search
Opinião

Capitalismo e depressão

abril 3, 2025
Por: Felipe Huertas

Você já se sentiu como se a culpa por todos os seus traumas, infortúnios e fracassos fosse exclusivamente sua?

Já pensou que se as coisas não deram certo em algum projeto isso se deveu à sua inépcia, falta de méritos ou de esforço?

Se a resposta for afirmativa e se você, porventura, ainda se sente assim em relação a si mesmo (a), desejo compartilhar algumas palavras que talvez te tragam algum alívio.

No início do texto “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, Freud ressalta que toda psicologia individual é, também, psicologia social.

Isto porque o “Eu” se desenvolve sempre nas relações com os outros, com a alteridade. Inicialmente, com os cuidadores e o núcleo familiar e, mais tarde, com outros membros da comunidade/sociedade.

Todos estamos inseridos em grupos sociais, como a família, a escola, a igreja, o país, a classe social, a raça, o gênero, dentre outros.

Tais condicionamentos  se entrelaçam, constituindo nosso ser e levando a múltiplas identificações que reforçam o nosso narcisismo.

É importante que saibamos que somos indivíduos materialmente inseridos em um tempo e um espaço que nos atravessam e nos constituem.

Sendo assim, devemos reconhecer, até mesmo como uma forma de defesa crítica, que o contexto histórico em que vivemos é o do capitalismo ultraliberal, procurando compreender como ele funciona.

A ideologia desse modo de produção de mercadorias, relações, subjetividades e modos de sofrer busca instilar nos sujeitos um hiper-individualismo e a falsa ideia de que o “sucesso” é uma questão de mérito e esforço.

Em sentido inverso, se fracassamos, deve ser por causa de nossa falta de qualidades ou porque não nos esforçamos o suficiente. 

Logo se nota que essa atribuição exclusiva ao indivíduo de problemas que são, essencialmente, coletivos, produz a pandemia de depressão que vivemos atualmente.

O sistema capitalista é opressor, profundamente desigual, injusto, predatório e, em última instância, suicida. É uma máquina de moer gente.

A sua lógica é transformar tudo em mercadoria. A doença é socialmente produzida para que o remédio seja vendido.

Leia também