Filadélfia: 9.000 servidores municipais em greve!

Por: B. Cooper
Mais de 9.000 servidores municipais responsáveis por coleta de lixo, bibliotecas públicas, pavimentação de ruas, serviços de água, operadores de linhas de emergência, guardas de trânsito, mecânicos e muitos outros serviços da cidade da Filadélfia estão em greve. Eles são representados pelo Conselho Distrital 33 (DC 33) da AFSME [Federação Americana de Funcionários Estaduais, Municipais e Distritais, ndt.], o maior sindicato municipal da cidade, que tem maioria de membros negros.
A greve começou à meia-noite de terça-feira, 1º de julho, após o fracasso das negociações entre o sindicato e a Prefeitura. Desde o início da greve, os servidores fizeram piquetes na Prefeitura, no Prédio de Serviços Municipais e em muitos outros locais da Filadélfia. A maioria das bibliotecas públicas, centros recreativos e piscinas fecharam, e o lixo se acumula, com temperaturas diárias em torno de 32 graus.
Em 30 de junho, um dia antes do início da greve, centenas de membros de vários sindicatos municipais e outros apoiadores se reuniram em frente à Prefeitura para expressar sua solidariedade ao DC 33 e explicar as principais reivindicações do sindicato. Mais manifestações foram realizadas ao longo da semana, enquanto outros sindicatos, como a Federação de Professores da Filadélfia e os Teamsters [caminhoneiros de áreas diversas, ndt.], expressaram sua solidariedade aos grevistas. Os trabalhadores da DC 33 foram acompanhados, em solidariedade, por alguns trabalhadores da AFSCME DC 47, incluindo aqueles que trabalham na Biblioteca Pública da Filadélfia e em museus. O contrato da DC 47 também expirou em 1º de julho, mas infelizmente, os líderes sindicais se recusaram a convocar uma votação imediata sobre a greve e concordaram com uma extensão de contrato de 14 dias. Uma paralisação simultânea da DC 47 teria fortalecido muito a greve para seus companheiros da DC 33.
Membros da Voz dos Trabalhadores estiveram em alguns dos piquetes da cidade. A maior reclamação dos trabalhadores é o salário, e vários membros da DC 33 disseram a Voz dos Trabalhadores que dependem de cupons de alimentação para sobreviver. A DC 33 havia solicitado um aumento salarial anual de 8%, mas durante as negociações, eles reduziram suas reivindicações para um aumento de 5% para cada ano de um contrato de três anos. Além dos salários, as reivindicações do sindicato para o contrato de 2025 estabelecem uma série de necessidades adicionais, incluindo garantias de planos de saúde, pagamentos emergenciais durante a pandemia, ajustes no custo de vida e mudanças nas regras de licença médica, entre outras.
“Conversei com outros funcionários municipais e lhes disse que eles não precisam fazer nenhum trabalho que não seja de sua responsabilidade”, declarou um deles. Ele se referia à pressão que a Prefeitura está exercendo sobre outros funcionários municipais para que façam o trabalho dos grevistas, “ajudando” a recolher o lixo que os membros do DC 33 não recolhem durante a greve.
“Devemos defender nossos direitos com unhas e dentes. Temos direitos!”, afirmou. Quando questionado sobre o que pensava da greve, respondeu: “Confio nos meus companheiros do sindicato e nos apoiamos mutuamente”. Outros entrevistados afirmaram estarem recebendo apoio significativo dos moradores da Filadélfia, como evidenciado pela grande quantidade de água engarrafada, refrigerantes, refeições e lanches levados pelos apoiadores aos piquetes.
A prefeita Parker joga pesado
A prefeita Cherelle Parker, uma democrata da velha guarda que se autodenomina “pró-trabalhista”, mas claramente alinhada aos interesses das grandes empresas da cidade, obteve ordens judiciais para forçar alguns grevistas a voltarem ao trabalho. Encorajou abertamente outros membros do sindicato a furar os piquetes.
Em um discurso em 3 de julho, a prefeita Parker culpou o sindicato por rejeitar a oferta salarial de sua administração. Em seguida, gabou-se de que a “melhor oferta” da cidade seria o maior contrato concedido ao sindicato em 30 anos. A declaração omitiu o fato de que o sindicato havia feito concessões consideráveis a administrações anteriores. Entre elas, um congelamento salarial por vários anos e concessões significativas em pensões que o sindicato aceitou em 1992.
Parker lamentou que a cidade já tivesse dado à DC 33 “a melhor oferta disponível”, com um “aumento salarial histórico” que representaria um “aumento de 13% em quatro anos”. Sua declaração, embora escassa em si mesma, aparentemente incluía o aumento de 5% que os trabalhadores receberam no ano passado, após a administração da DC 33 ter atendido ao pedido de Parker de extensão de contrato de um ano. Para o novo contrato, a cidade vinha oferecendo aumentos anuais de apenas 2,75%, 3% e 3% ao longo de três anos.
O presidente da DC 33, Greg Boulware, respondeu a Parker observando que os 5% do ano passado “não nos foram concedidos. Nós lutamos por eles!” Em uma entrevista de 5 de julho à Rádio WURD, ele declarou: “Nossos homens e mulheres conquistaram esses 5%. Esses 5% são águas passadas. Acabou.”
Infelizmente, a “melhor oferta” da Prefeitura, de menos de 3% ao ano, não equivale a um salário digno. Os aumentos salariais propostos não se ajustam ao custo de vida na cidade ou à taxa de inflação. O DC 33 é a unidade de negociação com os menores salários da cidade; muitos trabalhadores ganham no máximo 46.000 dólares por ano. Em cidades americanas comparáveis, os zeladores ganham salários mais altos do que na Filadélfia, que estão mais de acordo com o custo de vida nessas cidades. Um estudo do MIT corrobora essa conclusão, revelando que os trabalhadores do DC 33 ganham 2.000 dólares a menos do que o salário mínimo anual dos moradores da Filadélfia. Além disso, a maioria dos economistas prevê um forte aumento da inflação ainda este ano, devido em parte às políticas tarifárias de Trump.
A questão dos salários reais e da inflação é um tema de importância constante, que outros trabalhadores em greve da Filadélfia destacaram em suas próprias lutas. Em abril, os trabalhadores do UNITE HERE Local 274 [sindicato dos trabalhadores de hotéis] obtiveram uma vitória nessa questão (pelo menos 20 dólares por hora agora; 24 dólares para 2029) com um acordo provisório abrangendo os três estádios esportivos.
A celebração do 4 de Julho: artistas protestam enquanto trabalhadores se manifestam
As comemorações do Dia da Independência na Filadélfia este ano incluíram o Desfile do 4 de Julho e o chamado “Wawa Welcome America“, concerto e queima de fogos. O DC 33 organizou piquetes e manifestações perto de ambos os eventos, com trabalhadores gritando “DC! 33!”, “Sem contrato, sem paz!” e “Não gosta do cheiro? A culpa é da Cheryl!” Em ações de incentivo, o rapper e ator LL Cool J e a cantora Jasmine Sullivan declararam publicamente, antes do show, que estavam cancelando suas apresentações em solidariedade à DC 33.
Naquela tarde, funcionários de bibliotecas, museus e escritórios se reuniram para uma manifestação na entrada do Concerto Welcome America e perto da equipe local do Sistema de Bibliotecas Gratuitas da Filadélfia. A multidão incluía trabalhadores da DC 33 e de outros setores, e contaram com o apoio da seção local do DSA [Socialistas Democráticos da América, ndt.].
Vários ativistas da campanha Free Mumia, incluindo a ativista Pam Africa, visitaram a manifestação para demonstrar sua solidariedade aos grevistas. Mumia Abu-Jamal é escritor, jornalista e preso político, cuja falsa condenação por assassinato foi repetidamente confirmada pelos promotores, apesar das evidências de sua inocência. A Pam Africa recebeu um telefonema de Mumia, que, da prisão, falou de forma encorajadora aos grevistas, dizendo: “Isso é lindo, lindo, lindo!”.
Um trabalhador presente na manifestação levantou a questão dos salários reais, enfatizando que a oferta de Parker não foi ajustada pela inflação. Outro participante, um historiador trabalhista, falou sobre a greve militante dos trabalhadores do setor de limpeza de 1938, que ajudou a formar a precursora do DC 33. Essa greve conquistou o apoio da classe trabalhadora em toda a cidade e forçou os políticos capitalistas da Filadélfia a cederem às reivindicações dos trabalhadores.
Uma pessoa com o microfone entrevistou vários trabalhadores. Eles abordaram uma mulher que passava de carro para perguntar sua opinião sobre a greve. “Continue lutando!” foi sua resposta.
Foto: Kaiden J. Yu / The Philadelphia Inquirer
Tradução: Rosangela Botelho