El Salvador vive a noite mais escura de sua história recente, e parece que o ciclo se repete, e o autoritarismo nos visita novamente, nos encontramos em uma Ditadura, que contraditoriamente tem apoio popular, mas com suas medidas nos leva a situações mais complexas: fome, dor, morte e repressão são, sem dúvida, nosso destino. Portanto, os setores da vanguarda revolucionária não podem continuar na indiferença e devemos passar da defensiva para a ofensiva, e assumir as tarefas do momento histórico em que nos coube viver.
Por: PCT– El Salvador
El Salvador precisa acabar com o capitalismo e a submissão ao imperialismo.
Nosso país é uma semicolônia do império norte-americano porque, embora não sejamos Porto Rico, na prática existem características que consolidam uma relação de dependência direta do imperialismo norte-americano:
- Economia dolarizada: Não temos moeda própria nem política monetária própria, dependemos totalmente dos altos e baixos do dólar na economia mundial, além disso, todo o aparato econômico é montado em benefício daqueles que usam o dólar para fazer seus negócios.
- Acordo de Livre Comércio: Essa política comercial anexionista faz com que nossa balança comercial se incline desfavoravelmente para a produção dos EUA, mas também define percentuais de nossa produção destinados exclusivamente aos EUA sem obter remuneração justa por eles e enfraquecendo cada vez mais nossas finanças públicas, transformando nosso território em um paraíso fiscal para a produção de bens a baixo custo sem reconhecer o valor da nossa força de trabalho.
- Migração/Remessas: Os Estados Unidos são o destinatário da maior porcentagem de salvadorenhos que migram (por vários motivos), fornecendo mão de obra, mas também tornando a economia salvadorenha dependente das remessas que os compatriotas enviam, facilitando também a mentalidade consumista que tanto beneficia o império, desintegrando nossas famílias e levando nosso principal recurso, nosso povo.
- Enclave militar e policial gringo: Não é segredo para ninguém que em nosso país existe a academia de treinamento de polícia gringa ILEA- International Law Enforcement Agency-, na qual são treinados policiais da América Central e da região latino-americana, e também cedemos soberania ao permitir a instalação de uma Base Aérea em Comalapa, onde os Estados Unidos têm duas pistas paralelas, que são suficientemente grandes para qualquer tipo de aeronave militar operar nelas. Está localizado nas proximidades de San Salvador, na costa do Pacífico e em um ponto estratégico que permite controlar o Golfo de Fonseca, uma tríplice fronteira entre Honduras, El Salvador e Nicarágua.
Toda a estrutura anterior está em função de quem faz negócios com as quatorze famílias que se transformaram em grandes grupos empresariais donos do país e de parte da América Latina: Grupo Poma, Grupo Simán, Grupo Quiroz, Grupo Agrisal, Grupo Calleja, Grupo Kriete e hoje emerge sob o abrigo, cumplicidade desta burguesia transnacional e com o controle do aparato estatal, o Grupo Bukele. Essas famílias, que não são mais quatorze, se beneficiam no quadro capitalista da extração de riquezas locais, do controle do aparato estatal e da corrupção, e de monopólios nitidamente identificados, mantendo também a tarefa nacional condicionada através da dívida tanto interna como externa.
Diante dessa realidade, não basta a criação de um nacionalismo burguês como a miragem que Bukele despertou no início, ou a criação de um Estado de Bem-Estar Social em que se esperava que a FMLN- Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional- apostasse pelo menos lançando suas bases, muito menos o voraz neoliberalismo da ARENA- Aliança Republicana Nacionalista.
É preciso romper com o capitalismo que só garante que a riqueza produzida pela classe trabalhadora (no sentido amplo) vá para os donos dos meios de produção, os grupos empresariais (famílias) mencionados acima. Sem perder de vista que essa ruptura deve ser econômica com todos os imperialismos (americano, chinês, europeu, etc.) e também a nível político; principalmente com o país do império norte-americano. Tudo isso é necessário porque nada do que foi feito até agora desde os governos militares e “democráticos” resolveu os problemas do povo de El Salvador: a pobreza continua a atingir uma alta porcentagem da população, o desemprego continua impedindo a possibilidade de fornecer sustento e dignidade, empurrando as pessoas a migrar, desintegrando famílias e a própria sociedade, promovendo criadouros para produzir violência e aumentar a desigualdade.
- Arena, FMLN e Bukele demonstram que não são alternativa
A classe trabalhadora já fez a experiência com a ARENA, 20 longos anos e com a FMLN 10 anos, e agora com Bukele já por 5 anos:
A ARENA governou o país à vontade por 2 décadas, implementando o modelo neoliberal que só aprofundou os problemas em El Salvador. A FMLN governou por uma década e embora se desculpasse por não ter todo o poder necessário para implementar as transformações sociais necessárias, a verdade é que, vendendo um discurso de esquerda, não rompeu com o neoliberalismo que a ARENA implementou. Nessa medida, traiu o povo que confiava na mudança prometida, desmantelando, além disso, a organização social que permitia exigir, pressionar e exigir políticas em benefício do povo, e se isso não bastasse, se envolveu em dois casos de corrupção que cobraram seu preço, transformando-a em uma força política pequena e quase inexistente na luta social.
Nayib Bukele já está em seu segundo mandato, ilegítimo e inconstitucional, e já demonstrou que suas políticas econômicas não são em nada contrárias ao imperialismo, embora seu discurso seja soberanista e até se distancie do imperialismo, na prática é evidente que sua prioridade é facilitar os negócios, atrair investidores que continuem saqueando e destruindo os poucos recursos do país e levando para si as riquezas produzidas. Seu enorme êxito: a política de segurança é nitidamente algo que carece de solidez, reacionário, mas também efêmero porque, em vez de combater as causas e raízes da violência, ou seja, o caldo que a gerou: migração, desigualdade, pobreza, desintegração familiar e social e falta de oportunidades para todos, optou por um exercício de mão de ferro, que, embora traga vantagens eleitorais, carece, repetimos, de solidez e possibilidades de continuidade para além do período do atual regime. Infelizmente, a violência ressurgirá, seja na forma de gangues ou de outra forma. Em suma, Bukele só está construindo uma ditadura através da perseguição e criminalização daqueles que não pensam como ele, enquanto concentra cada vez mais poder e enriquece seu grupo familiar/empresarial.
- A única saída para El Salvador é a luta pelo socialismo
Esta solução socialista consiste em colocar toda a riqueza que é produzida a serviço da classe trabalhadora e isso só é possível expropriando a burguesia do controle dos meios de produção, estabelecendo uma economia democraticamente planificada que é aquela que produz o que o povo decide e precisa para seu desenvolvimento e o monopólio do comércio exterior e isso só é possível no marco da luta pelo socialismo na América Central, derrubando os Estados burgueses e transformando-os em Novos Estados Operários, baseados em conselhos de trabalhadores e do povo. Também se torna necessário reorientar as relações internacionais, incluindo sua substituição por aqueles que beneficiem e não saqueiem. Neste ponto, é importante diferenciar do que estamos falando em relação a histórias como as de Cuba, Venezuela, Nicarágua e China que, embora se chamem de comunistas ou socialistas, na prática e no fundo são Estados capitalistas, basta rever o que foi exposto até agora em termos de economia planificada, o estabelecimento de relações que não saqueiem e colocar o povo no centro e não os negócios, para entendê-lo nitidamente: seus principais recursos econômicos estão nas mãos da burguesia nacional ou estrangeira, de modo que a riqueza produzida não está a serviço do povo e seus principais dirigentes são novos burgueses.
Esta saída que propomos deve ser feita na unidade centro-americana. Nossos países nasceram como um só: uma grande nação centro-americana que, separada por interesses egoístas, nos fez acreditar que o caminho é menor separados, quando a verdade é que compartilhamos muito mais do que quiseram nos convencer que nos separa. Além disso, no concerto mundial das nações, é impossível realizar as transformações propostas sozinhos e isolados. E assim como o capitalismo é mundial, a saída também deve ser mundial e, no nosso caso, começa pela América Central socialista.
Esta saída só é estrategicamente possível se a luta pelo socialismo em El Salvador e na América Central estiver ligada à luta pelo socialismo mundial.
- Isso só é possível através de uma saída revolucionária
Essa tarefa não pode ser alcançada pelos meios oferecidos pela democracia burguesa, ou seja, por meio de eleições que só servem como válvula de escape de forma cíclica ao longo do tempo, o que faz com que as pessoas coloquem seus anseios e esperanças de mudança em ciclos eleitorais que apenas as enganam e as mantêm submissas a favor de um Estado capitalista. É importante reivindicar as eleições burguesas como espaços para denunciar os desmandos e excessos dos políticos corruptos, mas a classe deve reivindicar seus próprios métodos e mecanismos, seu próprio Estado e suas próprias instituições. O regime de Bukele é o melhor exemplo do porque não podemos confiar em instituições burguesas que se ajoelham ao governante no poder. No entanto, é importante elucidar que, apesar do fato de que na memória de nosso povo a REVOLUÇÃO tende a ser associada à GUERRILHA OU LUTA ARMADA, temos que dizer que o método para hoje não consiste em um chamado de guerrilha, mas um chamado para a insurreição das massas que derrube o governo, tome o poder, Sabendo que a guerrilha é apenas mais uma tática entre outras, a estratégia é a tomada do poder pelas massas trabalhadoras, por isso não é uma tarefa para um grupo privilegiado, mas para todos os trabalhadores.
- Precisamos de um instrumento político.
Nada disso é possível sem um instrumento político da classe trabalhadora no sentido amplo, isto é, daqueles de nós que só têm nossa força de trabalho para sobreviver, e que vivem do trabalho do nosso esforço, e não dos burgueses, mas da nossa classe. Este instrumento político ainda não existiu em nosso país, um instrumento não focado nas eleições, mas nas lutas dos trabalhadores, cuja principal tarefa no marco da ditadura de Bukele seja a propaganda, ganhar o povo que luta para a saída revolucionária e socialista.
A segunda tarefa do instrumento político é educar as massas no programa socialista e revolucionário para que possam cumprir seu papel no momento da luta pelo poder.
Portanto, este instrumento deve ter certas características:
- Internacionalista, porque entende que o triunfo da revolução não é possível de forma individual e isolada.
- Classista, porque não há espaço para burgueses ou opressores, é mais uma luta contra todos os tipos de opressão e está composta pelos melhores elementos da classe trabalhadora.
- Conspiratório, porque enfrentamos um regime ditatorial, repressivo e assassino.
- Democraticamente centralizado, uma vez que suas decisões são amplamente discutidas e construídas por todos e, uma vez votadas, são também acatadas por todos, mesmo por aqueles que estavam em minoria no momento da votação.
- Autofinanciado, dependerá dos recursos da própria classe trabalhadora e não de qualquer burguesia, nem de nenhum mecanismo que possa ou queira inclinar as decisões de forma diferente do que o povo decidir.
- Combativo, porque é forjado e construído nas lutas da classe trabalhadora.
A primeira tarefa desta organização é elaborar o programa de transição para a revolução socialista em El Salvador, que parta das necessidades das massas para elaborar o conjunto de demandas democráticas, econômicas e socialistas para ganhar a vanguarda e o povo salvadorenho para a luta pelo socialismo e pela revolução. Devemos fornecer à classe uma direção revolucionária, que não pode ser improvisada, deve ser construída de antemão.
“Para nós, não se trata de reformar a propriedade privada, mas de aboli-la; não se trata de aliviar os antagonismos de classe, mas de abolir as classes; não se trata de melhorar a sociedade existente, mas de estabelecer uma nova”.
Karl Marx e Friedrich Engels, Circular à Liga Comunista, 1850
São Salvador, 15 de setembro de 2024
Declaração da Plataforma da Classe Trabalhadora, seção salvadorenha da Liga Internacional dos Trabalhadores à vanguarda revolucionária em El Salvador
Tradução: Lílian Enck