Argentina | Universidade de La Matanza (UNLaM) em luta
Nós que escrevemos a seguinte crônica somos estudantes e militantes que vivenciamos o que aconteceu ontem na Universidade Nacional de La Matanza. Queremos transmitir o início deste processo, bem como denunciar as autoridades da UNLaM por proibirem a entrada de estudantes através de gangues e forças repressivas.
Por: PSTU Argentina
Depois que os deputados votaram a favor do veto à lei de financiamento, os grupos de WhatsApp da Universidade Nacional de La Matanza (UNLaM) começaram a colapsar com mensagens de repúdio e de necessidade de organização para defender a universidade pública. Além do repúdio de Alejandro Finocchiaro, professor da UNLaM e deputado do PRO, que votou a favor, dando apoio absoluto ao veto. Assim, a partir do grupo autoconvocado, foi feita uma convocação a todos os estudantes, docentes e não docentes para estarem presentes na universidade.
Enquanto isso acontecia, o sindicato docente da UNLaM decidiu declarar greve a partir das 18 horas até hoje, quinta-feira. Muitos professores não tinham conhecimento desta medida, mas aproximaram-se das portas da universidade. Éramos cada vez mais, ao som de “universidade dos trabalhadores” e “quem não gosta, se ferra”. Também esteve presente o centro estudantil Liga Federal, que decidiu sair às ruas, bloqueando Florencio Varela para dar visibilidade e rejeitar o veto. Às 18h éramos centenas; a segurança da UNLaM pediu aos que estavam lá dentro que saíssem, interrompendo as aulas da tarde para anunciar que a universidade iria fechar.
A situação agravou-se rapidamente. Muitos dos estudantes presentes pediram uma assembleia para discutir como continuar, enquanto o sindicato docente permaneceu fora do estabelecimento. Mesmo assim, nós, estudantes autoconvocados, tentamos entrar na universidade com a ideia de fazer a assembleia no pátio e decidir democraticamente o curso a seguir. Naquela altura, a ocupação da universidade nem sequer tinha sido votada entre os estudantes, o que contrasta com a informação que tem sido divulgada por muitos meios de comunicação e autoridades da UNLaM.
Ao tentarmos entrar na nossa universidade, começámos a receber pancadas, empurrões e pontapés das forças de segurança e dos agressores da universidade. Eles atacaram brutalmente a companheiras, quebraram celulares e bloquearam a passagem de estudantes. Conseguiram fechar o portão, dividindo a multidão que tentava abrir as portas.
Gritando “abra o portão e assembleia!”, fomos cercados por funcionários administrativos e bate-paus, muitos deles provocando os estudantes com insultos e afirmando que não éramos da universidade. A situação era constrangedora. O presidente do Centro Estudantil nos pedia calma e paz, mas o que exigimos foi que abrissem a porta para que pudéssemos fazer uma assembleia e votar o que fazer. Algo tão simples e democrático quanto isso. Contudo, as ordens da reitoria foram priorizadas, sujando a luta justa e histórica dos estudantes da UNLaM.
Por fim, um representante do sindicato docente e não docente anunciou que tinham decidido ocupar a universidade e lá permanecer. Todos comemoramos, mas parecia que era uma ocupação sem estudantes, já que as portas permaneceram fechadas com cadeados e cordas até hoje. É assim como se realiza uma ocupação? Com agressores e forças repressivas dentro da universidade, a qual deveria ser um espaço autônomo? Ou estamos falando de outro tipo de ocupação? Impedindo assim que os alunos estejam no estabelecimento, realizem ali aulas públicas, assembleias? Eles não queriam que nós, estudantes, tomássemos a universidade.
A atmosfera tornou-se tensa e hostil, surpreendendo muitos ao ver o que as autoridades permitiam. Houve ordem da reitoria para não abrir as portas a qualquer custo. Respondemos com violência, sim, porque vieram nos atacar sem nenhum escrúpulo, temos o direito não só de permanecer na universidade mas de nos defender da repressão e da violência institucional. O comissário de Casanova estava presente com a turma; há vídeos que mostram como sua única função era atacar os alunos e impedir a entrada de quem estava de fora. Com o passar do tempo, mais alunos e familiares aderiram, e alguns professores apoiaram do outro lado.
A violência por parte dos bate-paus, e até mesmo dos membros do centro estudantil que pressionavam a companheiros, foi vergonhosa. Nós que estávamos lá dentro começamos a notar a presença de forças repressivas, muitas delas civis, esperando provocar ainda mais. A joia do momento foi a aparição do reitor Martínez, disfarçado e cercado de bandidos, que foi vaiado ao afirmar que não abriria o portão. Funcionários e alguns professores do ensino público cobriram o logótipo da UNLaM para não ser escrachados, porque tudo o acontecido foi filmado por diferentes companheiros, registando as manobras que realizavam. Não esperávamos nada do Centro Estudantil da Liga Federal, mas ainda assim nos surpreende pela sua cumplicidade com as políticas de ajuste do governo e da reitoria. Não convocaram uma assembleia para decidir democraticamente as medidas a tomar e apoiaram os agentes de segurança que atuavam contra aqueles que lutavam pela educação pública, apesar de terem se mobilizado em conjunto horas antes. São muito hipócritas! Na terça-feira, dia 8, foi realizada a assembleia, foi proposto ir ao centro conversar com eles, já que não se aproximaram. Para perguntar o que planejavam fazer em relação ao veto e ao ajuste na educação, que queríamos evitar que as violações chegassem ao Congresso (ontem). Mas mais uma vez ignoraram a assembleia, dizendo que se comportam de forma diferente (não disseram como), que convocaram ações contra o veto, ainda não sabemos quais foram. Não havia vontade política para fazer algo em conjunto ou decidir democraticamente.
Finalmente, depois de discutir o assunto em assembleia com os que estávamos lá dentro, foi decidido sair da universidade e ter a assembleia na porta todos juntos, não havia forças suficientes para sustentar a nossa presença ali, enquanto as forças de segurança e bate-paus nos cercaram. A assembleia votou pelas aulas públicas, assembleia para segunda-feira, 14 de outubro, convidando a comunidade educativa e buscando a coordenação e construção de um plano de luta inter faculdades.
O governo de Javier Milei perdeu mais do que ganhou
O que a UNLaM vive é um processo histórico, criado a partir de baixo e de forma democrática, com muitos debates ainda por vir, mas com unidade de ação contra o mesmo inimigo. Muitas universidades em todo o país foram e estão sendo tomadas, e as escolas secundárias começam a se organizar para defender os seus direitos, adotando uma perspectiva coletiva, porque para vencer e vetar Milei é fundamental unir todas as lutas em curso. Nós, estudantes, devemos alinhar nossa luta com as demandas de outros setores que estão sendo atacados e exigir um plano de luta para derrubar o plano econômico de Milei.
*Atualmente a UNLaM não está ocupada pelos seus próprios estudantes, mas pelas autoridades e pela Liga Federal. Se não houver estudantes, não há ocupação!