sáb set 07, 2024
sábado, setembro 7, 2024

Grupo Meta anuncia que irá censurar os críticos do sionismo no Facebook e Instagram

Plataformas de Mark Zuckerberg irão apagar posts que denunciam os crimes de Israel por considerar conteúdo antissemita

Por: Marcel Wando

No dia 9 de julho de 2024, o grupo Meta anunciou em seu blog de transparência que irá atualizar suas políticas de censura de conteúdo para incluir o termo “sionismo” quando ele for empregado em certos contextos. Segundo a plataforma, essa palavra é utilizada em múltiplos sentidos, sendo alguns deles o que consideram “legítimos”, como o movimento político ou o Estado de Israel – igualando críticos e apoiadores – e outros “ilegítimos”, quando se refere ao povo judeu como um todo.

O objetivo alegado seria de barrar as comparações desumanizadoras, os chamados à violência ou a negação do direito à existência do povo judeu. O comunicado da Meta até específica alguns cenários em que se costuma aplicar esses casos, como na comparação com ratos, porcos e vermes, ou alegações de que controlam a mídia ou o mundo. Um discurso antissemita que existe há muito tempo e vem crescendo com o aumento dos partidos de extrema direita pelo mundo. É, portanto, uma tentativa de ganhar apoio da comunidade judaica e de certas organizações de esquerda e de ativistas.

Contudo, se esse fosse o caso, então é contraditório que a Meta permita tanto conteúdo da extrema direita, incluindo conteúdo patrocinado. Também é contraditório que isso seja implementado somente agora, sendo que já tem mais de uma década que essas organizações estão crescendo pelo mundo, impulsionados pelas redes sociais controladas pela Meta. O lobby político pela liberdade de expressão irrestrita da extrema direita é conveniente para a plataforma, que se beneficia da ausência de regulações. Esses interesses políticos e econômicos demonstram uma contradição entre o discurso atual e a prática histórica dessa empresa.

Para parecer imparcial, o comunicado indica que consultou 145 stakeholders (partes interessadas) que inclui representantes da sociedade civil e acadêmicos, incluindo cientistas políticos, historiadores, advogados, grupos de direitos civis e digitais, lobistas pela liberdade de expressão e especialistas em direitos humanos, oriundos do Oriente Médio, África, Israel, América do norte, Europa, América Latina e Ásia. Além disso, conta também com um Conselho de Supervisão Independente. Por último, disseram que, além dessas consultas, ainda foram conduzidas revisões de literatura acadêmica, pesquisas qualitativas com usuários e na plataforma para buscar entender qual é o entendimento do termo “sionismo” para a população. Porém, não informam quem são as pessoas envolvidas, qual conselho é esse ou o resultado dessas pesquisas. Também não diz qual o papel disso na elaboração da nova política ou qual papel terão em sua aplicação.

Mas se por um lado é bastante frágil a sustentação de que essa política serve para proteger o povo judeu, por outro lado, ela  pode ameaçar os ativistas da causa Palestina. O primeiro indício disso é que o comunicado reconhece que o termo “sionista” é utilizado para se referir ao governo de Israel e seus apoiadores, o que se intensificou desde o que chamaram de “ações do governo de Israel em Gaza e na Cisjordânia”. Quando optam por um termo genérico como “ações” e não “genocídio”, “massacre”, limpeza étnica”, o fazem por querer passar uma mensagem de neutralidade, porém, a neutralidade diante da carnificina sionista na Palestina é assumir o lado do opressor.

Além disso, em 3 momentos sugerem que o termo sionista pode ser utilizado para se referir a negar a existência de judeus ou israelenses. Essa abordagem gera um duplo sentido muito comum na retórica sionista. Quem estaria defendendo que o povo judeu deixe de existir? Uma palavra de ordem de “Palestina única” ou “Palestina livre do rio ao mar” poderia se encaixar nesse critério? Porque é bastante comum ouvir como resposta a isso que isso significaria uma hipotética limpeza étnica de judeus da Palestina, o que não é verdade. Todos os que quiserem conviver em paz com os palestinos poderão habitar a Palestina, assim como habitavam antes da criação de Israel.

Coincidentemente, esse anúncio é feito na mesma semana em que crescem as denúncias do uso do protocolo Hannibal por parte de Israel. Ou seja, durante meses a mídia internacional e os Sionistas utilizaram as mortes de colonos e soldados do dia 7 de outubro como justificativa para chamar palestinos de terroristas. Utilizaram para fazer comparações desumanizadoras, para fazer chamados à violência contra refugiados e para a negação do direito à existência do povo palestino, árabe e muçulmano. Tanto na Palestina quanto nos países onde esses se encontram como refugiados. Em nenhum momento isso foi motivo de preocupação da Meta. Agora, quando essas mortes estão sendo comprovadas por terem sido perpetradas por Israel, e não pela resistência, a empresa diz estar muito preocupada com o discurso de ódio.

Essa alteração de políticas pode censurar quem denuncia os crimes de Israel, seja das forças armadas, seja dos colonos. A própria nota admite ao final que as mudanças em suas políticas dependem tanto da tecnologia quanto de humanos que revisam o conteúdo e que a falta de contexto e nuances pode gerar atrasos e falta de precisão nas respostas. Ou seja, é possível que os discursos da extrema direita que de fato são antissemitas fique disponível por dias antes de ser derrubado, mas que o conteúdo crítico ao genocídio de Israel contra os palestinos seja derrubado em questão de minutos. Esse risco fica evidente quando dizem que serão removidos os conteúdos críticos ao sionismo que não sejam explicitamente direcionados ao movimento sionista. Ou seja, na falta de contexto ou nuance, melhor censurar.

O texto flerta com a falsa equivalência entre sionismo e antissemitismo e, na prática, ameaça a liberdade de expressão de todos os que lutam contra a opressão colonial na Palestina. O controle das redes sociais por empresas bilionárias de países imperialistas mostra mais uma vez seu papel nocivo à humanidade e o vínculo do Capital estadunidense com o projeto colonial sionista.

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