As crises do Estado de Israel

Por: Alejandro Iturbe
Em outro artigo deste site, denunciamos que o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu retomou seu plano de expulsar palestinos de Gaza, com o apoio de Donald Trump[1]. No mesmo artigo, é apontado que “nem tudo são flores” para o Estado sionista, pois está passando por várias crises atravessadas pela “guerra permanente” promovida por Netanyahu. Neste artigo, vamos analisar essa situação.
Desde sua criação como enclave político-militar em 1948, a população israelense sempre esteve convencida de que o Estado sionista (com o apoio das potências imperialistas) era militarmente invencível porque havia vencido todas as guerras que havia travado contra os países árabes (1948, 1956, 1967 e 1973).
Essa invencibilidade militar foi desmentida quando a invasão do Líbano pelo exército israelense foi derrotada pela resistência libanesa, liderada pelo Hezbollah. No entanto, essa derrota ocorreu em outro país. Persistiu a convicção de que o território e a população israelenses eram intocáveis porque eram protegidos por uma forte guarda armada de suas fronteiras, um serviço de inteligência eficaz e, mais recentemente, por uma “cúpula de ferro” tecnológica impenetrável contra ataques aéreos.
Essa convicção foi questionada duas vezes. A primeira foi em 7 de outubro de 2023, com a audaciosa operação realizada pelo Hamas a partir da Faixa de Gaza que “perfurou” a fronteira entre este território e o Estado sionista, penetrou em território israelense e se retirou com sucesso.
A segunda foi na recente e breve guerra entre o Estado sionista (apoiado por Donald Trump) e o Irã porque uma parte das centenas de mísseis iranianos lançados em território israelense rompeu a “cúpula de ferro” e caiu sobre as cidades[2]. Este ataque causou danos e baixas significativos, especialmente em áreas onde a população não tem acesso a abrigos antiaéreos, como a cidade de Tamra[3]. Num país cuja população opressora sempre teve a convicção de que suas agressões permanentes contra os palestinos e os povos árabes ficavam impunes, o fato de comprovar que também sofrerá as consequências da guerra tem inegavelmente um impacto político forte.
A maioria dos analistas internacionais concorda que não houve um vencedor militar na guerra Israel-Irã. No entanto, esse impasse militar (um terreno em que Israel possui grande superioridade) tem um “gosto amargo” para o estado sionista. A própria mídia israelense faz essa avaliação. O Canal 13, o The Times of Israel e o Haaretz analisam que “O ataque ao Irã custou um preço alto e não atingiu nenhum de seus objetivos”.[4] A expressão mais profunda disso é seu enfraquecimento para “ditar as regras do jogo” na região, como tem feito desde 1948. Esta é a conclusão a que chegou David Hearts, editor-chefe do Middle East Eye (uma mídia jornalística britânica independente): “Israel não pode ditar o futuro do Oriente Médio”.[5]
Como sempre faz diante de situações desse tipo, Benjamin Netanyahu “foge para adiante” e redobra o ataque genocida ao povo palestino na Faixa de Gaza. Assim, ele procura galvanizar a unidade dos israelenses por trás de seu governo para enfrentar o “inimigo comum” (os palestinos). Conseguiu parcialmente, mas a situação interna é muito mais contraditória.
As grandes contradições na sociedade israelense
Apenas iniciada esta nova ofensiva em Gaza, mais de 30.000 pessoas marcharam pelas ruas de Tel Aviv exigindo que o governo de Netanyahu ” acabe com a guerra de Gaza” em troca do “Hamas libertar os reféns israelenses”.[6] A mobilização foi convocada pelo Fórum dos Familiares dos Reféns e Desaparecidos e outros setores da sociedade israelense se juntaram, como nos anteriores, para esta reivindicação[7].
A reivindicação das famílias dos reféns atua como um gatilho para mobilizações que expressam a forte contradição que se abriu na sociedade israelense nas últimas décadas, e que se manifestou nitidamente nas mobilizações contra a reforma judicial promovida pelo governo Netanyahu[8]. Vejamos as raízes dessa divisão.
O Estado de Israel é um enclave político-militar do imperialismo. Durante décadas, sua economia foi desenvolvida, impulsionada e controlada diretamente pelo Estado. Essa economia foi motorizada pela “ajuda” estrangeira enviada pelo imperialismo norte-americano para fins militares e pelos fundos fornecidos pelo movimento sionista internacional com contribuições de judeus que viviam em outros países (especialmente nos EUA).
Nesse contexto, desenvolveu-se uma indústria de armas que, primeiro, apenas abasteceu o exército israelense. Em seguida, começou a exportar, transformando o país em um dos dez maiores exportadores de armas do mundo[9]. Inicialmente, fabricava armas leves e munições, mas depois incorporou veículos de combate e aeronaves. Em seguida, especializou-se cada vez mais no desenvolvimento de tecnologia para fins militares, de segurança e vigilância e, por último, também produz software e sistemas em geral.
Essa economia israelense estatizada começou a ser desmantelada e privatizada a partir dos anos 1980 (na onda “neoliberal”); algumas dessas empresas estatais foram transformadas em empresas mistas e outras foram diretamente vendidas[10]. Nessa base “neoliberal”, novas empresas privadas começaram a se desenvolver, especialmente no setor de tecnologia de segurança e software e sistemas em geral. De forma minoritária, também em outras áreas como farmacologia, alimentos e bebidas. Atualmente, as exportações israelenses ultrapassam 30% do PIB do país[11].
Assim, surgiu uma nova burguesia privada “clássica” que estabeleceu fortes vasos de comunicação com os mercados internacionais por meio de exportações, investimentos da burguesia israelense no exterior e do exterior para Israel[12]. Surgiu também um novo setor de trabalhadores qualificados e profissionais, cujo desenvolvimento pessoal e econômico está ligado a essa nova economia.
Essa nova burguesia e esse novo setor de trabalhadores têm fortes contradições com Netanyahu e sua política de “guerra permanente”, já que o descrédito e o atual isolamento do Estado de Israel no mundo, com mobilizações massivas de solidariedade aos palestinos, fortaleceram a campanha BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) que afetou muito as exportações de produtos israelenses e diminuiu possíveis investimentos ocidentais no país. Uma situação que causou uma crise na economia israelense que atinge duramente esses setores[13].
Por isso, querem acabar com a invasão de Gaza e que sejam abertas negociações para alcançar uma “paz definitiva” com os palestinos e, assim, poder desenvolver seus negócios pacificamente. Aspiram a viver em um Israel “moderno, desenvolvido e democrático” no estilo dos pequenos países imperialistas europeus. Uma aspiração que se choca com o projeto e a política do governo Netanyahu: “Grande Israel” apropriando-se de todo o território do Mandato Britânico na Palestina e até mesmo em partes do Líbano e da Síria.
O êxodo silencioso
A crise econômica significou que “muitas empresas dirigidas por israelenses […] já têm sua sede nos Estados Unidos e mantêm uma filial em Israel.”[14]O que acontece com as empresas israelenses é expressão de um processo muito mais profundo, que vem ocorrendo há vários anos: o número crescente de cidadãos israelenses (dezenas de milhares a cada ano), muitos deles da elite intelectual e profissional, que deixam o país “silenciosamente”, buscam uma solução “individual” trabalhista e profissional na emigração para os EUA ou Europa (sem renunciar à cidadania israelense).[15]
Podemos falar de uma “crise de identidade”, a perda de um sentimento de pertencimento que foi fundamental para a emigração de judeus europeus e outros para “construir Israel” e “dar suas vidas” pelo país. No ano passado, um meio de comunicação espanhol relatou: “Os médicos e a elite estão deixando Israel porque ‘sentem que não pertencem a esse lugar’“.[16].
Diante da quebra do sentimento de pertencimento desse setor (descendentes dos fundadores e construtores do Estado de Israel) e do aumento da população palestina residente em seu território, a partir do início do século 21, o Estado sionista passou a incentivar a imigração de judeus russos para se estabelecerem no país (com a concordância e apoio de Vladimir Putin). Estima-se que, atualmente, sejam mais de um milhão deles, que receberam privilégios, como subsídios e moradia, para que, após expulsar os palestinos, atuem como “colonos” ocupantes na região que o Estado sionista continuou a roubar em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Nesta região, eles se tornaram a “linha de frente” na “defesa de Israel” e na agressão contra os palestinos.
Uma crise crescente na base das Forças de Defesa de Israel
Israel é um estado altamente militarizado. Aos 18 anos, todos os seus cidadãos israelenses são obrigados a cumprir um longo serviço militar (32 meses para homens e 24 meses para mulheres). Depois, até aos 45 anos, permanecem como reservistas que realizam treinamentos de um mês por ano, ou são chamados a combater por períodos de três meses sempre que a situação o exigir, como atualmente na ocupação de Gaza.
O êxodo a que nos referimos é a maneira pela qual muitos jovens israelenses fogem a essas obrigações militares. Mais importante ainda, os métodos genocidas usados na ocupação de Gaza geraram uma crise crescente entre os reservistas. Um grande meio de comunicação internacional relata que “100.000 israelenses pararam de se apresentar ao serviço de reserva” (40% do número total de reservistas). Um deles, Yuval Green (um estudante de medicina de 26 anos) criou uma página no Instagram de soldados contra a guerra. Nela, postou: “Nunca mais servirei com este governo”.[17]
Alguns reservistas têm problemas muito mais sérios. Daniel Edri, 24, (que combateu no Líbano e em Gaza) incendiou seu carro e se matou porque foi assombrado por memórias das “visões e cheiros dessas experiências”, como disse em uma carta a seu irmão. O jornal Haaretz diz que “já existem 11 reservistas que cometeram suicídio devido a problemas de saúde mental”.[18] Outros meios de comunicação citam um relatório do próprio exército israelense e estimam o número de suicídios em 38, um recorde histórico[19].
O governo de Netanyahu
Neste contexto de fortes contradições internas na sociedade israelense, acentuadas pela ocupação de Gaza e seus métodos genocidas, a imprensa internacional previu várias vezes que o governo de Netanyahu “estava prestes a cair”. No entanto, foi mantido até agora. Como conseguiu isso? Qual é a situação atual a esse respeito?
Para responder a essa pergunta, é necessário explicar que o regime político tem um caráter nazista por causa da sua política em relação aos palestinos (a nakba permanente). Ao mesmo tempo, para os cidadãos israelenses, é uma democracia parlamentar burguesa com o Knesset (Assembleia, composta por 120 legisladores) como organismo central. As eleições parlamentares são realizadas a cada quatro anos (as últimas foram em 2022). Para formar um governo, o primeiro-ministro deve ter o apoio de uma maioria parlamentar (se perder, deve renunciar e convocar eleições antecipadas).
Este sistema político se fragmentou em vários partidos: nas eleições de 2022, foram eleitos representantes do Knesset de 22 organizações[20]. Esse espectro de partidos varia da extrema direita sionista (Otzma Yehudit) e o Likud (direita sionista histórica) para partidos de palestinos que vivem em território israelense como cidadãos (Ra’am-List-United Arab) com uma longa lista de organizações no meio.
O atual governo de Netanyahu é centralizado pelo Likud (32 deputados), que formou uma coalizão de 8 partidos com 67 deputados no total. Há também uma coalizão de oposição com 53 deputados, liderada pelo partido Yesh Atid, um dos maiores promotores de um acordo de paz com os palestinos e crítico das políticas do governo (23 deputados).
No âmbito desse complexo cenário parlamentar, Bibi (como os israelenses chamam Netanyahu) provou ser o que os analistas burgueses chamam de “animal político” que conseguiu chefiar os governos israelenses de 2009 até agora, exceto por um curto interregno entre as eleições de 2021 e 2022 (onde governou uma coalizão de oposição). Fez isso com base em acordos do Likud com outros partidos e manobras de todos os tipos.
Por exemplo, manteve um acordo de longo prazo com o partido Shas (atualmente com 11 deputados). A base social desta organização são os judeus religiosos ultraortodoxos que se dedicam apenas ao estudo da Torá (Bíblia Hebraica). O Estado israelita garante-lhes subsídios equivalentes a um salário e, ao mesmo tempo, estão isentos do serviço militar. Para manter esses privilégios, se integraram diversas coalizões, especialmente com Likud e Netanyahu.
O privilégio de isenção do serviço militar sempre foi duramente criticado pelos partidos da oposição que, em várias ocasiões, entraram com ações judiciais opostas na Suprema Corte israelense. No ano passado, o Tribunal decidiu que jovens judeus ultraortodoxos deveriam ser convocados para o serviço militar obrigatório e o governo de Netanyahu tinha que começar a aplicá-lo.
Diante disso, uma crise se abriu porque o Shas anunciou que, se Netanyahu executasse essa medida, seus deputados deixariam a coalizão parlamentar governista, que seria minoria, o governo cairia e eleições antecipadas teriam que ser convocadas. Netanyahu estava entre a cruz e a espada: gerar um conflito de poderes com a Suprema Corte (altamente respeitada pela sociedade israelense) ou a queda de seu governo.
Em 8 de julho, o exército israelense emitiu um comunicado informando que, a partir de domingo, 13, começaria a enviar “chamadas preliminares” como o primeiro passo de um “plano de recrutamento de vários meses”. Em resposta, o Shas convocou mobilizações que atacaram os carros dos comandantes militares e entraram em confronto com a polícia que os reprimiu[21].
Netanyahu tem mantido reuniões com os líderes do Shas para buscar uma “solução para suas demandas” que, ao mesmo tempo, cumpra a ordem da Suprema Corte[22]. Sotto voce (à meia voz), circula a versão de que a “solução” seria que os jovens ultraortodoxos ingressassem no serviço militar não para receber treinamento de combate e serem enviados para as frentes militares, mas para realizar tarefas de retaguarda. Da mesma forma, receberiam o mesmo salário e teriam os mesmos benefícios que os outros jovens recrutas recebem (passagens gratuitas e descontos especiais no comércio[23]). O Shas aceitará esta proposta ou continuará com suas exigências máximas (isenção total do recrutamento sancionada pela lei do Knesset)? O destino imediato do governo Netanyahu depende de como a realidade responde a essa pergunta.
A imagem pública deteriorada de Bibi
Netanyahu está cada vez mais desacreditado em setores crescentes da sociedade. Esse descrédito começou em 2020, quando um processo judicial foi iniciado contra ele sob a acusação de “fraude, suborno e quebra de confiança” por “trocar favores para beneficiar seus amigos, a mídia ou empresas em troca de presentes e melhorar a imagem de seu governo”, entre 2007 e 2017. É a primeira vez na história de Israel que um primeiro-ministro em exercício é julgado. Por esse motivo, foi suspenso e reaberto várias vezes[24].
Netanyahu afirma ser inocente e afirmou que “o processo judicial contra ele é sobre perseguição política por seus oponentes de esquerda, que teriam a intenção de removê-lo do poder”. Membros de seu gabinete criticaram a última retomada do julgamento porque “o primeiro-ministro israelense tem neste momento tarefas ‘mais importantes’, como guerra, resgate de reféns e manutenção da economia”.
No entanto, em todas essas questões, o desempenho de Bibi também recebe duras críticas. Dissemos que as famílias dos reféns israelitas exigem que ele dê prioridade à sua recuperação em vida e, se necessário, que assine um acordo de paz com o Hamas. Yoav Gallant, um ex-oficial militar e líder de um partido menor que entrou no governo após o início da invasão e ocupação de Gaza e saiu alguns meses depois, disse que “a prioridade do governo deve ser um acordo de libertação de reféns com o Hamas”. Gallant também expôs uma percepção que está crescendo na sociedade israelense: para Netanyahu, sua sobrevivência política, a de seu governo e seus planos é mais importante do que as necessidades (e até mesmo as vidas) dos cidadãos israelenses. Que, por isso, uma “‘escuridão moral’ está caindo sobre o país”.[25]
Por outro lado, uma nova oposição a Netanyahu surgiu de generais ativos ou aposentados da “velha guarda” sionista. Este setor defende o projeto do Grande Israel a todo custo e propõe usar métodos ainda mais duros do que os de Netanyahu: “O inimigo deve ser esmagado em Gaza, sem piedade”, declarou Noam Tibon, um general aposentado de 62 anos[26]. Ao mesmo tempo, os chefes militares e de segurança criticaram duramente Bibi por não aceitar qualquer responsabilidade pessoal pelo grave erro de não detectar e impedir a ação do Hamas em 7 de outubro. Ou seja, por não ter sido capaz de “defender Israel e seu povo”. Pelo contrário, culpou os serviços de inteligência.
Sobre este ponto, Tibon disse: “Toda a culpa por esse fracasso é de Benjamin Netanyahu que, como chefe de governo, está realmente no comando”. A conclusão dessa oposição é que “Netanyahu não deveria ter envolvimento na guerra e no que acontecer depois”.
Por fim, vimos que um setor crescente da sociedade israelense considera a crise econômica que o país está vivendo como consequência da ocupação de Gaza, seus métodos genocidas e o isolamento internacional em que o Estado sionista foi posto. Yair Golan, um ex-general de alto escalão e líder de um partido de oposição, disse: “Se o país não recuperar sua sanidade, Israel está a caminho de se tornar um estado pária entre as nações, a África do Sul de antigamente”.[27]
Vimos que, quando se sente enfraquecido e ameaçado politicamente, Bibi “corre para adiante disparando tiros” (assim como fez com o ataque ao Irã e, depois, com a escalada do ataque genocida contra o povo palestino em Gaza). É assim que ele busca alcançar a “unidade nacional” por trás de seu governo para “enfrentar o inimigo comum”.[28]
Inicialmente, alcançou esse objetivo: 82% dos judeus israelenses apoiaram o ataque ao Irã[29]. Mais tarde, esse percentual diminuiu, mesmo em bairros que são bastiões da coalizão governamental, ao comprovar que, com os ataques iranianos, eles também estavam sofrendo as consequências da guerra[30].
Um de cal e outro de areia
Após o empate na guerra com o Irã, o debate sobre a ocupação de Gaza e seus métodos genocidas foi reaberto. Diante da situação crítica criada com o Shas, que pode obrigá-lo a renunciar e convocar eleições antecipadas, Netanyahu começou a olhar para as pesquisas de intenções de voto. E recebeu “uma boa e uma má notícia”. A boa notícia é que, na última pesquisa, as intenções de voto para a lista de deputados do Likud (encabeçada por Bibi) melhoraram após o ataque ao Irã: passou de 23 deputados para 31[31].
A má notícia é que, apesar dessa melhora, Bibi e o Likud precisariam formar uma coalizão novamente para obter uma maioria parlamentar para formar um novo governo. Outro fato negativo para ele é que se somassem os deputados obtidos pelos partidos que hoje compõem a coalizão governamental (atualmente com 67 deputados), chegariam a apenas 56 cadeiras (número insuficiente para ter maioria no Knesset).
Diante desse cenário, Bibi optou por não convocar eleições antecipadas e manter a atual coalizão de governo até 2026. Para fazer isso, precisa manter o apoio do Shas. Em outras palavras, o destino imediato do governo Netanyahu depende do resultado das negociações com esse partido.
Algumas considerações finais
Analisamos longamente as profundas contradições que dividem a sociedade israelense. No entanto, também é essencial analisar os limites intransponíveis que essas contradições têm.
O ponto de partida é que Israel não é um país opressor “normal”, mas um enclave criado pelas potências imperialistas com base no roubo e usurpação do território palestino e na expulsão violenta desse povo de suas terras e lares. Nesse território roubado aos palestinos, uma população estrangeira foi artificialmente assentada, e continua a fazê-lo, (principalmente judeus de origem europeia, e depois também de outros países) que foram construindo suas vidas sobre as bases que descrevemos. As casas em que vivem os israelenses, as escolas onde seus filhos estudam, as fábricas e os campos em que trabalham foram construídos na terra que foi roubada do povo palestino. Toda a sociedade israelense (incluindo a grande maioria de sua classe trabalhadora) está ciente disso e não está disposta a devolver essas terras.
Os novos setores da sociedade israelense querem acabar com a guerra permanente de Netanyahu, alcançar algum tipo de paz com os palestinos e até mesmo conceder-lhes um pequeno território. No entanto, ao mesmo tempo, acreditam que “é muito bom” que Israel tenha sido criado pela expulsão do povo palestino e que os judeus vivam em “seu país”. E os palestinos devem aceitar isso (seja “pelo bem” ou “pelo mal”). Netanyahu promove uma política “pelo mal”. O setor da sociedade israelense que critica essa opção e se mobiliza contra ela propõe que essa aceitação seja “pelo bem” (por meio de negociações e acordos). Mas ambos se baseiam na defesa incondicional da existência do Estado de Israel, mais ainda se considerar o que está em risco. O limite máximo de ruptura quando esse sentimento de pertencimento é perdido, como vimos, é o de alguns milhares que deixam o país para continuar suas vidas no exterior.
É muito bom que essas contradições sociais e políticas existam no estado sionista. No entanto, seria uma ilusão pensar que o enclave político-militar que é o estado sionista pode cair por “implosão”.
Este enclave só cairá se for destruído. É a única maneira de recuperar seu território histórico e pôr fim a décadas de dor e sofrimento. É por isso que a resistência heróica do povo palestino de Gaza e da Cisjordânia deve ser a “faísca” que desencadeia a luta revolucionária e militar dos povos árabes e muçulmanos contra Israel. No mundo, devemos ser solidários e apoiar cada vez mais essa lu
[1] https://litci.org/es/netanyahu-reanuda-su-plan-para-expulsar-a-palestinos-con-el-consentimiento-de-ee-uu/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[2] https://www.youtube.com/watch?v=Ankt84GIZ7w
[3] https://www.lanacion.com.ar/el-mundo/sin-refugios-y-blanco-del-extremismo-una-ciudad-arabe-israeli-sufre-lo-peor-de-los-ataques-de-iran-nid18062025/
[4] https://www.lahaine.org/mundo.php/medios-israelies-el-ataque-a
[5] https://www.youtube.com/watch?v=UGDXZJ81HpI
[6] https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/milhares-de-israelenses-protestam-contra-governo-e-guerra-em-gaza/
[7] https://litci.org/es/israel-a-netanyahu-se-le-complica-todo/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[8] https://litci.org/es/74690-2/
[9] Os 10 maiores exportadores mundiais de armas e a geopolítica do ferro e do fogo – Jornal Opção (jornalopcao.com.br)
[10] Israel acumula 98 empresas privatizadas | Oportunos
[11] Exportações de Israel podem chegar a US$ 165 bilhões (israelnoticias.com)
[12] Lista das principais empresas de Israel com valor de mercado – Capital Times
[13] https://litci.org/es/crisis-economica-en-el-estado-de-israel/?utm_source=copylink&utm_medium=browser
[14] https://harris-sliwoski.com/blog/
[15]https://www.jpost.com/spanish/noticias-de-israel/article-824445#google_vignette
[16] https://www.hispantv.com/noticias/economia/599729/iinflacion-subida-precios-exodo-israel
[17] https://www.france24.com/es/medio-oriente/20250417-el-descontento-crece-en-el-ej%C3%A9rcito-israel%C3%AD-nunca-volver%C3%A9-a-servir-bajo-este-gobierno
[18] https://www.swissinfo.ch/spa/un-reservista-israel%C3%AD-se-suicida-tras-servir-durante-m%C3%A1s-de-un-a%C3%B1o-en-gaza-y-l%C3%ADbano/89642996
[19] https://www.rfi.fr/es/oriente-medio/20250103-r%C3%A9cord-de-suicidios-en-el-ej%C3%A9rcito-israel%C3%AD-desde-el-7-de-octubre-de-2023
[20] Informações extraídas de https://main.knesset.gov.il/EN/Pages/default.aspx
[21] https://www.latimes.com/espanol/internacional/articulo/2024-07-16/ejercito-israeli-empezara-a-reclutar-a-judios-ultraortodoxos
[22] https://www.swissinfo.ch/spa/netanyahu-conf%C3%ADa-en-encontrar-una-soluci%C3%B3n-a-las-exigencias-de-partidos-ultraortodoxos/89463116
[23] https://www.huffingtonpost.es/global/sueldo-cobran-soldados-ejercito-israel-rp.html
[24] Justiça israelense retoma julgamento por corrupção contra Netanyahu em meio à guerra em Gaza
[25] https://efe.com/mundo/2024-10-07/guerra-gaza-primer-anversario/
[27] Israel está se tornando um estado pária – LA NACION
[28] https://www.bbc.com/mundo/articles/c628vrz96j9o.amp
[29] https://elpais.com/internacional/2025-06-22/iran-la-obsesion-que-se-le-resiste-a-netanyahu.html
[30] https://www.bbc.com/mundo/articles/c9940gx722no
[31] https://www.swissinfo.ch/spa/netanyahu-sube-en-las-encuestas-de-intenci%C3%B3n-de-voto-tras-la-guerra-con-ir%C3%A1n/89584669
Tradução: Lílian Enck