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Declarações

Toda a nossa solidariedade com o povo turco. Liberdade para os detidos! Continuar nas ruas até que Erdogan seja derrubado!

abril 4, 2025

Por: Secretariado Internacional – LIT-QI

Há dias, a Turquia vem vivenciando uma onda sem precedentes de protestos e manifestações, que estão colocando o governo Erdoğan e seu regime bonapartista em xeque.

Estas são as maiores manifestações desde as massas foram às ruas, por um mês, em 2013, quando Erdoğan era primeiro-ministro, protestando contra a tentativa de destruir o Parque Taksim Gezi, em Istambul, para construir um shopping center.

O que está por trás dos protestos atuais?

Se o problema naquela época não eram apenas “umas poucas árvores”, agora a faísca que acendeu a raiva das massas foi a prisão, em 19 de março, do prefeito de Istambul, Ekrem İmamoğlu, do partido de oposição burguês CHP, que foi reeleito por uma maioria esmagadora há um ano contra o candidato do AKP. İmamoğlu é um possível oponente de Erdoğan nas eleições presidenciais.

Mas o que realmente está por trás dos protestos é a raiva contra um governo autoritário que esmaga qualquer tipo de oposição política, sindical e social com mão de ferro, ao mesmo tempo que reprime as mulheres e outros setores oprimidos da classe trabalhadora. É a indignação social diante de uma crise capitalista que condena a população turca a salários e aposentadorias miseráveis, enquanto a inflação atingiu oficialmente 44,4% em 2024, tornando as condições de vida cada vez piores para a maioria. Ao mesmo tempo, a diferença entre ricos e pobres continuou aumentando, com os 40% mais pobres da população recebendo 16,5% da renda total, enquanto o 1% dos super ricos controla 40% dos recursos.

As mobilizações em Istambul, Ancara, Esmirna e outras partes do país, liderados por  uma juventude radicalizada e polarizada que sente que seu futuro foi roubado, estão se tornando cada vez mais insurrecionais por natureza e podem sinalizar o fim do governo de Erdoğan. Neste contexto, e como já salientamos em outro artigo (https://litci.org/es/ocalan-disuelve-el-pkk/?utm_source=copylink&utm_medium=browser), a política de Ocalan de dissolver o PKK no DEM, em vez de convocar os curdos a participarem ativamente dessa luta, está se mostrando de grande ajuda para Erdoğan.

A resposta do governo turco

Após a prisão de İmamoğlu e outras autoridades municipais, Erdoğan está reprimindo duramente os protestos, principalmente da juventude. Em um esforço para reduzir a possibilidade de greves e reprimir os protestos estudantis, ele estendeu o feriado do fim do Ramadã por três dias, até quinta-feira, 3 de abril.

O regime fechou muitas contas e sites. Também está intervindo em instituições educacionais, como universidades, expulsando e detendo seus representantes eleitos. Suspendeu um canal de televisão da oposição e expulsou seu correspondente da BBC, além de prender vários jornalistas simplesmente por cobrirem os protestos, que já resultaram na prisão de mais de 2.000 pessoas, das quais pelo menos 316 permanecem presas aguardando julgamento. A maioria enfrenta acusações relacionadas à participação em protestos.

O papel da Turquia como potência regional e a hipocrisia da UE

Em sua aspiração de se tornar uma potência regional, o regime turco se tornou a principal ponte entre o governo de transição na Síria e o imperialismo, na esperança de explorar sua reconstrução em benefício do capital turco. E seguindo o exemplo da UE, planeja enviar alguns dos 3 milhões de refugiados sírios de volta à Síria.

E se a ditadura presidencial turca e seu estado policial agora se sentem mais apoiados por Trump, Erdoğan sabe que também tem pouco a temer da vizinha UE. Além dos habituais apelos vazios para respeitar os direitos democráticos, a UE e seus governos medem cuidadosamente o tom de suas palavras de protesto e criticam com muito tato e delicadeza a Erdogan, porque em seu giro militarista estão interessados ​​em continuar a tê-lo como sócio.

Além de seu papel como guarda de fronteira, onde o governo turco criou uma vasta rede de centros de detenção e deportação financiados pela UE, onde os direitos humanos dos refugiados são sistematicamente violados para impedi-los de chegar à Europa, a Turquia é membro da OTAN e tem o segundo maior exército da aliança.

E tem feito progressos significativos em sua indústria de defesa, produzindo suas próprias aeronaves, tanques e porta-aviões, além de exportar drones armados. Em 2024, suas exportações da indústria de defesa atingiram US$ 7,1 bilhões. Mais uma vez, devemos denunciar o cinismo e a hipocrisia repugnante da UE, que fala de paz e valores democráticos enquanto abandona o povo turco, se prepara para a guerra e continua seus negócios com o governo assassino de Netanyahu.

Não confiar no CHP ou em qualquer outro partido burguês

Da LIT queremos enviar todo o nosso apoio e solidariedade ao povo turco que está se mobilizando e continua lutando apesar da repressão. Saudamos com entusiasmo a coragem e a resistência heroica dos jovens, que continuam liderando os protestos, e exigimos a libertação de todos os detidos. Apelamos às organizações sociais, estudantis e da classe trabalhadora na Europa e no resto do mundo para que se manifestem e saiam às ruas em apoio e solidariedade ao povo turco e em frente às embaixadas turcas em seus respectivos países.

Alertamos que, apesar das palavras do presidente do CHP, Özgur Özel, sobre a continuidade dos protestos e o apelo ao boicote às empresas que, segundo ele, apoiam o governo, este partido burguês não tem outro plano senão estabilizar a situação canalizando os protestos por meio de eleições o mais rápido possível, dentro do mesmo regime burguês e a serviço da mesma oligarquia capitalista.

Em 23 de março, o CHP convocou primárias em 81 províncias turcas para nomear o principal oponente de Erdogan (que permanece na prisão de Silivri por acusações de corrupção) como seu candidato presidencial. E desafiaram Erdoğan impulsionado um abaixo assinado pedindo a libertação de İmamoğlu, com uma petição chamada “Liberdade e Eleições Antecipadas” (atualmente agendada para 2028).

Dessa forma, eles se apresentam às massas com promessas de maiores liberdades democráticas e algumas medidas cosméticas, mas com um programa que manterá as mesmas políticas capitalistas que levaram a classe trabalhadora e a juventude à atual situação de pobreza, miséria e desespero.

A única maneira de alcançar as liberdades democráticas e a justiça social que o povo turco precisa é se organizar a partir de baixo, independentemente dos partidos políticos burgueses, nos locais de trabalho, nos bairros e nas universidades.

É necessário preparar a autodefesa contra a repressão do Estado e as gangues fascistas e convocar a unificação da mobilização estudantil com os protestos operários até que todos os detidos sejam libertados.

As condições devem ser preparadas para uma greve geral bem-sucedida que derrube Erdoğan e force a convocação de uma Assembleia Constituinte. Uma assembleia constituinte livre e soberana, que redigirá uma nova constituição baseada em uma nova lei eleitoral democrática e uma plataforma de reivindicações que reflita as principais aspirações políticas, sociais e econômicas da maioria, bem como o direito à autodeterminação do povo curdo.

Abaixo Erdoğan!

Vamos nos preparar para a greve geral!

Por uma assembleia constituinte livre e soberana!

Pelo direito à autodeterminação do povo curdo!

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