48 anos do PST na Colômbia: trajetória, práticas e desafios contemporâneos.

Por: PST Colômbia
Publicamos o artigo escrito por Editson Romero Angulo no blog El Humanitario, na ocasião dos 48 anos do PST; ademais, agradecemos a contribuição.
Resumo
Este artigo apresenta uma reflexão crítica e documental sobre os 48 anos do Partido Socialista dos Trabalhadores (PST) na Colômbia – fundado em 23 de setembro de 1977 –, sua genealogia ideológica trotskista, suas práticas de militância sindical e estudantil, marcos históricos relevantes (entre eles, a participação na chamada Brigada Simón Bolívar rumo à Nicarágua em 1979), sua inserção no movimento operário e magisterial, além de suas posições diante de processos eleitorais e de políticas públicas recentes. Combina-se a revisão de fontes primárias do próprio PST, de trabalhos acadêmicos e de materiais jornalísticos para avaliar continuidades, rupturas e desafios estratégicos em um contexto político colombiano marcado pela polarização, pelas mudanças pós-acordo e pela reorganização da esquerda.
Introdução
O PST se originou formalmente em Bogotá, nos anos finais da década de 1970, como a organização política trotskysta de maior visibilidade na Colômbia. Seus fundadores buscaram combinar a intervenção nas lutas operárias e estudantis com uma orientação programática baseada na tradição do marxismo revolucionário (em particular as correntes morenistas da IV Internacional). Ao longo de quase cinco décadas, o PST desenvolveu práticas dedicadas à construção orgânica em sindicatos, espaços estudantis e magisteriais; ao mesmo tempo, o partido protagonizou debates e tensionamentos com outras vertentes da esquerda colombiana sobre tática eleitoral e aliança com projetos reformistas.
Origens e matriz ideológica
A fundação do PST (23 de setembro de 1977) está enquadrada num período de intensas mobilizações sociais na Colômbia e de reação internacional à repressão na Argentina e outros países da região. O partido se formou como braço local de correntes vinculadas à Fração Bolchevique da Quarta Internacional (corrente de Nahuel Moreno), reivindicando a estratégia da mobilização permanente da classe trabalhadora e da construção de um partido revolucionário de massas. Seu programa remete explicitamente a categorias trotskistas como a revolução permanente e o Programa de Transição.
Marcos históricos: a Brigada Simón Bolívar e a internacionalização da luta
Um episódio que marcou desde muito cedo a identidade do PST foi a organização e expedição da chamada Brigada Símon Bolívar para apoiar a revolução nicaraguense (1979). Este episódio revela a vocação internacionalista do partido, mas também as tensões práticas entre sua política de internvenção sindical/operária e os processos revolucionários locais de outros países, que em alguns casos rechaçaram a intervenção de brigadas internacionais por divergências táticas. A experiência teve custos políticos (perseguição e repressão) e abriu debates internos sobre internacionalismo e solidariedade.
Militância sindical e educacional: inserção no magistério e setores operários
Ao longo de sua trajetória, o PST orientou grande parte de seu trabalho à organização no seio do movimento operário e, de maneira destacada, entre trabalhadoras e trabalhadores da educação – onde conduziu frentes docentes e participou em greves e campanhas – assim como em setores industriais (alimentício, metalúrgico) e em universidades. Essa estratégia de “trabalho de fábrica e educação” permitiu que o partido influenciasse debates sindicais locais e regionais, ainda que sempre em tensionamento com direções sindicais majoritárias e com a legislação trabalhista e política que condiciona a capacidade de atuação eleitoral dos partidos.
Estratégias eleitorais e a relação com coligações de esquerda
Historicamente, o PST manteve uma posição crítica em relação às coligações de conciliação de classe; entretanto, no período recente (2018-2022 e anos posteriores) o partido adotou táticas de voto crítico em processos eleitorais em que setores populares favoreceram candidaturas de teor reformista. Ao mesmo tempo, o PST propôs ferramentas políticas próprias – por exemplo, a convocatória para uma assembleia constituinte – como alternativa ao regime político de 1991. Essas posições refletem o tensionamento entre a autonomia estratégica da esquerda revolucionária e as pressões táticas dos ciclos eleitorais e movimentos sociais.
Contribuições ao campo acadêmico e jornalístico
A atuação histórica do PST deixou um arquivo de revistas, boletins e textos (por exemplo, a publicação “El Socialista” e materiais da LIT-QI) que são fontes de primeira mão para historiadores e cientistas políticos interessados na história da esquerda na Colômbia. Pesquisas acadêmicas recentes reconstruíram trajetórias militantes transnacionais e vínculos com correntes argentinas e espanholas, fornecendo contexto para o entendimento sobre a circulação de práticas políticas entre movimentos latino-americanos.
Tensões e desafios contemporâneos
Entre os principais desafios do PST hoje, destacam-se: 1) aumentar a influência para além dos núcleos sindicais e estudantis, para disputar a hegemonia em bairros e setores populares; 2) conduzir a relação com coligações mais amplas, sem diluir a identidade programática do partido; 3) incorporar debates sobre gênero, plurinacionalidade e ambientalismo numa essencia anticapitalista; 4) atuar em um marco legal e midiático que limita a visibilidade e participação eleitoral de partidos minoritários. Essas questões são comuns a muitas organizações da esquerda revolucionária na América Latina.
Conclusão
48 anos depois de sua fundação, o PST é um caso relevante para que se pensem as estratégias da esquerda revolucionária em contextos de fragmentação política e mobilizações sociais permanentes. A história do partido combina coerência ideológica, práticas organizativas centradas no trabalho sindical e educacional, episódios internacionalistas e contínuos debates táticos. O balanço aponta que, apesar do tamanho reduzido em comparação às forças majoritárias, a continuidade do PST contribui com memória militante e valiosos recursos organizativos para os movimentos sociais na Colômbia.
Glossário (termos-chave)
- Trotskismo: corrente do marxismo que reivindica as posições políticas de Leon Trotski, em particular a teoria da revolução permanente e a crítica ao stalinismo.
- Fração Bolchevique / Nahuel Moreno: correntes da Quarta Internacional vinculadas a dirigentes latino-americanos que influenciaram a criação do PST.
- LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional): organização internacional à qual o PST está historicamente vinculado.
- Magistério: conjunto de professores organizados sindicalmente (na Colômbia, um dos agentes centrais das mobilizações social).
- Voto crítico: tática eleitoral usada por organizações que não integram uma coligação, mas apoiam ou indicam uma opção em particular como medida tática.
Bibliografia (seleção acadêmica e documental)
- Aiziczon, F. Militancias transicionales entre España y Argentina (artículo, 2024).
- Osuna, M.F. Las prácticas políticas del Partido Socialista de los Trabajadores (tese/pesquisa, 2015 aprox.).
- Díaz, A.V.P. “Memorias de la movilización magisterial en Colombia”. Revista RHEC, Universidad de Nariño (análise histórica sobre o magistério).
Webrafía (fontes oficiais, partidárias, jornalísticas e sindicais consultadas)
- Partido Socialista de los Trabajadores (site oficial / Revista).
- PST-Colombia — artigo comemorativo e arquivos históricos na LIT-QI.
- Entrada enciclopédica: Partido Socialista de los Trabajadores (Colombia) — Wikipedia.
- Publicações e análises sobre intervenção sindical e magisterial no portal do PST.
- Federación Colombiana de Trabajadores de la Educación (FECODE) — documentação sindical e comunicados (contexto magisterial).