A Europa no epicentro da pandemia
A maioria dos governos do continente europeu tinham adotado o discurso “a pandemia acabou” com base nos altos índices gerais de vacinação. Entretanto, a realidade mostra que está em curso uma quarta onda cada vez mais forte, inclusive nos países mais ricos, como a Alemanha. Ao mesmo tempo, em vários países do continente ocorrem mobilizações importantes contra algumas medidas de restrição à circulação(como o chamado “passe sanitário”) e a obrigatoriedade da vacinação.
Por: Alejandro Iturbe
Em um artigo recente da agência britânica BBC, afirma-se: “A Europa é de novo ‘o epicentro’ da pandemia da Covid-19, segundo advertiu há alguns dias a Organização Mundial da Saúde (OMS) após observar um aumento constante de casos em todo o continente. Em uma coletiva de imprensa, o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, afirmou que ‘a região poderia registrar mais meio milhão de mortes nos próximos três meses’” [1].
O artigo levanta duas razões para este aumento. A primeira “é que nos últimos meses o ritmo de vacinação diminuiu em todo o continente”. A segunda, segundo Kluge, é “que o relaxamento das medidas de saúde pública contribuiu para o aumento das infecções na região europeia da OMS” [2]. Neste quadro, dois grandes países do continente apresentam um panorama muito grave.
Rússia
Em 19 de outubro passado, a Rússia “alcançou um novo recorde de 1.015 mortes em um só dia”[3]. As causas seriam: “O lento processo de vacinação e a relutância do governo de Vladimir Putin de impor um fechamento nacional pela Covid-19 produzem um novo aumento da pandemia na Rússia”, provocada pela variante Delta. Apesar do país contar com uma vacina de fabricação própria(a Sputnik V), em outubro passado, apenas 32% da população russa estava completamente vacinada. A notícia citada se refere ao “ceticismo e a desconfiança” da população com a vacina.
Ao mesmo tempo, mais além da “relutância” do governo de Putin, a situação obrigou as autoridades de Moscou a “impor uma quarentena de quatro meses para os maiores de 60 anos não vacinados e o governo nacional propôs uma semana sem trabalhar para tentar frear o aumento da pandemia da Covid-19”, assim como a volta ao teletrabalho para os não vacinados [4].
Apesar destas resoluções, a chefe da saúde Anna Popova “garantiu que as medidas adotadas atualmente ‘são insuficientes’ devido ao aumento considerável de contágios. ‘O desenvolvimento da situação epidêmica exige um maior número de medidas e uma reação muito mais rápida’” [5].
Alemanha
Enquanto isso, neste outro grande país, na terça 16 de novembro “registrou-se um novo recorde de contágios. Segundo o Instituto Robert Koch (RKI) de virologia, o país registrou 32.048 novos casos de Covid-19, um número 47% superior ao da semana passada.
Paralelamente, as mortes pela doença também continuam crescendo, com 265 mortes, 169 a mais que na terça passada. Alguns números que elevam o total de falecimentos por coronavírus para 97.980 falecimentos desde o início da pandemia”[6]. Isto significa que o número de contágios diários supera o pico do final do ano passado e o número de mortes por dia alcança o do início da pandemia (março 2020).
Na Alemanha há cerca de 66% da população vacinada mas há uma “estagnação” do processo de vacinação. Segundo o perito em saúde, Karl Lauterbach, “Com a quantidade de casos que temos neste momento, os hospitais de todo o país alcançarão sua capacidade máxima nas duas primeiras semanas de dezembro” [7].
Nesse contexto, o Parlamento alemão planejava votar na quinta 18 de novembro, “um novo marco legal para as restrições pela pandemia da Covid-19, que poderia ser mais restrito que o planejado anteriormente”[8]. Independentemente do que o Parlamento votar, diversos destinos turísticos já foram afetados em sua atividade e foi determinado o fechamento temporário do mercado central de Munique.
Outros países
No relatório citado da OMS, também se relata um panorama mais geral da região. “No Reino Unido, que supera 37.000 casos diários, a preocupação se centraliza nos possíveis efeitos que a quarta onda de infecções possa ter: um grande número de mortes e saturação do sistema de saúde. Alguns desses números já preocupam, pois no último dia foram registradas 165 óbitos frente aos 126 da semana anterior. A Ucrânia teve 3.800 mortes e um recorde de 27.377 novos casos nas últimas 24 horas. Ambos os países tem taxas de vacinação muito baixas. Na Romênia foi registrado o maior número de mortes em 24 horas, com 591, enquanto que na Hungria os contágios diários por Covid se duplicaram na última semana até alcançar os 6.268. […] a Croácia, por sua vez, registrou na quinta-feira 6.310 novos casos, seu maior número até agora, enquanto que a Eslováquia notificou seu segundo maior número de casos. Além disso, os contágios checos voltaram aos níveis registrados desde a primavera boreal”[9].
Outros países apresentam números proporcionalmente mais baixos de contágios e mortes, mas também em crescimento.
Diante deste quadro, Maria Van Kerkhove, diretora técnica da OMS para Covid-19, alertou que “nas últimas quatro semanas, os casos na Europa dispararam mais de 55%”. Por sua vez, o doutor Mike Ryan afirmou que “o que acontece na Europa é um disparo de advertência para o mundo. Neste momento, parece que estamos empenhados em acreditar que a pandemia terminou e que só temos que vacinar mais algumas pessoas. É não é assim.” [10].
A pandemia continua
Então, o ponto de partida é que, tal como disse este especialista, a pandemia continua e gera novas ondas, inclusive em países onde se registram níveis médios ou altos de vacinação e cujos governos afirmaram “acabou”. Por que é tão persistente?
O fator mais importante é o que destacamos em um artigo de junho passado, no qual rejeitávamos a ideia de “fim da pandemia” [11]. “Afirmamos que isto é uma grande falsificação: este flagelo e suas sequelas estão longe de terminar. Para entender esta afirmação, é necessário partir do próprio conceito de pandemia dado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como ‘uma doença epidêmica que se estende a muitos países e vários continentes’”.
“Isto significa que embora nos países imperialistas, graças à vacinação em massa que foi garantida às expensas dos países pobres e dependentes, as curvas de contágios e mortes estejam baixando; no conjunto do mundo, pelo contrário, crescem. Em resumo, a pandemia da Covid-19, considerada no conjunto do mundo, longe de ter acabado ou de se aproximar ao seu final, continua com novas ondas muito potentes naqueles países que tem um ritmo muito lento de vacinação ou praticamente inexistente”.
O artigo analisava especialmente o caso da Índia. “Nesse contexto, em vários desses países, como resultado das mutações genéticas, surgem novas cepas do vírus. Algumas delas são de contágio mais rápido e de periculosidade ainda maior que o coronavírus de 2020, porque provocam mais danos pulmonares e se mostram muito resistentes aos tratamentos experimentados; por isso, seu índice de mortalidade é mais alto. É o caso da variante denominada Delta plus, surgida (ou pelo menos identificada) na Índia e que já começa a ser detectada em outros países”[12].
A conclusão era que ao falar de “fim da pandemia” e agir como se isso fosse uma realidade, os governos dos países imperialistas aplicavam “uma política negacionista e suicida já que, na atual dinâmica de transporte de mercadorias e de viagens de pessoas pelo mundo, é inevitável que estas novas cepas voltem como um bumerangue e entrem nos próprios países imperialistas”[13]. Lamentavelmente, foi isso o que ocorreu.
Recentemente, apareceu uma nova mutação, denominada Ômicron. Foi identificada pela primeira vez na África do Sul, há poucos dias, mas já há casos nos Países Baixos, Austrália, Alemanha, Israel, Hong Kong e Reino Unido e segundo os cientistas é muito provável que se encontre em muitos países mais. A OMS já a qualificou de “variante de preocupação” e vários países já começaram a impor restrições a passageiros provenientes da África do Sul[14].
A criminosa política da “nova normalidade”
No início “oficial” da pandemia (março de 2020), a burguesia dos diferentes países e os governos a seu serviço se dividiram em dois setores. Um deles, como o de Donald Trump, nos EUA, e Jair Bolsonaro, no Brasil, tiveram uma política de negar a gravidade e o impacto do que estava acontecendo e, dessa forma, não adotaram qualquer medida para combatê-la. “Nada deve parar por uma gripezinha”, diziam.
O outro setor adotou medidas de restrição à circulação e concentração de pessoas. Foram medidas parciais que nunca fizeram parte de um plano global de combate que incluísse os investimentos públicos necessários para reconstruir os sistemas de saúde pública, debilitados por décadas ao se considerar a saúde como um negócio privado.
Entretanto, além de suas limitações, estas medidas potencializaram a crise econômica internacional que já vinha desde 2019 e provocaram, na primeira metade de 2020, uma queda histórica do PIB mundial [15]. Frente a esta situação, as burguesias e seus governos começaram a tirar a máscara e mostrar sem disfarce seu caráter de defensores dos lucros capitalistas: sem ter derrotado a pandemia, desde julho de 2020, começaram uma abertura cada vez maior das atividades econômicas (com o sinistro slogan da “nova normalidade”), multiplicando assim as possibilidades de contágio[16].
As burguesias promoveram a reabertura cada vez maior da economia e de outras atividades e isso explodiu nas suas mãos com novas ondas da pandemia. Diante disso, reintroduziam convulsivamente algumas medidas restritivas (como os “toques de recolher” noturnos ou o fechamento mais cedo de bares) que, isoladas de uma política global de combate sério à pandemia, acabaram sendo estéreis.
Nesta política de impor a “nova normalidade” de exploração a qualquer custo, os governos burgueses negacionistas, como os de Trump e Bolsonaro, não se diferenciaram daqueles “preocupados” e supostamente “progressistas” como alguns europeus e o de Alberto Fernández e Cristina Kirchner na Argentina. Em última instância, estes últimos foram os mais hipócritas. Esta foi uma das razões de fundo da persistência da pandemia: a avidez de lucro da burguesia, mesmo à custa da vida de milhões de trabalhadores.
As vacinas
Neste ponto, as burguesias e seus governos buscaram acelerar o desenvolvimento das vacinas e sua disponibilização para sua aplicação em massa, imprescindíveis para um combate profundo contra a pandemia. Entretanto, não o fizeram por fatores ou considerações humanitárias, mas para avançar mais rapidamente para a “nova normalidade” de exploração e lucros.
Por isso, esse grande avanço que as vacinas representavam também foi manejado com critérios do capitalismo imperialista. Por um lado, foi feito sem um plano de desenvolvimento centralizado internacionalmente, mas em uma feroz competição entre os grandes conglomerados farmacêuticos privados que as produziam e salvaguardando seus lucros através do “direito de patente”. Desta forma, as vacinas tiveram um alto preço.
Neste marco, os países imperialistas compraram e monopolizaram gigantescas doses de vacinas para sua população enquanto que, no outro extremo, os países mais pobres não tinham nenhuma possibilidade de comprá-las e, ainda hoje, apresentam porcentagens baixíssimas ou inexistentes de vacinação.
Um país que expressou de modo agudíssimo esta contradição foi a Índia que, por um lado, é o principal fabricante de vacinas do mundo (em laboratórios de propriedade dos conglomerados imperialistas) e, por outro, pelo alto preço gerado pelo direito de patente, não tinha condições de comprá-las em massa para sua população. A consequência foi que no país se desenvolveu uma fortíssima segunda onda da pandemia que originou a perigosíssima variante Delta[17]. Tal como já vimos, esta variante se espalhou rapidamente para os países imperialistas.
Frente a este panorama, reivindicamos que foram e são totalmente corretas as propostas da LIT-QI: tais como vacinas para todos, quebra do direito de patente dos laboratórios que as fabricam e a necessidade de um plano internacional de vacinação em massa e gratuita, estendido a todos os países do mundo.
Para além das debilidades que possam ter, sobre o que se continua pesquisando, considerando os números globais, as vacinas demonstraram ser uma ferramenta muito útil no combate ao coronavírus: diminuem o número de contágios ou atenuam a periculosidade da doença e, com isso, o risco de morte nas pessoas vacinadas. Se tivessem aplicado as medidas propostas, hoje estaríamos muito mais avançados nesse combate. O capitalismo imperialista foi o responsável pela pandemia se manifestar, de forma recorrente, em novas ondas, inclusive nos países imperialistas. Foi pela superexploração dos recursos naturais que provocam cada vez mais zoonoses (como esta pandemia), pelo seu combate parcial inicial, pela criminosa política da “nova normalidade”, e pelo critério capitalista imperialista com que manejou a vacinação.
Os que não querem se vacinar
É nesse marco da responsabilidade central do capitalismo que começou a incidir, nos últimos meses, um novo fator: o de setores da população dos países imperialistas (embora também se manifeste em outros países), que se negam a se vacinar, apesar de seus governos contarem com vacinas para isso. Acabam sendo assim os setores mais vulneráveis às novas ondas promovidas pela variante Delta.
Assim o demonstrou a onda que os EUA viveram alguns meses atrás. Uma nota do New York Times informava: “Muitos dos pacientes com COVID-19 que agora chegam ao hospital não apenas não estão vacinados, mas têm muito menos de 50 anos, uma evidente diferença com relação aos pacientes frágeis e mais velhos que foram contagiados quando a pandemia surgiu pela primeira vez no ano passado. Os médicos dizem que os pacientes não vacinados entre 20 e 30 anos adoeceram mais gravemente e com maior rapidez”. Segundo os especialistas, isto não apenas se deve à maior periculosidade das novas cepas, mas também a “que a mudança na demografia dos pacientes é o resultado das taxas de vacinação mais baixas neste grupo”[18]. Algo similar está acontecendo agora na Europa[19].
Nessa faixa destas sociedades que não querem se vacinar, combinam-se setores diferentes com diferentes argumentos. O primeiro sempre negou a existência da pandemaia (por isso foram chamados de “negacionistas”) e considera que a ciência é uma conspiração de grupos secretos para dominar o mundo. Um exemplo extremo deste setor é a organização Q-Anon que ficou famosa durante o assalto ao congresso dos EUA, no final do ano passado. A partir daí se estendeu a outros, como a Alemanha. É um setor retrógrado e reacionário com o qual é inútil discutir porque seus argumentos são irracionais.
Outros setores utilizam racionalizações (às vezes combinadas) que expressam setores de trabalhadores e do povo. Por um lado, aqueles que veem que os governos e os capitalistas utilizaram a necessidade do combate à pandemia para avançar em medidas repressivas e de controle policial da sociedade, e que os grandes conglomerados farmacêuticos ganharam fortunas com as vacinas e a venda de meios técnicos necessários para atender os contagiados. Ambos os fatos são totalmente verdadeiros, mas não negam a existência da pandemia e o impacto profundamente negativo que teve na saúde e no nível de vida dos trabalhadores e do povo, e por isso, a necessidade de combatê-la. Trata-se de avançar seriamente neste combate (a vacinação é parte disso) e, como parte disso, de combater o capitalismo que a gerou e a deixou crescer, e agora utiliza uma necessidade (a vacinação) de forma reacionária.
Finalmente estão aqueles que não negam a pandemia e inclusive apoiam uma vacinação em massa e gratuita a cargo do Estado, mas são contra que seja obrigatória e defendem o direito individual de negarem-se a tomar a vacina.
Para dialogar com este argumento, é necessário abordar um ponto muito profundo: a vacinação obrigatória entra no terreno da saúde pública, ou seja, dos interesses e das necessidades do coletivo social. E estes interesses e necessidades são superiores à liberdade de escolha individual e se impõem a ela se entram em contradição. Porque se um trabalhador se nega a se vacinar, essa é uma decisão que não apenas o afeta, mas também afeta seus companheiros de trabalho, sua família, seus amigos e seus vizinhos, porque é uma fonte potencial de transmissão e contágio. Salvando as distâncias, é um argumento muito similar ao utilizado pelo reacionário e negacionista presidente do Brasil, Jair Bolsonaro: “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar a vacina…Se alguém não quer ser tratado que não o seja…[se não quero me vacinar] o problema é meu”[20].
As mobilizações
Nesse contexto, ocorreram algumas mobilizações importantes em vários países contra as medidas adotadas por diversos governos europeus, como o “passe sanitário” (entregue a aqueles que se vacinaram) que é exigido para entrar em locais públicos e que, inclusive, poderia ser utilizado em locais de trabalho como justificativa de sanções e demissões, como um mecanismo para pressionar (ou obrigar) a se vacinarem aqueles que não o fizeram. Na Bélgica, o teste rápido dá direito ao passe sanitário temporário, mas tem que pagá-lo e custa entre 20 e 25 euros. Na Itália, também é dado um passe temporário com o teste rápido e foi criado um “super passe” que só é entregue aos que estão vacinados.
Segundo os informes de jornais tem havido mobilizações de vários milhares de pessoas na Áustria, Bélgica, Dinamarca e Holanda. Nos três últimos, ocorreram choques com a repressão[21]. Na França, em julho e agosto passados ocorreram mobilizações que antecipavam este processo, que agora tende a se espalhar, contra projetos de lei deste tipo por parte do governo de Emmanuel Macron [22].
Vimos que as burguesias e seus governos são os responsáveis pelo surgimento e desenvolvimento da pandemia. Agora, com a desculpa de avançar em um combate que nunca se deu seriamente, quer utilizá-la para continuar atacando a classe trabalhadora e dividi-la entre vacinados e não vacinados. Por isso, como uma forma de negar sua responsabilidade em toda a pandemia, ataca duramente os não vacinados como responsáveis pela situação atual.
Por exemplo, o Primeiro Ministro dos Países Baixos, Mark Rute, declarou: “Entendo que haja tensões na sociedade porque levamos muito tempo lidando com a desgraça do coronavírus, mas nunca aceitarei que alguns idiotas usem violência contra as pessoas que mantém este país seguro [a polícia]”[23].
Então, ante essas mobilizações, temos um primeiro problema de entender do que se trata. Essas mobilizações são de setores retrógrados e reacionários e, portanto, devem ser repudiadas? Ou, ao contrário, são mobilizações que expressam o justa saturação de setores da classe trabalhadora e do povo com o capitalismo e seus governos e, nesse quadro, expressam a confusão sobre a pandemia e a vacinação a que nos referimos?
Esta última compreensão é a que continha o artigo referido dos camaradas simpatizantes da LIT-QI na França ao assinalar que, tanto pela sua composição social e sua localização geográfica como pela raiva crescente ao governo Macron, lembravam as dos “coletes amarelos” de janeiro de 2019.
Uma visão parecida nos oferece um artigo de uma organização de esquerda sobre a recente mobilização em Viena (Áustria): “A maioria dos participantes [eram] setores de trabalhadores e da classe média baixa, provenientes de um entorno não acadêmico. Para muitos e muitas, foi a primeira manifestação em suas vidas e, além disso, sua primeira experiência política. Os cartazes, feitos artesanalmente pela maioria, tinham lemas como ‘meu corpo, minha escolha’; ‘vacinados – não vacinados: não estamos divididos, estamos unidos’ e, muito popular: ‘quando a injustiça se converte em lei, a resistência se converte em dever’ [frase atribuída ao dramaturgo alemão Bertolt Brecht, NdA]”.[24]
Ou seja, em ambos os casos, devemos caracterizá-las como mobilizações essencialmente progressivas de setores de massas que, nesse contexto, contém elementos de confusão nos setores que participam e, por isso, devemos intervir nelas. Uma política que passa por promover e desenvolver a raiva e o esgotamento contra o capitalismo e seus governos, unificar as lutas da classe trabalhadora e do povo, e, ao mesmo tempo, dialogar para convencê-los da necessidade de incorporar a essas lutas a exigência de um combate real à pandemia que nos castiga.
Na Itália, ocorreram mobilizações de caráter contraditório. Várias delas foram organizadas diretamente pelos fascistas da Força Nova (em italiano Forza Nuova), com consignas deste setor. Uma delas terminou com o ataque à central sindical CGIL. É evidente que mobilizações deste tipo não podem ser apoiadas nem “disputadas”. Outras manifestações contra o passe tiveram outro conteúdo, como a dos operários portuários de Livorno e algumas greves específicas. Nestas últimas, temos a obrigação de intervir e apoiá-las. Na Bélgica, as manifestações foram convocadas pela extrema direita. Por isso, a organização da LIT-QI no país não chamou para participar delas.
Nesse quadro, é importante entender que a extrema direita mais reacionária consegue firmar o pé em setores populares na medida em que não há organizações que intervenham na realidade da pandemia com uma política revolucionária de combate ao capitalismo e seus governos, em todos os aspectos. Temos aqui uma tarefa urgente que nós revolucionários devemos encarar para dar uma saída à crise da pandemia capitalista.
[1] https://www.bbc.com/mundo/noticias-internacional-59172725
[2] Idem.
[3] https://www.france24.com/es/europa/20211019-rusia-covid-restricciones-muertes-contagios
[4] Idem.
[5] Id., ibidem.
[6] https://www.france24.com/es/europa/20211117-alemania-repunte-covid-19-restricciones-ocupacion-hospitalaria?ref=wa
[7] Idem
[8] Id., ibidem.
[9] Ver artigo da nota [1].
[10] Idem.
[11] Ver “A mentira do fim da pandemia” em https://litci.org/pt/a-mentira-do-fim-da-pandemia/
[12] Ver https://www.bbc.com/mundo/noticias-57581280
[13] Ver artigo da nota [11].
[14] https://www.bbc.com/mundo/noticias-59466211
[15] Sobre este tema, recomendamos ler: https://litci.org/pt/62598-2/
[16] Sobre este tema, recomendamos ler https://litci.org/pt/62684-2/
[17] Sobre este tema, ver https://litci.org/pt/64247-2/
[18] https://www.nytimes.com/es/2021/08/04/espanol/variante-delta-contagio-jovenes.html
[19] https://www.lavanguardia.com/internacional/20211122/7878426/protestas-la-haya-bruselas-restricciones.html
[20] https://br.investing.com/news/stock-market-news/bolsonaro-diz-que-ninguem-pode-obrigar-vacinacao-e-chama-de-imbecil-quem-o-considera-mau-exemplo-814278.
[21] https://www.lavanguardia.com/internacional/20211122/7878426/protestas-la-haya-bruselas-restricciones.html
[22] Ver https://litci.org/pt/64908-2/
[23] Ver artigo da nota [20].
[24] https://convergenciadecombate.blogspot.com/2021/11/gigantesca-marcha-contra-restricciones.html?m=1
Tradução: Lilian Enck