qua jun 26, 2024
quarta-feira, junho 26, 2024

Solidariedade com Ilan Pappé

Na segunda-feira (13/05), o historiador israelense Ilan Pappé (atualmente morando na Grã-Bretanha) foi detido pelo FBI no aeroporto de Detroit (EUA). Os agentes o interrogaram durante duas horas e depois o libertaram[1].

Por: Alejandro Iturbe

Pappé nasceu em Haifa (hoje Estado de Israel), em 1954, em uma família de imigrantes judeus alemães. Depois de terminar seus estudos, foi nomeado professor de Ciências Políticas na Universidade de Haifa. Lá ele iniciou um intenso trabalho como historiador sobre a história do território palestino, do povo judeu, do sionismo e da criação do Estado de Israel.

Ele apresentou os resultados de sua pesquisa em vários livros, como The Ethnic Cleansing of Palestine, The Modern Middle East, A History of Modern Palestine: One Land, Two Peoples, and Ten Myths about Israel, que tiveram alcance internacional.

As conclusões de Pappé foram muito incômodas ​​para o sionismo. Por um lado, refutavam os seus mitos sobre a história do povo judeu, por outro lado, essencialmente, porque afirmou com total clareza que Israel era um Estado criado artificialmente com base na expulsão violenta de uma parte significativa do povo palestino do seu território histórico (através da nakba), e a perseguição e repressão daqueles que lá permaneceram.

Assim, concluiu que os palestinianos expulsos das suas terras tinham o direito de regressar à sua terra natal, juntar-se aos que lá permaneceram, e que não haveria solução possível enquanto subsistisse o atual Estado Sionista de Israel. Ele desenvolveu a sua proposta para um futuro Estado palestino num livro recente que escreveu juntamente com o professor e historiador palestino Ramzy Baroud.[2]

Coerente com as suas ideias e convicções, Pappé começou a desenvolver um combate no campo das ideias contra o sionismo e a expressar a sua solidariedade com a luta do povo palestino. Tornou-se assim o principal expoente de uma pequena minoria de judeus israelitas antissionistas.

Como punição, em 2007 ele foi destituído de seu cargo de professor na Universidade de Haifa e, na verdade, forçado a deixar Israel. Emigrou para a Grã-Bretanha e, desde 2008, é professor de História na Universidade de Exeter. A partir daí, continuou a divulgar seu trabalho e fez viagens a diversos países para ministrar palestras, inclusive aos Estados Unidos[3].

Em 2017, viajou ao Brasil para apresentação da edição portuguesa de seu livro A Limpeza Étnica da Palestina publicado pela Editora Sundermann[4]. No âmbito das diversas atividades realizadas em São Paulo, militantes da LIT-QI e do PSTU brasileiro (como a ativista palestino-brasileira Sorayah Misleh) tivemos a oportunidade de compartilhar algumas conversas com ele. Nelas, além dos muitos acordos que temos com suas posições, conhecemos um ser humano muito gentil e com convicções profundas.

Ao divulgar e denunciar a sua detenção em diversas redes, Pappé disse que era uma “reação de puro pânico e desespero ante o fato de que Israel se torne muito em breve um Estado pária, com todas as implicações de tal estatuto”.

A ocupação da Faixa de Gaza pelo exército israelita com métodos genocidas mostrou ao mundo, muito nitidamente, a essência do Estado de Israel e a continuidade da nakba palestina. Esta nova agressão gerou uma forte onda de grandes mobilizações em todo o mundo, em repúdio ao sionismo e em solidariedade e apoio ao povo palestino.

Como parte deste processo milhares de jovens estudantes, de países imperialistas que apoiam “incondicionalmente” Israel (como os EUA, França e Grã-Bretanha), tomaram vários centros universitários e estabeleceram acampamentos em repúdio às políticas dos seus governos[5].

Perante isto, o governo “democráta” de Joe Biden deu uma resposta repressiva. Por um lado, reprimiu os estudantes (como aconteceu com o governo Nixon durante os protestos contra a Guerra do Vietnã)[6]. Por outro lado, apresentou no Congresso uma lei que estabelece que qualquer repúdio público a Israel será considerado “antissemitismo” e, portanto, um crime. O governo Biden endossa assim a falácia sionista de que toda e qualquer crítica a Israel e às suas ações é igual ao antissemitismo de quando o povo judeu foi perseguido na Europa.

A prisão de Ilan Pappé em Detroit faz parte desta viragem repressiva do governo Biden. Da LIT-QI repudiamos este fato e expressamos nossa mais profunda solidariedade a ele.


[1] Questioned by FBI – Renowned Historian Ilan Pappé Detained in Detroit – Palestine Chronicle

[2] ‘Our Vision for Liberation’ with Ilan Pappé & Ramzy Baroud – Politics For The People

[3] Ilan Pappé : Hay un Estado apartheid que se llama Israel. (youtube.com)

[4] Ilan Pappé en Brasil – Liga Internacional de los Trabajadores (litci.org)

[5] https://litci.org/es/los-estudiantes-se-manifiestan-en-defensa-de-palestina/

[6] https://elpais.com/internacional/2024-05-02/la-policia-arresta-a-decenas-de-estudiantes-propalestinos-acampados-en-la-universidad-de-los-angeles.html

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