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Marrocos: Cresce a resistência e a crise de direção se aprofunda

Demonstrators gesture in downtown Casablanca during youth-led demonstrations demanding better education and healthcare, in Casablanca, Morocco, October 2, 2025. REUTERS/Stringer
outubro 12, 2025

Por: Cesar Neto

Introdução

Desde 27 de setembro a juventude saiu às ruas em protesto contra as péssimas condições de atenção na área da saúde e da educação. As mobilizações não para, ao contrário, crescem e se estendem aos bairros populares. Dirigidos pelas plataformas digitais que abrigam sob o nome de Geração Z 212 aos poucos essa forma de direção vai mostrando seus limites.

Cresce, se expande e se radicaliza a resistência marroquina

As principais cidades marroquinas, entre elas, Rabat, Casablanca, Agadir Marrakesh, Tanger e inúmeras cidades menores estão vivendo momentos de muita agitação que questionam o modelo econômico imposto pelo Rei Mohammed VI e a burguesia local.

Quando centenas de carros e dezenas de prédios, incluindo bancos e uma delegacia de polícia, já haviam sido saqueados ou incendiados, as mobilizações que estavam no centro das cidades se expandiram para os bairros dando um caráter popular e juvenil as lutas.

 Essas são as maiores manifestações desde os protestos da Primavera Árabe em 2001, que obrigaram o Rei Mohammed a delegar poderes ao parlamento. Ao mesmo tempo essas manifestações são as mais violentas desde os protestos de 2016 não região do Rif.

Por outro lado, as manifestações que inicialmente estavam reivindicando mais verbas e melhorias da saúde e educação agregou novas reivindicações como emprego e moradia. Os manifestantes também denunciam a corrupção generalizada e criticam o governo por priorizar eventos esportivos internacionais em detrimento de serviços públicos essenciais.

Sem dúvidas há uma mudança na quantidade de manifestantes e também na quantidade e qualidade das reivindicações.

Na sexta-feira, 10 de outubro, os organizadores pediram uma pausa na manifestações, já que a atenção se voltava para o aguardado discurso do Rei Mohammed VI, faria no Parlamento Marroquino. Essas esperanças ficaram frustradas após o discurso.

A monarquia e a burguesia local: uma simbiose perfeita a “votre service”

O Marrocos é governado pela simbiose entre a monarquia e a burguesia local representada pelo primeiro-ministro Aziz Akhannouch que governa enquanto administra seu conglomerado Akwa Group, que diga-se de passagem é o maior grupo econômico do país. Uma simbiose em nome da perpetuação no poder e em torno de lucro, controle e exclusividade nos negócios do Estado.

O país então é governado diretamente por empresários. O primeiro-ministro Aziz Akhannouch, não é o único empresário no governo. O Ministério da Educação é controlado Mohamed Saâd Berrada – CEO da Michoc, uma empresa que se dedica à fabricação e comercialização de doces e chocolates.

Essa simbiose controla todos os setores economicos, tais como:  energia, agricultura, saúde, mídia, construção. São eles que constroem estradas, estádios e hospitais – muitas vezes com seu próprio dinheiro, em troca de retornos garantidos. O Estado marroquino governado pela monarquia não atende diretamente as políticas públicas, terceiriza. O país agora funciona como uma teia de aranha, com todos os fios – econômicos, políticos, mediáticos sendo controlados pelo mesmo cérebro.

A monarquia marroquina e as demais monarquias árabes são cumplices do genocídio em Gaza

As oito monarquias árabes existentes na atualidade: Arabia Saudita, Jordânia, Marrocos, Bahréin, Kuwait, Omán, Catar e Emiratos Árabes Unidos (EAU), utilizam seu poder ditatorial para exploração de recursos minerais, vivem nababescamente e aos seus “súditos” é reservado desemprego e condições de vida impensáveis.

Todas essas monarquias tem estreitas relações com o imperialismo norte americano e em particular com Israel.

Marrocos, por exemplo, neste ano, em pleno massacre em Gaza, comprou 36 unidades de artilharia autopropulsada Atmos 2000, produzidos pela israelense Elbit Systems, montadas em caminhões Trata de origem checo.

No ano de 2024, a monarquia marroquina encomendou dois satélites Ofrek 13 a israelense Israel Aerospace Industries (IAI) e que serão entregues nos próximos cinco anos

Em 2022, logo após a visita do Ministro da Defesa de Israel Benny Gantz  à Rabat, Marrocos  adquiriu  o sistema de defesa aérea e antimísseis Barak MX fabricado pela Israel Aerospace Industries (IAI) em contrato no valor de US$ 500 milhões,

Frente ao genocídio em Gaza, a monarquia marroquina “deplora” pelas vidas humanas e segue comprando armas israelita. Uma hipocrisia muito parecida com a de Lula no Brasil que fala em genocídio e a Petrobrás é o quinto maior fornecedor de combustível para os sionistas.

Geração Z 212: uma direção bastante limitada

É preciso reivindicar o papel mobilizador do movimento conhecido como Geração Z 212, mas é preciso reconhecer que seu programa é bastante limitado. Eles, por exemplo, não exigem mudanças na política econômica, ruptura com o FMI ou mais democracia. As políticas públicas como saúde e educação e empregos são a sua estratégia.

Quanto ao genocídio em Gaza de seus irmãos árabes, parece não ser um tema de relevância para eles.

“’Eles queimam pneus, amaldiçoam ministros, mas beijam o retrato do rei” como diz um articulista marroquino.

Ao não questionarem a autoridade do Rei Muhammed VI, e se centrarem no primeiro ministro Aziz Akhannouch, questionam apenas uma parte da simbiose de poder conforme descrevemos acima.

É preciso uma direção classista e revolucionária para Marrocos

A estratégia de suspender as mobilizações no dia 10.10 e  esperar o pronunciamento do Rei Muhammed VI no Parlamento marroquino frustrou a vanguarda lutadora, em especial aos que seguem o Geração Z 212. Os jovens dos bairros proletários das grandes cidades, que atuam de forma mais independentes, seguiram mobilizando-se.

Não há dúvidas que o Geração Z 212 mostrou todos os limites de seu programa político e ao mesmo tempo também mostrou a necessidade de uma direção política classista, armada de um programa que se enfrente com o regime monárquico-empresarial rumo a derrota desse regime e a construção de um governo dos trabalhadores, dos jovens e dos setores populares. 

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