Flotilha à Gaza desperta protestos pelo mundo

Por: Marcel Wando
Da flotilha às ruas, uma onda internacional de mobilizações se levanta para desafiar o bloqueio e denunciar o genocídio palestino.
A flotilha Global Sumud, que partiu no fim de agosto da Espanha e já cruzou o Mediterrâneo em direção à Faixa de Gaza (acompanhe o trajeto aqui), deve chegar ao destino por volta do dia 13 de setembro. A frota leva centenas de ativistas e toneladas de mantimentos, em um ato político contra o bloqueio imposto por Israel. A expectativa da chegada desencadeou um chamado internacional a protestos na mesma data, com manifestações previstas em diversas cidades do mundo.
Protestos pelo mundo
Em Gênova, o apoio ultrapassou a simbologia: os trabalhadores portuários coletaram mais de 300 toneladas de mantimentos para embarcar rumo a Gaza e anunciaram que, se a flotilha for atacada ou impedida, “nenhuma carga sairá do porto para Israel”. Essa decisão, respaldada pelo sindicato USB e pelo coletivo CALP, veio acompanhada de uma marcha noturna com tochas que reuniu 40 mil pessoas nas ruas da cidade. Inspirados pelo gesto genovês, sindicatos portuários de outros países também se declararam dispostos a aderir a um bloqueio europeu de cargas destinadas a Israel, caso a frota seja interceptada.
O impacto também chegou ao mundo dos esportes. Durante a Vuelta a España, uma das maiores competições de ciclismo do planeta, manifestantes pró-Palestina interromperam etapas no País Basco. A pressão foi tamanha que os organizadores foram obrigados a encurtar o percurso e declarar a prova sem vencedor. A equipe Israel-Premier Tech acabou retirando o nome “Israel” de seus uniformes, numa tentativa de reduzir tensões, e classificou os protestos como um risco à segurança. O episódio ganhou destaque global e mostrou que até grandes eventos esportivos podem ser palco de resistência contra o bloqueio de Gaza.
Nos estádios de futebol, a solidariedade se expressa em escala popular. Em Lisboa, torcedores do Fenerbahçe, da Turquia, estenderam uma faixa gigante com os dizeres “Stop the genocide in Gaza – Free Palestine” (Parem o genocídio em Gaza – Palestina Livre), cobrindo dois andares da arquibancada durante um jogo da Liga dos Campeões. Além disso, torcidas turcas já vinham entoando cânticos e exibindo bandeiras palestinas em jogos nacionais e internacionais desde o início da guerra. A própria UEFA, pressionada pela opinião pública e por atletas, chegou a exibir antes da Supercopa da Europa um banner com a frase “Stop killing children. Stop killing civilians” (Parem de matar crianças. Parem de matar civis), em uma tentativa de responder à onda de críticas diante das mortes em Gaza.
A mobilização atravessa fronteiras também nas ruas. Dezenas de milhares protestaram em Bruxelas exigindo o fim dos bombardeios e do cerco a Gaza, em atos que se repetiram em cidades como Londres, Paris, Madri e Roma. Ao mesmo tempo, os organizadores da flotilha convocaram protestos em 44 países para acompanhar sua travessia, ampliando a pressão pública internacional.
Até nos portos onde a flotilha aportou a solidariedade se materializou. Na Tunísia, após o incidente em que uma das embarcações pegou fogo sob suspeita de um ataque de drone (o que foi negado pelas autoridades locais, que atribuíram o fogo a causas internas), centenas se reuniram diante do cais com bandeiras palestinas e gritos de “Free Palestine” (Palestina Livre). O ataque, que não deixou feridos, serviu como lembrete da tensão em torno da missão, mas também como demonstração do apoio popular que ela desperta.
Esse mosaico de manifestações, dos portos às ruas, das competições esportivas às arquibancadas, demonstra que a flotilha já cumpre parte de sua missão antes mesmo de chegar a Gaza: romper o silêncio, gerar visibilidade e articular uma rede global de resistência contra o bloqueio e o genocídio que Israel está promovendo em Gaza.
Tomar as ruas no dia 13 de setembro
A flotilha está sendo mais do que uma ação simbólica da solidariedade internacional aos palestinos. Ela está sendo um catalisador de uma onda de protestos global que defende a dignidade de um povo sitiado e seu direito à autodeterminação e à resistência. Quando trabalhadores cruzam os braços, quando torcedores erguem suas bandeiras ou quando manifestantes interrompem um espetáculo esportivo, eles gritam que Gaza não está sozinha.
O 13 de setembro não será apenas a possível data de chegada da flotilha em Gaza. O mundo deve voltar os olhos para as ameaças de Israel a essa ação de solidariedade. Por isso, protestos estão sendo marcados em várias cidades pelo mundo.
Chamamos, em primeiro lugar, a ocupar as ruas em grandes manifestações de solidariedade. E, onde for possível, ampliar essa força com paralisações em escolas e locais de trabalho, envolvendo estudantes e trabalhadores para fortalecer a pressão.
É hora de transformar a solidariedade em ação efetiva, exigindo que os governos de todo o mundo rompam as relações diplomáticas, econômicas e militares com o Estado de Israel e ponham fim ao genocídio e ao cerco criminoso a Gaza. No dia 13, Gaza não estará sozinha: que nossas lutas sejam extensão da resistência palestina.