qui mar 28, 2024
quinta-feira, março 28, 2024

4º Encontro da Rede reúne cerca de 200 ativistas e celebra avanço importante da entidade

De 21 a 14 de Abril em Dijon, França, foi realizado o 4º Encontro da Rede Sindical Internacional de Solidariedade e Lutas. A organização que nasceu em 2013, tem como entidades sindicais fundadoras a CGT espanhola, a CSP-Conlutas do Brasil, e a central francesa Solidaires.

Esta edição tão importante reuniu cerca de 200 participantes de 39 organizações, de 21 países diferentes, vindos de 4 continentes. Uma representatividade significativa ao considerar as dificuldades apresentadas neste momento de retomada de atividades sob menor crise sanitária.

Além disso, a participação de algumas delegações foi impedida por parte do governo francês, que não concedeu visto a militantes do Sudão, Marrocos, Paquistão, Índia, Mali e Saara Ocidental. Ao todo, 52 dirigentes foram barrados na fronteira. Esta situação rendeu uma moção deliberada pelos presentes no encontro, de modo a denunciar esta expressão vexatória de xenofobia contra delegações internacionais.

Apesar deste desfalque, a Rede considerou que desde o último encontro e com o estreitamento de relações com diversas outras organizações, mesmo sob isolamento social, a entidade tem avançado cada vez mais na luta internacionalista radical.

Programação

O primeiro dia do evento foi destinado a realizar um balanço do trabalho da Rede feito ao longo desses últimos anos, em especial desde o 3º Encontro, passando pela crise da pandemia de covid-19, chegando até a atualidade.

Dirigentes e ativistas tiveram momentos de intervenção no plenário para compartilhar experiências, denúncias e informes sobre lutas específicas e conjunturas dos diversos países.

Mediando a mesa de apresentação do encontro e das delegações, estiveram representantes das centrais fundadoras: Nara Cladera, pela Solidaires, Sandra Iriarte, pela CGT espanhola, e Wilson Ribeiro, pela CSP-Conlutas. Outras lideranças falaram ao plenário, como Marcelo Améndola de CUB e José Manuel Muñoz Pólis, secretário geral da CGT, e Rosália Fernandes de nossa Central.

A delegação da CSP-Conlutas contou com mais de 20 pessoas, representando diferentes categorias dos setores da educação, saúde, funcionalismo, dos Correios, da Petrobras e de movimentos populares e sociais.

Após a apresentação, discussões foram feitas em grupos sobre as questões conjunturais que envolvem as relações de trabalho cada vez mais precarizadas em todo o mundo, com o compartilhamento de novas formas de exploração trazidas pela pandemia.

Um exemplo para o tema teve destaque com a presença de Adriana Urrea, jornalista e secretaria sindicalista da SutNotimex, sindicato da agência de notícias estatal mexicana Notimex, que relatou a greve histórica e sem precedentes no país, e que já completa mais de dois anos, por direitos trabalhistas, dignidade e cumprimento de acordo coletivo.

Além dos problemas vinculados estritamente às condições financeiras e jurídicas do trabalho, Adriana destacou o fato de o México ser um dos países mais violentos e perigosos para os jornalistas. Somente neste ano, 8 jornalistas foram mortos ou desaparecidos segundo o informe da dirigente.

No painel sobre as novas formas de exploração, a partir da uberização. As experiências demonstraram que as organizações da Rede nos distintos países estão envolvidas nos processos de luta e de mobilização nas bases.

Meio Ambiente

Irene Maestro, do Movimento Luta Popular, e Raquel Tremembé, da luta indígena e da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, expuseram suas experiências sobre o processo de lutas por territórios, pelos povos originários e em defesa do Meio Ambiente e do Clima.

Detalharam os principais ataques de Bolsonaro contra os indígenas e o meio ambiente, bem como dos governos que reprimem e despejam trabalhadoras e trabalhadores em luta por terra e moradia.

Foram organizadas também mesas temáticas sobre “mulheres”, “autogestão e controle operário”, “racismo e colonialismo”, “imigração”, “saúde do trabalhador” e “meio ambiente”.

Confira algumas imagens dos grupos setoriais com a presença de delegados da CSP-Conlutas:

 

Ucrânia que resiste

O painel especial sobre a situação da classe trabalhadora ucraniana comoveu os participantes com o relato emocionado de Svitlana Shapran, professora da cidade de Krivoy-Rog, cidade localizada no sudeste da Ucrânia.

“Nós ucranianos, como toda a humanidade, queremos viver em paz e harmonia. Queremos dar à luz crianças em hospitais, não em estações de metrô ou no porão ao som de sirenes de alarme de bombardeio. Queremos que nossos filhos vivam e estudem. Neste momento, os pais escrevem seus nomes e números de telefone nas costas de seus filhos com canetas, para o caso de, Deus nos livre, a mãe ou o pai serem mortos repentinamente e assim ser possível descobrir de quem são os filhos e onde vivem”, compartilhou com a voz embargada a ucraniana.

Svitlana chorou também ao contar que os russos, os supostos “libertadores”, cometeram violações graves como estupros de mulheres diante de filhos, familiares.

“Este é o poderoso exército russo: covardes, assassinos e saqueadores, com o maníaco Putin à sua frente. O mesma que, enquanto resolvíamos o conflito com o ex-presidente Yanukovych, usurpou tranquilamente a Crimea. E o mais importante: ele o fez com impunidade! O que se pode dizer aqui – esta é a democracia de Putin!”, protestou Svitlana.

Em declaração adicionada ao Manifesto atualizado da Rede, são criticadas as alianças militares como a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e a CSTO (Organização do Tratado de Segurança Coletiva), sob a afirmação de que “os blocos militares reforçam as ameaças de guerra imperialista e, portanto, devem ser eliminados”.

Como forma de avançar no apoio internacionalista à resistência operária ucraniana, de maneira mais próxima e prática, foi anunciado ao fim do painel o envio de delegações sindicais de organizações membros da Rede de apoio à Ucrânia.

A Solidaires (França), CSP-Conlutas (Brasil) e IP Inicjatywa Pracownicza (Polônia), ADL Cobas (Itália) e G1PS (Lituânia) financiarão a logística das doações, que serão compradas de acordo com as necessidades da classe trabalhadora ucraniana. Dentro do país, o comboio se reunirá pessoalmente com os contatos sindicais e as ações serão organizadas de forma apropriada.

Paweł Nowożycki, ativista responsável pelas relações internacionais da IP, está a frente da organização e da logística do Comboio. Ele fez parte da mesa e deu importante declaração de como estão apoiando refugiados que chegam à Polônia.

Deliberações

Foram elaboradas diversas moções, lidas na plenária final. Dentre elas, em defesa das lutas antifascista e contra as repressões, em apoio à luta por terra e moradia, pelo Fora Bolsonaro, em defesa dos povos originários e indígenas no Brasil, em solidariedade com Cesare Battisti, com o povo Saharaui, o povo palestino, e apoio aos trabalhadores da GOHS de Londres, Reino Unido, jornalistas da Notimex, do México, do setor de logística da Itália entre outras.

O Manifesto também foi atualizado coletivamente. O novo documento de princípios e objetivos comuns defende o fortalecimento do sindicalismo para romper com o capitalismo, para a garantia da independência do movimento sindical, que se mobiliza e luta eficazmente, como questão-chave deste período. Nara Cladera afirmou que é dever da Rede seguir assumindo essas premissas da Rede, uma vez que a pandemia evidenciou o fracasso do sistema capitalista.

Foram definidas ainda ações a serem desenvolvidas pela Rede ao longo de 2022, como as do 1º de Maio dia de luta internacional da classe trabalhadora.

Trabalho constante

É importante ressaltar que foram dois anos de atraso para o encontro presencial devido à pandemia, mas não foi este um período inativo para a Rede.

Para manter as relações e a organização das lutas da classe trabalhadora que se reúne nesta entidade internacionalista, foram realizadas plenárias virtuais, com a presença de militantes de diversos países.

Dentre os temas, foram abordados os impactos da pandemia sobre a classe trabalhadora, conjuntura sindical em nível mundial, uma conversa sobre a classe trabalhadora e a organização sindical em meio a pandemia em países africanos, além de uma mesa muito importante sobre as lutas das mulheres no mundo.

Ainda foram organizadas reuniões setoriais e outros seminários com temáticas envolvendo repressão, autogestão e controle operário, colonialismo, racismo e migrações e outros.

 

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