Argentina | A esquerda não deve se aliar com o peronismo e Cristina Kirchner

Cristina Fernández de Kirchner (CFK) será presa a partir desta quarta-feira. Este fato polarizou todo o país, impactou o processo eleitoral e obrigou todas as organizações políticas e sindicais a se posicionarem.
Os partidos de esquerda mais conhecidos (os que integram a FITU, o Novo MAS, a Política Obrera) e seus líderes mais conhecidos (Miriam Bregman, Nicolás Del Caño, Eduardo Belliboni, Gabriel Solano, Jorge Altamira e Manuela Castañeira, etc.) se colocaram do lado de Cristina, denunciando, juntamente com o aparato peronista, uma “perseguição antidemocrática”.
Consideramos esta posição um erro grave, oportunista, movido por cálculos eleitorais, e representa uma reivindicação das ações de Cristina. Respeitamos o sentimento de muitos trabalhadores que lamentam a situação de sua líder, mas não o compartilhamos. E somos forçados a dizer a verdade: Cristina colhe o que plantou.
Essa dinâmica os empurra para posições reformistas, contraditórias com a possibilidade de resolver as demandas operárias e populares não atendidas. Para isso, a classe trabalhadora precisa de uma esquerda que não se concilie com seus algozes, mas que se posicione e se apresente – em todas as arenas – como inimiga irreconciliável do sistema capitalista cada vez mais destrutivo e desumano.
A Justiça Patronal
A direita política e a maior parte da mídia celebram o que apresentam como “um triunfo contra a corrupção“. É pura hipocrisia. A Justiça faz parte da parte do mais corrupto do regime político que nos vendem como “democracia”. E a Suprema Corte é sua expressão máxima. Nenhum deles se preocupou com os acordos de Carlos Menem, Mauricio Macri ou Javier Milei, semelhantes aos dos Kirchner. Repudiamos essa Justiça, assim como todas as instituições da “democracia”, que só servem para perpetuar a exploração, a submissão ao Fundo Monetário Internacional e ao capital estrangeiro e nacional. Não temos nada a ver com isso e rejeitamos suas sentenças. Neste caso, uma sentença guiada por cálculos eleitorais. Mas isso não nos leva a defender Cristina.
Ela não é uma “presa política”.
O aparato peronista denuncia “perseguição” e um “ataque à democracia“. Nada disso é verdade. CFK não será presa por enfrentar os poderosos, mas sim vítima de suas próprias ações. Os dirigentes sindicais, incapazes de levantar um dedo em defesa da classe operária e que, como todo o peronismo, foram cúmplices das brutais medidas de austeridade de Milei, agora ameaçam com mobilização. Os governos peronistas, como todos os outros, perseguiram os lutadores.
Entre nós estão os companheiros perseguidos e presos Sebastián Romero e Daniel Ruiz. Também tivemos companheiros detidos em Caleta Olivia (Santa Cruz) e em Lomas de Zamora, como Carlos Olivera (quase quatro anos de prisão por enfrentar a quadrilha de Gerardo Martínez). Todos eles foram processados pela justiça que obedecia a Néstor e Cristina Kirchner. Seus governos promoveram o Projeto X e a Lei Antiterrorismo. Entre nós estão os perseguidos de Las Heras, julgados por enfrentar o sionismo que ataca a Palestina. Estes e os desaparecidos da Ditadura são os verdadeiros “perseguidos”. O que Cristina tem a ver com eles?
Uma briga entre ladrões
Na realidade, trata-se de uma disputa entre setores da patronal por poder e dinheiro. Não há um setor “progressista” nesta questão. É mais um passo na “grieta”[1] que serve para impedir que a classe trabalhadora e o povo pobre rompam com todas as variantes patronais e avancem na luta por uma nova direção política e por uma solução oposta a todos eles. Portanto, a defesa do peronismo e de sua “líder” pela chamada esquerda revolucionária é duplamente equivocada. Ao contrário, em um momento em que milhões de trabalhadores demonstram seu descontentamento com o peronismo, mais do que nunca precisamos nos distanciar de todos eles e apresentar uma alternativa completamente independente, contrária a todas as variantes patronais, diante de cada fato da realidade.
PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado)
PCT (Partido Comunista dos Trabalhadores)
PSL (Partido do Socialismo e da Liberdade)
CS (Convergência Socialista)
[1] Na Argentina se denomina “grieta” à divisão política entre os setores burgueses: o peronismo (encabeçado po CFK) e a direita (hoje liderada por Javier Milei. (NdE)