uma pequena mostra de que, quando a classe se junta a uma direção consequente e combativa, ninguém segura”, finaliza Aurinor.

Leia também