Sobre a guerra dos EUA e Israel contra o Irã e as suas consequências

Por: LIT-QI |
Uma trégua imposta por Trump interrompeu a guerra entre os Estados Unidos e Israel contra o Irã. É hora de avaliar a situação criada e suas consequências.
A trégua foi imposta depois que os Estados Unidos bombardearam duramente as instalações nucleares do Irã com 125 aviões, lançando as bombas não atômicas mais pesadas do mundo. Num ataque muito duro, preparado com bastante antecedência, Israel assassinou uma parte importante da liderança militar iraniana, realizou intensos ataques aéreos diários contra as instalações nucleares, destruiu grande parte da defesa antiaérea iraniana e parte dos seus mísseis defensivos e ofensivos, além de atacar as grandes cidades, demolindo casas, infraestruturas e hospitais.
O Irã respondeu lançando cerca de 650 mísseis sobre Israel, atingindo pela primeira vez o seu território em diferentes cidades, sem causar perdas militares significativas, mas superando parcialmente a defesa antiaérea sionista. Foi a segunda vez (a primeira em 7 de outubro com o ataque do Hamas) que as defesas «inexpugnáveis» de Israel foram vencidas neste período.
Uma ofensiva imperialista-sionista… da qual o Irã não sai derrotado
A trégua foi imposta numa situação de ofensiva imperialista-sionista e defensiva do Irã. O imperialismo norte-americano e o governo israelita saíram fortalecidos com um ataque brutal, poucas perdas e uma trégua que impediu que as consequências políticas do desgaste de uma guerra mais longa afetassem Trump e Netanyahu.
O imperialismo europeu apoiou em geral o ataque norte-americano ao Irã ou, no máximo, limitou-se a propor saídas diplomáticas.
Mas o Irã não sai derrotado desta guerra. Nem os Estados Unidos nem Israel conseguiram impor os seus dois objetivos: acabar com o potencial nuclear iraniano e derrubar o regime dos aiatolás. E conseguiu atingir com os seus mísseis o território israelita, de uma forma muito mais intensa do que nos ataques de abril de 2024.
O conflito não está resolvido, longe disso. Pode haver novos ataques ou evoluir com o retorno das negociações EUA-Irã, retomando os acordos de Abrahan, as relações econômicas e políticas dos países árabes com Israel e um novo plano para Gaza. É importante saber se, e em que medida, o Irã conseguirá rearmar-se. Trata-se de um processo complexo, com uma evolução ainda em aberto.
Mas já se pode afirmar que essa guerra exacerbou a polarização econômica, política e militar existente no mundo, ampliará a crise da ordem mundial e tenderá a radicalizar a luta de classes.
O ataque de Israel contra o Irã é uma continuação ampliada de sua ofensiva contra Gaza.
Netanyahu rompeu o acordo de trégua em Gaza em março passado, voltou a ocupar os corredores de Filadélfia e Netzarin e avançou no plano de extermínio e expulsão dos palestinos de Gaza, destruindo casa por casa e decretando a evacuação de regiões inteiras, como no norte.
Até o momento, não há sinais de que ele possa concretizar o plano de expulsão dos palestinos de Gaza anunciado por Trump, devido à enorme rejeição internacional e entre os países da região. Mas pode ser que Netanyahu tente implantar colônias sionistas dentro do território de Gaza.
Paralelamente, está decorrendo o maior ataque à Cisjordânia em décadas, com a expulsão de 40 000 palestinos, a ocupação e destruição de campos de refugiados tradicionais, o que faz parte de um plano para anexar a região a Israel.
O genocídio israelita matou pelo menos 60 000 palestinos (algumas estimativas falam de 100 000), destruiu quase toda a infraestrutura e mais de 90% das casas. Agora, Israel usa a fome como arma de guerra, com a distribuição sob seu controle militar de alimentos dentro de Gaza. Cerca de 600 palestinos morreram nas filas para a distribuição de alimentos, assassinados por soldados israelenses.
Apesar disso, Israel não se pode declarar vencedor. Não conseguiu acabar com o Hamas nem resgatar os reféns e está envolvido numa guerra exaustiva sem um fim definido. O Hamas não só se mantém, como incorporou mais militantes.
A ofensiva israelita gerou um isolamento internacional histórico do sionismo. Nunca houve na história tal repúdio a Israel no mundo. São partes contraditórias da mesma totalidade: a ofensiva genocida israelita e o seu isolamento das massas no mundo.
O sionismo obteve uma vitória militar contra o Hezbollah, matando Nasrallah e grande parte de seus líderes, além de destruir entre 70% e 80% do seu arsenal. Depois disso, um novo governo libanês, alinhado com o imperialismo norte-americano, está recompondo o Estado, impondo seu controle sobre o país e reduzindo o peso do Hezbollah.
Esta organização, embora mantenha a sua base política, está se transformando em um partido do regime, mais adequado para as eleições e menos estruturado militarmente. Desde o ataque israelita, praticamente não houve mais ataques importantes do Hezbollah contra Israel, o que foi ainda mais significativo durante a guerra de Israel e dos EUA contra o Irã, em que o Hezbollah simplesmente não reagiu militarmente.
A derrubada de Assad na Síria foi uma vitória do movimento de massas contra uma ditadura odiada e cúmplice de Israel. No entanto, a evolução desses processos está fortemente condicionada pela sua direção. O governo de Al-Sharaa busca reconstruir o Estado sírio, recompondo um regime bonapartista em aliança com o imperialismo norte-americano e potências regionais como a Turquia e a Arábia Saudita, sem enfrentar Israel.
Embora o processo sírio tenha potencial para estimular novos processos de luta na região, a queda de Assad enfraqueceu o apoio do Irã. E esse enfraquecimento do chamado «Eixo da Resistência», juntamente com a crise política interna em Israel causada pelo desgaste de um ano e nove meses de guerra contínua, foram as bases para que Israel atacasse o Irã.
A situação interna de Israel e a sua relação com o ataque
Israel é um enclave do imperialismo, uma potência nuclear financiada e armada pelos EUA. Mas está vivendo importantes processos de transformação.
Como resultado dos seus constantes confrontos militares, há um êxodo de setores da classe média liberal e a imigração de colonos — na sua maioria de ideologia ultradireitista ou diretamente fascista — que ocupam as colônias da Cisjordânia. Isso gera uma ampliação e radicalização nas suas bases de apoio ao genocídio sionista.
Por outro lado, há uma importante crise política interna causada pelo cansaço após quase dois anos de guerra em Gaza, acusações de corrupção e outras contra Netanyahu.
Houve importantes mobilizações de massas contra o governo por parte de um setor descontente com a continuação da guerra e a não devolução dos reféns. Isso levou a uma polarização política contra o outro setor de massas de extrema direita, base de Netanyahu, que apoia a continuação da guerra a qualquer preço.
O governo de extrema direita mantém-se com múltiplas crises. Uma delas tem a ver com os religiosos ultraortodoxos que estão isentos do serviço militar obrigatório, numa sociedade militarizada e em guerra como Israel. Isso foi negado pela justiça, mas os partidos que os representam ameaçam abandonar o governo Netanyahu, caso seja implementado essa decisão, o que também poderia levar à sua queda.
O prestígio eleitoral de Netanyahu estava em baixa antes da guerra. O ataque contra o Irã foi um passo em frente para escapar da sua crise interna, e conseguiu.
O governo contou com o apoio popular, mesmo com uma parte importante da população israelita vivendo em bunkers durante mais de uma semana. Este prestígio ampliou-se com o brutal ataque norte-americano. As sondagens apontam que houve 83% de apoio aos ataques.
Isto se explica pelo caráter de enclave do país, construído sobre a exploração e a opressão dos palestinos. Além disso, o povo israelita foi convencido durante décadas da «ameaça nuclear do Irã». Assim, a propaganda da «destruição do potencial nuclear do Irã» ganhou um enorme apoio. O resultado é um fortalecimento político e militar de Netanyahu, que recuperou, ainda que de forma conjuntural, a sua popularidade.
A contrarrevolução sionista permanente
A outra razão para o ataque ao Irã é o projeto do Grande Israel, ampliando as suas fronteiras e consolidando um controle militar imperialista mais amplo no Médio Oriente.
Israel nunca havia lançado um ataque semelhante contra o Irã. Assim, retoma, em maior medida, seu papel de enclave e gendarme imperialista no Oriente Médio, reforçando sua presença no Líbano, na Síria e em Gaza e com seu poderio aéreo ameaçando todo o Oriente Médio. Este projeto pode ou não ser desenvolvido em meio à crise da ordem mundial e à situação convulsa da região.
A lógica de Netanyahu é a de uma contrarrevolução permanente, uma guerra contínua para tentar estabelecer uma hegemonia militar regional que não se traduz numa estabilização da região. Não consegue derrotar os seus inimigos, amplia a polarização social e política, aumenta o potencial de uma nova primavera árabe e tende a gerar cada vez mais desgaste interno em Israel.
Mais uma vez, existe uma enorme contradição entre o aumento do peso militar de Israel e o agravamento das contradições políticas internas em Israel e em toda a região.
Agora, Netanyahu volta a centrar a sua ofensiva em Gaza, com a continuidade do genocídio. Isso irá gerar mais uma vez um aumento do seu desgaste internacional e mobilizações pró-Palestina no mundo, embora exista a possibilidade de retomar as negociações com a Arábia Saudita para chegar a um acordo sobre Gaza.
A ditadura iraniana
O regime iraniano é uma ditadura burguesa sob a forma de um regime teocrático. No Irã, uma revolução derrubou a monarquia do Xá Mohamed Reza Pahlevi, aliado direto do imperialismo norte-americano, em 1979.
Com a cumplicidade e traição do PC iraniano (o Tudeh), que tinha peso na classe operária, os aiatolás xiitas, expressão de uma burguesia local, conseguiram acabar com os órgãos de duplo poder e derrotar a revolução.
A partir de então, essa burguesia cresceu a partir do controle do aparato estatal e instaurou uma ditadura burguesa, reprimindo duramente as greves e a luta das mulheres, severamente oprimidas pela teocracia islâmica.
As mulheres estiveram na vanguarda do processo de lutas contra a ditadura teocrática, num movimento enraizado nas condições sociais do país, nas greves das professoras, nas mobilizações curdas e nos protestos juvenis urbanos. O slogan «Mulher, Vida, Liberdade» surgiu nas ruas do Irã com enorme força em 2022.
A ditadura iraniana utiliza forças como a Guarda Revolucionária e milícias como a Basij (uma força paramilitar diretamente ligada à Guarda Revolucionária) para reprimir manifestações de rua, greves e a luta das mulheres.
A nível regional, o regime dos aiatolás mantém a independência do imperialismo norte-americano desde o seu nascimento, mas depois se apoiou no imperialismo russo e chinês.
É o centro do chamado «Eixo da Resistência» contra o domínio israelita, que incluía o Hezbollah, milícias xiitas no Iraque, o regime de Assad e os houthis do Iémen. Mas não enfrentou Israel durante todo o genocídio de Gaza, reagindo apenas aos seus ataques contra o Irã.
O regime teocrático iraniano desempenhou um papel diretamente contrarrevolucionário ao apoiar o governo de Assad durante a revolta das massas contra a ditadura síria.
Apesar do desgaste interno do regime iraniano, como subproduto da crise econômica, da pobreza das massas e da opressão contra as mulheres, o ataque dos EUA e de Israel provocou, aparentemente, uma reação de unidade nacional, embora tenha aproveitado a guerra para prender 700 ativistas da oposição que não eram pró-imperialistas. Mas, parece-nos que predomina o sentimento de unidade nacional contra a agressão militar sofrida.
Apesar de enfraquecido pelos ataques, o Irã mantém a sua capacidade nuclear e sai desta guerra com um regime fortalecido por ter enfrentado inimigos muito mais poderosos em termos militares sem se render e por ter atingido o território israelita com os seus mísseis.
Estamos no campo militar do Irã, com independência face à ditadura dos aiatolás
Em período de guerra, estamos no campo militar do Irã e defendemos a derrota do ataque sionista-imperialista, sem dar o menor apoio político à ditadura burguesa dos aiatolás que oprime o povo trabalhador, reprime brutalmente as mulheres e a juventude e usa o confronto com o imperialismo para justificar a sua própria ditadura interna. Defendemos a mais completa independência política em relação ao regime iraniano.
Rejeitamos a falsa alternativa entre o imperialismo e a teocracia iraniana do stalinismo e seu campismo político.
O argumento há muito utilizado pela propaganda imperialista para o ataque de que «o Irã não pode ter armas nucleares» é uma expressão cínica da arrogância imperialista. Os Estados Unidos, o país imperialista que possui mais armas nucleares, aliado a Israel (outra potência nuclear), exige a exclusividade do seu poder de destruição.
Somos contra todas as armas nucleares porque elas têm o poder de tornar o planeta inabitável e destruir a humanidade. Mais ainda na atual situação de crise ambiental. Não queremos que essas armas estejam nas mãos dos governos burgueses, sob o controle da burguesia mundial.
Mas, ao mesmo tempo, é uma expressão brutal de imposição imperialista a defesa de sua exclusividade em ter armas nucleares. Defendemos o direito do Irã de se defender, tendo também essas mesmas armas nucleares.
Defendemos a mais ampla liberdade para os sindicatos e organizações operárias no Irã para lutar contra a agressão imperialista, bem como contra a ditadura.
A luta contra a agressão israelo-americana deve servir para impulsionar a organização independente da classe trabalhadora iraniana, palestina, libanesa e mundial, como parte de uma estratégia de revolução permanente e ruptura com todos os projetos capitalistas e fundamentalistas.
O importante papel de Trump
O imperialismo norte-americano continua hegemônico, mas Trump reconhece sua decadência atual e move-se em meio à crise da ordem mundial para recompor a hegemonia norte-americana nos níveis anteriores.
Ele busca ações que reduzam a presença e os gastos militares norte-americanos onde não lhe interessa, recompondo ao mesmo tempo essa hegemonia.
Trump tentou um acordo com Putin para pôr fim à guerra na Ucrânia, impondo um acordo colonial com Zelensky e deixando para o imperialismo europeu os custos do apoio militar à Ucrânia. Até agora, isso não funcionou porque a guerra na Ucrânia continua. Nessa guerra contra o Irã, foi diferente. Trump e Netanyahu fortaleceram-se juntos
O imperialismo norte-americano e o governo israelita agiram em frente única o tempo todo. Isso não significa que não existem diferenças políticas e interesses divergentes entre esses dois governos de extrema direita, como ficou evidente na recente viagem de Trump ao Médio Oriente, com a suspensão das sanções ao novo governo sírio e o acordo com os houthis.
Mas nessa guerra eles agiram juntos. Desde o plano de ataque de Israel, elaborado com bastante antecedência em conjunto com a inteligência norte-americana, o momento do ataque, as estruturas de defesa israelitas, o fornecimento de armamento e o apoio político.
Houve um primeiro momento de diplomacia, em que Trump tentou impor ao Irã um acordo que impedisse o seu desenvolvimento nuclear. Perante o impasse nas negociações, ajudou a preparar e apoiou o ataque de Israel contra o Irã e, perante a resistência iraniana, redobrou a aposta militar com um ataque direto dos Estados Unidos, ainda mais brutal do que o israelita.
Apesar da sua superioridade militar, Trump não quis prosseguir com a guerra, por várias razões. Em primeiro lugar, pelas graves consequências políticas que isso acarretaria, com mobilizações já previstas em todo o mundo. Trump já enfrentou internamente duas mobilizações gigantescas contra si: a 5 de abril e as manifestações No King em junho. Há uma crise política crescente no país devido aos ataques aos imigrantes, que pode se juntar às mobilizações pró-Palestina.
Além disso, há a crise na sua base republicana, devido à contradição com o plano «America First» e o seu compromisso de não se envolver em novas guerras. Havia também a preocupação de proteger Israel numa situação que se anunciava mais complicada se a guerra continuasse.
Parece, então, que seu plano é que Israel seja, mais do que nunca, seu representante político e militar na região, com menos implicações militares diretas dos Estados Unidos, o que estaria em consonância com o plano expansionista de Netanyahu no Oriente Médio. Isso não altera a estratégia e a hegemonia imperialista norte-americana na região nem sua presença militar, mas daria ao sionismo um papel de maior peso.
Com o seu fortalecimento conjuntural, Trump conseguiu impor na cúpula da OTAN o aumento do orçamento militar, com a submissão quase total do imperialismo europeu.
A inação do imperialismo russo e chinês
A guerra dos Estados Unidos e de Israel contra o Irã também mostrou como se movem os imperialismos chinês e russo.
É um fato amplamente conhecido que a China é o principal parceiro econômico do Irã desde 2007, sendo o seu maior comprador de petróleo e ajudando o país a escapar do bloqueio econômico imposto pelo imperialismo norte-americano.
Também é sabido que o imperialismo russo é o principal fornecedor de armas do Irã, assim como que o Irã ajudou o imperialismo russo na invasão da Ucrânia com o fornecimento maciço de drones até que a Rússia começou a fabricá-los.
Por isso, havia expectativas em setores de vanguarda do mundo de que a China e a Rússia apoiariam o Irã. No entanto, o caráter imperialista desses países e suas características concretas na fase atual da crise da ordem mundial apontaram para a passividade. Tanto a Rússia quanto a China limitaram-se a condenar diplomaticamente Israel, sem se mover concretamente em apoio ao Irã.
A China é um imperialismo emergente, com amplos interesses no Oriente Médio. Não é apenas o principal parceiro comercial do Irã, mas também de Israel, com um intercâmbio comercial muito superior até mesmo ao dos Estados Unidos. É também o principal parceiro comercial da Arábia Saudita e de vários outros países da região. O seu interesse é a estabilidade da região, ou seja, a estabilidade contrarrevolucionária.
O imperialismo chinês não fez nada concreto em relação à Palestina, nada concreto em relação ao Irã. Putin está focado na sua própria guerra, na Ucrânia. Não tem qualquer interesse nem condições para se envolver noutro conflito no Médio Oriente.
Isso já havia sido expresso em sua inação diante da queda de Assad na Síria. E agora ficou ainda mais claro com sua assistência ao bombardeio norte-americano contra o Irã sem qualquer reação. Putin não apenas privilegia sua guerra contra a Ucrânia, mas também suas relações com Trump para ganhar essa guerra. Nas palavras de um ativista: “Putin trocou o Irã pela Ucrânia”.
A Rússia e a China partilham a mesma posição de outros países imperialistas de se oporem ao desenvolvimento de armas nucleares pelo Irã. Após a agressão militar norte-americana e israelita, Putin pressiona o Irã para que não abandone a agência internacional de energia atômica e se comprometa a não desenvolver armas nucleares.
A crise da ordem mundial com o avanço dos imperialismos chinês e russo atravessa processos cada vez mais convulsos. E ainda se encontra nas primeiras fases de configuração de uma nova ordem mundial. Ambos defendem os seus interesses políticos e econômicos em todo o mundo, mas têm áreas prioritárias de conflito militar, com a Rússia na Ucrânia (e partes de África) e a China com Taiwan.
A guerra polariza ainda mais a luta de classes a nível internacional
É quase certo que, mesmo com a trégua, a atual polarização da luta de classes a nível mundial aumentará e gerará uma intensificação da luta de classes.
Vejamos a dinâmica no Médio Oriente. As informações mais independentes — e os próprios serviços de inteligência dos EUA — desmentem as afirmações de Trump de que «acabaram com o potencial nuclear do Irã». A realidade também não é a divulgada pelo regime iraniano, segundo a qual não houve praticamente nenhum dano. De acordo com as informações independentes mais fiáveis, o plano nuclear iraniano foi adiado, mas não destruído.
O outro objetivo, derrubar o regime, não avançou em nada. Pelo contrário, o efeito conseguido foi gerar um sentimento de unidade nacional em torno do regime dos aiatolás, devido à agressão imperialista. A trégua permite ao Irã saborear um empate que, face à superioridade militar norte-americana e israelita, é um feito importante.
Israel não conseguiu derrotar o Hamas nem resgatar os reféns em Gaza. Nem impor os seus objetivos no Irã. A sua ofensiva militar e o genocídio em Gaza provocaram um grau de repúdio maciço ao sionismo sem precedentes na história. Uma interessante pesquisa sobre o tema indica isso:

Um indicativo interessante foi a vitória nas primárias do Partido Democrata para as eleições em Nova Iorque, em que Zohran Mamdani, um imigrante pró-Palestina, venceu o candidato Andrew Cuomo, do establishment do partido. Isso nunca aconteceu nos EUA, ainda mais numa cidade da importância de Nova Iorque.
As mobilizações pró-palestinas ganharam força nas últimas semanas, com o retorno das manifestações massivas em vários países europeus. A isso se somou o impacto da detenção e sequestro da Flotilha da Liberdade e da repressão que impediu a Marcha Global sobre Gaza, na qual houve uma participação importante dos militantes Fabio Bosco e Herbert Claros, do PSTU e da LIT.
Assim que a notícia do ataque foi divulgada, começaram a ser organizados atos de repúdio em todo o mundo. A trégua freou essas mobilizações, mas permanece a tendência de ampliação das mobilizações antissionistas, polarizando ainda mais a situação mundial.
É possível derrotar o imperialismo e o sionismo
É possível derrotar a aliança do imperialismo com o sionismo genocida de Israel se a resistência militar na Palestina e no Irã for combinada com mobilizações em todo o mundo. A superioridade militar imperialista já demonstrou em outras ocasiões que pode ser derrotada, como no Vietnã, no Iraque e no Afeganistão.
As mobilizações nos Estados Unidos e nos países imperialistas pró-palestinos podem combinar-se com problemas nacionais (como a luta em defesa dos imigrantes nos Estados Unidos) e desempenhar um papel central neste processo.
O ódio contra Israel das massas árabes pode se voltar contra os regimes que apoiam os Estados Unidos e Israel, como o Egito, a Jordânia e a Arábia Saudita, numa nova Primavera Árabe. Só assim o enorme apoio político das massas árabes aos palestinos poderá se transformar em apoio militar efetivo à luta de Gaza, numa frente única das massas desses países contra o genocídio sionista.
A enorme raiva acumulada na Cisjordânia e no território de 1948 pode gerar uma terceira intifada que abale os territórios palestinos e se una às lutas de Gaza.
Pela derrota do imperialismo norte-americano e de Israel!
Pela vitória do Irã contra o ataque norte-americano e sionista!
Pela vitória da Palestina contra o genocídio sionista! Pela derrota de Israel!
Boicote e rompimento das relações econômicas e políticas dos governos com Israel!
Por uma nova primavera árabe, que derrube os regimes da região submetidos ao imperialismo, como o Egito e a Jordânia, e possibilite o apoio militar à resistência palestina!
Nenhuma confiança política no regime dos aiatolás! Todo o nosso apoio às lutas dos trabalhadores e das mulheres contra a ditadura burguesa iraniana! Em defesa das liberdades democráticas dentro do Irã!
Pela unidade das lutas de libertação nacional da Palestina, Ucrânia e Irã, contra os sionistas e imperialistas.
Pela destruição do Estado de Israel! Palestina livre, do rio ao mar!
Secretariado Internacional da LIT