O Equador se levanta para enfrentar o ajuste de Noboa

Por: Lena Souza
O Equador está em luta novamente, depois que o governo de Daniel Noboa anunciou a eliminação do subsídio ao diesel. A medida elevou imediatamente os custos de transporte e alimentação e a resposta popular foi rápida: estudantes, comerciantes, trabalhadores do transporte foram às ruas em protesto contra o reajuste, enquanto a CONAIE (Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador) declarou paralisação nacional por tempo indeterminado.
O aumento do preço do diesel foi a gota d’água
Em 13 de setembro de 2025, por meio do Decreto Executivo 126, o governo eliminou o subsídio ao diesel, fixando o galão em US$ 2,80, um dólar a mais que o preço anterior que era de US$ 1,80. A medida vigorará até dezembro, quando será aplicado um sistema de faixas atreladas à taxa de câmbio internacional.
O governo defendeu a decisão como uma medida “inevitável” para sanear as finanças públicas, no entanto, para amplos setores da população, o impacto foi imediato: aumento do preço dos transportes e alta dos preços dos alimentos básicos.
As medidas de ajuste e de entrega do país vem desde a posse de Noboa
Desde o início de seu governo, Noboa promoveu um pacote de políticas neoliberais como ajustes fiscais e redução de subsídios, primeiro para combustíveis e agora com a eliminação completa do subsídio ao diesel, abertura da mineração e exploração de petróleo em áreas de resistência social e nitidamente passando por cima de plebiscitos onde a população votou contra a exploração de recursos naturais como o petróleo no Parque Nacional Yasuni em 2023 ou pela defesa da água e contra a exploração das mineradoras em Cuenca.
Aplicou uma política de austeridade contra os trabalhadores do setor público, com medidas como congelamento de salários e contratos, processos de terceirização cortes em várias repartições estatais, sob o argumento de “eficiência administrativa”. Além disso, se multiplicaram as denúncias de atrasos no pagamento a servidores da educação, saúde e justiça, enquanto cargos de confiança ligados ao círculo presidencial seguem sendo ampliados.
Além disso o sistema público de saúde continua em colapso sob seu governo. Há falta de insumos básicos nos hospitais, desabastecimento de medicamentos e falta de médicos para atendimento. Apesar das promessas de “modernização”, a realidade é que o orçamento da saúde não foi ampliado e grande parte dos recursos continua sendo desviada para o pagamento da dívida externa e para gastos militares. As filas nos hospitais crescem, pacientes morrem por falta de atendimento e os trabalhadores da saúde denunciam as precárias condições de trabalho. A crise sanitária é um reflexo direto da prioridade dada ao ajuste fiscal sobre o bem-estar da população pobre que depende do sistema público de saúde
Com relação à segurança apesar de que Noboa aplicou um aumento do IVA, com o argumento de utilizar o dinheiro para enfrentar a crise de insegurança, na verdade ela se aprofundou desde sua posse, marcada por um aumento da violência ligada ao narcotráfico e ao crime organizado. Aplicou sucessivos estados de exceção, militarizando cidades e prisões, mas sem enfrentar as causas estruturais da violência: desigualdade, desemprego e corrupção. Embora a retórica oficial fale de “guerra contra as máfias”, a população trabalhadora continua sendo a principal vítima, com bairros periféricos sob domínio de grupos armados e uma sensação de insegurança cotidiana que não se resolve com tanques nas ruas. A militarização, por sua vez, tem servido também para reprimir protestos sociais, mostrando a real intenção da política de segurança do atual governo. Para completar contratou a assistência da empresa militar norte-americana Blackwater, conhecida por disponibilizar mercenários para governos e grupos privados em diversos países do mundo.
Essas medidas mostram uma direção nítida: descarregar a crise econômica sobre os setores mais pobres, garantindo o pagamento da dívida externa e os juros do grande capital.
Trabalhadores, indígenas e juventude vão à luta e a resistência se amplia
Os protestos começaram quase imediatamente, trabalhadores do transporte em Quito, Guayaquil e Loja realizaram greves parciais contra o aumento do diesel que tornam o serviço insustentável. Estudantes da Universidade Central do Equador se mobilizaram em 16 de setembro, acompanhados por professores e aposentados, exigindo a revogação do decreto. Houveram também vários bloqueios de vias em províncias.
Em Cuenca, cerca de 100.000 manifestantes foram às ruas em 15 de setembro em uma grande marcha em defesa da água e contra o aumento do preço do diesel. Estudantes, comunidades rurais, grupos ambientalistas e sindicatos marcharam pelo centro histórico com cartazes denunciando a ameaça dos projetos de mineração aos mananciais da cidade, ao mesmo tempo em que rejeitavam o novo preço do diesel. A mobilização estava alinhada ao crescente descontentamento nacional, deixando evidente que a luta pela água e contra as medidas de austeridade neoliberais de Noboa fazem parte da mesma batalha pela vida e pela dignidade do povo.
O poder executivo respondeu com repressão à manifestação estudantil e declarando estado de emergência em sete províncias e militarizando ruas e rodovias. A medida confirma a estratégia do governo de criminalizar o protesto social.
CONAIE convoca paralisação nacional
Em 18 de setembro, a CONAIE, depois de discutir em uma assembleia, anunciou uma paralisação nacional por tempo indeterminado, elevando o protesto a uma escala nacional. A organização indígena definiu uma agenda com vários pontos centrais:
1. Revogação imediata do Decreto 126.
2. Revogação das licenças ambientais para projetos de mineração em territórios de recarga hídrica.
3. Fim do modelo extrativista que destrói comunidades e ecossistemas.
4. Investimento real em saúde, educação e programas sociais.
5. Respeito aos direitos dos povos indígenas e camponeses.
Enquanto isso o governo endureceu sua retórica, definindo os lutadores como terroristas, e prometeu prisões de até 30 anos contra aqueles que “atrapalham a vida”,
Todo apoio à luta indígena e popular do Equador
A luta que hoje toma as ruas do Equador é a expressão viva da resistência de um povo que se recusa a carregar nos ombros o peso da crise criada pelos ricos. O fim do subsídio ao diesel, os cortes no setor público, a precarização da saúde e a militarização do país fazem parte de um mesmo projeto neoliberal que busca garantir lucros ao capital financeiro e às multinacionais, enquanto condena trabalhadores, camponeses e indígenas à miséria. Frente a isso, a mobilização popular, com destaque para a força histórica da CONAIE, abre caminho para uma luta que deve ser ampliada para os povo pobre da América Latina. É dever de todos os lutadores e suas organizações de classe apoiar incondicionalmente essa batalha do povo equatoriano, porque sua vitória será também um passo adiante na luta de todos os povos da América Latina contra o saque de nossos recursos, o ajuste e a repressão.