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Panamá

A longa luta dos trabalhadores panamenhos contra o imperialismo americano

agosto 6, 2025

Por: James Marsh

A greve nacional no Panamá está se aproximando do seu terceiro mês na luta dos sindicatos militantes e as organizações ativistas dos movimentos sociais para rejeitar as políticas antioperárias do presidente José Raúl Mulino. A greve apresentou considerável resistência à implementação das mudanças políticas neoliberais no Panamá, mas seus participantes enfrentaram intensa repressão das forças estatais.

Embora a greve esteja chegando ao fim, ela demonstra a disposição da classe operária panamenha em lutar por seus interesses. Também marca um novo capítulo na longa história de resistência da classe trabalhadora panamenha ao imperialismo americano e seus colaboradores na oligarquia panamenha.

Uma revisão da história da luta de classes no Panamá mostra como as corporações multinacionais, os interesses militares americanos e os oligarcas panamenhos mantiveram seu domínio sobre o país e explica por que essa combinação de forças eclodiu na atual onda de greves, à medida que a classe trabalhadora panamenha lançou uma nova onda de resistência aos ataques do imperialismo americano.

Panamá e o Imperialismo Americano

A Zona do Canal do Panamá, a área que se estende por oito quilômetros em ambos os lados do Canal do Panamá, foi uma colônia americana no início do século XX.

O descontentamento popular com essa colonização americana, que dividiu o Panamá em dois, desencadeou um movimento estudantil em 1964, que provocou protestos massivos. A polícia da Zona do Canal e as forças militares americanas tentaram reprimir os protestos e, em 9 de janeiro, mataram 22 panamenhos, muitos deles estudantes, no que ficou conhecido como a Revolta do Dia dos Mártires.

O descontentamento popular no Panamá seria cooptado pelo líder bonapartista, General Omar Torrijos, que tomou o poder após um golpe em 1968. Torrijos e seu partido governaram com políticas de colaboração de classes que faziam concessões aos trabalhadores e camponeses, mantendo a burguesia no poder e com fortes laços econômicos com os capitalistas americanos. Isso, ao cooptar o descontentamento da classe operária, desviou seus esforços políticos dos objetivos socialistas. Torrijos adotou um modelo nacional-desenvolvimentista para o Panamá, que incluía a nacionalização do Canal do Panamá, seguindo os passos do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, que havia nacionalizado com sucesso o Canal de Suez.

Uma das políticas nacionalistas implementadas por Torrijos foi a reforma agrária, realizada entre 1969 e 1977. A United Brands, conhecida como United Fruit Co. antes de 1970, monopolizava efetivamente as exportações de banana do país naquela época. Torrijos respondeu à pressão popular redistribuindo parte das terras excedentes da empresa e impondo um pequeno imposto de exportação, embora, mesmo após essa redistribuição de terras, a United Brands tenha permanecido a maior exportadora de banana do país. A United Brands agora foi reorganizada como Chiquita.

A luta pela soberania sobre a zona do canal, por sua vez, levou à negociação de um tratado com os Estados Unidos, ratificado em 1978. Com a crescente pressão popular no Panamá pela nacionalização do canal, o que gerou pressão diplomática sobre os Estados Unidos, e considerando que o canal não tinha mais importância militar em uma era de porta-aviões e submarinos nucleares grandes demais para passar pelas estreitas eclusas, os governos dos respectivos países ratificaram um tratado para entregar o canal em 1999.

No entanto, esse tratado incluía algumas condições. Uma delas era uma cláusula de neutralidade, que estipulava que a Zona do Canal permaneceria neutra, sem tropas estrangeiras estacionadas nela; naquele momento, o objetivo era manter a URSS fora. Também incluía disposições neocoloniais que garantiam aos Estados Unidos o direito de intervir militarmente no Panamá para defender o canal, mesmo após o ano 2000, deixando a ameaça de intervenção como condição para a rendição.

Políticas como essas acabaram canalizando o descontentamento da classe trabalhadora para esforços reformistas que mantiveram o imperialismo estadunidense, ao mesmo tempo em que tentavam impedir revoltas em massa como as vistas no Dia dos Mártires.

Após a morte de Torrijos, o General Manuel Noriega, membro do mesmo partido de Torrijos, firmou seu poder nos bastidores, consolidando seu governo em 1983 e mantendo-o com um golpe de Estado em 1984. Noriega colaborou estreitamente com as agências de inteligência dos EUA, com a DEA, e na Guerra dos Contras, que buscava derrubar os sandinistas na Nicarágua. Ainda que o duro regime militar de Noriega havia sido inicialmente aprovado pelo governo dos EUA, no final da década, os partidos civis neoliberais pareciam ser parceiros mais atraentes e estáveis para os capitalistas americanos. A crescente hesitação de Noriega em ajudar os Contras da Nicarágua contra os sandinistas também obscureceu sua aprovação pelo governo americano. Embora Noriega fosse um colaborador dos EUA há muito tempo, a classe dominante americana sentiu que seu cão de ataque havia escapado da coleira e, em 1989, invocou o direito de “defender militarmente o canal” e invadiu o Panamá para derrubar Noriega. Essa invasão teria um paralelo direto na ação militar contra outro líder e ex-colaborador dos EUA que se tornou inimigo, Saddam Hussein, no ano seguinte.

Esse uso das disposições do tratado que concedem aos militares americanos o direito de intervir à vontade no Panamá para defender seus interesses demonstra o legado neocolonial do colonialismo na Zona do Canal.

O governo civil neoliberal estabelecido após a derrubada da ditadura, que manteve a oligarquia panamenha, incluiu a eleição do presidente Ricardo Martinelli em 2009.

Martinelli enfrentou resistência da classe trabalhadora às suas políticas, incluindo protestos contra a expansão da mineração na região indígena Ngäbe-Buglé. A mineração e o extrativismo foram apresentados como uma alternativa ao “transitismo”, a dependência das receitas do canal, e houve tentativas de abrir minas a céu aberto ambientalmente devastadoras em terras indígenas.

As mobilizações contra políticas antioperárias impostas em nome dos capitalistas panamenhos e estrangeiros se intensificaram em 2019. Novas tentativas de privatização neoliberal e cortes orçamentários nos serviços públicos levaram jovens mulheres a se mobilizarem contra os cortes na educação pública, desencadeando uma nova onda de resistência popular.

Essa onda de mobilizações incluiu protestos contra a mina Cobre Panamá, da First Quantum Minerals, uma mina a céu aberto de propriedade canadense, em 2023. Durante dois meses, manifestantes bloquearam portos e estradas, acompanhados por grandes marchas e assembleias públicas realizadas nas barricadas, unindo organizações de movimentos sociais e ambientais com sindicatos. Essa mobilização paralisou com sucesso as operações da mina.

A oligarquia contra-atacou diante dessa resistência. O presidente José Raúl Mulino, sucessor designado de Martinelli, foi eleito em 2024; muitos observadores o consideram parte de uma onda de líderes de direita que assumiram o poder, incluindo Donald Trump nos Estados Unidos, Nayib Bukele em El Salvador, Jair Bolsonaro no Brasil e Javier Milei na Argentina.

Essa história destaca a contínua dominação do Panamá pela classe capitalista americana, tanto por meio do poder corporativo e militar quanto por meio de seus representantes panamenhos, os regimes colaboracionistas que mantiveram a burguesia panamenha no poder usando tanto a cenoura quanto o porrete contra a classe operária panamenha.

Essa história também mostra que a exploração por capitalistas estrangeiros e panamenhos tem continuamente provocado que a classe trabalhadora panamenha vá à ação. Essa ação foi ocasionalmente cooptada por reformistas, mas alcançou vitórias notáveis e está ressurgindo mais uma vez em uma onda de mobilizações de massa que usaram o poder dos trabalhadores para paralisar o país e lutar contra a dominação imperialista.

Greve Nacional Contra as Políticas de Mulino

Três elementos-chave das políticas atuais do Presidente Mulino desencadearam as greves que fizeram parte da onda contínua de mobilizações populares em curso. Mulino, com o apoio do Parlamento, privatizou os serviços de previdência, enquanto as futuras aposentadorias/pensões foram reduzidas de 60% da renda para 30%, colocando a maioria dos aposentados abaixo da linha da pobreza. Ele também pretende conduzir negociações para reabrir a mina a céu aberto First Quantum Minerals, a mesma mina que foi fechada em resposta à revolta massiva de 2023. Além disso, Mulino chegou a um acordo com Trump para reabrir três bases militares americanas e estacionar tropas americanas na antiga zona do canal, violando a cláusula de neutralidade dos tratados do canal, que proíbem forças armadas estrangeiras de estacionar tropas na área. Isso ocorreu após as declarações de Trump de que tentaria retomar o Canal do Panamá.

Protestos começaram a eclodir em todo o Panamá em fevereiro deste ano. Os sindicatos desempenharam um papel fundamental e iniciaram a atual greve nacional em abril, à qual se juntaram os sindicatos de professores e trabalhadores da construção civil, além dos trabalhadores bananeiros da Chiquita. Os grevistas enfrentaram considerável repressão.

A Chiquita respondeu à greve com demissões em massa, às quais os trabalhadores da indústria bananeira responderam montando barricadas nas ruas. Barricadas eram uma tática comum nos protestos de 2023, mas desta vez a repressão policial para desfazê-las foi mais intensa. Um estado de emergência foi declarado na província de Bocas del Toro para dar à polícia maior autoridade para usar a força, e a polícia atacou os manifestantes com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Diante dessa repressão, o sindicato dos trabalhadores da indústria bananeira chegou a um acordo para desmantelar os bloqueios, encerrando o estado de emergência, embora os bloqueios permaneçam em vigor por enquanto.

Os sindicatos dos trabalhadores da construção civil também foram coagidos a encerrar a greve. A polícia começou a prender os grevistas em seus locais de trabalho, forçando muitos a ficar em casa e intimidando outros a retornarem ao trabalho. O governo também congelou os fundos de alguns sindicatos. O líder do sindicato dos trabalhadores da construção civil SUNTRACS foi forçado ao exílio político na Bolívia, fugindo da ameaça de prisão por seu papel na greve.

A greve dos professores foi prejudicada por táticas semelhantes. Os professores enfrentaram a ameaça de demissões em massa, enquanto a polícia perseguia os líderes sindicais para prendê-los. A maioria dos sindicatos de professores, exceto quatro dos 21 participantes anteriores, negociou o fim da greve geral em 14 de julho. Os sindicatos de professores ainda em greve, incluindo o sindicato ASOPROF, buscam assistência internacional.

Embora a atual onda de greves esteja diminuindo, a resposta do governo panamenho do presidente Mulino demonstra a ferocidade da repressão que a classe dominante panamenha está disposta a desencadear para manter sua posição de colaboradora do neocolonialismo estadunidense e do capital internacional. No entanto, também demonstra a disposição da classe operária panamenha de se organizar e lutar contra a oligarquia panamenha e o imperialismo estadunidense para resistir às políticas antioperárias de Mulino, mesmo diante de consideráveis dificuldades.

A Luta Internacional da Classe Operária

Esta greve nacional coloca a classe trabalhadora panamenha na vanguarda da luta contra o imperialismo estadunidense e a rede global de líderes de direita associados a Trump. A luta contra a classe capitalista é internacional.

A história do imperialismo estadunidense no Panamá mostra como a burguesia estadunidense tem se apoiado em uma combinação de colaboração, intervenção e poder corporativo para manter seus interesses estratégicos no acesso ao Canal do Panamá e na exploração da classe trabalhadora panamenha. A atual onda de mobilizações desde 2019 demonstra que a luta contra o imperialismo no Panamá está longe de terminar.

A greve nacional demonstra o poder da ação de massas, com organizações independentes da classe trabalhadora, incluindo sindicatos e organizações de movimentos sociais, na vanguarda da luta. Também demonstra a necessidade de uma mudança de classe para derrubar a oligarquia panamenha e pôr fim definitivo à era do imperialismo estadunidense no Panamá.

No contexto da história de resistência da classe operária panamenha e da colaboração da classe dominante com o imperialismo estadunidense, a mobilização da classe trabalhadora no Panamá, assim como a atual onda de greves, tem o potencial de alcançar vitórias importantes para todos os trabalhadores explorados pelos capitalistas estadunidenses nos Estados Unidos e em outros lugares. Devemos nos inspirar no modelo oferecido pelos ativistas panamenhos e convocar a solidariedade com os sindicatos e organizações do movimento no Panamá, bem como a defesa de todos os ativistas perseguidos.

Fontes:

Una ola de huelgas y protestas sacude Panamá – La Voz de los Trabajadores

Es el canal de Panamá – La Voz de los Trabajadores

Panamá: el movimiento popular y sindical se prepara para la lucha – La Voz de los Trabajadores

Lecciones de la lucha medioambiental en Panamá – La Voz de los Trabajadores

«La huelga nacional de Panamá, la represión estatal y los intereses imperiales de Estados Unidos: Entrevista con el líder sindical José Cambra», José Cambra y Ben Radford, LINKS – International Journal of Socialist Renewal, 10 de julio de 2025, https://links.org.au/panamas-national-strike-state-repression-and-us-imperial-interests-interview-union-leader-jose

«Panamá: Estudio de un país: Agricultura», Sandra W. Meditz y Dennis M. Hanratty, 1987, https://www.loc.gov/item/88600486/

«Jimmy Carter y los tratados del Canal de Panamá», Robert A. Strong, Presidential Studies Quarterly, edición de primavera de 1991, https://www.jstor.org/stable/27550717

«Las secuelas de la intervención: Panamá 1990», Richard L. Millett, Journal of Interamerican Studies and World Affairs, número de primavera de 1990, https://www.jstor.org/stable/166127

«1968-1990: La invasión de Panamá y la intervención estadounidense», Noam Chomsky, libcom.org, 8 de septiembre de 2006, https://libcom.org/article/1968-1990-invasion-panama-and-us-intervention

«El gigante bananero estadounidense Chiquita despide a miles de trabajadores en huelga en Panamá», Common Dreams, 23 de mayo de 2025, https://www.commondreams.org/news/chiquita-fires-striking-workers

«La huelga de los trabajadores bananeros termina en Panamá tras un acuerdo sobre las pensiones», Tico Times, 12 de junio de 2025, https://ticotimes.net/2025/06/12/banana-workers-strike-ends-in-panama-after-pension-agreement

«El máximo líder sindical de Panamá se exilia en Bolivia», Pablo Meriguet, People’s Dispatch, 22 de julio de 2025, https://peoplesdispatch.org/2025/07/22/panamas-top-union-leader-goes-into-exile-in-bolivia/

«LatinNews Daily – 14 de julio de 2025: En resumen: Los docentes ponen fin a la huelga en Panamá», Latin News, 14 de julio de 2025, https://www.latinnews.com/component/k2/item/106467.html?archive=3&Itemid=6&cat_id=836891:in-brief-teachers-end-strike-in-panama

Foto: Por SUNTRACS — Sindicato Único de Trabajadores de la Construcción y Similares (Sindicato Nacional de Trabajadores de la Construcción y Afines) en Panamá.

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