Tanzânia: Outro país africano respondendo aos efeitos da crise do capitalismo
Introdução
No último dia 26 de outubro se realizaram eleições no país. Foi uma eleição repleta fraudes e abuso de poder. O principal líder da oposição está preso e o segundo mais importante teve sua candidatura vetada. Dessa forma, Samia Suluhu Hassan se elegeu com 98% dos votos, mas os trabalhadores e juventude querem mudanças, sem Samia.
Tanzânia: cresce o PIB e cresce a pobreza.
A agricultura ocupa aproximadamente75% da população empregada, os setores de serviços 18% e a indústria (fundamentalmente mineração) 7%.
O PIB para alegria dos economistas burgueses cresce a uma média de 5% ao ano e a inflação está entre 3 e 5%. O crescimento do PIB se dá na mineração e na agricultura que possui baixa composição de capital. A mineração é explorada pelos grandes grupos internacionais que sugam a riqueza e não deixam quase nada para os trabalhadores. Por esse motivo o PIB cresce e com ele cresce a pobreza.
Samia herda o espólio da John Magufuli
Samia chegou ao poder em 2021 como a primeira mulher presidente da Tanzânia, após a morte do ex-presidente John Magufuli durante o mandato. O partido Chama Cha Mapinduzi (CCM)] está há 64 anos está no poder e tanto Samia como Magufuli são membros da agremiação.
Em 2021 faleceu Magufuli. Era negacionista da pandemia e chegou a mandar suspender o isolamento social. Embora não haja informações precisas, comenta-se que morreu de covid. Seu governo construiu uma estreita relação com as Forças Armadas e governava com muita violência contra o movimento de massas e os setores oposicionistas.
Após a morte de Magufuli, esperava-se que sendo Samia mais aberta ao diálogo haveria um distensionamento. Porém esse distensionamento esbarrou em uma questão material: os militares, com muitos privilégios não aceitaram mudar o regime de bonapartista para o democrático burguês e o governo de Samia se tornou tão bonapartista, tão ditatorial que, ao final, está sendo mais duro que o governo de Magafuli.
Processo Eleitoral
As eleições tanzanianas têm sido marcadas na última década pela violência estatal com o objetivo de manter no poder o partido (CCM). As formas de repressão são variadas.
Segundo o relato do dirigente do partido Chadema dado à BBC, “As forças de segurança estão rastreando todos os nossos líderes e alguns tiveram que deixar o país. Essas pessoas matam impunemente” “Continuamos preocupados com o fato de o período que antecedeu as eleições ter sido marcado por assédio, sequestros e intimidação de figuras da oposição, jornalistas e atores da sociedade civil”, acrescentou.
O principal líder da oposição Tundu Lissu, do Chadema está preso há vários meses após ser acusado de traição por defender reformas eleitorais que, segundo ele, eram necessárias para uma votação livre e justa. Outra figura da oposição, Luhaga Mpina, do partido ACT-Wazalendo, foi impedido de concorrer.
A eleição no dia 29 de outubro
Já no próprio dia das eleições começaram os protestos em todo o país tendo como seu epicentro a cidade portuária de Dar es Sallam e se estendendo a Shinyanga e Morogoro. O governo e sua polícia acostumados ao sequestro e assassinato de seus opositores, agiu rapidamente, bloqueou a internet, decretou toque de recolher e reprimiu abertamente com bombas de gás lacrimogêneo e balas reais.
Não há dados confiáveis do número de mortos. O partido Chadema fala em 700 mortos. A Anistia Internacional documentou 100 mortes.
Uma fonte de um hospital em Dar es Salaam disse à BBC que o local estava sobrecarregado com vítimas desde quinta-feira e que a maioria dos hospitais públicos da cidade estava na mesma situação, com os necrotérios lotados.
As ilusões democráticas foram trocadas pelas ruas
Na Tanzania está se repetindo um fenômeno que vimos no último ano em Moçambique após a fraude do FRELIMO em que as massas estiveram durante dois meses nas ruas denunciando a fraude. Foram mais de 300 mortos. Na mesma semana da eleição na Tanzânia, na República de Camarões, foi eleito pela oitava vez e aos 92 anos Paul Biya. Houve importantes mobilizações em algumas cidades, mas não se massificaram como em Moçambique ou na Tanzânia. Também tivemos manifestações na Costa do Marfim, quando da eleição de Alassane Ouattara.
As ilusões democráticas, no final do ano passado eram muito fortes na Tanzania, em especial com a possibilidade de vitória de Tundu Lissu. Mas, essas ilusões frente a possibilidade de fraude eleitoral foram sendo corroídas durante o ano e ao final houve a explosão já no mesmo dia da votação.
Samia assume o poder, mas na defensiva
É da tradição tanzaniana que as posses e grandes atos políticos sejam realizados em estádio para até 60 mil pessoas. Pela primeira vez em décadas, um presidente assume o poder longe do povo, em uma cerimônia restrita a convidados. A cerimônia, por motivo de segurança, foi realizada na sede do governo em Dodoma
A recorrente falta de equipe de direção
As últimas eleições no Quenia, Moçambique, Costa do Marfim e Camarões, em todas elas houve fraudes e mobilizações. Outro elemento a se destacar é a ausência de uma direção de fato alternativa ao governo e ao regime. Todos os candidatos oposicionistas desses países foram parte dos governos e romperam por conta de disputas internas. Na Tanzânia, embora o principal candidato Tundu Lissu, do Chadema, não tenha sido parte do governo do CCM, Lissu também defende pequenas mudanças cosméticas e preservando a essência do regime.
A preocupação da falta de equipe de direção com um programa de luta por democratização, soberania nacional e rumo ao socialismo deve ser a preocupação central nos próximos meses naqueles países que teremos eleições, em especial na África do Sul e em Angola.
Liberdade aos presos políticos
Identificação, juízo e castigo dos assassinos do povo tanzaniano
Construir uma oposição combativa e classista
Por um governo dos trabalhadores, camponeses e da juventude.




