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Especial Palestina

O 27S foi um importante dia de luta no Estado espanhol

outubro 17, 2024

Completou um ano a nova ofensiva genocida sionista contra o povo palestino. A resposta organizada que está sendo dada a nível internacional contra este genocídio deve ser destacada de uma forma muito positiva. No Estado espanhol foram meses de manifestações, acampamentos e atos de solidariedade convocados e realizados por todo/as nós que nos recusamos categoricamente a normalizar o genocídio.

Por:  Corriente Roja

No dia 27 de setembro, a Jornada Nacional de Luta convocada por diferentes organizações sindicais e, no caso da CGT (Confederação Geral do Trabalho) e da Solidariedade Operária (SO), de Greve Geral, foi uma tentativa de dar um salto importante nesta luta contra o genocídio, apoiar a resistência palestina e denunciar e exigir que o governo rompa todas as relações militares, comerciais e diplomáticas com o Estado sionista.

Nós da Corriente Roja, desde o primeiro momento, demos muito valor a este chamado, entendido como uma jornada nacional de luta, fundamentalmente por dois motivos. A primeira, porque em suas exigências enfrentava diretamente a cumplicidade do governo PSOE-Sumar com Israel e a segunda razão porque o chamado permitia que o chamado à classe operária fosse colocado no centro e tomar consciência de que isso não é uma guerra, é um genocídio. Que o Estado espanhol faz parte do apoio ao genocídio e que a tarefa central é colocar nossos próprios governos contra a parede nos países da Europa e Estados Unidos. Porque a classe operária é a única que pode desafiar os governos, dizendo-lhes:  Parem o genocídio ou paramos o país!

Essa foi e é a batalha que a classe operária tem que travar e por isso está comprometida com um grande Dia de luta e mobilização, e não com uma Greve Geral que, com todo o respeito, era impossível de empreender com sucesso. Porque para que uma Greve Geral mereça esse nome e seja uma verdadeira ferramenta de poder para nossa classe, tem que ser organizada a partir de baixo e tem que ser construída democraticamente, envolvendo toda a classe trabalhadora, debatendo em todos os locais de trabalho, escolas e bairros. É por isso que  nós da Corriente Roja apostamos em apoiar a decisão da União das Comissões de Base (Co.Bas) de apelar aos seus membros e delegados para organizar e preparar um Dia de Luta nas empresas.

E é nesse sentido que no dia 27 de setembro passado ficou demonstrado que estavam reunidas todas as condições para apostar nesse Dia de Luta. As diferentes manifestações que ocorreram ao longo do dia em diferentes empresas, centros de estudos, hospitais, bairros operários, etc., embora simbólicas, foram muito importantes para este chamado à classe operária a entrar em ação e prepararam as grandes manifestações da tarde em todo o Estado.

Em Madri

As assembleias de delegados/as e ativistas, as conversas nos bairros e organizadas em comum com Associações de Bairro como a de San Pascual, as moções nos Conselhos de Empresa que os/as delegados/as do sindicato Co.Bas (Madri) apresentaram em numerosas empresas chamando para realizar de forma unitária esta dia de apoio à Palestina,  foram preparando o terreno para o 27S.

Palestra na AAVV San Pascual

Concentrações como as dos trabalhadores/as da Amazon-San Fernando de Henares, da Airbus-Getafe, as concentrações na rua na hora do almoço com bandeiras palestinas em empresas do setor de Intervenção Social em Madri, como CEAR ou Grupo 5, dos jardineiros de San José el Ejidillo, dos/as trabalhadores/as da saúde como as dos Hospitais de Alcorcón e em 12 de outubro,  dos/asestudantes, professores/as e trabalhadoras da limpeza da Universidade Complutense de Madrid, de delegados/as de numerosos setores que às 13:00hs se concentraram em frente ao Ministério das Relações Exteriores, foram alguns dos numerosos exemplos deste Dia que serviram de preparação para as manifestações massivas da tarde.    

Concentração na Amazon

Na Catalunha

A militância de Corrent Roig na Catalunha se somou ao Dia de Luta de 27-S em solidariedade ao povo palestino em diversos bairros pobres e cidades.

Em Sabadell, Terrassa, Universitat Autònoma de Barcelona, Sant Andreu de la Barca e nos bairros de Montbau e Porta, em Barcelona, realizamos várias oficinas de cartazes e banners como parte da preparação do Dia Nacional de Luta. Da mesma forma, como parte essencial da nossa campanha, distribuímos panfletos em várias fábricas do Vallés Occidental, onde, posteriormente, foram organizadas assembleias para decidir como aderir ao 27 de setembro.

Lado a lado com a comunidade palestina da Catalunha, iniciamos uma campanha nas lojas de Sabadell para mostrar publicamente a rejeição ao genocídio contra o povo palestino e disponibilizamos materiais para que pudessem ser vendidos e, assim, enviar os lucros para o campo de refugiados de Jenin.

No próprio dia 27, uma delegação de Sabadell, acompanhada por companheiras do PAHC e outras ativistas, juntou-se à manifestação em Barcelona. A Corrent Roig foi parte do bloco Co.Bas, que se manifestou com uma faixa que dizia “A classe operária com a Palestina. Ruptura com Israel já!” A manifestação começou em Jardinets de Gràcia e agitamos incansavelmente palavras de ordem em catalão, castelhano, inglês e árabe denunciando a cumplicidade do governo espanhol com o Estado sionista, exigindo a ruptura de relações e a solidariedade internacional.

Manifestação em Barcelona

Na Galícia

Como era previsível, a mobilização de 27 de setembro foi mais um Dia Nacional de luta que uma Greve Geral. Realizaram-se ações em 10 localidades, da Corunha a Ribadeo, passando por Vigo, Santiago, Pontevedra, Ourense, Vilalba, Ferrol e Monforte de Lemos.

No início da manhã, na Corunha, alguns trens não partiram (principalmente os da hora do pico, às 8h) com uma declaração da Renfe aos usuários, explicando que as tripulações haviam aderido à greve pela Palestina.

Às portas do estaleiro militar Navantia Ferrol, a força de trabalho se concentrou convocada pelo comitê de empresa, que emitiu um comunicado conjunto da CGT, CCOO, UGT e CIG. Também houve grevistas em bibliotecas de Santiago, membros da CIG que quebraram a disciplina de seu sindicato e na administração de Pontevedra.

Para avaliar o Dia de Luta, deve-se levar em conta que não foi apenas contra a posição da CCOO e da UGT, que é a do governo; mas também da própria CIG e do BNG, que eram contra. E, mesmo assim, manifestações importantes ocorreram em todas as cidades, exceto Lugo, e tiveram dois pontos importantes, a concentração de Navantia e as paralisações em Renfe.

Os/as militantes da Corriente Roja nos concentramos no trabalho com a plataforma BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções) e no Acampamento da Universidade de A Coruña, além de participar das mobilizações.

O que Israel está fazendo seria impossível sem a cumplicidade dos governos dos EUA e da Europa

A propaganda do “governo progressista” tem se passado por solidariedade com a Palestina, uma política que é, estritamente falando, de cumplicidade direta com o genocídio. Como explicamos nestes dias nas palestras e assembleias, esta declaração não é uma intempestiva, é sobre fatos objetivos, dados e não de relatos.

Como é possível que um “país” com apenas 6 milhões de habitantes, como Israel, sustente tal nível de beligerância militar, um genocídio televisionado e agora uma nova invasão do Líbano? Como sustentar um gasto militar tão descomunal? Uma das chaves é, sem dúvida, que é um enclave militar cuja população sionista está permanentemente em armas. Outra chave é o apoio econômico e militar de seu principal apoiador hoje, os Estados Unidos, independente de quem governe. Mas mesmo com tudo isso, seria difícil, senão impossível, sustentar um potencial militar tão descomunal. E aqui vêm as outras chaves sobre as quais os amigos confessos e não confessos do sionismo menos falam.

Israel é o maior produtor mundial de armas, per capita. E em termos absolutos está em décimo lugar entre os maiores exportadores de armas de grande porte. Existem 600 empresas de armas operando em Israel, empregando diretamente mais de 45.000 pessoas. A rigor, são apenas 4 ou 5 grandes empresas. O essencial é que Israel exporta 70% da sua produção de armas, em comparação com os Estados Unidos, que exportam 24%, ou com a Rússia, que atinge os 55%.

Entre 2018 e 2022, Israel multiplicou em 10 vezes os acordos de comércio de armas “governo a governo” e em 2021 as vendas de armas foram as mais altas de sua história, aumentando cerca de 55% em relação aos dois anos anteriores. O marketing comercial das armas israelenses não poderia ser mais sinistro, são os únicos fabricantes de armas do mundo que se gabam de vender “armas comprovadas em combate”. A Palestina é o grande laboratório das armas sionistas.

Nada dessa descomunal indústria seria possível se os governos europeu e americano não fizessem parte do comércio da produção israelense. Como os palestinos dizem ironicamente, Israel trocou a exportação de “laranjas por granadas“.      

Essa indústria militar sionista inclui não apenas que estados como a Espanha comprem suas armas, mas que em seus territórios essas armas sejam fabricadas e na contabilidade de importações e exportações não sejam registradas em muitos casos em nome de Israel.

O governo espanhol mentiu quando afirmou que desde 7 de outubro não havia mais comércio de armas com Israel. “A Espanha adquiriu armas israelenses no valor de mais de 1 bilhão de euros desde o início do atual conflito em Gaza em 7 de outubro, de acordo com um relatório do Centro Delàs de Estudos para a Paz.

E continua mentindo quando esconde a produção de armas israelenses na Espanha. Os mísseis Spike fabricados pela empresa israelense Rafael são fabricados em colaboração com a Santa Bárbara Sistemas e a General Dynamics, e são fabricados na Espanha por meio de um contrato de transferência de tecnologia. A empresa espanhola Tecnobit é responsável pelo fornecimento desses mísseis, entre outros clientes, ao exército espanhol.

Outras empresas espanholas como Escribano, FMG, Expal, juntamente com a Tecnobit formam um consórcio de empresas liderado pela Pac Tecnos, uma empresa espanhola, que na verdade é uma subsidiária da já mencionada Rafael. Outra das grandes empresas israelenses, como a Elbit Systems, mantém, aqui, a produção de mísseis lançadores de foguetes em colaboração com empresas como Expal e Escribano. E assim uma lista intensa que inclui a Indra Sistemas, Airbus CASA como produtoras de armas sionistas em território espanhol, além de lembrar que parte do armamento, proteção e munição do Exército Espanhol, da Guarda Civil, da Polícia Nacional ou da polícia local são alimentados por esta indústria do sionismo.

E então voltamos ao início, o Estado espanhol, com o governo PSOE-Sumar, é parte fundamental do apoio militar aos genocídios? A atitude dos líderes do CCOO e da UGT é cumplicidade com eles ou não?

A continuidade dessa luta: continuar apelando à classe operária e colocar o governo na mira das exigências

A luta pela Palestina, pelo Líbano hoje, exige que se dê um passo qualitativo de solidariedade, que os governos cúmplices dos perpetradores do genocídio e da burocracia sindical que os aplaude, sejam apontados e a luta se volte contra eles em seu próprio país. Esse é o enorme valor do 27S, ter apontado essa cumplicidade e colocar no centro da luta a exigência de ruptura das relações comerciais, diplomáticas e militares com o Estado de Israel, ter começado a levar essa denúncia e essa exigência aos locais de trabalho.

Nos últimos meses, um poderoso movimento de massas nos EUA em favor da causa palestina está começando a se tornar um pesadelo para os democratas, que foram denunciados com contundência como responsáveis pelo genocídio. Sete grandes sindicatos exigiram que Biden rompesse completamente as relações com Israel. Agora, a barbárie sionista no Líbano pode aumentar ainda mais a indignação entre a classe trabalhadora e a juventude e se tornar um fator mobilizador diante do grave risco de uma guerra regional. Tudo isso não é secundário e torna mais necessário do que nunca que a mobilização de massas seja unificada e se estenda. E, como dissemos, fazê-lo significa necessariamente apontar primeiro aos nossos próprios governos e a um sistema que nos empurra cada vez mais para a barbárie.

Nesta tarefa não sobra ninguém e é por isso que todos os sindicatos, organizações políticas de esquerda, associações de bairro e outros movimentos sociais devem ser convocados, porque a luta pela liberdade da Palestina é a luta de toda a classe trabalhadora.

Tradução: Lílian Enck

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