Declaração sobre o ataque terrorista na Cachemira

Por: Mazdoor Inquilab – Índia e Mehnat Kash Tarik – Paquistão
Na tarde do dia 22 de abril, cerca de 26 turistas civis foram mortos a tiros por militantes que se identificaram como membros da “Frente de Resistência da Caxemira” (TRF), um grupo dissidente do Lashkar-e-taiba. Os turistas eram em sua maioria visitantes hindus vindos do continente indiano. Testemunhas oculares afirmaram que os militantes perguntaram o nome e a religião dos turistas antes de matá-los. Aqueles que eram hindus e não sabiam recitar o Kalma islâmico foram mortos no local. Este aspecto do ataque foi amplamente divulgado pela mídia de direita para enfatizar a natureza religiosa do ataque e dos agressores. Esquecido ficou o sacrifício heroico de um guia que lutou contra os militantes e salvou uma dúzia de turistas, bem como muitos outros muçulmanos locais da Caxemira que ajudaram a levar os turistas feridos aos hospitais.
Desde este terrível incidente, as redes sociais têm sido inundadas por propagandistas de direita hindutva exigindo o genocídio dos muçulmanos, visando os muçulmanos da Caxemira. Os estúdios dos canais de notícias privados mainstream estão apelando à guerra com o Paquistão. Entre a classe política, tanto os líderes do partido no poder como os líderes da oposição burguesa apelaram à “unidade” por trás de “qualquer ação tomada em retaliação”. Neste barulho chauvinista, qualquer apelo à responsabilização está se perdendo.
É importante questionar como um ataque tão militante pode continuar acontecendo em uma das regiões mais militarizadas do mundo. Modi afirmou que o terrorismo havia sido eliminado pela desmonetização e pela revogação do Artigo 370, que anulava a autonomia da Caxemira, mas os ataques continuaram acontecendo! Devemos perguntar como é que nenhum agente de segurança estava presente nas proximidades do local do ataque e que levou três horas para que qualquer ajuda chegasse! Se não fosse pela população local que arriscou a vida para salvar os turistas, mais pessoas teriam morrido devido aos ferimentos.
Enquanto o ataque se desenrolava, Modi estava fechando acordos para seus comparsas em Dubai. Ao retornar, ele estava em plena campanha eleitoral, prometendo retaliar o Paquistão a partir de Bihar, um estado que terá eleições em breve. Bengala Ocidental, outro estado que terá eleições no próximo ano, também é alvo de propaganda antimuçulmana pelas forças hindutva.
Do lado paquistanês, líderes militares reacionários como Asim Munir invocaram sentimentos islâmicos, direcionando sua fúria contra a Índia e os hindus. A Caxemira ocupada pelo Paquistão tem testemunhado protestos massivos contra a exploração de seu povo e seus recursos pelo exército e pela burocracia do Estado paquistanês. O povo balúchi continua lutando contra o domínio do Paquistão, e a resistência está tomando a forma de protestos, greves e, às vezes, violência contra o exército paquistanês. Os governantes do Paquistão não têm nenhuma simpatia pelo povo da Caxemira e não defendem seus melhores interesses.
Tanto a Índia quanto o Paquistão veem a Caxemira como um objeto de conquista. A Caxemira tem um enorme potencial hidrelétrico, possui uma das maiores reservas de lítio do mundo e é uma das principais regiões produtoras de açafrão do mundo. A Caxemira pode se tornar uma porta de entrada para a Ásia Central, para a Índia. Por estas razões, ambas as potências governam a Caxemira de forma antidemocrática e militarista. A elite governante da Índia e do Paquistão está mais do que disposta a explorar o seu próprio povo, que mal consegue viver acima do nível da pobreza, para financiar enormes infraestruturas burocráticas e militares.
A verdade é que a Caxemira é uma linha da frente da disputa entre dois países burgueses gananciosos e exploradores. Dezenas de milhares de caxemires foram mortos pela disputa tóxica entre o Paquistão e a Índia. Ambos os lados querem a terra da Caxemira, mas não seu povo. Os capitalistas sentados em Delhi e Islamabad transformaram o paraíso na Terra em um campo de morte.
Nós defendemos a autodeterminação da Caxemira
A terra da Caxemira pertence ao povo da Caxemira, juntamente com seus recursos, rios e patrimônios. Nem a Índia, invocando noções de “Akhand Bharat”, nem o Paquistão, clamando pela “teoria das duas nações”, podem reivindicar qualquer direito sobre ela. Deli e Islamabad assumiram a responsabilidade de decidir o que é melhor para os caxemires, na realidade agindo apenas no interesse de suas próprias elites, sejam elas os militares e a burocracia de Islamabad ou os grupos Adani, Tata e Ambani na Índia. Ambas as nações silenciam as vozes dos caxemires.
Desde a revogação do Artigo 370, a Índia transformou a Caxemira numa prisão para o seu povo. A ilusão de normalidade alimentada pelo aumento do turismo e pelos investimentos das empresas mascara a realidade de milhares de pessoas presas pela polícia e pelas forças paramilitares, que agem com impunidade e estão imunes a qualquer tipo de processo judicial. O ataque do dia 22 deixou evidente que esta opressão não conseguiu trazer qualquer tipo de paz real ao vale.
O governo indiano não só apagou a autonomia limitada da Caxemira, como também apagou a sua existência como estado separado, separando Ladakh da Caxemira e convertendo o estado num território da União, colocando-o sob a autoridade direta da capital. Os direitos dos caxemires estão sendo pisoteados, com a ajuda de uma burguesia compradora complacente, como Omar Abdullah e Farooq Abdullah. Por isso, exigimos que todos os direitos da Caxemira sejam restaurados, juntamente com sua condição de estado e o restabelecimento da autonomia da Caxemira, conforme previsto no Artigo 370.
Em vez de responsabilizar os governantes, as forças hindutva online e nos meios de comunicação têm insistido no fato de que os militantes destacaram a religião das vítimas. Elas têm usado este incidente para incitar as pessoas contra os muçulmanos caxemires. Elas estão cegas para as manifestações dos caxemires que clamam por paz e unidade comunitária, e tentaram enterrar as histórias dos muçulmanos caxemires que ajudaram os turistas, salvando suas vidas. Elas tentam justificar a dominação contínua da Caxemira.
Nós dizemos que o povo da Caxemira deve decidir o destino da Caxemira, se deve permanecer independente ou se juntar à Índia ou ao Paquistão, e dizemos isso pela Caxemira tanto na parte ocupada pela Índia quanto na parte ocupada pelo Paquistão! Já se passaram quase oito décadas e os caxemires viram a verdadeira face da Índia “democrática” e a verdadeira face do regime militar paquistanês, que afirma ver os caxemires como irmãos, mas apenas para explorá-los de forma tão brutal e cruel quanto o lado indiano.
Os trabalhadores e camponeses da Índia e do Paquistão não têm interesse em ver seus irmãos de classe na Caxemira sendo explorados e oprimidos. É nosso dever mobilizar a classe trabalhadora para apoiar a causa da autodeterminação e nos opor ao ódio divisionista propagado pela burguesia do Paquistão e da Índia.
Denunciamos os apelos à guerra
A burguesia indiana se apressou em esconder seus próprios fracassos. Ela não consegue garantir serviços básicos para seu próprio povo, não consegue melhorar as condições de vida da grande maioria dos indianos, e suas mentiras são constantemente desmentidas pela realidade. Para esconder seus fracassos, ela bate no peito e clama por guerra contra o Paquistão. Em retaliação ao ataque militante, a Índia suspendeu unilateralmente o Tratado do Indo, um tratado que já era fortemente favorável à Índia. Em resposta, o Paquistão decidiu fechar seu espaço aéreo para a Índia e interromper o comércio.
Na manhã do dia 25, foram relatados bombardeios de artilharia ao longo da fronteira entre a Índia e o Paquistão. Enquanto isso, o exército de capangas hindutva do BJP e da RSS nas redes sociais continua gritando contra os muçulmanos e o Paquistão. Eles querem punir todos os muçulmanos pelas ações de um punhado de fanáticos. O Ministério das Relações Exteriores do Paquistão declarou oficialmente que qualquer ação da Índia enfrentará “retaliação massiva”. Tanto a Índia quanto o Paquistão são países com armas nucleares, com exércitos e forças aéreas enormes. Uma guerra entre os dois seria desastrosa, não apenas para os povos da região, mas para o mundo inteiro.
Denunciamos essa propaganda de guerra! A burguesia, que não consegue alimentar seu povo, quer brincar com a vida dos trabalhadores e camponeses. Não basta terem-nos explorado até a pobreza, agora querem satisfazer sua sede de sangue com a morte dos filhos e filhas da classe trabalhadora e camponesa no campo de batalha. As classes dominantes de ambos os países vão clamar por “unidade nacional” neste momento e levar os explorados a se matarem uns aos outros. Sentados em suas salas com ar condicionado, assistirão à carnificina de longe, enquanto trabalhadores e camponeses morrem em uma guerra sem sentido, matando-se uns aos outros.
Enquanto isso, a guerra se tornará uma desculpa para os governantes de ambos os países aterrorizarem as minorias. Dissidentes serão presos, minorias serão deslocadas e aterrorizadas, o pouco que resta da democracia burguesa em ambos os países será destruído. Tudo será justificado em nome do nacionalismo e da religião.
Pela unidade da classe trabalhadora contra a reação burguesa
Quando a burguesia entra em guerra, são a classe trabalhadora e o campesinato que sofrem. Os pobres morrem pelas guerras dos ricos. Isso fica nitidamente evidente na Caxemira, onde indianos e paquistaneses foram incitados ao frenesi nacionalista pelas guerras dos generais e das corporações, que querem suprimir os caxemires e explorar suas terras.
Todo ato de guerra burguesa é um ato de violência contra a classe trabalhadora. A isso, devemos responder com a unidade da classe trabalhadora.
Hoje, com a ameaça de uma guerra nuclear pairando sobre o subcontinente, somente a classe trabalhadora pode trazer a paz, e com isso queremos dizer uma paz justa. A autodeterminação da Caxemira é a pedra angular dessa paz justa.
Devemos marchar unidos contra os esquemas do governo Modi, que deseja nos dividir entre hindus e muçulmanos, e contra os esquemas dos militares paquistaneses, que incitam sentimentos reacionários para travar uma guerra.
ABAIXO OS BELICISTAS!
UNIDADE HINDU-MULCULMANA!
NÃO À GUERRA! VIDA À UNIDADE DE CLASSE!
PELA AUTODETERMINAÇÃO DA CACHEMIRA!
ABAIXO O HINDUTVA! ABAIXO O EXÉRCITO PAQUISTANÊS!