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COP30

Como a lógica do capitalismo conduz o planeta ao colapso climático

Jeferson Choma

novembro 5, 2025

A catástrofe climática e ambiental é alarmante. Ela é resultado do capitalismo, de sua lógica predatória de produzir cada vez mais, explorando e destruindo a natureza e o trabalho humano. Tudo isso para diminuir os custos da produção e aumentar a taxa de lucro.

Nunca na história da Terra as mudanças climáticas foram tão rápidas, o que poderá provocar a extinção de boa parte da vida no planeta, ameaçando a existência da própria humanidade.

A catástrofe climática é provocada pela enorme emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE), resultante da queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão), responsável por 75% das emissões. Os combustíveis fósseis são recursos não renováveis. Todos eles têm uma enorme densidade energética e, juntos, oferecem mais de 80% da energia global. E todos eles contêm carbono, que é liberado na atmosfera quando queimado. A queima de combustíveis fósseis, desde a Revolução Industrial, é o que provoca o aquecimento global. Tanto o dióxido de carbono (CO₂) liberado pela queima de petróleo e carvão, quanto o metano (CH₄) liberado pelo gás, aumentam a retenção de calor na atmosfera da Terra.

O CO₂ leva cerca de 10 anos para atingir seu máximo de retenção de calor, mas permanece na atmosfera por séculos. Assim, o aquecimento atual reflete emissões passadas, e as atuais comprometem o clima das futuras gerações de forma irreversível.

Mais barata e lucrativa, a matriz fóssil expandiu-se rapidamente, libertando o capitalismo das restrições energéticas. Isso desencadeou uma expansão produtiva global com o desenvolvimento de máquinas a vapor e do motor a combustão. Os combustíveis fósseis reduziram o tempo de produção, aumentaram a produtividade e aceleraram a circulação, aproximando regiões distantes e fornecendo novos recursos ao capital. Em suma, permitiram que a Terra se transformasse em um único organismo econômico mundial.

A trilha de destruição Climática desde a Revolução Industrial

Mas o resultado catastrófico foi o rápido aumento das emissões de GEE. Como vemos no Gráfico 1, a partir de 1850, início da expansão industrial, houve um salto no aumento da temperatura da superfície da Terra nos últimos 2 mil anos.

O auge da matriz energética fóssil foi alcançado quando o petróleo e seus derivados tornaram-se definitivamente a base energética absoluta do desenvolvimento do capitalismo, na segunda metade do século XX. Apenas após a Segunda Guerra Mundial é que a penetração do petróleo nos sistemas de energia foi massiva. Se em 1913 o petróleo fornecia 5% da energia mundial, em 1970 era responsável por 50%. Isso significou ainda mais emissão de GEE na atmosfera e, por isso, como se vê no Gráfico 2, a partir dos anos 1970 há outro grande salto no aumento da temperatura global.

O que chama a atenção nesse gráfico é que, a partir de 2010, houve um novo salto no aumento da temperatura, registrando pela primeira vez um aumento superior a 1°C em relação aos níveis pré-industriais de 1850. Desde então, registraram-se os anos mais quentes dos últimos 2 mil anos, sendo que 2024 foi o ano em que a temperatura superou pela primeira vez a barreira de 1,5°C.

A ciência alerta que limitar o aquecimento a 1,5°C já implica enfrentar mudanças climáticas mais severas. A humanidade nunca enfrentou uma crise assim. Acima de 2°C, há risco de pontos de ruptura no sistema terrestre e ameaça a cidades costeiras (leia ao lado).

Em 2024, também foi registrado um recorde nas emissões globais de CO₂. Ao todo, mais de 374 bilhões de toneladas de CO₂ foram lançadas na atmosfera, apesar dos alertas da ciência.

Na verdade, estamos diante da maior concentração de CO₂ dos últimos 800 mil anos, conforme o Gráfico 3. Um cenário nunca antes vivido pela humanidade. Como se pode notar, há uma correlação evidente entre as emissões de CO₂ e os gráficos sobre o aumento da temperatura.

Culpados

Responsáveis pela catástrofe: Nações imperialistas e os super-ricos

Ao longo da história, os países que mais emitiram GEE foram EUA, China, Rússia e Brasil, como se pode ver no Gráfico 4. Também é possível ver que outras nações imperialistas, como Alemanha, Reino Unido, França e Japão, também somam expressivas emissões e, quando somadas, ultrapassariam facilmente Rússia e Brasil.

Entretanto, a industrialização da China e sua emergência como uma nação imperialista nas últimas três décadas tornou o país o maior emissor anual de CO₂ do mundo. Mas uma análise per capita revela uma realidade diferente: as emissões chinesas foram de 7,41 toneladas por pessoa, ou seja, metade dos 14,24 toneladas por habitante dos EUA, destacando disparidades que revelam o enorme consumo de energia e recursos pela principal potência imperialista do mundo.

Segundo um estudo publicado pela Oxfam, os 10% mais ricos são responsáveis por 50% das emissões de GEE em todo o mundo, conforme se vê no Gráfico 5. Os 50% mais pobres são responsáveis por apenas 8% das emissões de GEE.

Mas o estudo também revela que o 1% mais rico foi responsável pela mesma emissão de carbono que os 66% mais pobres do mundo, ou seja, 5 bilhões de pessoas. Portanto, não são todos os humanos os responsáveis pela catástrofe climática. É apenas um punhado de endinheirados que goza de uma vida de luxo à custa da exploração da natureza.

Isso destrói o argumento dos ideólogos da burguesia que tentam responsabilizar toda a humanidade pela crise. Culpar a “humanidade” de forma abstrata obscurece as reais forças motrizes da destruição ambiental: o modo capitalista de produção, as relações de poder e de classe, e a opressão de raça e gênero que o sustentam.

Quais são as consequências do colapso climático?

Dados da ciência mostram que estamos cruzando o limite de 1,5°C, rumo a um clima drasticamente mais severo até o final deste século. Se a temperatura ficar acima de 2°C, pontos de não retorno seriam acionados e um efeito dominó irreversível levaria ao colapso das calotas polares, elevação dos oceanos e desertificação de vastos territórios. A 3°C, a biosfera entraria em colapso; a 4°C, desencadearia a sexta extinção em massa, eliminando a maioria dos mamíferos e acidificando os oceanos.

O degelo libertaria vírus e bactérias ancestrais, espalhando pandemias inéditas. Secas e inundações tornariam regiões inabitáveis, criando milhões de refugiados climáticos. A produção global de alimentos entraria em colapso, acompanhada por escassez hídrica generalizada. Este cenário, impulsionado por um modo de produção predatório, ameaça dissolver as bases da nossa civilização, provocando um retrocesso sem precedentes.

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