Confederação de Trabalhadores Solidariedade Equatoriana

A CTSE (Confederação de Trabalhadores Solidariedade Equatoriana) é uma central sindical fundada neste ano no Equador[1]. Foi convidada e participou do 5º Encontro da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas, realizado recentemente em São José dos Campos (São Paulo, Brasil). Para conhecê-los melhor, realizamos esta entrevista com seu presidente Juan Fernando Rodríguez.
Entrevista de Alejandro Iturbe
P. Como surge a CTSE?
R. Durante o governo do ex presidente equatoriano Lenín Moreno, junto com um grupo de companheiros que trabalhávamos no Ministério do Governo, criamos o sindicato dos trabalhadores (ou seja, no coração do Estado capitalista). Começam a perseguir o sindicato e finalmente no governo de Guillermo Lasso, sob a administração de Henry Cucalón demitem Juan e mais de 30 companheiros. Então, iniciamos uma campanha de solidariedade, com a exigência de sua reintegração, e estabelecemos relações com outros sindicatos do setor público e do âmbito municipal, assim como com algumas organizações internacionais.
Inicialmente, fizemos parte de outra central sindical e rapidamente percebemos que nesta central ao invés de nos apoiar “jogava contra” e entramos em choque contra os métodos burocráticos com os quais a central trabalhava.
Em novembro de 2022, em um congresso na Universidade Andina do Equador (Quito) vinte e três sindicatos rompemos com a antiga central sindical e abandonamos o congresso. Na própria porta da Universidade foi feita a proposta de criar uma nova central própria e começamos a trabalhar com esse objetivo. Em fevereiro de 2023, em um congresso realizado em Santo Domingo de los Tsáchilas fundamos a CTSE.
P. Quais setores a CTSE agrupa? Como é organizada?
R. Agrupamos 37 sindicatos, centralmente de trabalhadores públicos a nível nacional. Estamos buscando alianças com um sindicato do setor da agroindústria, em condições muito difíceis pelo caráter da patronal. Também foram incorporadas quatro associações de bairro, gente que trabalha em mercados e vendedores ambulantes: Associação de Triciclistas de Cayambe, Associação de Vendedores Ambulantes de Cayambe, Associação de Bairros Santa Rosa e Associação Carregadores Pedro Moncayo.
O Congresso elegeu um Comitê Executivo com um presidente (Juan Fernando Rodríguez) e vários secretários que assumem temas específicos. Em seu organograma consta uma Junta Nacional com representação democrática através da participação dos secretários gerais de cada sindicato.
P. Quais são os postulados e objetivos da CTSE?
Consideramos que estamos em um sistema de exploração do ser humano. Por isso, somos uma organização operária que tem como objetivo superar o sindicalismo de conciliação e entreguista realizado até agora pelas cúpulas sindicais no Equador.
Ao mesmo tempo que nos reivindicamos como uma organização operária, estamos conscientes que, em nosso país, existe uma maioria da população que é atacada e empobrecida pelo capitalismo e seus governos. Nas cidades, muitos têm que sobreviver com trabalhos precários, venda ambulante e viver em bairros sem serviços indispensáveis. Por isso, a CTSE já está incorporando associações que os organizam.
Também estamos conscientes que somos um país cuja maioria dos habitantes provém dos povos indígenas originários. Muitos deles são camponeses pobres que vivem de trabalhar a terra nas regiões da cordilheira e seus vales. Outros, vivem na selva amazônica defendendo sua tradição ancestral, que a natureza não pode ser “propriedade privada”, e vivem do que extraem diretamente dela.
Por isso, estabelecemos relações e conversações com diversos organismos da CONAIE (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador) com o objetivo de “fortalecer a organização dos trabalhadores tanto do campo como da cidade” e “fortalecer os laços com o movimento indígena”.
No recente plebiscito nacional sobre continuar ou parar a exploração petroleira no Parque Nacional Yasuní consideramos que esta exploração petroleira não só destruía uma das maiores reservas naturais do mundo, mas também destruía o modo de vida dos povos que o habitam. Por isso, fomos partícipes do chamado pela SIM à imediata suspensão dessa exploração, e uma nítida maioria do povo equatoriano teve essa mesma posição.
Somos conscientes de que a extração do petróleo é uma importante fonte de rendimento para o Equador e que numerosos trabalhadores vivem direta ou indiretamente disso. Mas acreditamos que, como todo processo econômico, isto não pode estar a serviço dos lucros das empresas capitalistas, que destroem a natureza e o modo de vida de povos inteiros. Para nós, o essencial é defender a natureza e a vida do ser humano e, a partir desta premissa, planificar o uso dos recursos naturais a serviço do povo.
P. Como se conectam com a Rede?
R. A partir da campanha de buscar solidariedade e difundir nossa luta, Solidaires e outras organizações europeias da Rede entram em contato conosco. Viemos com a ideia de que, como jovem organização sindical, nossa participação no V Congresso da CSP-Conlutas e este Encontro nos serviram de aprendizagem. Vamos embora muito contentes porque pudemos debater e trocar experiências com trabalhadores e organizações sindicais e sociais do Brasil, outros países da América Latina, Ucrânia, África, Palestina e Europa.
Temos muitos pontos em comum com o que foi formulado aqui: o caminho para conseguir os objetivos dos trabalhadores e dos povos é o da luta e não o da conciliação e entreguismo; que, por isso, precisamos de organizações sindicais e sociais de novo tipo; que nossa luta é internacional porque enfrentamos problemas e inimigos parecidos. Finalmente, a importância da solidariedade e do apoio internacional entre os trabalhadores e dos povos de todos os países.
Por isso, além de expor a problemática equatoriana, enviamos um apoio à luta do povo jujeño na Argentina[2] e fomos presencialmente apoiar a luta dos trabalhadores da fábrica Avibrás nesta cidade de São Paulo[3].
Voltamos ao Equador convencidos de propor às diferentes instâncias da CTSE que nos integremos como membros plenos da Rede.
Tradução: Lílian Enck
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[2] https://www.facebook.com/PSTUARG/videos/2126329507706233
[3] https://www.facebook.com/CSPConlutas/videos/6582703651815386