search
Inglaterra

Junte-se ao “Your Party”

setembro 27, 2025

Construa um novo partido de massas dos trabalhadores com um programa socialista

Os membros da Liga Socialista Internacional juntaram-se ao “Your Party” e participarão plenamente na construção de um partido socialista democrático de massas dos trabalhadores nas ruas, preparados para concorrer às eleições.

No início de julho, a ex-deputada trabalhista Zarah Sultana anunciou sua renúncia ao antigo partido e a criação de um novo partido com Jeremy Corbyn. O Partido Trabalhista havia destituído Sultana da liderança em 2024 por se opor à manutenção do teto do benefício para dois filhos. Diversos ativistas, grupos políticos, 200 ex-vereadores trabalhistas e parlamentares independentes de esquerda somaram-se à construção do novo partido.

A criação do partido interino “Your Party” foi anunciado em 24 de julho, junto do lançamento de um site, por Corbyn e Sultana, para as pessoas interessadas se registrarem. Em 22 de agosto, 800.000 pessoas já haviam se registrado, o que demonstra o desejo por um novo partido em oposição ao tradicional sistema bipartidário Conservador x Trabalhista e à rápida ascensão do Reform UK. Desde as eleições gerais, o apoio ao Reform UK aumentou exponencialmente. O ódio e a busca por bodes expiatórios por parte do Reform e as manifestações racistas de extrema-direita contra os requerentes de asilo e os imigrantes encontram eco no Partido Trabalhista e nos conservadores, em uma corrida que ruma ao abismo.

A classe trabalhadora está sofrendo à medida que se agrava a deterioração do nível de vida. Desde 2010, o aumento da austeridade e a perda contínua de direitos deram lugar a uma onda de greves e a uma luta massiva permanente em apoio à Palestina e contra o genocídio. As pessoas estão cientes de que os interesses da classe trabalhadora estão sendo ignorados em favor dos interesses do capitalismo e do imperialismo e de seu impulso à exploração e à destruição bárbara. A necessidade desse novo partido de esquerda é impulsionada pelo descontentamento e pela raiva.

A vitória do governo trabalhista no ano passado expressou um profundo ódio às políticas do Partido Conservador e suas políticas repressivas e anti-classe trabalhadora, à corrupção e ao apoio a Israel. Os conservadores levaram o Serviço Nacional de Saúde (NHS) à beira do colapso financeiro e colocaram o financiamento da assistência social em crise. Contudo, sob o governo trabalhista, os cortes e a privatização dos serviços de saúde e assistência continuam e avançam rapidamente.

A enorme vitória do Partido Trabalhista nas eleições gerais não significou nenhuma confiança em Starmer, senão um desejo de mudança pelos votantes. O que foi votado e o que aconteceu desde então não poderiam ter sido mais díspares, e bastou um ano para a classe trabalhadora se desiludir com o Partido Trabalhista. Starmer lançou novos ataques contra trabalhadores e imigrantes e, além de criminalizar o movimento de massas em defesa da Palestina, continua a enviar armas para as Forças de Defesa de Israel (IDF), responsável pelo massacre genocida de palestinos – o que faz do Partido Trabalhista cúmplice do massacre de dezenas de milhares de palestinos.

Em um ano, o governo trabalhista:

  • Não combateu a pobreza infantil (em 2024, 4,45 milhões de crianças viviam em lares com rendimentos relativamente baixos, um nível recorde).
  • Acabou com o subsídio de combustível para aquecimento no inverno para pensionistas.
  • Manteve o teto de 2 filhos para recebimento de benefícios familiares.
  • Cortou os benefícios do Crédito Universal/PIP para pessoas com deficiência e vulneráveis.
  • Não conteve o agravamento da crise imobiliária.
  • Continua com a criminalização do direito ao protesto.
  • Mantém das leis antissindicais.
  • Continua com a exploração de trabalhadores imigrantes na economia gig (em 2024, 5,75 milhões – 19% da força de trabalho total – eram migrantes); o que inclui 45.000 trabalhadores, sob o regime abusivo de trabalho sazonal.

Durante esse tempo, a ex-vice-primeira-ministra trabalhista Angela Rayner (que renunciou em 5 de setembro por pagar menos impostos do que deveria por uma de suas propriedades) apoiou a prefeitura de Birmingham, governada pelos trabalhistas, em uma tática amarga de “demitir e recontratar” usada contra os trabalhadores do serviço de coleta de lixo da prefeitura. Os trabalhistas abandonaram esses trabalhadores, que são apoiados nos piquetes de sindicalistas de todo o país. Tornou-se uma questão nacional.

O governo apazigua os reformistas e a extrema direita, usando a mesma linguagem depreciativa para transformar imigrantes em bodes expiatórios e legitimar ataques cada vez mais draconianos e cruéis contra requerentes de asilo, pessoas que são forçadas a realizar viagens perigosas, para fugir da guerra e da tortura e buscar asilo no Reino Unido. O líder reformista Nigel Farage se gaba de que deportará todos os “imigrantes ilegais”, sem apontar que não há meios legais de solicitar asilo no Reino Unido. A extrema direita tem como alvo os requerentes de asilo e os hotéis em que são forçados a se hospedar, culpando os mais vulneráveis ​​pelos males do sistema capitalista.

Assim como Tony Blair, Starmer quer um partido de classe – da classe capitalista. Ele criou fortes conflitos com amplos setores da população. O partido Reform UK, liderado por Nigel Farage, ganha força rapidamente devido ao constante rebaixamento da qualidade de vida e à crise de direção das organizações da classe trabalhadora.

Um novo partido pode galvanizar a classe trabalhadora organizada e não organizada para uma luta ampla, como com uma combinação de ondas de greves, a luta palestina, a luta contra a extrema direita e os fascistas, juntamente as lutas operárias e sociais. Essa combinação pode dar início à construção de uma alternativa real dos trabalhadores como um movimento de base.

Um novo partido

Para que o “Your Party” (nome provisório do partido) seja bem-sucedido, deve ser um instrumento para a emancipação da classe operária, que tem uma longa e amarga história na luta por seus direitos políticos e industriais desde o movimento cartista e antes.

O movimento “Your Party” não está tão profundamente ligado à classe trabalhadora como quando o Comitê de Representação Trabalhista foi formado em 1990. Mas hoje, como Ken Loach disse recentemente, a questão central é a luta contra o capitalismo e por uma economia socialista sem os ricos e poderosos, de maneira que o novo partido deve ter como objetivo unir todos os setores da classe trabalhadora.

Os ataques do capitalismo e do imperialismo devem ser respondidos com um programa e com ações. O parlamento é importante, mas a luta de classes nas ruas e todas as mobilizações são primordiais – o que ganhamos, ganhamos nas ruas.

As manifestações palestinas em Londres são enormes, e grandes marchas continuam em muitas cidades. Testemunhar o que Israel e o imperialismo fazem ao povo palestino é profundamente chocante para milhões de pessoas na Grã-Bretanha e em todo o mundo.

Com qual programa essa iniciativa pode se voltar para os movimentos de massa já em curso e lutar pela aliança mais profunda entre eles e o restante da classe trabalhadora? A resposta a essa pergunta central começa pela avaliação dos principais movimentos que acontecem agora entre a classe trabalhadora na Grã-Bretanha.

Será necessário responder às lutas nacionais na Escócia, no País de Gales e na Irlanda e, assim, dar uma resposta contundente à questão do direito à autodeterminação.

O comitê de direção de Corbyn e Sultana

O “Your Party” e seu recém-formado comitê nacional são apoiados pela Aliança Independente, um grupo de seis parlamentares independentes na Câmara dos Comuns, ao qual Sultana se juntou em julho de 2025. Ainda não se sabe como é o funcionamento geral do comitê, quem o compõe, quais suas tendências políticas ou como serão decididos o programa e suas questões mais importantes.

Muitos ativistas de base criticaram a demora do desenvolvimento do partido, já que muitas reuniões ocorreram em cidades, vilas e até aldeias, e questionam como se estabelecerá a democracia interna e a prestação de contas. Isso deve caber aos 850.000 membros, que decidirão democraticamente.

Vários membros do comitê diretor fizeram declarações próprias na New Left Review e em outros meios de comunicação, mas ainda não foi publicado nenhum boletim do “Your Party” que trate das diferenças discutidas nessas entrevistas.

Entre as “figuras de destaque”, há diferenças importantes — um grupo adota uma abordagem de “partido em primeiro lugar”, para estabelecer um “partido coeso e unificado” e resolver os detalhes de base posteriormente. Este último grupo envolve figuras ligadas ao Collective, uma organização que desempenhou um papel importante na criação do partido apoiado por Zara Sultana (New Left Review).

Algumas figuras, incluindo o ex-diretor de comunicações de Corbyn, James Schneider (líder do Momentum), e o assessor-chefe de Corbyn, Andrew Murray, defenderam modelos diferentes na New Left Review.

Outro grupo inclui o ex-prefeito Jamie Driscoll e o candidato rival de Keir Starmer, Andrew Feinstein, ambos em oposição à criação imediata de um partido; em vez disso, defendem uma aliança com vários grupos independentes, em direção a uma “abordagem federativa” composta por uma série de movimentos de base. Acredita-se que Corbyn se alinhe a esse grupo.

A ISL apoia um novo partido, onde os membros tenham direitos democráticos, possam pertencer a outros partidos e tenham o direito de formar tendências. Os dois grupos apontados anteriormente podem funcionar de maneira menos democrática.

Também será necessário estabelecer procedimentos justos e sólidos para combater discriminação, assédio e disputas pessoais em qualquer nível.

Grupos de base

É apontada repetidamente a necessidade de um funcionamento democrático, com um enfoque de baixo para cima – que significa que os membros devem debater e decidir as políticas, o programa e o método para construir o partido. Grupos políticos e ativistas individuais começaram a se organizar, mas às vezes buscam controlar essas reuniões de forma antidemocrática.

Ainda, há um profundo desejo popular por um novo partido, além de um crescente sentimento e ação anticapitalistas. Os grupos que se reúnem e se organizam localmente discutem a finalidade do partido, quais as reivindicações, o programa e como ele deve funcionar, assim como o direito de revogação dos eleitos para a câmara municipal ou para o parlamento por meio de discussão e tomada de decisões coletivas.

A agitação desse processo levou Corbyn, Sultana e outros a discursarem em reuniões oficiais em Glasgow, Edimburgo, Bristol, Newcastle e Blackburn. A reunião em Blackburn foi anunciada como uma conferência, mas foi um comício sem debate entre os mais de mil presentes (mais as centenas de pessoas do lado de fora). Havia quatro parlamentares independentes, mas não se ouviu nenhuma menção à palavra socialismo nem ao capitalismo.

A conferência do novo partido será realizada em novembro – que tipo de partido ele deve ser – e será – continua sendo uma questão em aberto que exige intensa discussão democrática.

Muitos ativistas do novo partido não querem apenas combater os tentáculos do capitalismo, mas também acabar com ele. Por mais importante que seja, não basta que sejamos capazes de definir a natureza do partido que a classe trabalhadora precisa para derrotar o capitalismo e o imperialismo, rumo ao socialismo. Devemos nos questionar: como o desenvolvimento de um novo partido pode se conectar à consciência da necessidade de um partido de massas da classe trabalhadora e às perspectivas e o programa internacionalistas revolucionários necessários para que isso aconteça? Ele não será criado de supetão no próximo período.

As necessidades programáticas do movimento de massa incluem:

Por um partido independente da classe trabalhadora, baseado num movimento operário democrático e combativo! Sem alianças com partidos capitalistas!

Precisamos construir um partido que apoie a Palestina e combata todos os níveis de racismo e opressão. Acolhamos imigrantes e requerentes de asilo. Exponhamos as mentiras da extrema direita e dos fascistas.

  1. Defender os sindicatos e o direito dos trabalhadores de se organizarem!

Apoiar todas as greves e piquetes sindicais!

A luta contra o capitalismo exige uma luta unida entre os organizados e os não organizados, entre os documentados e os indocumentados, respeitando a autonomia de todos os grupos progressistas. Defender todos os trabalhadores para construir uma luta de massas pelos direitos civis e para construir a esquerda democrática dentro da luta de classes dos sindicatos e das comunidades.

  • Palestina

Construir o movimento de massas pela libertação da Palestina, do rio ao mar, para pôr fim ao Estado racista de Israel no calor da luta contra o genocídio – a única solução para a paz no Oriente Médio. Acabar com o apoio militar e armamentista britânico a Israel.

Envolver a classe trabalhadora em ações diretas, como o boicote ao envio de armas e outros produtos para Israel.

Defender o movimento estudantil e seus direitos democráticos de se opor à cumplicidade com Israel.

Romper relações comerciais e diplomáticas com Israel.

Por uma Palestina laica, livre, democrática!

Não à intervenção militar britânica em terras estrangeiras! Acabar com o maquinário bélico!

  • Parar os ataques a imigrantes e refugiados: acabar com toda a opressão

Contra todas as formas de racismo. Abrir as fronteiras e fechar imediatamente os campos de detenção de imigrantes e o uso de hotéis como centros prisionais. Apoiar o direito dos oprimidos e explorados à autodefesa contra a violência racista e fascista.

Mobilização em massa de amplas forças sociais, incluindo as fileiras do movimento operário, para derrotar os fascistas e as manifestações de extrema direita.

Parem todas as deportações agora! Direitos iguais para os migrantes!

Desmontar a polícia racista e o sistema de “justiça” criminal! Reparações e autodeterminação! Acabar com o legado do colonialismo e do imperialismo!         

  • Estatização do NHS e da Assistência Social

Por um NHS totalmente integral, integrado, publicamente responsável e fornecido pelo Estado, gratuito no ponto de prestação de serviços, baseado nas necessidades, sem concessões à privatização. Renacionalizar o NHS e a assistência social sob o controle dos trabalhadores e dos usuários. Renacionalizar o NHS e a assistência social sob o controle de trabalhadores e usuários.

  • A moradia deve ser um direito humano de todos, incluindo os jovens.

O despejo da maioria das moradias populares significou, ao longo de décadas, uma disparada nos preços e um agravamento da crise imobiliária, com a questão habitacional convertida em mercadoria e investimento com fins lucrativo. Os aluguéis devem ser controlados.

A falta de moradia afeta significativamente os trabalhadores jovens e pobres. As construtoras nacionais devem ser nacionalizadas sob o controle dos trabalhadores, e moradias sociais acessíveis e dignas precisam ser criadas.

Pela proibição de despejos ilegais e pelo fim do imposto sobre o quarto. Exigimos uma regulamentação rigorosa do uso de oficiais de justiça e uma mudança na lei para exigir que todas as casas alugadas sejam mantidas por seus proprietários em um padrão decente.

Pedimos o fim dos aluguéis de terras e uma revisão do sistema de propriedade plena/arrendamento liderada pelo partido.

  • Acabar com todas as formas de opressão

Apoiar as lutas daqueles que são especialmente oprimidos pelo capitalismo, das pessoas que sofrem sexismo, racismo, capacitismo e/ou cis-heterossexismo.

Construir esses movimentos para acabar com toda a opressão sob a perspectiva da luta de classes, de maneira que esses movimentos possam articular suas próprias demandas e desenvolver consciência política como um grupo.

Devemos apoiar todas as suas demandas econômicas, políticas e sociais. Também, resistir a qualquer tentativa de criar uma narrativa falsa sobre a necessidade de escolher pessoas que apoiam um grupo da classe trabalhadora em detrimento de outro.

Podemos e devemos apoiar todas as lutas progressistas da classe trabalhadora. Plenos direitos civis e humanos para todos os povos!

  • Direito à autodeterminação

O “Reino Unido” é uma potência imperialista e colonial, e defendemos o direito à autodeterminação dos povos das colônias britânicas. Reivindicamos o direito à autodeterminação da Escócia e do País de Gales; áreas como as Malvinas devem ser devolvidas aos povos dos quais foram roubadas. Reivindicamos uma Irlanda unida.

Apoiamos todas as lutas de libertação nacional na África, América Latina e Ásia, em qualquer lugar onde haja povos oprimidos.

  • Crise climática

As mudanças climáticas são uma das maiores ameaças que a humanidade enfrenta hoje. O “capitalismo verde” e as escolhas individuais de consumo são totalmente insuficientes para enfrentar a catástrofe imposta ao planeta. O capitalismo deve ser abolido e substituído por uma economia socialista planificada, baseada em energia renovável, transporte público e no uso compartilhado e cuidadosamente planejado de recursos para o bem público. Como um passo importante em direção a esse objetivo, a indústria energética precisa ser nacionalizada.

Por justiça climática! Estatizar a indústria energética sob controle dos trabalhadores e da comunidade para alcançar a conversão emergencial para energia 100% renovável!

  • Não ao controle capitalista, sim ao controle operário

Existem inúmeros exemplos de super-riquezas extraídas da classe trabalhadora, tanto nacional quanto internacionalmente, por meio da escravidão assalariada e até mesmo da escravidão atual da classe trabalhadora. Precisamos construir um sistema tributário que impossibilite qualquer pessoa de acumular quantias significativas de riqueza. Precisamos financiar e nacionalizar integralmente todos os serviços públicos.

O Reino Unido atravessa uma profunda crise política e econômica. A rápida venda de ativos públicos fez com que infraestruturas essenciais — incluindo ferrovias, serviços de água e redes de energia — fossem frequentemente controladas por investidores estrangeiros, tendo como principal objetivo a maximização do lucro ao invés do bem-estar público.

Estatização, sob controle da classe trabalhadora, de todos os serviços públicos, da grande indústria, dos transportes e dos bancos! Por um governo dos trabalhadores e do povo e uma economia planificada! 

Em suma, o objetivo final de qualquer novo partido da classe trabalhadora deve ser a construção de um mundo socialista!

Leia também